Os 18 do Forte Belkarrar escrita por Ryuuzaki


Capítulo 1
Os 18 do forte Belkarrar




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O comandante estava em pé, numa das áreas mais altas do forte Belkarrar. Olhava para a planície logo à frente da região montanhosa em que a fortificação se situava.  Aquela era uma posição estratégica para o reino de Lavris, pois, defendia um dos únicos caminhos conhecidos por entre a Serra dos Dois Passos. O militar refletiu sobre aquele nome decerto agourento, sabia que historias contadas por gerações diziam que era impossível não encontrar algo mortal após um simples andar. Suspirou. A cadeia de montanhas era realmente perigosa, mas as pessoas têm um incrível costume de aumentar uma historia toda vez que ela é contada.

 Ele deu um murro na murada. Um golpe que representava toda a sua frustração. Olhou novamente para a o horizonte. Para a maldita planície que desde sete dias atrás estava apinhada de inimigos, uma tropa do exército numeriano, cerca de três mil e quinhentos soldados prontos para matar todos os que estavam na construção que guardava a rota segura da serra. Em qualquer outra ocasião teria combatido a ameaça sem medo, sem pestanejar... Mas não agora...

Continuava observando aquele formigueiro humano que representava a sua morte, mas sua cabeça estava longe. Pensava em sua capital, a bela cidade das gaivotas, o lugar onde nascera e que jamais veria outra vez. Pensava em sua família e amigos, que não ouviriam suas últimas palavras... Pensava... Pensava em Mörwen, mulher a qual nunca mais tocaria os lábios... Um vento frio e gelado. O fenômeno parecia trazer o próprio pesar dos soldados que morreriam aquele dia, bateu contra o rosto do senhor de guerra e empurrou para atrás do ombro as mechas de cabelo que lhe caiam sobre o rosto, possibilitando assim que visse o início de sua perdição, que se aproximava.

Viu um cavaleiro se deslocando do exército inimigo, este ia em direção a onde estava, o forte Belkarrar. O comandante riu. Um riso desprovido de alegria, ele carregava apenas a ironia e o pesar. Iria descer. E então pronunciaria as palavras que selariam o seu destino e o de todos que estivessem na construção.

                                                          ...

O mensageiro inimigo esperava às portas do Belkarrar. Estava sozinho, desarmado e deste mesmo jeito foi o comandante, para recebê-lo. Não exibia mais pesar, não demonstrava tristeza, era novamente o líder que sempre fora. Não porque estivesse tudo em ordem, mas porque manipulações, subterfúgios e falsas aparências também faziam parte de qualquer guerra.

- E então, Comandante Gallahan. Hoje faz exatamente uma semana que eu vim a que lhe oferecer uma alternativa pacífica para esse embate. Como eu lhe disse, você e seus homens se rendem, entregam suas armas, admitem nossa soberania e serão poupados... Não sabemos o número exato em que estão, mas temos a certeza que a inferioridade numérica de vocês é um fato.

Um sorriso amargo se formou nos lábios do senhor de guerra, sim, ela sabia da desvantagem que possuía. Sabia que contava com apenas um décimo de suas tropas quando os exércitos de Numeria chegaram à porta. Apenas trezentos e um, de três mil homens, restavam na fortificação quando os bastardos numerianos decidiram se mostrar. E hoje, sete dias depois, do ultimato ser lançado, Gallahan teria sorte, muita sorte, se ainda houvesse pessoas dispostas a lutar, se ainda restassem homens que não haviam fugido conforme os dias de cerco passavam. No entanto, ele apenas olhou nos olhos do mensageiro inimigo e lançou-se à guilhotina.

- Eu e nenhum dos meus homens nos renderemos a nenhum mortal ou deus. Não admitiremos a soberania de ninguém que ande ou pense que todos os outros homens e não nos rebaixaremos perante a um exercito de rufiões e saltadores. Portanto, caro mensageiro, aconselho-te a sair das portas do Belkarrar ou a batalha terá inicio aqui mesmo, entre nós dois.

Conforme o lavrino falava a boca do numeriano ia se reduzindo a um fino traço que denunciava toda a sua raiva pelo inimigo. Ele sabia que sozinho não era oponente páreo para o capitão, mas, caso tivesse uma arma, teria iniciado um duelo entre os dois. Desarmado, portanto, limitou-se a uma bravata antes de dar as costas ao Forte Belkarrar e dirigir-se ao próprio pelotão.

- Cuspirei em seu túmulo, capitão. E ele será feito com as mesmas pedras do forte que tanto preza.

Gallahan ficou algum tempo a olhar o cavaleiro que se distanciava e então, lentamente, voltou ao seu posto, na sacada mais alta do forte.

                                                             ...

O exército inimigo se aproximava. O mar de soldados inimigos se deslocava para o topo do primeiro monte da Serra dos Dois Passos. Logo cairiam sobre o forte Belkarrar.

O capitão olhava o avanço das tropas adversárias com a serenidade de alguém que já aceitou a morte. Suspirou mais uma vez e virou-se para seus comandados. Olhou para um jovem de idade tenra que talvez nunca tenha sentido um toque feminino.

- Soldado – disse o capitão – O levante das nossas tropas.

- Comandante. Alem do senhor existem dezessete homens, todos estão aqui. Dez combatentes, cinco arqueiros e dois sem qualquer experiência militar: um escriba e um camponês de uma vila proxima, que nos últimos dias se juntaram à nossa causa. Somando com o senhor comandante. Somos 18 pessoas no total.

Gallahan olhou demoradamente para os olhos de cada um de seus comandados. Viu que estavam dispostos a morrer naquele dia. Dos 301 soldados que haviam no forte sobraram apenas 18 bravos homens e era com esse numero que iriam enfrentar os inimigos.

Ele visualizou mais uma vez a onda de inimigos que chegava. Já haviam alcançado a base do forte, demorariam apenas alguns minutos para romper os portões e adentrar no Belkarrar. E então sem dizer uma palavra, baixou o visor de seu elmo prateado e sacou sua espada. Os outros soldados o imitaram, desembainhando suas próprias armas.

- Nos vemos em outra vida. – fez uma pequena pausa e gritou – Preparar flechas!

 

FIM

 

 


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