Até o Fim escrita por IzaHaruka


Capítulo 1
Capítulo Único - O Fim Que Não Chega


Notas iniciais do capítulo

~ le eu começando a cantar que nem doida ~
"E quando mais eu tento me desprendeeeeer, o pensamento fixo em vocêeee
Fugir é se entregaaar, vou relutar atéee-o-fiiiiim"
Ok, já parei, pode ir ler agora xD



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Teu jeito até disfarça, mas o que te denuncia são seus olhos

Que já preferem não se envolver, e se entregam ao me ver partir


– Ah, por favor!

– Para Dawn, eu não vou batalhar agora – disse com indiferença.

Por que ele tinha que ser assim, tão cabeça dura?! Já me acostumei com seu jeito rude de ser, mas a teimosia é demais!

– Tudo bem, então eu já vou... – Já estava quase na hora do pôr-do-sol e, como ele não iria me ajudar a treinar, decidi voltar para o CP. Me levantei da grama verde na qual estava sentada, ao seu lado, encostada numa enorme árvore. Dei alguns passos, mas logo senti algo segurar meu braço, virei para trás rapidamente e lá estava ele, do meu lado. Puxa, ele é rápido, nem o ouvi se levantar... Meus pensamentos ficaram dispersos nele e em seus olhos escuros, que me olhavam tão profundamente, como se... quisessem saber alguma coisa.

– Certo, eu treino com você. – disse firmemente – Mas só uma batalha.

– Ain, obrigada Paul! – disse manhosamente. Fiquei feliz por que estava realmente precisando de uma boa batalha, e ele é um ótimo treinador, apesar do seu jeito diferente de ser. Tive vontade de abraçá-lo, mas ele já havia se posicionado para a batalha e... espera! Nunca me imaginei assim, agindo com o Paul como se ele fosse meu amigo, um garoto legal...

Talvez por que no fundo... ele realmente seja legal. E é tão bom conversar com ele. Sinto que agora ele está menos arrogante... menos grosso, menos "bruto". Porém... sua frieza ainda continua. Quase não muda de expressão. Às vezes vejo que ele quer sorrir, mas parece que também não quer demonstrar sentimentos, e quando isso acontece ele fica meio... apreensivo. Seria medo isso que ele tem?

– Vai Electabuzz! – virei para ele e me desliguei de meus pensamentos.

– Vamos Cyndaquil!

– Cyndaquil, você está bem?! – corri em direção ao meu pokémon, que estava caído debilitado no chão.

– Cyndaaa – respondeu carinhosamente enquanto acariciei sua cabeça. Ficou exausto, a batalha foi muito difícil, Paul é um ótimo treinador, eu estava precisando de uma luta assim.

E por falar nele... onde ele está?! Me virei à sua procura.

Ah, achei, está indo em direção ao CP. Puxa, eu queria ao menos agradecê-lo...

Olhei novamente, se eu o chamasse, ele olharia? Bem, não custa nada tentar.

– Paul! – gritei.

Foi engraçado, deu pra perceber que ele se assustou um pouco. Olhou para mim e soube do que se tratava.

– Muito obrigado! – acenei.

Ele não disse um "de nada" ou acenou de volta. Apenas virou o olhar e deu... um sorriso? Não sei ao certo, mas o jeito com que ele mexeu o cabelo e olhou para baixo fez parecer que... Ah, pra que me importo?! Não quero saber da vida dele, só quero entendê-lo... eu acho.

E eu ainda vou conseguir entender esse garoto.


Te busco em outros corpos só pra afastar essa solidão

Sem me convencer, que história tem inicio e meio, mas nunca teve um fim


– Ei Dee-dee!

– O que foi Kenny? – perguntei impaciente.

– Ér, calma, eu... eu só queria te cumprimentar – disse meio sem jeito.

– Ah, desculpa.

Já era manhã, eu estava saindo do meu quarto quando Kenny me encontrou no corredor. Eu estava ansiosa para descer e ver se encontrava o Paul, só para, ér sabe, agradecê-lo direito...

– Posso descer com você?

– Bom, Kenny eu... – olhei para ele, é como se estivesse cheio de esperança – Eu tenho que encontrar alguém...

