A Estória da Guerreira e do Curandeiro escrita por slytherina


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Sonja e Yovanes enfrentam mais monstros.



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          Sonja adormeceu. Sonhou com montanhas nevadas, rostos familiares, caldeirões com gulash. Lentamente essas imagens foram sendo substituídas por outras. Imagens de pessoas ensangüentadas, com as faces contorcidas de dor, urrando como animais desesperados. Quanto mais angustiante o sonho se tornava, mais forte Sonja agarrava-se a sua espada. Seus músculos ficaram tensos. Sua mandíbula cerrou-se fortemente. Em seu sonho tentava lutar. Matar seus oponentes. Mas ela era magrinha, fraca, indefesa. A única coisa que podia fazer era chorar e assistir a tudo impotente e desvalida. Em seu leito de peles de animais, Sonja começou a gemer e a respirar ruidosa e rapidamente.

          Yovanes tinha um sono leve. Acordou com o barulho. Sentou-se em sua cama improvisada e ficou observando Sonja em seu pesadelo. Pensou em acordá-la, mas lembrou-se do aviso que ela lhe dera. Sobre não aproximar-se de um guerreiro em combate. Mesmo dormindo. Percebeu que ela estava sofrendo. Queria ajudá-la, mas tinha medo dela. Então fez o que vira seu pai fazer muitas vezes, quando nenhuma poção ou feitiço resolvia o problema. Rezou. Com a cabeça baixa e as mãos juntas sob o queixo, começou a entoar uma ladainha ritmada. A respiração de Sonja voltou ao normal, ela parou de gemer e seu corpo relaxou.

          Sonja abriu os olhos e levantou-se de um salto. Empunhou sua espada prateada e procurou por seus inimigos. Percebeu que estivera sonhando e ficou irritada. Embainhou sua lâmina e andou ao redor da fogueira. Respirou fundo e olhou para Yovanes.

          _O que está fazendo?

          Ele, que até aquele momento estivera rezando, parou. Olhou para Sonja e deu um pequeno sorriso.

          _Estava rezando por você.

          _Você me tirou do pesadelo.

          _Eu não, os deuses ancestrais da minha aldeia foram quem lhe ajudaram.

          _Eu não acredito nos seus deuses.

          _Você não precisa acreditar, basta que eu acredite.

          _Eu não preciso da sua ajuda, nem da ajuda de seus deuses. Mas... Obrigada.

          _Disponha.

          Sonja voltou a dormir dessa vez tranquilamente. Quando amanheceu seguiram viagem. Contornaram a montanha e evitaram a trilha normal, pois Sonja pressentira que haveriam salteadores. O caminho que seguiam agora era pedregoso, e acharam melhor desmontarem dos cavalos e percorrê-lo a pé. Estavam em uma área com vegetação escassa e rasteira. Tudo estava muito silencioso. Sonja puxou seu cavalo Alexander para perto do sopé da montanha. Seu movimento foi imitado por Yovanes. Sonja estava apreensiva. Parou de andar e sacou a espada. Yovanes lembrou-se que o cavalo era mais valioso para ela, então procurou ficar próximo do animal.

          Tudo aconteceu muito rápido. Quase não houve ruídos. Um enorme pássaro desceu do céu a toda velocidade. Aproximou-se de Sonja que estava mais distante do grupo. Num piscar de olhos, Sonja jogou-se ao chão e rolou para o lado. O pássaro já estava retornando para outra investida. Dessa vez Sonja já estava preparada. Fez um movimento circular com sua lâmina. Quando esta atingiu o enorme pássaro, partiu-o em dois. A ave chegou ao chão como uma estrela cadente, espalhando uma chuva de sangue na sua passagem. Sonja correu para Alexander e montou-o rapidamente.

          _Vamos rapaz, o bando virá em seguida.

          _O que?

          _Não fale, aja.

          Não foi preciso falar duas vezes. Yovanes já estava montado e incitando seu cavalo a correr. Já estavam longe, quando ouviram o grasnar de aves de rapina. Sonja avistou uma caverna na montanha. Sabia que cavernas eram abrigos naturais de feras, mas achou melhor enfrentar uma fera que hibernava, do que um bando de aves sanguinárias. Assim fez. Yovanes a seguiu. Adentraram a caverna guiando seus cavalos. Sonja retornou à entrada empunhando sua espada prateada. Um inimigo de cada vez. Primeiro as aves que ousassem atravessar a soleira da caverna. Depois o animal que habitava aquele lugar.

          Yovanes andou até onde havia luz. Quando a caverna ficou muito escura, ele achou melhor esperar por Sonja. Trazia na mão os arreios de Alexander, o cavalo de Sonja e os de seu próprio cavalo, Keke. Ficou imaginando o que Sonja faria no lugar dele. Certamente ela não ficaria parada esperando ordens. Ou temendo pela própria sorte. Ele começou a escutar o grasnar de aves não muito longe dali. Conversou com seus animais para acalmá-los. Estava com medo, mas sabia que Sonja seria a vitoriosa. Ela era invencível. Uma força da natureza. Tão poderosa quanto os deuses da sua aldeia. Era uma honra estar aos serviços daquela guerreira.

