Beastman escrita por Cicero Amaral


Capítulo 20
Capítulo 20




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Teen Titans não me pertence, ou eu teria um monte de gente para fazer meu trabalho, e poderia atualizar esta fic bem mais rápido.

 

 

            Ravena sentia-se desconfortável. Diferente do que tinha imaginado, nenhuma das três revistas que tinha pego lhe dera uma sugestão decente sobre o que fazer. Conseqüentemente, fora forçada a retornar ao quarto de Estelar, em busca de mais “material de pesquisa”.

            A razão de seu desconforto não era o fato de ter passado a noite inteira lendo os periódicos de sua amiga. Nem tampouco a náusea que esse tipo de leitura lhe causava. Não era nem mesmo o fato de ter invadido o quarto da tamaraneana múltiplas vezes durante aquela madrugada, tendo o maior cuidado para não acordá-la ou deixar qualquer pista capaz de, mais tarde, revelar o que andara fazendo ali.

            Esse desconforto... seria medo? Receio? Simples preocupação? A empata não sabia dizer ao certo. E, na verdade, isso nem importava; a hora do café estava passando, e ela não conseguia sair da frente da porta de seu quarto, pois não queria encarar Mutano sem estar munida de, ao menos, uma oferenda de paz.

            O mais lamentável é que, se fosse considerado aquilo que ela aprendera durante quase toda a vida, tudo continuaria do mesmo jeito que estava. Os monges de Azarath tinham lhe ensinado muitas coisas, mas não como se aproximar de alguém. Ou, no caso, reaproximar.

            E o tempo continuava passando. Os ponteiros giravam, o mundo rodava, e as pessoas andavam.

            Só a empata permanecia parada, ali onde estava.

 

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            Mutano tivera um café-da-manhã diferente. E, por diferente, ele queria dizer esquisito como ele nunca tinha visto antes.

            Ele tinha chegado à cozinha depois de Robin e Ciborgue. Ravena e Estelar ainda não tinham descido, mas, até aí, tudo normal. Seus dois colegas se aproximaram dele no mesmo instante, sorrindo de uma forma que o estava deixando desconfortável. Conhecendo Ciborgue como ele conhecia, isso provavelmente significava que o homem metálico tinha alguma espécie de desafio em mente, alguma coisa que iria forçar o perdedor a fazer as tarefas dos outros durante uma semana ou mais. Tudo normal.

            Foi aí que um acontecimento bizarro ocorreu.

            Estelar, alegre e sorridente como sempre, entrara na cozinha. E, um segundo depois, Robin e Ciborgue estavam escondidos do outro lado da mesa, expondo apenas os olhos, que usavam para, aterrorizados, vigiar a princesa alienígena.

            O metamorfo bem que se sentiu curioso, querendo saber o porquê de seus dois amigos se comportarem daquele jeito. Também se sentiu tentado a se divertir à custa de ambos, mas, no final das contas, acabou comendo seu desjejum relativamente quieto. Ravena deveria aparecer muito em breve, e ele pretendia falar com ela assim que chegasse.

            Só que a empata não apareceu para o café, e isso fez com que o Titã verde se sentisse inseguro. Talvez isso fosse um sinal de que não deveria falar com ela ainda. Talvez devesse esperar mais. Talvez...

- Não. Nada disso. – o metamorfo disse a si próprio, mentalmente. – Nada de esperar.

            E então ele se levantou, indo direto para o armário da cozinha, onde pegou um bule, folhas, e açúcar. Poucos minutos depois, tinha uma caneca de chá quente nas mãos, com a qual deixou o recinto. Ao sair, ele cogitou perguntar por que seus dois colegas homens estavam se encolhendo de medo, mas mudou de idéia.

            Falar com Ravena era mais importante.

 

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            A hora do café-da-manhã já tinha passado, e a empata ainda não tinha se movido. Não importa o quanto pensava, nada parecia ser capaz de resolver seu problema. Nada parecia bom o bastante. E essa incapacidade a estava deixando paralisada. Não apenas se recusava a descer para o café, como também estava começando a realmente temer o momento de falar novamente com Mutano.

            A verdade, porém, é que Ravena estava cometendo um erro muito comum: avaliar a reação de outras pessoas a partir de seu próprio ponto de vista e convicções. Assim sendo, não era de se admirar que, até agora, ela não tenha obtido uma boa idéia para um pedido de desculpas; porque, se o fiasco do cinema tivesse sido direcionado contra ela, não haveria qualquer forma de perdão para o ofensor. Nem hoje, e nem nunca.

            Era assim que ela estava agora, perdida entre opções que pareciam tão distantes quanto impossíveis. Parada no corredor, diante da porta de seu quarto, de braços cruzados e olhando para baixo, em nada se parecia com a herdeira de Trigon, outrora destinada a trazer ruína para toda a Terra. Parecia uma adolescente como tantas outras, confusa e com medo.

