O máximo que pude fazer quando acordei, foi ficar sentada encarando o breu.

                Eu tentava me concentrar no meu batimento cardíaco, mas algumas cenas vinham a minha mente. Se concentrar deveria ser mais fácil, já que eu tenho sangue totalmente divino, mas acho que esse negócio todo de divindade funciona como o sangue divino de um semideus. Um semideus só tem controle e consciência de suas habilidades, depois dos 12, 13 anos. Comigo devia ser assim também. Contando com que eu fora toda minha vida ensinada a ser como os outros e consciente de que eu era normal. Acho que era só uma questão de tempo e treinamento até que eu me tornasse uma deusa de verdade. Que ótimo!

                Tirei o cabelo do rosto e fui até o banheiro. Tomei um banho, vesti a camisa do acampamento e um short. Já tinha colocado os All Star quando vi pelo canto do olho, minhas botas verde musgo. Sentei na cama, tirei os tênis e coloquei a bota. Parecia que era tudo como antes.

                Suspirei e sai do chalé.

                Do lado de fora, estava um pouco escuro ainda. O sol vinha chegando rápido e quente.

                Fiz uma trança de lado enquanto caminhava colina acima. Eu não conseguia parar de pensar no meu sonho. Por que eu não tinha percebido? Era tão obvio! Tudo parecia desconexo!

                Eu ainda pensava nisso quando cheguei ao meu destino. Puxei a porta presa ao chão e desci até a gruta. Liguei todas as luzes e procurei um livro entre as estantes.

                O que Erik me dissera retumbava em minha mente. “Aqui tem tudo”.

                Com certeza tinha um livro sobre todos os deuses gregos. E eu estava certa sobre o livro, mas errada ao pensar que era um só. Era uma coleção de vinte livros grandes e empoeirados, e não tinha muitas imagens para ocupar páginas...

                De um em um, levei-os até mesa. Isso deve ter demorado uma meia hora. Quando acabei fiquei tão cansada que sentei, apoiei a cabeça na mesa e dormi. Graças aos deuses, sem sonhos. Por que... Aquilo não era um sonho, era totalmente real.

                Eu estava novamente no Olimpo. Um vestido azul de cor bem clara que caia em meu corpo, uma rasteira dourada estava calçada em meu pé. Eu também usava algumas joias, mas em tese, eu estava simples.

                Passei por uma neblina densa, e ao se dissipar, avistei um enorme templo feito de vidro. Porém o vidro era fosco, e não conseguia ver nada que estava lá dentro. Só algumas formas coloridas que se mexiam com muita velocidade. Caminhei sobre as pedras que levavam até o templo e abri a enorme porta. Assim que passei por ela, senti uma espécie de pressão que incomodava um pouco. Dentro da sala, cerca de 8 pessoas discutiam acirradamente sobre algo que não conseguia distinguir. A sala era muito grande, e tinha 12 tronos em um circulo, cada um enfeitado de um jeito. Uma mulher com uma armadura completa discutia com um cara alto e bem forte. Ela era muito bonita, mas parecia querer esconder isso atrás do elmo. Sua roupa toda prateada reluzia quando ela se movia, e ela fazia isso bastante. O cara com quem ela discutia parecia extremamente zangado com ela, e ao contrário da deusa, não tinha um pingo de astucia nos olhos quando gritava.

                - Fiquem calados! Ela chegou. – No lado direito da sala, Afrodite gritou.

                Minha mãe usava uma toga branca e reluzente. Ela caia pelo seu corpo como uma cascata e ela parecia extremamente majestosa usando-a. Seu cabelo ruivo estava preso em um coque bem alto e metade do cabelo caia em suas costas.

                Ela veio até mim em um quase tele transporte. Me assustei quando ela apareceu a minha frente com seu olhar de compaixão.

                - Sabe porque esta aqui, certo, Helena?

                - Na verdade, não sei, não.

                Ela suspirou junto com os outros deuses.

                - Seu sonho. Seu sonho dessa noite foi influenciado.

                Assim que ela terminou a frase, um trovão riscou o céu e o trono do meio foi cercado de fumaça.

                - Começando sem mim, Afrodite. – Uma voz grossa e superior veio do trono.

                “Eles estavam ali para discutir sobre o meu sonho?”

                Olhei os deuses ao redor. Os únicos que pareciam sorrir eram um deus com asas no elmo e nos pés, uma moça de sorriso doce e com flores pelo cabelo e uma mulher alta, bonita com vestido cor de trigo e um colar de folhas. Claramente Hermes, Perséfone e Deméter. Os únicos que ficaram ao meu lado.

                - Sim, estamos aqui para discutir sobre o seu sonho. – Zeus respondeu.

                Os deuses que estavam em pé se sentaram. Assim que se acomodaram, outros 3 chegaram falando alto. Eles passaram por mim e foram se sentar, mas um parou ao meu lado e disse:

                - Até aqui?

                Sr. D fez uma carranca.

                Revirei os olhos e percebi quem era quem.

                Ao lado direito esquerdo de Zeus estava uma mulher loira com uma coroa na cabeça. Ela parecia poderosa com todas as duas joias e me examinava como se eu fosse o problema. Acho que eu era mesmo. Era claramente Hera.

                Ao lado de Hera, se encontrava Deméter. Com seu sorriso carinhoso e olhos leitosos.