– Ah, tudo bem... – vi sua cabeça abaixar e seus olhos ficarem um pouco tristes.

Tá bom, admito. Sei que o Kenny gosta de mim, mas sabe... eu não sinto o mesmo... Ele é um amigo pra mim, e só. Bem, comecei a descer as escadas pensando onde o Paul estaria a uma hora dessas.

Ah, olha, ali está ele, perto da enfermaria! Me aproximei. Ele, por sua vez, estava olhando para os lados, parecendo estar procurando alguém. Mesmo atento, consegui chegar perto sem que ele me notasse.

– Bom dia Paul, olha eu queria dizer que...

– Dawn – ele me interrompeu, fazendo com que eu olhasse nos olhos dele – Eu tô meio ocupado agora, depois a gente conversa ok?

E passou por mim. Sim, ele simplesmente passou por mim. Como esse garoto sabe ser grosso e irritante viu?

Me virei a fim de ver para onde ele ia e o vi virar no corredor, ficando fora de vista. Fui pela mesma direção. Eu não estava seguindo ele, eu só... ér, fui pelo mesmo caminho.

Continuei andando e acabei parando no saguão do CP e o vi na entrada. Sim, parecia mesmo estar procurando alguém... Ah, mas quem se importa? Me sentei em uma das cadeiras que havia ali.

– Já tomou seu café da manhã Dee-dee?

– Ah, oi Kenny... – tive que desviar meu olhar que estava no garoto de cabelos roxeados – Ér, ainda não...

– Legal, podemos tomar juntos então! – disse alto, mais animado.

– Bem Kenny, eu... – olhei para o chão para tentar inventar uma desculpa. Olhei novamente para o garoto na entrada e tomei um susto. Ele estava olhando na nossa direção, mais precisamente para o Kenny. Suas sobracelhas estavam arqueadas e seus olhos um pouco cerrados. Parecia um pouco... furioso? Mas por quê? Bem, ele estava olhando para o Kenny, será que...

Olhei para o garoto ao meu lado e percebi que estava demorando muito para lhe responder.

– Ah, claro... – respondi um pouco desajeitada.

– Legal, vamos! – colocou a mão em meu braço a fim de me puxar. Me virei e dei mais uma olhada no garoto de cabelos roxos. Desta vez estava olhando diretamente para mim, com a mesma expressão de antes, mas... misturada com perplexidade. Acho que ele não queria que eu fosse... ou que eu fosse com o Kenny, para ser mais exata. Parece loucura, mas será que ele está com...

– Espera!

– O que foi? – perguntou meio receoso.

– Que tal sentarmos aqui primeiro? Pra conversar um pouco sabe... – inclinei um pouco a cabeça para o lado, fazendo um charminho. Impossível ele dizer não.

– Claro Dee-dee! – respondeu bem animado.

Isso... – pensei. Nos sentamos naquelas cadeiras, as mesma em que eu estava antes. Comecei a conversar com o Kenny, era muito fácil puxar assunto com ele. Falamos diversas coisas e a cada vez que ele dizia algo eu começava a rir, não que ele fosse engraçado – e ele não era – só queria mesmo é chamar atenção daquele menino frio e irritante. Sim, estava fazendo isso para me vingar por ele ter me ignorado no corredor. E o melhor é que estava dando certo, a cada vez que eu olhava para ele estava cada vez mais nervoso e confuso. Passava a mão na testa e nos cabelos descontroladamente.

Sabe... eu nunca tinha o visto passar as mãos no cabelo. É tão... fofo. Porém não combinava com seus olhos cheios de aflição... Aflição? Eu... sou tão ridícula...

Tão idiota por fazer alguém ficar assim. Sim, a culpa é minha. Mas como pude fazer isso?

– Ai eu disse "Cara, eu e o meu Pimplup vamos te mostrar o que é um raio de gelo de verdade!"

– Hm, Kenny...

– E depois sabe o que ele disse? Ele disse algo como "Ah é? Então cai dentro tampinha"

– Kenny, eu...

– Dá pra acreditar que ele me chamou de tampinha?

– Kenny!! – vociferei.

– Uh?! O que foi Dee-dee?

