PDV - Bella

Lembranças fazem parte do ser humano e ter um passado é fundamental.

Poder recordar sempre é bom. Infelizmente não tenho essa sorte.

Pode parecer estranho, mas não consigo simplesmente fechar os olhos e ter a mente invadida por imagens de varias épocas.

Só o presente me acompanha.

Para ser mais exata um pouco mais de 2 anos. Pelo o que sei sofri um acidente que afetou a minha memória.

Jacob meu marido me explicou que ao pular do penhasco (por diversão é claro) cai de mau jeito, batendo minha cabeça e me afogando. Como resultado fiquei uma semana internada e minha recuperação foi um pouquinho lenta.

Foi tudo um pouco complicado, mas nesse período também que descobri que estava grávida. Graças a Deus não perdi meu bebê e sete meses depois Emma veio ao mundo.

Ela era tão linda. Seus olhos da cor de um verde esmeralda, pele branquinha e cabelo com cachinhos na cor bronze. Tudo perfeitamente normal tirando o fato dela não se parecer em nada com Jacob.

Na época comentei esse detalhe e ele disse que não tinha nada a ver, e que Emma tinha puxado seus parentes distantes. Resolvi aceitar e deixar de lado, já que ele tinha razão. Porém não consegui acreditar totalmente. Uma sensação não me permitia.

– Mamãe – A voz doce e enrolada de Emma me desviou dos pensamentos.

– Sim minha querida? – Olhei atenta.

– Pu que tava fazendo aquea cala?

– Que cara?

– De trite – Sua mãozinha acariciou minha bochecha.

– Oh meu amor! – A peguei no colo. – A mamãe só estava pensando.

– Em que? – Me olhou curiosa. Apesar de ser muito nova Emma era muito inteligente.

– Em quando você era bem pequenininha.

– Pequeninha?

– Sim. Bem pequenina.

– Quanto? Qual o tamanho?

Me sentei com ela em meu colo. – Você era assim – Com os braços mostrei a medida quase exata.

– Só isso? – Sua surpresa me fez rir.

– Sim minha querida. Você era o bebê mais lindo de todo aquele hospital.

– Séio?

– Com toda a certeza.

– Mas o vovô Billy me disse que todos os bebês têm cala de joelho – Não agüentei e dei uma gargalhada.

– Oh meu amor, o vovô Billy estava só brincando.

– Mas não teve gaça nenhuma.

– O vovô Billy não tem senso de humor.

– Que o meu pai não ouça isso.

– Papai!! – Emma pulou no colo dele que se aproximou de mim me beijando rapidamente.

– Mas eu tenho razão.

– Eu sei que tem – Sussurrou em meu ouvido.

– Papai quando eu vou ganhar meu au-au? – Em algumas coisas Emma agia como uma criança de apenas 2 anos.

– A mocinha não acha que é muito jovem para ter um cachorro?

– Não. Eu já tenho 2 anos e 5 meses.

– Muito nova. Eu só fui ganhar meu primeiro cachorro com 5 anos.

Não pude dizer nada. Mas acho que nunca tive um.

– E você mamãe? – A olhei sem saber o que responder.

– Eu...

– Que tal irmos comprar bolinhos Emma? – Perguntou Jacob me olhando com cumplicidade.

– Oba! Eu queo um de choate com cobetua de moango e com muitos confetos! – Disse animada.

– Então vá pegar seu casaco que já estamos indo – Emma saiu correndo subindo a escada.

– Obrigada – O enlacei pelo pescoço dando um selinho em seus lábios carnudos.

– Eu sei que é duro pra você.

– Odeio isso! Queria tanto poder me lembrar.

– Não fique assim. A culpa não é sua.

– Se eu não tivesse pulado...

– Esse negócio de e “se” não funciona. Só serve pra nossa culpa aumentar.

– Ok. Você tem razão – Dei um sorriso fraco.

– Ponto papai – Emma apareceu o puxando pela mão.

– Boa menina. Agora vamos.

– Tchau mamãe – Me deu um beijo estalado na ponta do nariz.

– Tchau minha boneca.

– Não vamos demorar muito – Avisou Jacob.

– Tudo bem. Se divirtam.

– Até mais – Ganhei um beijo casto e acenos.

Suspirei subindo rumo ao banheiro. Um banho de banheira era do que eu estava precisando.

Escolhi roupas aconchegantes enquanto esperava.

A água quente serviu de calmante para meus músculos tensos e emoções conflitantes. Não sabia ao certo o porquê disso tudo, mas tinha algo a ver com o meu passado esquecido. O que me fez ficar alerta.

