Kensei acendeu a luz do abajur, olhou para o lado e viu que Reiko não estava ali. Admitia que ela o havia cansado daquela vez, tanto que sequer notou em que momento ficou sozinho na cama. Assim que espreguiçou o corpo, levantou e foi até o banheiro, nem sinal de Reiko também. Ao olhar para o sofá, viu que o gigai dela estava ali, assim como o manto do Kidoushuu, não acreditava que ela havia saído sem comunica-lo. Apressou-se para sair do gigai, então, quando foi abrir a janela, Hisagi apareceu no quarto já em sua forma espiritual.

— Taichou... Eu recebi uma informação do Kurotsuchi-taichou, fizeram uma autópsia no corpo e aquele shinigami realmente foi o catalisador do kidou.

— Hmm... – Kensei saltou pela janela e Hisagi o seguiu. – Sabe se falaram com a Reiko também?

— Não, justamente por isso vim aqui agora! Aconteceu algo?

— Ela sumiu... Mas, consigo sentir a sua reiatsu, não muito longe e está tendo alterações.

Centro de Karakura

Reiko estava saltando em alta velocidade pelos prédios, perseguia alguém com trajes parecidos com os do Onmitsukidou que se movia de um jeito que ela quase não conseguia acompanhar. Queria utilizar um hadou para abater o fugitivo, entretanto, sabia que era inútil naquela velocidade. Ao ver que o estranho desceu em um campo de futebol, ela sacou a zanpakutou e se manteve no ar, não acreditava que aquela perseguição chegaria ao final tão rápido.
O estranho ficou estático olhando para ela, como se estivesse esperando com que descesse. Não tinha outra opção, pois, tinha certeza de que aquele ser havia conjurado um kidou proibido próximo do hotel. Como taichou do Kidoushuu, era mais do que fácil sentir a mudança de energia no instante em que alguém conjurava um kidou, principalmente quando a reiatsu havia se manifestado bruscamente.

— Hey, você! Mostre seu rosto...

Reiko estava pronta para imobilizar o estranho caso ele fizesse qualquer movimento, contudo, nada aconteceu. Como não tinha muita paciência, ela desceu e pousou com leveza no chão, zanpakutou em mãos.
A mão do estranho se moveu, Reiko pensou em lançar um bakudou, entretanto, viu que aquele ser estava mostrando o rosto. Era uma jovem mulher, de cabelos castanhos e olhos grandes, arregalados como se estivesse apavorada. Quando ela foi abrir a boca, Reiko sentiu uma manifestação assustadora de Reiatsu perto dali, a pressão era tão forte que a incomodava. Ao olhar para a direção de onde vinha a energia, Reiko deixou a sua guarda aberta e a jovem mulher apenas estalou um dos dedos e sorriu de forma sombria.
Ao redor da taichou, um esquife imenso de energia negra e roxa tomava forma, começando a prendê-la numa velocidade que ela não podia sequer tentar escapar. Reiko não conseguia raciocinar, aquela energia densa logo a selaria e ela tinha ciência do que se tratava. Sua zanpakutou não podia ajuda-la, então, ela cerrou os olhos.

— Reiko! – Kensei chegou a tempo de ver as lanças negras de energia perfurando o gigantesco esquife, não conseguia acreditar que Reiko estava lá dentro. –  Hisagi... Cuide dessa mulher! Não a deixe escapar!

Hisagi saltou em direção à jovem que estava lá estática, diante dele, ela caiu de joelhos no chão como se estivesse sem forças e desfaleceu no momento em que o fukutaichou a pegou nos braços.
Muguruma Kensei empunhou a Tachikaze já em sua forma shikai, ao seu redor, uma forte explosão se fez, levantando uma grande quantidade de poeira do solo. A cor verde de sua energia espiritual cegou Hisagi por alguns instantes, e a força de sua reiatsu era intimidadora. No momento em que ele levou sua arma para trás com o intuito de lançar um ataque, ouviu um ruído como se algo estivesse se quebrando. Diante dele, aquele esquife se quebrava em inúmeros pedaços, desaparecendo completamente.
Reiko olhou para Kensei e sorriu, estava totalmente envolta por uma barreira de energia dourada que protegia seu corpo por todos os ângulos. Assim que o taichou colocou a zanpakutou na cintura, ela desfez a barreira.

— O que aconteceu? – Perguntou preocupado. – Como você quebrou aquilo?

— Eu não quebrei, – ela olhou seriamente para o taichou – apenas me protegi... Quem conjurou o Kurohitsugi deve estar bem longe daqui, por isso, ele se desfez.

— Mas e essa mulher? – Hisagi não estava entendendo mais nada. – Ela está viva pelo menos.