– Olha, vai na frente, eu... tenho que fazer uma coisa antes... – falei com tranqüilidade.

– Ah... ok – estranhou um pouco, mas sem contrariar se levantou e saiu.


Então fica onde está, já tracei nosso plano

Se a noite você vier, te carrego pra bem longe daqui


Tomei coragem, me levantei e fui em direção ao garoto de cabelos roxos que estava na entrada, com a cabeça baixa. Quando cheguei perto ele se virou levantando a cabeça lentamente, olhando de baixo para cima. Quando encontrei seus olhos olhando para os meus, me perdi. Mais uma vez lá estava eu parada me perdendo em seus olhos roxos profundos. Uma mecha de seu cabelo roxeado caiu delicadamente sobre o olho direito. Quando dei por mim minha mão já estava tirando a mecha de seu rosto, a colocando atrás da orelha dele. O que deu em mim? É como se eu não pensasse antes de agir quando estava perto dele.

– Desculpa, foi... automático – falei, e tenho certeza que corei um pouco.

– Tudo bem – respondeu sereno com aquele olhar, aquele que quer dizer alguma coisa.

– Paul, eu... ér, sabe... – o que eu iria dizer? "Ah, me desculpa aí por ter conversado com outro garoto de propósito só pra te fazer raiva e ciúmes, ok?"

– Ei – escutei ele dizer.

– Uh?! – me virei rapidamente para ele, pensando que estava tentando chamar minha atenção e me fazer sair de meus pensamentos, mas na verdade... ele estava olhando para fora. Olhei para a mesma direção e vi um garoto segurando um pokémon nos braços. Hm, Paul conhecia ele? Logo identifiquei que o pokémon aos braços do garoto era um pequeno Eevee, e parecia machucado.

Olhei para o garoto de cabelos roxos, que por sua vez, foi a encontro do garoto. Se abaixou para ficar a altura dele e disse:

– Seu nome é Max né?

– Sim – respondeu o pirralho, e parecia um pouco triste.

– Olha aqui – tirou algo do bolso – Eu acabei de sair da sala da Enfermeira Joy...

É mesmo, quando nos encontramos, ele estava perto da enfermaria...

– ...e ela me pediu para te procurar, e entregar isso aqui – mostrou o objeto ao garoto. Sim, identifiquei aquilo como uma pomada, daquelas que se passam no pokémon para aliviar a dor... – É para esse pequeno Eevee né? – perguntou.

– Sim – respondeu – O nome dele é Nick – agora estava mais feliz.

– Ah certo, quer ajuda para passar o remédio no Nick?

Para tudo! Paul oferecendo ajuda? Para um pirralho que ele nem conhece? E... está sendo educado? Certo, eu sabia que ele havia mudado com os pokémons dele, mas não sabia que havia mudado no comportamento social também... Uau, tô impressionada. E... me sentindo culpada ao mesmo tempo...

Parada ali, observando o garoto de cabelos roxos cuidar daquele pequeno pokémon é que eu percebi...

Percebi que ele não me ignorou no corredor de propósito, foi para ajudar uma pessoa. E eu... ah, e eu agindo como uma idiota. Nem acredito nisso...

Sai dali correndo, sem saber se ele percebera ou não. Não importava, acho que nunca mais conseguiria olhar para ele de novo...

Mas... os olhos dele... Acho que não consigo ficar sem ver os olhos dele por muito tempo... Não que eu me importe com ele, é só que...

Ah, não sei...

Puxa, será que ele vem? Tomara que não, pra que eu fui fazer uma coisa dessas? E se ele vier, o que eu faço?

Ai, eu não deveria ter deixado aquele bilhete debaixo da porta dele, dizendo para nos encontrarmos aqui... Bem, talvez ele não saiba de que lugar eu estou falando não é mesmo?

Claro que ele sabe, foi aqui, perto nessa árvore que treinamos ontem a tarde.

Bom, já são oito horas e está frio, provavelmente ele não vai sair do seu quarto no CP só para... Ah não, é ele!


