Desejos Inconsequentes escrita por Bruno Silfer


Capítulo 6
Capítulo 6: Histórias




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Bons amigos sempre têm conversas francas e verdadeiras e isso é necessário para manter a cumplicidade. A relação entre a estudante Ino e o semideus Gaara ainda não poderia ser chamada de amizade, mas o elo que os unia também se tornara forte. Eles estavam ali, um de frente para o outro tentando decifrar o que o outro pensava e vendo o contraste de emoções entre ambos.

- Bom. – Ino começou a falar ainda vacilante – O que são semideuses?

- Nós somos seres imortais e vivemos vagando pelo mundo. Nós acompanhamos alguns humanos quando queremos mudar alguma coisa.

Ino não compreendeu o termo “mudar alguma coisa”, mas deixou passar. Limitou-se a mudar a pergunta.

- Por que você quando fala de si mesmo sempre se refere como “nós”?

- Eu não sou o único semideus que existe. Além de mim existem mais três em algum lugar do mundo. Todos dotados dos mesmos poderes que eu.

- E onde eles estão?

- Não sei. Nós quase nunca nos encontramos. A exceção é quando precisamos tomar alguma decisão em conjunto.

- Entendi, mas... quantos anos você tem?

- Atualmente 2151 anos.

Ino ficou boquiaberta com aquela resposta. Aquela idade era sobre-humana, mas contando com o fato de que o ruivo à sua frente realmente não era humano, aquilo não seria tão absurdo assim.

- Como pode viver tanto tempo?!?

- Nós somos imortais esqueceu?

- Desculpa, é que para uma humana como eu isso é absurdo demais.

- Eu sei. Você foi a primeira que perguntou a minha idade.

- Devo me orgulhar disso?

- Não sei. Se isso te deixar feliz...

Ela viu que ele não mentiu quando disse que responderia a qualquer pergunta que fizesse. Com mais confiança ela partiu para perguntas mais elaboradas.

- Por que sabe tanto sobre mim?

- Não pense que eu passei a acompanhar você quando me conheceu Ino. Eu já te acompanho há anos. Você apenas não podia me ver.

- Por que fez isso?

- Quando eu cheguei nessa cidade uma das primeiras cenas que eu vi foi a de um trio de garotas andando pelas ruas. Era você e suas amigas Sakura e Hinata que, coincidência ou não, agora também podem me enxergar.

- Então você me escolheu sem motivo?

- Eu acompanhei cada uma de vocês por algum tempo e vi que você era a que mais precisava dos meus “serviços”.

- Não entendo.

- Quando eu acompanho um humano, as consequências que eu imponho aos desejos que eles fazem visam sempre corrigir os principais defeitos e desenvolver as principais qualidades de cada um de acordo com o que eu observei. Com você não é diferente.

Ino pensou. A consequência do seu primeiro pedido foi perder sua popularidade por cinco anos. Então, na concepção dos semideuses, ser popular era defeito? Para ela sempre foi motivo de orgulho estar entre as mais bonitas da escola. E se isso a impedisse de desenvolver outras habilidades ou ver além de si mesma? Isso ela iria saber a partir do dia seguinte.

- Você já acompanhou muita gente não é?

- Milhares.

- Quem foi que você acompanhou por mais tempo?

- Não posso dizer quem foi, mas eu o acompanhei por três meses.

- Só isso?

- Os humanos são muito ansiosos. Logo ficam seduzidos com o que vão pedir e esquecem das consequências.

Ele realmente sabia muito sobre os humanos. Ino aproveitaria esse conhecimento ao máximo.

- Qual o pedido mais louco que você já realizou?

- Mortes. Muitos dos que eu acompanhei me pediram para matar algum inimigo.

- Que triste...

- Eu não gosto de realizar pedidos assim. Mas eu não posso recusar um pedido se o preço for pago.

- E o que as pessoas mais pedem?

- Dinheiro. Já cansei de fazer pobres ficarem ricos. Depois vem os que pedem para que eu os ajude a conquistar alguém a quem amam.

Ino pensava sobre o que acabara de ouvir até lembrar de algo que queria perguntar.

- Agora lembrei! – exclamou ao pôr a mão na testa.

- Lembrou de que?

- Antes que eu aceitasse a sua proposta você me explicou que tinha algo que eu só poderia saber quando fizesse o primeiro pedido.

- É verdade.

- Então? O que é?

- Não é exatamente uma informação, mas algo que vou lhe dar.

