É hoje. Hoje é o dia em que abrirei meu coração. Hoje é o dia que todos saberão da verdade. Hoje é o dia em que meu coração será despedaçado por uma certa loira.

Como sei disso? Digamos que amar Quinn Fabray não é uma das coisas mais fáceis que se possa fazer. Para fazer isso, você tem de estar preparada para sentir seu coração se apertar a cada vez que se encontrar com ela no corredor da escola. Para a cada vez que alguém tocar no nome dela, você se sentir cheia de uma faísca que te impulsiona a respirar e até mesmo, viver. Para a cada simples vez que o olhar dela parar no seu, sentir sua respiração vacilar, suas pernas tremerem e sua voz falhar. A cada vez que ela te ignorar, sentir seu mundo desmoronar como se nada fizesse sentido. A cada gesto que ela faça, você se controlar para não ir abraçá-la e declarar seu amor.  A cada vez que você pensa nela (24 horas por dia) você ficar sorrindo bobamente ou na maioria das vezes, chorar loucamente...

Chorar. Exatamente isso que venho fazendo desde que descobri meu amor incondicional por Quinn.  Sim, incondicional. Motivos para amá-la? Posso até dizer que nenhum. Quinn sempre me maltratou e me humilhou até não poder mais. Tenho o direito de dizer que tenho motivos de sobra é para odiá-la. Mas não. A amo. A amo com tudo o que posso oferecer. A amo com todo o meu ser e com todas as minhas forças.

Quinn me odeia e dói. Muito. É isso, o amor dói.

Dói, claro. Mas ao mesmo tempo em que dói, é o que te motiva a viver. É o que te faz levantar todo dia com a incerteza ao não saber se você vai ser ignorada, ou se vai levar uma slushie no rosto, ou ser jogada por aí feito lixo, ou ser chamada de nomes esquisitos. No meu caso, é disso que se trata o amor: dar à cara a tapa.

Quinn não tem um histórico muito bom. E eu não me importo. Não me importo porque mesmo doendo, me sinto segura com ela. Ela pode estar jogando slushies em mim, me xingando, me atirando de uma ponte, me ameaçando, qualquer coisa, que mesmo assim não me importo. Quando ela faz isso posso sentir uma coisa diferente do usual em seu olhar. Uma coisa que a contradiz. Que a deixa desestabilizada.  Para não criar expectativas, prefiro não pensar nesse olhar. Como disse, prefiro pensar que ela me odeia, fazendo assim com que meu coração doa a cada vez que aquele cabelo loiro, aqueles olhos avelãs, e aquela maldade dela me veem à cabeça.

Eu não entendia. Uma hora eu caía de amores por ela. Na outra ou chorava por sua causa. Mas o amor não precisa de explicação. Ele apenas acontece. E quando nós vemos, estamos perdidos num caminho sem volta.

Desde o dia em que a olhei pela primeira vez, fui maltratada por ela. Desde o dia em que a olhei pela primeira vez, descobri o que é o amor. Foi assim, do nada. Um encantamento se instalou em mim. Uma alienação do que se passava ao meu redor. E foi assim desde aquele dia: a cada vez que a olho, sinto uma mistura de entusiasmo com delírio, encanto, êxtase. Sinto... Amor.

Sinto também meu instinto protetor gritar. Sinto desde aquele dia que devo protegê-la. Ficar ao seu lado sempre, mesmo com ela me tratando do jeito que me trata. Sinto que ela precisa de alguém. Alguém para estar lá por ela. E eu vou estar. Sempre. E ela precisa saber disso.

É hoje. É hoje, na sala do Glee Club. É agora.

1, 2, 1, 2, 3, 4

Como combinado, Puck começou a suavemente dedilhar seu violão.

Give me more love than I've ever had,
Make it all better when I'm feeling sad,
Tell me that I'm special even when I know I'm not.

Inicialmente, nenhum membro do Glee entendeu coisa alguma, pois eu cantava de olhos fechados. Até que na última frase da estrofe, encontrei os olhos de Quinn.

Make it feel good when I hurt so bad,
Barely gettin' mad,
I'm so glad I found you.
I love being around you.

Quinn me encarava sem entender nada, mas com aquele brilho no olhar. O restante do Glee estava me julgando insana, logo que Quinn sempre me maltratou e aquelas palavras não faziam sentido algum devido aos fatos.

You make it easy,
As easy as 1, 2... 1, 2, 3, 4.

Fui me aproximando do lugar onde Quinn estava sentada e ela arregalou os olhos, provavelmente por conhecer a letra da música. Sem desgrudar do seu olhar, parei em sua frente para cantar o refrão.

There's only 1 thing,
2 do, 3 words, 4 you.
I love you.
There's only 1 way,
2 say those 3 words
That's what I'll do.
I love you.

Olhando para ela, enquanto eu cantava o refrão, vi lágrimas descendo de seu rosto e um sentimento que eu nunca tinha visto se fixou em seus olhos. Ela me encarava de forma diferente. De jeito amoroso e cordial. Nesse mesmo instante comecei a chorar ao perceber que ela estava sorrindo. Ah, aquele sorriso que eu amava...

Give me more love from the very start,
Piece me back together when I fall apart,
Tell me things you never even tell your closest friends.

Make it feel good when I hurt so bad,
Best that I've had,
I'm so glad I found you.
I love being around you.

Agora eu segura as suas mãos. Olhos nos olhos. Lágrimas escorrendo pelo rosto de ambas e aquele olhar. Aquele olhar.

You make it easy,
As easy as 1, 2... 1, 2, 3, 4.
There's only 1 thing,
2 do, 3 words, 4 you.
I love you.
There's only 1 way,
2 say those 3 words
That's what I'll do.
I love you.

I love you.
1, 2, 3, 4.
I love you.
I love you.

Terminei a música e o espanto do resto do Glee só não foi maior que o sorriso da loira a minha frente. Eu ainda segurava suas mãos, quando ela levantou e me levou até a saída da sala do Glee. Paramos em um dos armários no corredor e Quinn me prensou contra um deles.

Sentia seu corpo pressionando o meu, seus olhos me encarando e sua mão acariciando meu rosto. Fechei os olhos. Meu coração estava prestes a sair pela boca. Minhas pernas tremiam. Eu estava sem ação. “Quinn...” Consegui a muito custo falar.

“Shiu.” Foi a única coisa que Quinn disse antes de segurar minha cintura e aproximar nossos rostos. Seus lábios foram de encontro aos meus e senti o gosto de suas lágrimas. Coloquei minhas mãos na sua nuca e senti sua língua nos meus lábios. Quinn não falou uma palavra desde minha declaração, mas isso não era necessário. Palavras não eram necessárias. Agora eu tinha certeza. Quinn também me amava. Dei espaço e quando a senti, o mundo parou. Era ela. Apenas ela. E assim seria para sempre. Eu e ela.