E quanto mais eu tento me desprender, o pensamento fixo em você

Fugir é se entregar, vou relutar até o fim


Aquela sombra que antes estava longe, agora se materializou e sentou ao meu lado. Tarde demais para fugir. Eu não disse nada. E nem ele perguntou alguma coisa.

Apenas ficamos ali, olhando o céu, as estrelas...

– Awn – exclamei ao sentir uma rajada de vento frio me fazer arrepiar. – Uh?! Paul... – exclamei ao perceber o seu casaco sobre mim. - Não... não precisa se preocupar comigo.

E como resposta ele apenas... sorriu! Sim, finalmente ele teve coragem de sorrir na minha frente!

– E então... – começou a falar, o que me fez olhar para ele - ...vai me dizer?

– Hm, dizer o que? – eu disse, com um jeito de brincalhona.

– Dizer o porquê de estarmos aqui. – se virou, o que fez com que seu rosto ficasse de frente com o meu, e olhou em meus olhos, daquele jeito que só ele consegue fazer.

– Eu, ér... – virei rapidamente, e aposto que fiquei muito corada. – Não sei – conclui com um jeito bobo.

– Ah Dawn... – ele não dizia meu nome muitas vezes, o que me fez olhar novamente para ele, que estava com a mão na testa – Você é louca – olhou para cima, rindo de leve.

– Sério? – sorri – Peraí, sério mesmo? Jura? – comecei a rir.

Os minutos se passaram. Abracei minhas pernas e apoiei meu queixo nos meus joelhos.

– Paul... – comecei – Posso te perguntar uma coisa?

– Claro. – disse com sua voz firme, como sempre. Não que ele esteja com raiva, é apenas uma voz firme e... Espera, pra que eu tô prestando atenção nisso?

– Bem... sabe, porque que às vezes... ah esquece – desisti.

– Ei... – olhei para ele e vi que estava inclinado a fim de ficar de frente ao meu rosto – Pode perguntar...

Puxa, já disse que a voz dele é firme? Isso é tão fofo...

– Certo... Porque que às vezes você é tão... frio? – me arrependi de ter perguntado imediatamente. Afinal, eu não tenho nada a ver com a vida dele, pra que eu quero saber uma coisa dessas? Sem falar que eu posso ter ofendido ele...

– Dawn... – ele começou, com um tom de voz mais baixo.

– Ah, esquece Paul, eu não deveria ter perguntado isso... – virei meu o rosto.

– Tudo bem pra mim... Posso... desabafar pra você?

– Pode – olhei para ele para ver se falava a verdade e vi que agora seus olhos pareciam cansados.


Se aproximar, melhor se render, é certo que meu vicio é te envolver

Pra que correr o risco de se ver infeliz, pois quando me quiser eu não estarei aqui


– Não é frieza... – começou, era bem perceptível a dificuldade em sua voz – É... medo de... me apegar. – concluiu, por fim. Seu olhar estava fixo no chão à sua frente, talvez por que nunca havia falado isso para alguém antes.

Bem, acho que... alguma coisa aconteceu no passado, para ele tirar essa conclusão tão... forte.

– Paul, não se preocupe – cheguei mais perto e coloquei meu braço ao seu redor – Todos nos temos algum medo...

Deu pra perceber que achou minha ação um pouco estranha, mas logo se acostumou. Senti seu braço se aconchegar em cima dos meus ombros.

É... estávamos praticamente abraçados.

– E... qual é o seu medo? – perguntou

Será que deveria falar? Bem... ele se abriu pra mim não é mesmo...

– Medo de... ninguém me entender.

– Uh? – disse confuso.

– É que, tipo... ninguém me entende e... eu não quero isso pra sempre, sabe... – emocionada por ter terminando meu desabafo, sem pensar acabei acomodando minha cabeça em seu peito.

Mas tudo bem, à essa altura aposto que ele deve estar me achando muito estranha. O céu já estava totalmente escuro e o único som que pude escutar foi silêncio. Até que ele foi cortado por uma frase que fez meu coração pular.

– Eu adoraria te entender... – disse suavemente.

Queria saber por que meu coração pulou. E queria saber também por que ele foi o motivo.

– Olha Paul... – comecei a falar depois de termos nos levantados para voltar ao CP - ...sei que não importa pra você... – olhei para baixo, com um jeito de garotinha boba que eu fazia muito bem - ...mas eu adorei essa noite.