            Então, ainda perdida em suas divagações, Ravena sentiu uma mão pousar suavemente em seu ombro esquerdo. Dado o tumulto interior pelo qual estava passando, não estava em condições de identificar pessoas através de suas emoções, mas não precisava. Apenas um residente da Torre Titã era imprudente o bastante para tocá-la desse jeito.

- Você perdeu o café-da-manhã hoje. – A voz de Mutano soou atrás dela, ao mesmo tempo em que um braço verde era estendido à sua direita, segurando uma caneca de chá quente na mão.

            A empata pegou a caneca, mas não se virou para olhar seu colega. Ele, por sua vez, soltou o ombro dela, mas não saiu o lugar onde estava.

            O metamorfo sabia o que queria dizer. Queria confessar aquilo que sentia, e acabar, de uma vez por todas, com toda aquela angústia.

            Infelizmente, porém, ele não sabia COMO dizer o que pretendia. Apesar das declarações de Estelar, Mutano ainda tinha sérias dúvidas sobre se Ravena nutria alguma espécie de sentimento por ele, e, além disso, temia meter os pés pelas mãos de novo, provocando outro acesso de raiva ou coisa parecida.

- Rae... eu... a gente... – gaguejou ele, após um longo tempo de indecisão. – Não agüento mais continuar desse jeito...

            A empata segurou a caneca de chá com mais força ao ouvir isso. Pareceu-lhe que o Titã verde estava fazendo aquilo que ela temia: desistir dela.

            Ravena há muito tinha percebido que não queria isso. E sabia o que devia fazer. Mas não sabia como. E a indecisão a mantinha como que congelada no mesmo lugar, incapaz de se virar para olhar para o metamorfo, ou ao menos, esvaziar a caneca de chá que esfriava em suas mãos.

            Mutano percebeu que a empata não estava dando continuidade à conversa. De fato, a julgar por seu silêncio e o fato de, até agora, ela continuar de costas para ele, tudo indicava que ele estava sendo objetivamente ignorado.

- Rae... – Ele tentou chamar a atenção da garota, sem sucesso.

- Ravena... – Chamou pela segunda vez, sem, no entanto, obter qualquer reação.

- Escute... – Disse o garoto verde, pondo novamente as mãos nos ombros da empata. No entanto, a forma como ela se... sacudiu, se... encolheu... ao ser tocada, persuadiu-o a soltá-la imediatamente.

- Acho que a Estelar estava mesmo errada, afinal de contas. – pensou Mutano, enquanto suspirava decepcionado. – Bom, pelo menos ela tinha boas intenções... talvez... talvez nada disso devesse mesmo acontecer.

            Ravena conseguiu sentir a mudança nas emoções que seu amigo irradiava, mas não conseguia identificá-las. Na verdade, nem mesmo era capaz de dizer o que ela própria estava sentindo agora. Sabia apenas que não podia se dar ao luxo de errar. Que não podia se arriscar a dar mais um motivo para que o metamorfo se virasse e fosse embora... de uma vez por todas. O quê dizer? O quê?

            Mutano, a esta altura, já tinha percebido que... não adiantava. Que a empata tinha tomado uma decisão para sua vida... uma decisão que... não o incluía. Nada lhe restava a fazer, exceto tentar manter a dignidade, ao se retirar.

            Ele se perguntou se não deveria dizer adeus, enquanto se virava e começava a andar para longe, mas achou melhor não. Provavelmente, continuaria sendo ignorado, como até agora. Além disso, apenas sair dali de cabeça erguida... já era doloroso o bastante.

            Então, quando estava prestes a fazer a curva no corredor...

- Me desculpa.

            Nem como um sussurro aquilo se qualificava, de tão baixa que a voz de Ravena tinha soado. Foi apenas devido à sua audição superior, que o metamorfo conseguira captar ambas as palavras.

            Que fizeram um efeito imediato nele; no mesmo instante em que as ouvia, voltava para perto de sua colega.

- Me desculpa. – Repetiu Ravena baixinho, mas, ainda que fraca, sua voz podia ser realmente ouvida agora.

            Mutano já não se importava se a garota ainda estava de costas para ele. Tentando confortá-la, colocou ambas as mãos sobre os ombros dela, percebendo no mesmo instante o quanto ela estava tensa.

            A empata não seria capaz de dizer o exato porquê de ter falado. Aquilo que acabara de dizer lhe parecia... muito simples... insuficiente. Só sabia... sentira... que precisava fazer alguma coisa... qualquer coisa, antes que o metamorfo finalmente... decidisse partir.

- Eu estava errada. – continuou ela, assim que sentiu as mãos de Mutano se apoiarem novamente em seus ombros. – Eu falei sem pensar... não queria dizer nada daquilo.

            Ravena então percebeu que a distância entre ambos tinha diminuído. Sentiu suas costas em contato com o peito do Titã verde, e o calor que ele lhe transmitia. Percebeu também que o braço direito dele tinha dado a volta por baixo de seu queixo, juntando-se ao outro. Ela nunca imaginara que alguém, algum dia, teria a audácia de abraçá-la desta forma, e menos ainda, que ela... não reagiria a isso.

