Desejos Inconsequentes escrita por Bruno Silfer


Capítulo 3
Capítulo 3: Aprendizado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/195213/chapter/3

Ino se sentia importante em ter sido escolhida por um semideus para ter seus desejos realizados. Algo assim deveria acontecer em, sabe-se lá, cem ou mil anos, não sabia, e devia ser concedido à pessoas muito especiais. Gaara e Ino não tiveram tempo para continuar a conversa. Os pais da garota haviam chegado do trabalho e ela, movida pela saudade, desceu a escada depressa a fim de encontra-los, sendo seguida pelo seu guardião.

- Pai! Mãe! Que saudades... – disse a garota enquanto abraçava os pais. Ela era muito ligada a eles, por isso na frente deles por vezes se deixava agir como criança.

- Nós também sentimos... – responderam retribuindo o abraço – E então? Gostou da viagem?

- Muito! Aquele lugar é lindo! Praias, lojas... Comprei um monte de coisas e comprei presentes para vocês também.

Enquanto Ino contava os principais acontecimentos da viagem Gaara observava com atenção. Não era a primeira vez que acompanhava o dia-a-dia de uma família rica, mas aquela em específico parecia ter algo a mais. As famílias que tinham traços mais marcantes de alegria geralmente eram as mais pobres. Contraditório, mas fato. Ele se sentiu bem e confortável naquele ambiente, mesmo tendo passado tão pouco tempo ali até então. Na verdade o que definiria se aquele lugar era bom de verdade era quando descobrisse a personalidade de cada um, e isso poderia ser descoberto pela convivência contínua e pelos pedidos que a Ino faria. Ela terminou a conversa com os pais e voltou ao quarto onde teria liberdade para conversar com sua “sombra”.

- E então Gaara? Gostou da minha família?

Ele ficou surpreso ao vê-la tratando-o pelo nome tão rápido, mas não achou ruim.

- Em uma primeira impressão é bem agradável.

- Com o passar do tempo você vai gostar ainda mais.

- Se você diz...

Ela sorriu e foi tomar banho. Ele, como prometido, permaneceu no quarto onde ficou a observar as coisas contidas ali. Havia uma grande quantidade de roupas, sapatos e perfumes nas suas coisas. Nenhuma novidade. Já se acostumara a ver essa mesma cena em outras casas cujos donos eram ricos. Também havia uma cama espaçosa, um computador, um guarda-roupa grande, um armário fechado, uma poltrona e duas janelas que recebiam a luz do sol ao amanhecer. Ele ainda estava distraído com aqueles objetos quando Ino saiu do banheiro e viu sua curiosidade.

- Também gostou das minhas coisas não é?

- Não é isso. – respondeu secamente – Preciso me acostumar ao ambiente, e por isso conhecer suas coisas é essencial.

- Você é meio estranho.

- Eu sei.

A garota não soube se essa última afirmação fora sincera ou irônica, mas não se importou. Antes pegou o secador e sentou-se na cama. Ela gostou do novo tom de dourado que havia no seu cabelo graças à transformação recebida horas antes e teve que perguntar:

- O que você fez no meu cabelo? Eu já fiz um monte de coisas, mas ele nunca ficou bonito assim.

- Eu maximizei o potencial de maciez e brilho de cada fio, meio que para compensar o fato de ter deixado o seu cabelo preto.

O sorriso que ela abriu foi o maior até aquele momento. Com isso ele viu que aquele cabelo era parte vital para manter a autoestima daquela garota de pé; foi a primeira coisa que ele aprendeu sobre ela. Ele a esperou terminar de secar e pentear o cabelo (com um resultado muito bonito diga-se de passagem) para dizer algo que havia esquecido.

- Escuta Ino. – disse Gaara depois de tudo terminado – Eu esqueci de te dizer uma coisa.

Ela também gostou de ouvi-lo a chamar pelo primeiro nome. Quando ela se aproximou, ele continuou:

- Toda vez que eu acompanho uma pessoa, eu costumo dar a essa pessoa um objeto em especial.

- O que é?

- Isto aqui.