– Dawn, sei que você não sabe... - e mais uma vez o som de sua voz dizendo meu nome me atraiu, levantei meu rosto quase que imediatamente - ...mas você importa pra mim.

– Mas... – comecei. Não conseguia acreditar no que havia acabado de ouvir. E não conseguia acreditar também como essas palavras de algum jeito me fizeram... feliz. Feliz de um jeito que não havia ficado antes...

– Mas eu não sei demonstrar né... – disse colocando a mão na testa – Pelo visto eu não sirvo nem pra isso.

– Não fala assim! – mesmo estando a pouca distância dele, corri. Corri para abraçá-lo. Percebi que ele ficou um pouco espantado com a minha reação, mas logo se acostumou e senti seus braços se apoiarem firmemente em minhas costas.

Percebi também que ele era tão forte que nem se eu tivesse o empurrado com todas as minhas forças ele sairia do lugar.

Parece que esse garoto esconde muitas coisas...


A sua boca é prova que nem sempre os que se atraem são opostos

Tudo acontece quando estou com você, seu instinto é se perder pra mim


– Paul, eu tô falando sério!

– Ah, claro. Quer que eu acredite que o seu pequeno Piplup foi capaz de acabar com toda a ração de um Centro Pokémon.

Estávamos rindo muito enquanto subíamos as escadas do CP em direção aos quartos. E ele parecia tão sincero, tão... ele mesmo. Nunca havia visto ele assim antes. Sua gargalhada saía tão espontaneamente, como se estivesse sido presa por muito tempo.

– É verdade, eu juro! – comecei a rir novamente.

– E você se orgulha disso é? – disse com seu sorrisinho sarcástico de sempre.

– Hm... acho que não...

– Acha?! – fiz o rir novamente – Olha, chegamos. – disse olhando para a porta de um quarto.

– É... – olhei para a porta também. Ele tinha razão, era o meu.

Não dava para ignorar que estávamos mais próximos agora, como... amigos. Essa palavra me soou um pouco estranha, era como se... não fosse isso.

Me virei pra ele e vi que estava com o rosto virado, ainda olhando para a porta, como se quisesse ver algo além. Cheguei mais perto e coloquei minhas mãos em seus ombros, que tal um abraço de verdade, não é mesmo? Quer dizer, não que eu não tenha gostado dos outros – e sim, eu gostei – mas é que me pareciam abraços aleatórios, não tinham consentimento.

Ele olhou para mim. Ah não, esse olhar não. Já estou começando a ficar sem chão quando ele me olha assim. Aquele olhar... aqueles olhos profundos querendo dizer alguma coisa. Olhos que me deixam hipnotizada.

Senti suas mãos ao redor da minha cintura. Aposto que fiquei com uma cara de boba, olhando que nem lerda pra ele. Senti vontade de... de chegar mais perto e tentar decifrar seu olhar. Entender tudo o que ele sentia...

Percebi que chegou um momento em que eu só conseguia ficar encarando seu olhar que ficava cada vez mais fixo, misterioso. E mais perto também. O que só poderia acontecer se ele estivesse um pouco curvado. Ele... estava um pouco curvado...

Não saberia dizer quanto tempo se passou, só sei que em algum momento a pouca distância que nos separava já não existia, e nós nos encontrávamos unidos em um beijo inexplicável.

Eu... não conseguia entender nada e... nem queria. Só queria ficar ali enquanto podia. Mesmo não conseguindo pensar, ou até raciocinar.

– Eu... me desculpe.

Foi a única coisa que ouvi.


Se já não mede esforços pra controlar essa tentação

Melhor esquecer o que os outros vão pensar de nós, o teu destino é me seguir


Por que eu o deixei ir?

Era a única coisa que pensava, deitada em minha cama. E agarrada ao seu casaco, que esquecera de pegar comigo, que me ajudou no frio e que me fez sentir protegida. Do mesmo jeito que me senti em seus braços.

E agora, o que ele estaria pensando? E por que estou preocupada com isso? E por que... estou tão preocupada com ele?