            Pelo contrário, esse gesto a compelia a desfrutar cada segundo. A empata se sentia... bem. Sentia-se em segurança. Parecia que, enquanto estivesse nos braços do metamorfo, nada de ruim poderia acontecer. Havia um estranho conforto, em sentir a orelha direita meio que esmagada contra a bochecha dele.

- Também tenho que pedir desculpas. – Mutano disse baixinho, a centímetros da orelha dela. – Eu nunca deveria ter deixado você sozinha, naquele cinema.

            A adolescente nada fez, a não ser levantar as mãos, para segurar os braços que a envolviam. Sentia seus olhos se fechando, aos poucos embalada pela voz do garoto que lhe falava agora.

- Não quero mais brigar com você, Ravena... – Continuou ele, sua voz um mero sussurro.

            Os dois jovens permaneceram ali juntos, em silêncio, durante vários minutos. Não precisavam de palavras, apenas da presença um do outro. Podiam sentir toda a angústia e o medo da perda se dissiparem gradativamente, e, pouco a pouco, serem substituídos por um suave contentamento. Ali, naquele corredor mal iluminado da Torre, Mutano e Ravena sentiam-se... felizes.

- Rae...? - Chamou o metamorfo. Ela respondeu apertando um pouco mais o braço dele, para mostrar que estava ouvindo.

- Preciso te dizer uma coisa. – Disse o titã verde, num tom de voz um pouco diferente do habitual. Era um tom macio, mas que, ao mesmo tempo, apresentava uma seriedade rígida como aço.

            A empata, mais uma vez, nada disse. Apenas virou o rosto para a direita, de modo a poder olhar a face de seu colega mais novo. Pela primeira vez na vida, ela se sentia... ansiosa... para ouvir o que ele tinha a dizer.

- Ravena. – Mutano calou-se um instante, perdido naqueles olhos de cor púrpura, que tanto gostava. – Eu...

            E então, em uma explosão de luzes vermelhas, o alarme de Torre Titã soou.

- Cara, eu não acredito! Isso é hora!?! – O metamorfo gritou mentalmente, mordendo a língua para não acabar gritando de verdade, na cara da garota que estava abraçando.

            Durante o que lhe pareceu uma eternidade, não saiu de onde estava, dividido entre atender o chamado do dever e dizer logo de uma vez aquilo que pretendia. Porém, eventualmente, Ravena, lentamente, soltou-se dele, dirigindo-se para a sala comum.

            Sem outra escolha, Mutano foi atrás dela, prometendo a si mesmo que iria se vingar do desgraçado inconveniente que decidira bancar o espertinho JUSTO HOJE.

            Mas, se ele soubesse o que se passava na cabeça de sua misteriosa amiga, sentiria até pena do pobre coitado.

 

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            Robin, Estelar e Ciborgue já estavam prontos, quando Ravena e Mutano apareceram na sala. Sem fazer muito esforço para esconder seu desagrado com o atraso dos dois, o menino-prodígio explicou a situação.

- Overload está atacando um shopping nos limites da cidade. Parece que está se alimentando do fluxo de energia que normalmente seria consumido pelo conglomerado de lojas. Precisamos chegar lá antes que cause estragos demais.

- É! – exclamou Ciborgue, agitado. – Se não chegarmos logo, ele vai quebrar o lugar todo, incluindo a loja de autopeças que abriram ontem. Seria uma catástrofe!

            Mas, na verdade, os dois não precisavam ter se dado ao trabalho. Ravena puxara Estelar, e ambas já estavam voando. Mutano, por sua vez, já estava apertando o cinto de segurança, devidamente sentado em seu lugar no carro.

 

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            Ravena e Estelar chegaram à cena do crime antes dos rapazes, capazes de voar como eram. A empata estava prestes a adentrar o shopping, quando sentiu a mão da tamaraneana em seu ombro. Só então ela se lembrou que deveria esperar os outros antes de enfrentar a criatura. Overload, um chip de mainframe, tinha a capacidade de criar uma espécie de “corpo” feito de eletricidade, dotado de uma programação destrutiva, e era capaz de causar sérios ferimentos, usando seus relâmpagos. Por mais que quisesse desmantelá-lo até o último átomo, a jovem controlou-se, e aceitou o conselho silencioso de sua amiga, permanecendo parada até a chegada de reforços.

            Que não demoraram muito a chegar. Em minutos, ambas as garotas podiam ver a motocicleta vermelha e o carro branco e azul se aproximando. E, em seguida, todos já se encontravam no interior do shopping ameaçado.