— Não foi ela – Reiko caminhou até Hisagi. – De alguma forma, o hadou foi conjurado por ela, porém, o poder veio de outro ser! Sei que é confuso, mas eu pude sentir. Uma jovem como essa não é capaz de conjurar um hadou de nível noventa sem o canto.

— Você me deve muitas explicações – Kensei estava nervoso, estalava todos os dedos. – Como saiu sem falar comigo? E se aquela porcaria tivesse perfurado todo o seu corpo?

— Yare, yare... Vamos conversar em paz – ela pegou Kensei pelo braço e o puxou. – Hisagi-san, leve essa garota até a Urahara Shouten, ela precisa de cuidados... Tenho certeza que a Yoruichi vai saber o que fazer. Ainda não entendo o que está acontecendo, mas pelas vestes, já deu para perceber que é outro membro do Onmitsukidou. Só saia de lá quando descobrir quem é e o que ela fazia aqui.

Hisagi assentiu e saiu dali. Reiko sentia-se um pouco cansada e muito confusa, tentava organizar seus pensamentos, porém, com Kensei questionando-a o tempo todo estava difícil. Ambos haviam voltado para o hotel e ela estava tomando um banho na hidromassagem luxuosa, enquanto ele esperava por respostas, com os braços cruzados encostado à porta.

— Pense comigo, Kensei – começou Reiko enquanto brincava com a espuma. – A Soul Society identificou a atividade de alguém utilizando um kidou proibido. O Kuukanten’i não é usado desde que vocês se tornaram hollows... Ao menos, ninguém soube – falou baixinho em tom de confissão, sorrindo para Kensei. Ele não era ingênuo e a conhecia bem, logo, entendeu o que ela quis dizer. – Foi esse kidou que identificaram primeiramente antes de me convocarem. E, quando chegamos aqui, vimos um shinigami morto por causa do uso do Ittou Kasou, um hadou de nível noventa e seis! Antes de eu sair, não só senti como vi pela janela alguém utilizando uma rajada de energia no ar, estava muito longe, contudo, é certo que se tratava do Hyoga Seiran.

— Hyoga Seiran? – Repetiu Kensei sem entender.

— Sim, é um hadou um pouco desconhecido e não o ensinam na academia. Muitos shinigamis pertencentes a famílias nobres o aprendiam. Depois posso demonstrar, se quiser...

— Certo, então, temos um hadou não muito usado, mas não acredito que isso nos leve a algum lugar – ele coçou a cabeça.

— Também não acredito! – Reiko levantou-se da banheira e notou o olhar de Kensei, antes que ele pudesse pensar em qualquer coisa, ela enrolou-se em uma toalha e saiu do banheiro para se vestir. – Bem, assim que eu saí, consegui localizar aquela jovem e ela me levou até o campo. Sua velocidade era invejável, com toda a certeza aprendeu técnicas avançadas de shunpo. No instante em que eu pensei em rendê-la com algum bakudou, senti uma manifestação de energia, juro que a força daquela reiatsu me incomodou... Por alguns segundos eu mal conseguia me mover, era assustadora. Ao que a presença se alterou, vi que a garota conjurou o Kurohitsugi... Fui bastante descuidada, pois se eu não tivesse me distraído com aquela reiatsu, não teria caído naquele hadou. O problema foi o seguinte, ela não utlizou o canto e mesmo assim, foi muito forte.

— Hmm... Mas e aquilo que você disse no campo? Não estou entendendo nada!

— Calma, seu impaciente! – Reiko jogou a toalha molhada nele, que a pegou agilmente. – É tão difícil explicar, Kensei... Ela lançou o hadou, mas a energia não veio dela. É como se alguém tivesse controlado o corpo dela e transferido a energia... Acredito que com o outro shinigami também foi assim. Alguém está usando shinigamis mais fracos para testes, como se fossem fantoches. E não sei se é uma pista, mas o fato de serem do mesmo bantai me intrigou.

— Fantoches... Para mim estão usando como se fossem distrações! Sua atenção foi voltada para a manifestação de reiatsu, assim, conseguiram prendê-la.

— Kensei, será que essa dominação só funciona com shinigamis mais fracos?

— Espero que sim, sinceramente.

— Sobre o Kuukanten’i... Quem quer que tenha usado certamente o fez para sair da Soul Society sem ser pego. Já pedi para que todos os condenados pela utilização de kidous proibidos fossem checados, agora é esperar.

— Eu temo que enfrentaremos algo muito grande e quer saber? – Kensei sorriu de forma perversa. – Eu vou adorar arrebentar a cara de quem está fazendo isso!