Tudo o que eu queria era poder voltar momentos atrás, quando não conseguia pensar. Bem, o melhor a fazer agora é dormir.

Mas por que não consigo tirá-lo da minha cabeça? E essa vontade de vê-lo novamente?

Agora eu não posso fazer mais nada... só esperar.

– Ain, quem acendeu a luz? – levantei a cabeça.

Ah, que tola eu – pensei – é só o sol Dawn... sol...

O sol...

Essa palavra ficou se repetindo várias vezes na minha cabeça até eu cair na real e perceber o que significava.

Amanheceu!

Levantei em um pulo, me arrumei rapidamente e desci as escadas como louca. Será que eu o encontraria?

Percorri a enfermaria, a lanchonete, o saguão, a entrada, o jardim... mas não o encontrei. E no final disso tudo fiquei muito cansada, mas nem liguei, afinal era uma coisa importante.

Ri mentalmente. De um dia para o outro um simples garoto que apenas me deixava curiosa se torna... importante.

Me sento na grama no jardim, mas não consigo olhar ao redor para admirar a beleza. Seguro seu casaco que com força. Meus pensamentos estão apenas presos nele.

Espera... é isso! É isso, é isso!!

Me levanto e começo a correr novamente. Como louca, de novo. Só pra variar.

– Paul! – gritei quase desesperadamente quando o vi que estava quase saindo do ginásio. Foi difícil encontrá-lo ali dentro, não o deixaria escapar fácil assim. Ele se virou e eu corri ao seu encontro – Toma, o seu casaco.

– Obrigado – cochichou de leve. Havia algo errado.

– Tudo bem com você?

– Sim, e você?

– Paul! – vociferei.

– O que foi? – se espantou.

– Me fala o que tá acontecendo! – quase implorei.

– Por que você acha que está acontecendo alguma coisa?

– Por que você nem ao menos está me olhando, parece que... está me evitando... Tá tentando fugir de mim? Ou... do que aconteceu?

– Dawn, eu não quero ser grosso, mas... – finalmente olhou pra mim - ...a vida é minha, você sabe disso.

– E você é muito orgulhoso sabia? – contra-ataquei.

– Não é orgulho, é medo de me machucar.

– E você acha que... – refleti - ...eu te machucaria... é isso né?

– Não Dawn, eu não disse isso!

– Tudo bem – desisti. Ele se virou para ir embora e eu disse, alto o suficiente para que escutasse – Mas gostaria que você percebesse que só está fugindo de você mesmo!

Ele parou por um instante. E continuou.


Então fica onde está, já tracei nosso plano

Se a noite você vier, te carrego pra bem longe daqui


Fala sério, por que ele age assim? Tentando evitar os próprios sentimentos... Ele não vai conseguir fugir dele mesmo para sempre.

Acho que eu deveria voltar, já faz um tempo que estou nessa floresta e...

E...

Pra que lado devo ir mesmo? Não estou perdida, eu só...

Só estou perdida.

– Vai Piplup – saquei minha pokébola.

– Piplup, piplup! – exclamava meu pequeno pokémon, pulando.

– Bem, Piplup - me abaixei para acariciar sua cabeça – Acha que consegue me ajudar a voltar ao CP?

Ele parou por um momento, começou a farejar ao seu redor... e começou a correr. Que nem louco! Que nem.. eu?!

Não consegui evitar o riso, mas logo tive que deixá-lo de lado, afinal, tenho que correr atrás do meu pokémon, não é mesmo?

– Piplup, calma! – a única coisa que podia fazer era gritar. E correr pela mata adentro, me machucando, me sujando e sendo espetada pela vegetação ao redor de onde eu passava.

Até que finalmente eu avistei um lugar aberto, porém ainda estava dentro da floresta. "Piplup, Piplup!" – eu gritava – quando pisei nesse lugar percebi que havia uma cachoeira, eu até pararia para admirar a paisagem, mas... Piplup!

Não vou agüentar correr mais...

– Por favor, Piplup, para! – implorei.

– Piiiplup – disse enquanto algo acontecia. Cheguei mais perto e percebi que alguém estava segurando ele.

Cheguei mais perto e vi que tinha cabelos roxos.