            O que viram ali era pouco compatível com um ataque de Overload. Nada de destroços, incêndios, ou pânico generalizado. De fato, o único sinal de que algo estava errado, era o fato de o shopping center estar deserto. Várias lojas estavam com as portas escancaradas, e haviam sacolas de compras jogadas no chão, o que sugeria que os freqüentadores do local deviam ter saído às pressas. Fora isso... nada.

            Sem perder tempo, Ciborgue começou a examinar os inúmeros dispositivos embutidos em seu braço, buscando a localização exata da criatura que estavam caçando. A empata estava grata por não precisar fazer ela mesma esse serviço de localização. Overload, uma máquina desprovida de real consciência ou emoções, era... complicado de se detectar. Era como um não-evento no universo de emoções que a rodeava, uma semi-existência, não-natural. E o vácuo emocional, gerado por essa criatura, a incomodava, perturbando seu equilíbrio.

            A equipe encontrou a criatura no terceiro andar, alimentando-se com a energia dos geradores reserva. Como perceberam imediatamente, Overload estava diferente. Em primeiro lugar, a cor: um laranja brilhante, quase vermelho. Segundo, o chip que a controlava: em vez de ocupar um lugar relativamente estático no interior do corpo elétrico, ziguezagueava de um lado para o outro, ali dentro.

- E então? – desafiou Robin. – Vai se render ou vamos fazer isso do modo difícil?

            O vilão artificial virou-se, apenas para ver o líder dos Titãs parado diante dele. Se possuísse essa capacidade, ficaria intrigado com o fato de apenas UM indivíduo se opor a ele. Sua programação, no entanto, reconhecia três parâmetros simples: OBJETIVO, EXECUÇÃO E OBSTÁCULOS.

            Obstáculos deviam ser eliminados.

            Sem hesitar, Overload virou-se e começou a perseguir seu inimigo solitário, através dos corredores do shopping. Era apenas uma questão de tempo, até que se aproximasse o bastante para desferir um disparo certeiro. Sua vítima não tentava contra-atacar, apenas corria para preservar a vida.

            Quando chegou a um espaço mais aberto do shopping, perto da lagoa artificial, que era, normalmente, mantida congelada para patinação no gelo, Robin sorriu. A criatura tinha caído em sua armadilha. Bastava dar-lhe um banho para causar curto em seus circuitos, incapacitando-o por tempo o suficiente para prendê-lo. E seus colegas já estavam prontos para isso.

            Assim que Overload saiu do último corredor, viu-se cercado; sua presa, que até aquele momento estava fugindo, virou-se para encará-lo. Percebeu a presença de mais quatro formas de vida próximas, e uma rápida análise revelou-lhe que eram hostis. Mais obstáculos a serem removidos.

- Titãs, AGORA! – Ordenou o menino prodígio, arremessando um disco congelante contra o vilão.

            Ciborgue e Estelar abriram o registro das mangueiras de incêndio que seguravam. Ravena arremessou vários latões de lixo, cheios de água do lago artificial, derretido pela falta de energia para acionar os refrigeradores. Mutano, agora com a forma de um grande elefante africano, soprou a água coletada em sua tromba. Missão Cumprida, foi o que passou pela cabeça de cada um deles, naquele momento.

            Ledo engano.

            Nenhum deles previra que Overload fosse capaz de se mover tão rápido. Veloz como um relâmpago, o vilão evitou os jatos d’água sem qualquer dificuldade, alterando o formato de seu “corpo” conforme necessário. Uma espécie de barreira eletromagnética destruiu o disco congelante de Robin, e as gotas d’água que não podiam ser evitadas, foram instantaneamente reduzidas a seus átomos componentes, através de eletrólise.

            Aparentemente, a nova programação de Overload também estava lidando mais eficientemente com decisões táticas. Dois relâmpagos foram disparados contra as torneiras de incêndio, inutilizando as mangueiras que Estelar e Ciborgue empunhavam.

            Aqueles eram os Titãs, no entanto. A sua surpresa, por maior que fosse, não durou mais do que uns poucos instantes, após os quais a batalha estava em pleno desenvolvimento. Rajadas sônicas e verdes cortavam o ar, tentando atingir a criatura. Objetos envoltos em um brilho negro também eram levitados, e movimentados pelo ar de um lado para o outro, buscando um impacto contra o chip no interior da forma elétrica.

            E, é claro, relâmpagos cortavam o ar em velocidades próximas à da luz, errando seus alvos por centímetros a cada disparo. Os cinco adolescentes sentiam o arrepio da eletricidade estática que se acumulava no ar, enquanto saltavam, desviavam e buscavam cobertura contra aquela morte brilhante.

            A luta não estava saindo conforme o esperado. Robin logo exauriu seu suprimento de discos congelantes, e não pretendia usar nenhum disco explosivo, exceto em último caso. Diferente das rajadas sônicas de Ciborgue e o poder de Estelar, não era possível para ele ajustar o poder destrutivo de seus explosivos. Dessa forma, o líder dos Titãs decidiu ajudar de outra forma; retirando um maçarico de dentro de seu cinto de utilidades, começou a cortar a fiação elétrica em diversos pontos daquele andar, para que o vilão não pudesse acessar uma nova fonte de energia.