– Calma – Ditei em voz alta e usei o encosto como travesseiro. Aos poucos o ambiente sossegado me fez adormecer.

Como em vários sonhos, em alguns momentos a imagem de um homem os invade. Não sei dizer com clareza, mas ele não me é estranho. Muito bonito por sinal e seus olhos verdes me fascinam.

Ele sempre aparece carregando um bebê. O local do sonho é uma varanda, e os dois ficam no balanço. O homem misterioso embala o bebê enquanto canta canções de ninar. Quase a todo o momento um lindo sorriso surgi de seus lábios e seus fascinantes olhos me encaram brilhantes como a lua que compunha o cenário.

– Bella, eu te amo – Ele sussurra bem baixinho e devagar se aproxima de mim encostando seus lábios aos meus, começando um beijo lento que termina me deixando quase sem fôlego.

Quando nos afastamos ele me puxa para mais perto e quando vou falar alguma coisa tudo fica escuro novamente.

É muito frustrante!

Gostaria saber mais sobre esse homem misterioso.

Gostaria de saber quem ele é! Ou pelo menos se existe e se não é apenas fruto da minha imaginação...

Uma batida na porta me fez voltar ao banheiro.

– Amor, posso entrar?

– Claro, já terminei aqui – Sai da banheira me enrolando na toalha.

– Demoramos muito?

– Acabei pegando no sono e nem vi o tempo passar.

– Sem problemas. Trouxemos bolinhos para você.

– Hummm. Agora bateu uma fome – Vesti a blusa e quando virei, ele estava me encarando. – O que foi?

– É você – Se aproximou passando a mão em meus cabelos.

– O que tenho eu?

– Você é linda demais – Seus olhos castanhos me analisavam.

– Jacob...

– Ellie eu só estou dizendo a verdade.

– Tudo bem. Agora vou descer, já que os bolinhos me esperam – Estava quase na porta quando ele me puxou para si.

– Não me ignora Ellie. Eu te elogiei.

– Eu sei, e agradeço.

– E o que mais? – Apertou meu braço me prendendo a ele.

– O que mais o que? – Perguntei confusa.

– Cadê meu beijo? – Encostei apenas meus lábios nos dele e me afastei.

– Só isso? Você sabe fazer melhor Ellie.

– Claro que sei, mas não quero no momento.

– Ellie não me provoca... – Suas grandes mãos estavam começando a machucar.

– Jacob você está me machucando – Disse entre os dentes.

– Mamãe... – Emma apareceu nos olhando curiosa.

– O que aconteceu minha querida? – Jacob me soltou ficando um pouco distante.

– Você não vai descer? O papai compou sovete também.

– Sério? De qual sabor? – A peguei no colo enquanto o olhava sem entender o porquê daquela sua reação.

– De moango, choate e baunia.

– Nossa que delicia! Então vamos logo antes que o D'Artagnan acabe com tudo.

– Aquele gato é muito guoso! – Fez uma pequena careta.

O restante da tarde passou sem demais novidades. Eu e Emma ficamos assistindo a filmes e depois montamos um quebra-cabeça.

Estava tudo muito bom, indo muito bem até a hora em que fui me deitar. Assim que entrei no quarto, Jacob já estava do seu lado da cama com uma expressão sombria.

– Boa noite – Dei as costas para ele desligando o abajur do meu criado-mudo.

– Ellie... – O senti se aproximar e me retrai.

– Jacob não quero discutir com você novamente.

– Não é nada disso.

– Então seja direto porque estou cansada.

– Me olhe, por favor – Fiz o que ele pediu esperando pelo o que viria.

– Pode começar.

– Quero me desculpar pela minha reação imatura. Não sei o que me deu.

– Muito menos eu. Você chegou até a me assustar!

– Eu sei, e por isso sinto muito. Prometo que não farei de novo.

– Será mesmo?

– Eu prometo! – Quase pulou. – Prometo porque te amo e não quero te perder.

– Ok. Mas estarei de olho em você.

– Sim senhora! – Me abraçou com tanta força que mal consegui respirar.

Naquela mesma noite durante outro sonho o homem misterioso voltou a surgir. Diferente dos outros momentos, esse foi um pouco mais duradouro, e pude admirar aquela figura máscula que estava cada vez mais me deixando encantada.

Era totalmente irracional.

Mais do que eu consigo explicar, porem toda vez que adormeço espero pode ser surpreendida com maravilhosos olhos verdes.

Que por coincidência são idênticos aos de Emma!