Era um caderno pequeno, com capa cinza e continha por volta de cem páginas. Ela não entendeu o porquê daquele presente e perguntou:

- Por que um caderno?

- Terei de explicar desde o começo.

Ele sentou-se na mesma poltrona e iniciou a explicação.

- Vou ser bem objetivo. Como já disse a você eu sou um semideus. Sendo um semideus (dando ênfase maior a palavra “semi”) existem coisas que eu não posso fazer.

- Sério?

- Por exemplo: eu não posso ler seus pensamentos sem permissão.

- Então você só pode saber o que eu penso se eu deixar?

- Exatamente. Por causa dessa limitação eu criei esse caderno que, de certa forma, resolve parte desse problema.

- Como assim?

- Esse não é um caderno comum. É um caderno único no mundo e está ligado à minha mente.

- Não entendi.

- É muito simples. Esse caderno e a minha mente são um só, ou seja, qualquer coisa que você escrever nele eu saberei imediatamente.

- Que legal! Isso vai ser ótimo!

- Será útil quando você quiser falar comigo, mas estiver entre muita gente por exemplo.

- Vou testar agorinha mesmo!

Ela pegou uma caneta e escreveu: “Quero saber tudo sobre você”, e olhou o semideus à sua frente esperando uma reação. Ele deu um sorrisinho de canto e respondeu:

- Saber tudo sobre mim vai ser impossível, mas responderei o que você perguntar.

Ela ao ver que o caderno realmente funcionava logo o guardou na mochila que levaria para a escola no dia seguinte. Contendo a empolgação da loira Gaara a alertou:

- Mas tome cuidado. Como minha mente e esse caderno estão conectados, qualquer pessoa que tocar nesse caderno passará a me enxergar.

Ino ficou um pouco frustrada, mas decidiu que levaria o caderno para a escola mesmo assim. Aquele dia passou muito lentamente, o que de certo modo ajudou-a a lidar melhor com aquela situação nova. Quando a noite chegou, depois do jantar, depois de alguns minutos foi dormir, ou conversar.

- Que dia diferente... – suspirou a garota ao deitar-se na cama.

- Com o tempo você acostuma.

Ela o observava enquanto ele estava à janela vendo a lua crescente que subia no céu. Assim viu que ele era muito bonito. Com cabelos em um vermelho vivo e olhos verdes, combinados com a luz prateada refletida pela lua, ela o via muito calmo e, caso fosse humano, faria muito sucesso com as mulheres. A curiosidade pairava em sua mente. Quem realmente ele era? De onde veio? Por que a escolheu? Será que se dariam bem mesmo? Era um mundo de coisas que a faziam questionar o porquê de tudo aquilo. Ela estava imersa nesses pensamentos quando uma voz a despertou:

- Está viajando mesmo não é? – perguntou Gaara sem desviar o olhar da lua.

Mesmo com tantas novidades em um só dia, ela se sentia muito confortável e mais confiante. Respondeu:

- É muita coisa para um dia só.

- Realmente é. Mas vai valer a pena.

Nessa hora ela lembrou-se de algo. Levantou-se e ficou a procurar algo no armário.

- O que está procurando? – perguntou Gaara.

- Meu colchão inflável. Esqueci que você vai dormir aqui.

- Não é preciso. Semideuses não dormem.

- Não dormem? Então você nunca tirou um cochilinho que seja?

Ele balançou a cabeça negativamente.

- Quer dizer que você vai vigiar meu sono?

- Podemos dizer que sim.

Ela deitou novamente na cama e disse:

- Agora vou dormir mais tranquila.

Devido ao cansaço da viagem e da hora avançada a garota logo adormeceu. Gaara, ainda na poltrona, ficou a observá-la. Ao contrário dela, ele não sentia tanta emoção, mas sabia que sua detalhada escolha não tinha sido em vão, o verdadeiro porquê de sua escolha seria logo revelado. Como não teria nada a fazer até o amanhecer, fechou os olhos e relaxou, não sem antes cobrir sua protegida com os belos lençóis da cama, mas sem que ela notasse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desejos Inconsequentes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.