            Ravena não estava se saindo muito melhor. Tentava e tentava, mas o novo Overload era ágil demais para que ela o atingisse levitando e arremessando objetos. Além disso, ela estava tendo dificuldades para levantar e controlar a trajetória dos objetos que usava como arma, e a falta de meditação, de sono, somadas às atribulações dos últimos dias, estavam se mostrando um fardo, impedindo-a de manter o estado de calma adequado ao uso e controle de seus poderes. De fato, até mesmo flutuar estava se revelando um desafio.

            Ciborgue e Estelar estavam encarregados com o grosso da batalha. O primeiro disparava seu canhão sônico em rajadas mais prolongadas, de modo a perseguir melhor seu alvo. Ajustando a intensidade, para apenas o suficiente para danificar o frágil chip que era o núcleo da criatura, podia poupar energia e assim, lutar durante períodos mais prolongados, sem precisar de recarga. Estelar, por sua vez, compensava a agilidade de seu adversário com uma verdadeira barragem de seus disparos, que o forçavam a desviar-se e mudar de forma, com uma velocidade que parecia impossível.

            Mutano, por sua vez, estava se sentindo um inútil. Devido à natureza de seu poder, não podia tocar o vilão que combatia sem ser eletrocutado. Por isso, não tivera outra escolha, a não ser recorrer a ataques indiretos, ou seja: descer do terceiro andar (para onde Overload tinha recuado), até o andar térreo, se transformar em elefante, puxar o máximo de água que pudesse do lago artificial descongelado, e voltar correndo pelas escadas, para soprar essa água nele, na esperança de atingi-lo e, finalmente, ver se dava um curto no mané. Ele estava ficando cansado por conta dessa correria.

            Infelizmente, os borrifos d’água do elefante verde apresentavam a mesma precisão que os ataques de seus amigos, ou seja, zero.

- Cara! Assim não dá! – pensou ele esbaforido, enquanto descia as escadas para aspirar mais uma dose de água. – Já é a sétima vez que eu faço essa viagem e ainda nem cheguei perto de dar um banho nele!

            Por sorte, enquanto obtinha água no lago, o metamorfo lembrou-se de algo. Algo que tinha lido na biblioteca meses atrás.

            Toda a operação militar baseia-se na simulação.

            Por apenas um segundo, o elefante verde se perguntou de onde é que aquele pensamento tinha vindo. E depois, usou a tromba para dar um tapa na própria testa:

- Cara, como eu sou burro! Como é que não pensei nisso antes?

            O metamorfo saiu correndo para o terceiro andar, tão rápido quanto a sua volumosa forma permitia. Ele já não pensava no cansaço, e nem na agilidade excepcional de seu inimigo.

            Ele tinha um plano.

 

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            Enquanto isso, os demais Titãs continuavam a lutar. Ravena, Ciborgue e Estelar continuavam tentando subjugar seu oponente, enquanto Robin continuava a isolar eletricamente o andar. E cada um dos quatro, naquela hora, estava pensando exatamente o mesmo que os demais:

            Que era apenas uma questão de tempo, até que um daqueles relâmpagos atingisse um deles.

            Ao ver a chegada de um elefante verde, que se espremia todo para conseguir subir pelas escadas, Ciborgue ficou ainda mais preocupado. Seu melhor amigo era um alvo fácil com aquele tamanho todo, sem falar que, a esta altura, já devia estar exausto. Aquela devia ser entre a sexta e oitava viagem em busca de água; quantas mais Mutano agüentaria, antes de ficar sem forças para continuar se esquivando?

            Essa preocupação levou-o a tomar uma atitude taticamente incorreta: com o canto do olho, tentou observar seu amigo verde, para ver se ele estava em perigo ou não. Evidentemente, não conseguiria atacar, se defender ou proteger Mutano ao mesmo tempo, mas tal fato nem chegou perto de passar pela cabeça do jovem cibernético. Ele estava fazendo o que achava certo, e dane-se o resto!

            O que ele viu, porém, quase fez com que parasse de atirar; o metamorfo, ao invés de borrifar a água em jatos velozes e concisos, estava fazendo-o lentamente, como uma mangueira jorrando milhares de pequenas gotas. A “ducha” borrifada por seu amigo mais novo cobria uma área mais ou menos extensa, à esquerda de Overload, mas se movia devagar o bastante para que o monstro não precisasse fazer nada para evitá-la, além de andar para a direita.

- Mas o que é que o orelhudo pensa que está fazendo? Ele nem tá tentando acertar! Do que adianta fechar a esquerda se... SAQUEI!!