- O que é? O que é? – Ino estava bem empolgada nessa hora.

- Um sonho.

- Um sonho?

- Exatamente. Um sonho.

- Como assim? Um sonho do tipo... quando dormimos?

- Correto.

- Mas como você pode me dar algo assim?

- Essa noite você pode sonhar com o que quiser. Você só precisa me contar com o que quer sonhar e eu farei você ter um sonho conforme o seu desejo.

- Que legal!

- E quando você acordar, vai lembrar de cada detalhe desse sonho para sempre.

Aquilo era algo que nunca imaginou receber. Parecia algo simples, mas para ela era muito importante. Ino acordava radiante quando tinha um sonho bom e o gênio queria proporcionar a ela algo desse tipo. Ele não entendia o motivo, mas vê-la sorrir o fazia se sentir bem. Ele esclareceu que ela deveria decidir sobre o dito sonho até antes de dormir e ela prometeu que decidiria até lá. Enquanto isso ela continuou com as perguntas.

- Hoje de manhã quando me viu de uniforme, você disse que os semideuses como você não sentem como os humanos. O que vocês sentem então?

- Quando disse aquilo eu quis dizer que nós não temos o que os humanos chamam de fraquezas sentimentais.

- Como assim?

- Por exemplo: quando uma garota como você vê um homem bonito e legal o que sente?

- Amor?

- Tem certeza que é amor?

- Não é?

- Eu garanto que é, no máximo, paixão.

- Sério?

- isso que você chama de amor sempre é acompanhado de desejos, ciúmes e outros derivados da paixão. A conclusão é óbvia.

- Mas quem ama também sente desejo.

- Sente, mas nesse caso o desejo é mera consequência do amor. Esse tipo de desejo é saudável.

- Então o desejo que eu conheço é derivado da paixão...

- Quando você estava passando creme nas pernas hoje de manhã eu percebi que você estava claramente tentando me provocar. Se eu fosse humano teria te deitado nessa cama e te feito gemer como louca. Mas depois o que sobraria?

Ino não respondeu. Ela sabia que aquele tipo de pergunta não tinha resposta. O semideus estava sério e nunca tivera um debate assim e Ino nunca tivera uma conversa tão franca sobre esse sentimento tão complicado que é o chamado amor.

- Então... – Ino gaguejou – O que é o amor?

- Não existe uma definição exata, mas o que eu posso dizer é que o amor é confiança, convivência, cumplicidade, luta e paciência.

- O que eu vivi não tinha nada disso...

- Eu sei que você quer um namorado, mas o que você deixa transparecer para quem você quer? O que você tem ou o que você é?

- Já chega. É difícil ouvir tudo isso de uma vez só. Mas você sabe tanto sobre amor...

- Fruto de séculos de observações.

- Vocês podem amar?

- Podemos, mas não seria viável.

- Por quê?

- Não se pode nascer amor entre dois semideuses. No caso de um de nós se apaixonar por um humano... sinceramente não sei o que pode acontecer. Nunca houve um caso assim na história.

- Você é muito lindo. Incrível que ninguém tenha se apaixonado por você.

- Só por ser bonito?

- Não é só por isso. Você conhece muito sobre nós mulheres. Toda mulher quer um homem que entenda o nosso lado, as nossas reações, os nossos medos. Você é assim. Por que não existem homens como você?

- Eles existem. Só que são raríssimos.

- Eu que sei...

Quando se tocava nesse assunto Ino sempre ficava triste. Por mais firme, rica, linda e poderosa que fosse, ela se sentia muito sozinha e Gaara sabia muito bem disso.

- Escuta Ino. – disse o semideus sentando na cama de frente para ela – Você é muito linda, tem muitas qualidades, mas até hoje só olhou para fora.

- O que quer dizer?

- Olhe mais para o que você é. Esqueça o que os outros pensam de você e saiba desenvolver suas reais qualidades. A partir de amanhã eu farei você olhar para si, mesmo que não queira. Vai doer no começo, mas é necessário.

Ino, tendo uma lágrima descendo do seu olhe direito, tentou abraçar o ruivo, porém passou por dentro dele e caiu de bruços sobre o colchão. Ele a olhou e disse:

- Você não pode me tocar.

Ela se recompôs e mirou os belos olhos verdes do semideus à sua frente. Limpou a lágrima contida em seu rosto e tomou uma decisão.

- Eu já sei o que eu quero sonhar.

- O que seria?

- Pelo menos em um sonho eu quero ser uma semideusa como você.


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