– Obrigada... – disse sem jeito, por causa da nossa última conversa... e também por que ele estava sem camisa.

– Por nada... Dawn? O que houve com você?

– Nada... por que a pergunta? – disse enquanto colocava meu Piplup de volta para a pokébola. Já estava guardando a quando percebi uma risada. Vinda dele. – O que foi? – perguntei na maior inocência.

– Bem, você tá toda suja e cheia de galhos... tá engraçada. – riu mais uma vez.

– Ah, puxa... – comecei a tentar me arrumar.

– Eu te ajudo... – começou a se aproximar de mim, mas retorqui.

– Não... não quero atrapalhar a sua vida – enfatizei bem as palavras.

– Dawn...

– Não precisa falar nada – o interrompi – Já estou indo.

Ninguém tem noção do quanto isso cortou meu coração, virar e ir embora. Enquanto o que eu queria era apenas ficar com a sua compania, com seu abraço... com seu beijo.

– Mas o coração é seu! – escutei enquanto eu havia apenas dado alguns passos.


E quanto mais eu tento me desprender, o pensamento fixo em você

Fugir é se entregar, vou relutar até o fim


– O... que? – perguntei sem entender.

– É... a vida é minha... – disse chegando mais perto - ...mas o coração é seu.

Olhando direito para ele agora, percebi que seus cabelos roxos estavam molhados, e estava se aproximando. O que eu faria? Por mais que eu desejo ficar...

– Dawn, depois que você disse que eu só estava fugindo de mim mesmo... - começou a tirar delicadamente os tais gravetos do meu cabelo.

– Você veio aqui para nadar né? – perguntei de olhos fechados. Ele estava perto de mim, bem na minha frente e era bem perceptível ver que ele é mais alto do que eu, então decidi fechar os olhos para não ficar de cara com seu peitoral molhado e definido.

– É... como você sabe? – indagou.

– Você me disse uma vez... – me lembrava – que gostava de nadar para esfriar a cabeça... colocar os pensamentos no lugar...

– Bem, é verdade... – riu – E então percebi que eu só estava... tentando me controlar.

– Não Paul! – disse tentando evitar que me abraçasse.

– O... o que foi?

– Você... vai molhar minha roupa. – conclui, me desaproximando.

– Certo... – ele disse – E que tal um aperto de mão? – estendeu sua mão.

Aperto de mão? Ele tá falando sério?

– Ér, ok... – estendi minha mão, meio receosa.


Se aproximar, melhor se render, é certo que meu vicio é te envolver

Pra que correr o risco de se ver infeliz, pois quando me quiser eu não estarei aqui


– Não Paul, me solta! – era o que eu gritava enquanto ele me abraçava fortemente – Você me enganou, seu bobo!

Certo, apesar de minha roupa agora estar molhada, eu estava rindo. E tenho que admitir que estava gostando.

– Não enganei, eu só acidentalmente te abracei, só. – ele também estava rindo, e muito.

Puxa, ele é tão fofo, de qualquer jeito.

Senti sua mão em meu queixo, levantando meu rosto de leve e vi que seu olhar me esperava. Coloquei uma das minhas mãos em sua nuca, lhe puxando para mais perto de mim.

– Seu olhar... quer me dizer alguma coisa. – falei em seu ouvido.

– Tem razão... – senti que o fiz arrepiar. Interessante saber que tenho esse efeito sobre ele. Mas agora era a sua vez de me fazer derreter – Eu... te amo.

Mesmo sussurrando sua voz saiu firme e delicada ao mesmo tempo. Me senti como se cada molécula do meu corpo existisse por ele. E isso era bom.


E agora, te prendo em meu mundo

Só me encontro em paz, quando ao meu lado você está


Sem lhe dar chances, o beijei do jeito mais apaixonado que encontrei. E ele retribuiu na hora. Acho que estava se tornado automático para ele, do mesmo jeito que se tornou para mim.


Pra te convencer. À não resistir...

Com você eu vou mais longe.


Percebi também que nunca vou deixá-lo ir. Não mesmo.


Pra te convencer. À não resistir...

Com você eu vou mais longe.


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Notas finais do capítulo

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