            De fato, Mutano tivera uma idéia, e das boas. O vilão artificial não poderia se esquivar para a esquerda, não sem se molhar e sofrer um curto. Então tudo o que Ciborgue precisava fazer era fechar a direita também. Com uma rajada sônica contínua, ele impediu seu alvo de continuar seu curso para a direita. Incapaz de voar, Overload se tornara um alvo fácil. O que se comprovou segundos depois, quando Estelar efetuou seu primeiro disparo certeiro.

            E segundo. E terceiro. Décimo. Trigésimo.

            As explosões resultantes levantaram uma nuvem de poeira e fumaça, que impediram a visão do vilão por alguns instantes. Certos da vitória, os Titãs reagruparam-se em trono da princesa alienígena, que estava dando seu último disparo. Bastava esperar a nuvem de pó se dissipar, para que pudessem coletar os restos de seu adversário e entregá-lo às autoridades.

            Infelizmente, a equipe viu algo inesperado, à medida que a poeira baixava. Luz. Um laranja intenso, quase vermelho, cujo brilho emitia fachos através do pó suspenso no ar. E, quando finalmente a visibilidade retornou aos níveis normais, os Titãs viram a criatura elétrica no mesmo lugar onde fora atingido: uma espécie de campo de força o envolvia, similar à barreira eletromagnética que fora usada para destruir os discos congelantes de Robin.

- Defletores. - Declarou Estelar, sem desviar os olhos.

- Parece que alguém andou fazendo muitas atualizações recentemente. – A voz de Ravena soou, num tom monótono.

- Mas afinal, QUEM é que a gente tá enfrentando? – questionou Mutano, de volta à sua compleição original. – Overload 2.0?

- Parece... – Reconheceu Ciborgue, desanimado. Bem que ele podia usar alguns daqueles truques em si mesmo.

            Apenas o garoto-prodígio deixou de registrar um comentário. Isso porque, naquele momento, ele ouviu um som, que temia mais do que os raios de seu oponente:

            Choro. Choro de criança.

            Um garotinho, de uns três ou quatro anos, estava no outro lado daquele andar, andando sem rumo. Tinha se perdido dos pais, com toda a certeza. Talvez no tumulto que deve ter sido a evacuação deste shopping.

            Infelizmente, porém, não foi apenas o líder dos Titãs que ouviu isso. Overload 2.0 aproveitou esse momento de distração para disparar, um raio laranja que chocou-se contra o teto, bem acima da criança que chorava. O concreto fez um som medonho, à medida que rachaduras cada vez maiores se abriam nele. Seriam precisos poucos segundos, até que o primeiro pedaço se desprendesse.

            O menino-prodígio não precisava mais pensar. Precisava percorrer quase trezentos metros em instantes, se quisesse salvar a criança. Mas não havia tempo. O primeiro bloco de concreto se soltara, e ele ainda estava longe. Longe demais.

            Sem intenção de desistir, ele disparou seu arpéu de escalada. Seu alvo era a parede, logo atrás da criança que chorava. Estava contando com o motor desse aparelho, para puxá-lo mais rápido, talvez o bastante para impedir uma tragédia.

            Seu gesto desesperado foi coroado de precisão. Robin conseguiu pegar a criança pela mão.

            Uns poucos instantes antes de ambos serem soterrados por toneladas de destroços.

- NÃÃÃOOOO! – Gritou Estelar, voando o mais rápido possível para a montanha de entulho, e então começou a desmontá-la, arremessando pedras e vigas para longe.

            Ciborgue, Ravena e Mutano se entreolharam. Em quinze segundos, dois de seus colegas tinham sido postos fora de combate. Sua situação acabava de se tornar bem mais complicada; se com cinco membros a equipe já estava tendo dificuldades, o que dizer de agora, com apenas três?

            Dito e feito. Overload 2.0 pareceu rugir, e, com isso, a barreira eletromagnética que o envolvia expandiu-se, como se de repente tivesse explodido. Mutano e Ravena apenas sentiram os cabelos se arrepiando com a estática, mas Ciborgue gritou.

- P.E.M.!

            Uma sigla. Uma única sigla proferida, e o homem metálico se encontrava no chão. Agora restavam apenas dois Titãs em condições de luta.

            Que logo expulsaram a surpresa de suas mentes, e revidaram. Ravena levantou vôo mais uma vez, e agora arremessava objetos maiores contra seu inimigo, tentando destruir o chip que rodopiava loucamente dentro dele. Mutano, ciente que não podia tocar Overload 2.0, transformou-se em um gorila e carregou seu amigo para longe.

- Desgraçado desonesto! – o Titã cibernético estava furioso e inconformado. – Onde já se viu usar um pulso eletromagnético em mim? Ah, seu covarde, quando eu te pegar...

- Cara, você tá legal? – Interrompeu o metamorfo, preocupado tanto com seu amigo, quanto com a empata, que estava enfrentando a criatura sozinha.

- Paralisado. Demora alguns minutos até meu sistema reiniciar.

- Então fui. Vê se não sai daí até eu voltar. – O Titã verde declarou, virando as costas e disparando de volta para o campo de batalha.