          Sonja teve sorte. A entrada da caverna era estreita o bastante, para caber apenas um daqueles pássaros superdesenvolvidos. Então ela pôde matar um a um que ousou enfrentá-la. Após cinco de eles terem sido abatidos, fez-se silêncio. Sonja sabia que havia mais deles do lado de fora. Mas não se aventuravam a entrar. Sonja esperou mais um pouco e então resolveu procurar Alexander. Mais adiante os encontrou. Ela mirou o resto do caminho que se prolongava pela escuridão, no interior da caverna. Sabia que não era sábio ir por ali.

          _Quanto mais profunda a caverna, mais tonto e sufocado você fica. Sem falar que não há luz. O animal que habita aqui pode guiar-se pelo cheiro e nos encontrar tranquilamente. Seríamos presas fáceis. Vamos acampar por aqui, até amanhã. Então tiraremos a sorte com o bando de aves de rapina.

          Yovanes fez uma fogueira. Alimentaram-se de cascas e racionaram a água. Sonja lhe ordenou que ficasse de guarda primeiro e depois a acordasse. Ela dormiu quase imediatamente. Seu corpo estava cansado pelas lutas do dia. Yovanes ficou observando-a.

          "Ela é tão bonita. Tem esses cabelos que parecem chamas vermelhas. A maneira como segura a espada... Não, não é como os homens fazem. Ela tem graça, leveza. Parece uma dança, como se a espada não pesasse nada. Eu nunca conseguiria levantar uma espada dessas. Sua pele não tem nenhuma mancha. Eu não vi nenhuma cicatriz. Acho que ela nunca foi vencida. E seus olhos são o que eu mais gosto. Verdes intensos. Parece que tem fogo neles. Eu me sinto queimar quando ela olha pra mim. Eu não poderia dizer para o meu pai, que resolvi segui-la por causa dos olhos dela. Ele me chamaria de tolo apaixonado. Acho que ele sabe disso. Acho que ela também".

          Yovanes estava tão absorto em seus pensamentos que não percebeu que o ar ficou pesado. A primeira coisa que sentiu foi o cheiro. Cheiro de carniça. A princípio achou que eram os restos das aves que estavam apodrecendo. Mas então outro pensamento o sobressaltou. Sonja dissera-lhe que um animal habitava ali. Mas ele não ousava acordar Sonja porque sentira um cheiro de podre no ar. Levantou-se e foi ver os cavalos. Foi então que o viu. Estava distante. Tinha olhos brilhantes. Estava com a boca aberta, onde se podia ver suas presas e a saliva podre escorrendo. Era um urso enorme e horrendo. Apesar da distancia, ele poderia alcançar Yovanes facilmente, antes que o mesmo pudesse esboçar alguma reação.

          _Sonja, acorde. Sonja!

          Sonja acordou e prontamente deu um salto. Já desembainhava sua lâmina, quando a fera avançou contra os cavalos. Sonja deu um salto e se interpôs entre eles. O urso deu uma patada poderosa, mas Sonja agachou-se na mesma hora. Contra-atacou com uma estocada no flanco do animal. A despeito disso, a fera continuou de pé. Abriu os enormes membros e atacou Sonja. Ela o aparou com sua lâmina, certeira no seu coração. Ele era inacreditavelmente resistente. Sonja puxou sua lâmina e procurou contornar o urso, sem, contudo afastar-se muito, pois o animal poderia arremeter contra os cavalos.

          A monstruosa fera mirou a sua frente sem importar-se com Sonja. Ia à direção dos cavalos. Yovanes correu para puxá-los. Foi derrubado pela forte patada. O urso abriu sua bocarra para devorar Yovanes, mas sua cabeça deslizou ao chão. Nas suas costas estava Sonja com sua espada ensangüentada.

          Yovanes tinha um grande arranhão arroxeado na face, mas ele procurou primeiro cuidar de Sonja.

          _Isso foi idiota. Quando eu disse que meu cavalo valia mais do que você, não era para acreditar.

          _Você mentiu?

          _Não, não menti. Mas se você não dá valor à própria vida, então ninguém poderá salvá-lo.

          _Você salvou a minha vida, quando havia dito que não moveria uma palha por mim.

          _Eu apenas me aproveitei da distração do urso. Se eu não o matasse agora, os próximos seriam os cavalos.

          Yovanes ficou em silêncio e baixou a cabeça.

          _O que você pensou que eu iria dizer? Que eu me importo com você?

          Yovanes olhou-a tristemente e virou-se para afastar-se. Sonja segurou seu braço e puxou-o para si. Beijou-o ardentemente. Sonja então interrompeu o beijo e olhou-o nos olhos.

          _Não fique cheio de si Yovanes. Eu não me prendo a ninguém.

          Disse isso e afastou-se. Limpou o sangue do animal de si mesma e voltou para perto da fogueira. Não demorou a dormir novamente. Teve a intuição de que não sofreriam novos ataques naquela noite. O difícil era suportar o cheiro da carcaça da fera. Mas Sonja já estava habituada a coisas piores.

          Yovanes ainda estava nas nuvens. Passou ervas em seu ferimento e voltou para perto da fogueira. Seu coração estava em festa, dançando e cantando animados versos de júbilo. Ainda podia sentir o gosto de Sonja em sua boca. Tinha gosto de frutas vermelhas. Como os cabelos dela.   

         

 

           

 

          Fim do Capítulo 3

 

 


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Notas finais do capítulo

Oops! O hentai foi banido. Apenas aventura de "espada e feitiçaria".



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