Magali abrira a porta por completo e vira um garoto aparentemente calmo, com as mãos nos bolsos da calça. Antes que pudesse fita-lo para reconhecer sua face, uma de mãos dele bloqueava sua visão. Desesperada pela abrupta escuridão, debatia-se, tentando libertar-se dessa “prisão momentânea”. Tentava puxar aquela mão máscula puxando-as com todas as forças, mas sem êxito. Parecia que ele estava decidido deixa-la na dessa maneira durante mais alguns instantes.Um carro havia parado metros dali, sendo possível ouvir a música que tocava. Aquilo era demais. Que atrevimento era esse? Como esse garoto teve a ousadia de impedi-la de enxerga-lo? Será que era medo de ser reconhecido? Ou uma brincadeira? Ou talvez um pouco dos dois... I will not make The same mistakes that you did - Quem é VOCÊ!! Não houve resposta. I will not let myself Cause my heart so much misery - QUEEEM É... – Magali era interrompida com a outra mão dele, o ardor de sua pele penetrando em seu rosto. - Shhh... Eu quero que me escute! I will not break The way you did, you fell so hard (Ah, não vou mesmo!! Ora, veja só! Quanta ousadia...atrevido!) Antes que pudesse fazer algo para que sua boca fosse liberta, ele a retirava, passavas seus dedos nos contornos do rosto da comilona. O ardor antes sentido se intensificava, suas bochechas ruborizavam. Aquilo a reconfortava, sua tristeza fugia aos poucos. Ele contornava as curvaturas de sua bochecha delicadamente. Magali parecia aninhar naquela mão estranha a ela. Nunca alguém fizer isso com ela na vida, ou melhor, não teve a ousadia de realizá-la. Seu estômago revirava-se, debatia-se, pulava. Um jardim florido havia atraído todas as borboletas, até as adormecidas. Seus olhos, mesmo escondidos, cintilavam, milhões de minúsculos diamantes lapidados com delicadeza e sutileza. Devaneava, soltando um breve suspiro. I've learned the hard way To never let it get that far - Hmm – ouvia-se a voz do garoto, ela tentava reconhece-lo através desse recurso – é impressão minha ou está gostando disso? - O que você quer? – indagava Magali, a fúria estava nítida em sua reclamo. Because of you I never stray too far from the sidewalk - Hmm, vejamos...você conhece a Magali? - Bom, na verdade eu sou a Magali! Because of you I learned to play on the safe side so I don't get hurt - Humm – respondia pensativo. - O que quer de mim? Because of you I find it hard to trust not only me, but everyone around me - Vou lhe dar uma dica – hesitava – Posso? Because of you I am afraid - Depende... - Por favor... I lose my way And it's not too long before you point it out - Ta, dê logo essa dica! As mãos dele contornavam mais uma vez o rosto da comilona, dessa vez não o contornava, mexia em seu interior. Passou delicadamente sobre as sobrancelhas eriçadas, contornou rapidamente o nariz, caminhava devagar, devagar e chegara aos lábios e lá ficara estático. Quando sentia que em seus lábios permaneciam, Magali sentia um abrupto frio na espinha, a adrenalina penetrava avidamente em suas veias. Seus devaneios surgiram em debandada, as lembranças a invadiam, dominavam seu corpo. Mas uma de sua lembranças se intensificava, sendo possível relembrada nitidamente: O “beijo” que lhe arrancava suspiros, que lhe causava vertigem, que a desnorteava. (Ah, não me diga que é isso que estou pensando...) Ela entendera o que ele queria: estava sedento pela sua boca, suplicando por ela. Não iria entregá-las tão facilmente, não mesmo, ainda mais para ele. Não teria ousadia de ferir os sentimentos de ninguém, ninguém mesmo. Mas um dia ela teria de fazê-lo. Então, a forma mais certa seria ferir um deles da forma mais amena, branda, e não sendo tão cruel e aceitar pedidos alheios, mesmo querendo-os mais do que qualquer outra coisa na vida. I cannot cry Because I know that's weakness in your eyes I'm forced to fake - Desculpe – Sua voz falhava – Não posso fazer o que solicita. – tentava ser o mais formal possível. A smile, a laugh, every day of my life My heart can't possibly break When it wasn't even whole to start with - Não pode porque não quer ou porque tem medo de assumir seu ardente desejo? – ele retribuía com o mesmo tom formal. Because of you I never stray too far from the sidewalk - Eu não devo explicações a você, rapaz! Because of you I learned to play on the safe side so I don't get hurt - Ah, deve sim. Se eu lhe fiz uma pergunta, exijo uma resposta. De preferência sincera. Because of you I find it hard to trust not only me, but everyone around me Because of you I am afraid (Nossa, como isso é chato, aff...não posso fazer isso, não...). Seu racional implorava para não pronunciar nenhuma palavra, frase, interjeição ou o que fosse. Mas antes que ele pudesse dominar o inconsciente, ela dizia: I watched you die I heard you cry every night in your sleep - Eu não devo explica...Ah, quer saber!! Eu não posso fazer porque é anti-ético, é praticamente impossível!! I was so young You should have known better than to lean on me - Praticamente...hmmm! Então tenho uma chance? You never thought of anyone else You just saw your pain And now I cry in the middle of the night For the same damn thing - Claro!! Que não!! NÃO!! Because of you I never stray too far from the sidewalk - Bom... – finalmente ele retirava cautalosamente sua mão, agora sendo possível reconhecer seu rosto. Because of you I learned to play on the safe side so I don't get hurt Because of you I try my hardest just to forget everything Magali, apesar de prever quem ele era, não tinha absoluta certeza. A ira tomava conta de sua mão, a qual golpeou o ar, na tentativa de acertar a mão do garoto. Because of you I don't know how to let anyone else in - Opa, errou... - ARGH! Por que você faz isso comigo, seu seu....CHATO! Because of you - Porque você adora... I'm ashamed of my life because it's empty - Eu não...detesto! – retorquia, tentando iludir ele e a si mesma. Because of you I am afraid - Arã, da mesma forma que detesta isso. Because of you Because of you Ele aproximava-se gradativamente da comilona...inclinara seu rosto para perto do dela. Encostou a ponta de seu nariz no dela, sentia sua respiração ofegante, ao mesmo tempo suplicante. Permanecera em silêncio durante meio minuto, tentando encostar uma de suas mãos na de Magali. Ao chegar ao seu objetivo afagava com polegar a costa da mão calmamente, num ritmo constante e lento. Sentia um arrepio que o deixava excitado, feliz e ...completo. Ele retirava seu nariz da inércia, baixando-o vagarosamente, parando cautelosamente nos lábios dela, tentando ao máximo permanecer assim, com o intuito de a enlouquecer, implorar, suplicar. Magali estava em êxtase, seu corpo arrepiado, o coração batia num ritmo acelradíssimo, incontrolável. El se sentia imensamente feliz, nunca alguém a fizera tão radiante como ele fazia. Tentava não enlouquecer, não fazer uma besteira. Soltava um longo suspírio de satisfação. - Magali, eu queria pedir desculpa e... - Quinzo adentrava sem ao menos bater na porta. Havia chocado-se com aquela cena. Sua namorada com outro rapaz, prestes a beijá-la. Era demais para ele, extremamente doloroso. com a testosterona agindo sobre ele, batia fortemente seu pé no chão, gritando: - ORA, VEJAM SÓ. QUE COISA MAIS LINDA! ESTOU COMOVIDO COM ISSO. - Quinzo... - Magali se afastava do garoto, aproximando-se de seu namorado - não é nada do que está pensando... - AH, NÃO? ENTÃO EU VI COGUMELOS SALTITANTES PLANTANDO CENOURAS! Ah, Magali, eu não sou burro! - Calma aê, rapá! Não houve nada entre a gente, saca qual é? Estavamos bem perto, só que... - Além de convencido se acha o gostoso? Ah, isso não vai sair barato... - objetava Quinzo, dando-lhe socos constantes no rosto e um último na barriga. - Pára Quinzo, PÁÁRA, BRUTALIDADE NÃO RESOLVE!! - Olha seu IMUNDO, isso é pra aprender a não roubar a namorada dos outros! - Eu não tenho culpa de você não conseguir controlá-la e cuidar dela. O mundo gira, meu camarada. - SEU, SEUUU!! - PAREMMM!! Quinzo, deixe ele em paz, ele já entendeu - beijava o rosto do namorado - Além disso, ele já estava de saida... - EStava? Ah, é, estava...Bom, falô aê Quinzo. Falô Magali!... Ai! - afastava-se dos dois mancando, sentindo seu estômago revirar, devido ao soco de Quinzo. - MAS ESSE CASCÃO É UM INTROMETIDO!! - JOAQUIM FERREIRA! Chega, já deu o que tinha que dar...esquece isso, é pagina virada. - Ah, só você para me aclamar, minha gulosinha... - blefava, fingindo ter se acalmado. - Quim? - Sim? - Por que veio aqui, afinal? (Ou melhor, por que apareceu aqui, naquele instante??) - Ah, é...tenho uma surpresa para você... - Qual?? - Pensei em dar um passo a frente no nosso relacionamento. Fim do 35º capítulo