- Cretino. – Murmurou Ciborgue entre dentes, mas seu amigo mais novo já tinha desaparecido.

 

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            Ravena estava com dificuldades.

            Seu oponente, que, até agora, tinha praticamente passeado entre os poderes de cinco Titãs, agora estava com sua atenção totalmente focada nela. Além disso, sentia cada vez mais dificuldade em utilizar seu poder nessa batalha. Seu estado emocional abalado, a meditação atrasada, e a queda de três de seus amigos impossibilitavam tudo, salvo os níveis mais básicos de concentração. E, para piorar as coisas, essa nova versão de Overload conseguia se defender muito melhor do que antes. Mesmo que gozasse de controle total, a jovem ainda teria dificuldade para atingi-lo.

            Por um instante, contemplou a possibilidade de arrebentar aqueles chuveirinhos de proteção contra incêndio. Overload 2.0 eletrolizaria uma parte da água, mas não toda ela. Bastava molhar seu núcleo, e ele estaria derrotado.

            O risco, porém, era grande demais. Água se espalharia por todo o chão, deste andar e dos outros abaixo. E conduziria uma descarga mortal até Ciborgue, Estelar e Robin, isso se ele ainda estivesse vivo, debaixo daqueles escombros.

            Não, ela jamais cometeria semelhante imprudência. Jamais arriscaria a vida de qualquer um de seus amigos, não importa a razão. Apenas a sua própria.

            E era exatamente o que ela estava fazendo agora. Desviar dos relâmpagos de seu oponente se tornara impossível. A empata, agora, recorria a barreiras de sua energia negra para se proteger, mas elas estavam, lentamente, começando a fraquejar ante àquele assalto impiedoso.

            Então, com um estalo, Overload 2.0 finalmente conseguiu arrebentar o escudo de sua vítima, derrubando-a no chão. Ravena não estava realmente ferida, graças ao escudo, mas batera a cabeça na queda, e agora estava zonza demais para poder se mover.

            E a primeira coisa que viu, assim que sua visão recuperou o foco, foi laranja. Luz laranja. O monstro elétrico estava a dois passos dela, as “mãos” já concentrando energia, prontas para disparar. Quase podia se ver... triunfo... na postura dele. Triunfo... e deleite.

            Ravena reuniu toda a sue força de vontade, tentando parecer desafiadora diante da morte iminente. Ela não iria demonstrar fraqueza diante dessa... coisa. E, quando a luz laranja se tornou forte demais para que ela permanecesse e olhos abertos, pensou apenas nos amigos que iria deixar para trás.

            Ela ouviu o estalo ensurdecedor, que acompanhava os relâmpagos arremessados por seu inimigo.

            Sentiu o odor nauseabundo de carne queimada invadir suas narinas.

            Sem saber se agora estava no céu ou no inferno, a empata abriu novamente os olhos, surpreendendo-se com a visão de:

- ...Verde...?

            Demorou um instante para a empata compreender o que se passava à sua volta. Quando sua visão se ajustou novamente, viu um rinoceronte verde entre ela e Overload 2.0. Mutano.

            Que rapidamente ajustou sua forma outra vez: antes que Ravena pudesse reagir, braços de gorila a agarraram e empurraram, fazendo-a deslizar uns bons oito metros pelo chão, antes de finalmente parar. E, quando o metamorfo se virou para encarar o monstro, ela pôde ver a queimadura fumegante nas costas dele, que ocupava todo o espaço da cintura, descendo até o joelho esquerdo. Como, em nome de Azar, ele conseguia suportar a dor?

            A empata se concentrava ao máximo possível, para recuperar o uso de seus poderes. Mas a visão de Mutano, saltando e desviando, enquanto tentava atrair Overload 2.0 para longe, a inundava de receio e preocupação. Quanto tempo ele seria capaz de resistir até que...

- Oh, não... – Ravena murmurou baixinho, enquanto seu mundo subitamente entrava em câmera lenta.

            Ela viu a perna ferida do Titã verde fraquejar, levando-o ao chão.

            Ela viu a criatura brilhante envolvê-lo com seus “braços” de energia.

            Ela viu as queimaduras por choque elétrico se espalharem pelo corpo do metamorfo, linhas tortuosas de um verde-claro doentio, que seguiam o padrão dos nervos de seu corpo.

            O tormento de Mutano causou um efeito imediato na empata: seu ego espiritual, dormente até aquele momento, manifestou-se em toda a sua glória, na forma de uma gigantesca gralha negra. Não havia mais espaço para qualquer dúvida ou pensamento, exceto:

- SOLTA... ELE... AGORA!!! – Gritou Ravena, enquanto a gralha se transmutava em uma garra colossal, estendendo-se a partir de seu corpo.

            E exatamente um segundo depois, essa garra de energia caiu sobre Overload 2.0, com uma força de toneladas. Seu chip, rachado, recomeçou a flutuar lentamente, tentando reconstituir o corpo elétrico dissipado.