                Ao lado de Deméter, estava aquela deusa que discutia com o cara fortão. Não sei como não percebi antes que se tratava de Atena.

                Ao lado dela, estava uma deusa que parecia quase brilhar. Ela usava uma calça de montaria, uma blusa preta e por cima um casaco preto e lustroso. As suas botas iam até abaixo do joelho e em cima de sua cabeça tinha uma pequena tiara prateada. Ela carregava uma aljava nas costas e segurava um arco. Ártemis.

                Ao seu lado estava minha mãe. Ela me olhava com a testa franzida e parecia ler meus pensamentos.

                AO lado de Afrodite tinha um trono, mas parecia não ser usado a muito tempo.

                Ao lado direito de Zeus, tinha um homem alto e musculoso. Ele tinha um tridente a mãos e uma barba rala. Parecia ser um bom homem. Poseidon.

                Ao lado de Poseidon, estava aquele homem que discutia com Atena. Ele não me encarava, olhava o chão. Ares.

                Ao seu lado, estava um cara sorridente e bonitão. Obviamente, Apolo.

                Do lado de Apolo, estava um homem grande, desajeitado e que parecia desconfortável. Mas tinha rugas de preocupação no rosto. Eu podia ver que apesar de seu físico, ele tinha um coração lindo. O marido de minha mae, Hefesto.

                O homem que me ajudou com a luz elétrica, Hermes, sorria para mim ao lado de Hefesto.

                E ao seu lado, estava Sr. D.

                Ao lado de Sr. D não tinha um trono como tinha ao lado de minha mãe, mas tinha um espaço para um.

                No centro da sala, tinha uma imensa fogueira. Mas não atrapalhava a minha vista, pois ficava em um buraco cavado no chão de mármore.

                Zeus ia dizer algo, quando uma voz vinda de trás de mim disse:

                - Iam começar sem mim?

                Virei e Eros estava parado na porta. Ele me olhou e sorriu me cumprimentando.

                - Olá, Helena.

                - Oi.

                Eros balançou a mão e um trono surgiu ao lado de Dionísio, que revirou os olhos. Meu pai foi se sentar.

                Olhei os deuses. Eu sei que eu sou como eles, mas acho que deveria me curvar ou fazer uma mesura, algo assim. Dobrei o joelho e abaixei a cabeça, Zeus balançou a mão e voltei ao meu normal.

                - Helena, fui informado que você teve um sonho.

                - Sim...

                - Deixe-nos ver. – Hera disse.

                - Eh... Como eu faço isso exatamente?

                - Lembre-se dele e abra sua mente. – Ártemis disse.

                “Ah, agora ficou fácil”.

                Ao começar a passar cenas rápidas em minha mente, ruborizei. Eu não queria mostra-los meu beijo com Mark.

                - Filha? – Afrodite me chamou.

                - Sim.

                Passei o sonho inteiro em minha mente, sem tirar nenhuma cena, nem acrescentar nenhuma explicação.

                - Basta. – Zeus anunciou.

                Limpei a mente.

                Os deuses ficaram em silencio.

                - Estou ciente que sua mãe desrespeitou as regras e explicou a você tudo sobre nossas decisões. – Zeus disse.

                Afrodite não mudou sua expressão.

                - Portanto, sabe que a maioria votou pela sua morte.

                Poseidon engoliu em seco.

                - Sugiro... Uma nova votação.

                Fui tomada pela surpresa. Dei um passo para trás. Os vidros da sala balançaram, mas os deuses não se alteraram com isso. Lembrei que eles tinham por volta de 6m de altura, porque já tinham mudado para o meu tamanho quando eu cheguei? Não imaginava que eles eram tão respeitosos.

                Uma pequena ninfa entrou pela sala. Os deuses não pareceram percebe-la. Ela era pequena demais, mas não parecia... Errada. Parecia que eu é que estava. Olhei para o lado de fora. Tudo era pequeno também, eu que estava grande, como os deuses, pois... Eu era uma deusa como eles. Engoli em seco.

                - Bom dia... – A ninfa anunciou-se.

                Os deuses se viraram para ela.

                - Hades ligou. Disse que não há votação a ser feita. “Vocês não vão fazer coisa alguma com ela! Essa menina é minha protegida, qualquer coisa que ela fazer, retirem de mim o igual!”, palavras do Lorde Hades.

                A ninfa parecia sem graça por narrar as palavras de um deus.

                Zeus se endireitou em seu trono.

                - Já que é assim. – Pude ver os lábios de Zeus se retorcendo em um sorriso.

                Afrodite olhou para mim com pena.

                - Helena será subordinada de Hades. Palas Helena ganhará uma missão em busca do espelho perdido. – Zeus decretou.

                - Espera, ai! O que?! – Levantei as mãos.

                - Alguma objeção? – Perguntou Zeus com as mãos paradas no ar.

                - Uma missão? Eu não pedi uma, ainda.

                - Seu sonho foi claramente manipulado, mostrando fatos que aconteceram por causa do espelho, você foi a escolhida para ir nesta missão, você precisa ir. Helena, não passa por sua mente a quantidade de semideuses que morrem tentando cumprir esta missão?

                Zeus parecia quase suplicante... O que me fez sentir, sei lá, especial. Imaginei todos os semideuses que tinham morrido para tentar resgatar o espelho, todos os amigos e namoradas e namorados que ficaram esperando eles voltarem, como eu.

                - Eu aceito.