            Apenas para ser esmagado uma segunda vez. E uma terceira. E quarta. As autoridades, mais tarde, precisariam de uma lupa, para encontrar todos os fragmentos.

            Mas Ravena não estava preocupada com isso. De fato, já estava ajoelhada ao lado de seu amigo, determinada a ajudar. Não pensou nos limites de seus poderes curativos, nem na seriedade das feridas dele. Pensava apenas em azul. Luz azul, curativa. Capaz de emendar ossos e regenerar tecidos.

            Ela tinha um trabalho a fazer, e, por tudo o que valorizava, ela não.

            Iria.

            Falhar.

 

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- Onde é que eu estou? – Mutano perguntou a si mesmo, ao recobrar a consciência.

            Ele lembrava de ter lutado e se machucado. Lembrava da eletricidade fluindo através de seu corpo, e depois uma queda. Sentia que estava deitado, mas, estranhamente, não se sentia como se estivesse ferido. Na verdade, o garoto verde sentia-se ótimo, com disposição até para correr uma maratona. Parecia que tinha até nascido de novo.

            Sem intenção de continuar deitado, o metamorfo sentou-se. Mas quase no mesmo instante em que fez isso, sentiu alguma coisa trombando com ele. Alguma coisa que estava segurando-o no lugar.

            Ao abrir os olhos, Mutano viu apenas branco. Mas logo sua visão se adaptou à luz ambiente, e então ele percebeu que, na verdade, era uma pessoa que o estava abraçando. Uma pessoa que usava um capuz azul. Um capuz que ele conhecia bem.

- Finalmente você acordou! – Ravena estava agitada, de uma forma que o Titã verde jamais tinha visto antes. – Achei que você tivesse... pensei que tinha chegado tarde... – Ela então parou de falar, abraçando-o mais forte.

- Tô legal, Rae. Inteiro e pronto para outra. – Mutano respondeu sorrindo, fazendo menção de abraçá-la também.

            SCHPLAFFFF!!!

            O tapa foi tão forte, que a palma da mão de Ravena afundou dentro da bochecha de seu colega; Mutano quase caiu no chão, tamanha a força aplicada contra ele.

- SEU IDIOTA! O QUE PENSOU QUE ESTAVA FAZENDO? TEM IDÉIA DO QUÃO PERTO DE MORTE VOCÊ ESTEVE?

            O garoto verde endireitou-se. Em vez de cuidar da face ferida, ele sorria. Isso porque vira os olhos da empata, naquele instante. E estava feliz com o que vira ali.

- QUASE QUE NÃO CONSIGO TRAZER VOCÊ DE VOLTA! – continuou Ravena, que agora estava batendo no peito do metamorfo. – ERA ISSO O QUE VOCÊ QUERIA, BANCAR O MÁRTIR E ME DEIXAR AQUI SOZINHA?

            Isso debelou as últimas dúvidas que Mutano ainda tinha. Ele levou ambas as mãos ao rosto de sua amiga, e não se surpreendeu por ela não tirá-las dali.

- Você é um idiota. Idiota e estúpido. – Ela agora falava em seu tom de voz normal, enquanto sentia um polegar limpar uma lágrima de seu rosto.

            Então ela sentiu seu rosto sendo delicadamente levantado. Ao erguer os olhos, deparou-se com as duas orbes de jade que adornavam o rosto do metamorfo. Elas estavam semicerradas, a milímetros de seu próprio rosto. Podia sentir a testa dele encostada à sua, a ponta de seu nariz roçando no dele.

- Eu amo você. – Mutano sussurrou baixinho, para que apenas ela pudesse ouvir.

            E um instante depois, Ravena sentiu os lábios dele unirem-se aos seus. Isso, assim como a declaração que acabara de ouvir, a assustara; sua primeira reação foi tentar empurrar o garoto verde para longe, mas tudo o que conseguiu, foi fazer suas mãos repousar na cintura dele.

            Um beijo. O primeiro beijo de ambos. A empata já tinha lido descrições em alguns de seus romances, e sempre duvidara das palavras selecionadas pelos escritores, incapaz de acreditar que um gesto tão comum, pudesse trazer tamanho êxtase. Agora, ela sabia que o que tinha lido... nem chegava perto da realidade. Não tinha como descrever. Não dava para transmitir a intensidade desse gesto através de papel. Apenas fazendo é que se poderia sentir.

            O calor transmitido por um corpo junto ao outro.

            A forma como Mutano a segurava junto a si.

            Os olhos fechando-se sozinhos, como que a transportando para um mundo de sonhos.

            E o mais importante: algo que Ravena nunca acreditara que iria conseguir. Que temia não viver o bastante para obter. E que, trazido pela pessoa em cujos braços ela se aninhava, valia mais do que todos os tesouros do Universo.

            Eu amo você.

            Ela jamais se esqueceria deste dia.

            Jamais.


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