Afrodite andava por seu quarto trincando os dentes de raiva. A Deusa do amor deu um chilique de ciúmes e derrubou tudo que encontrava pelo caminho no chão.

- Argh! Ele me paga por isso! – Berrou com raiva. Ela bateu o pé no chão várias vezes como as crianças quando fazem birra.

Sua raiva logo foi substituída por tristeza profunda, e de modo bem rápido. Tanto que ela se jogou na cama, afundou seu rosto no colchão, e começou a chorar desesperadamente.

Eros estava do lado de fora do quarto dela. Não imaginava porque a mãe estaria tão triste, mas resolveu esperar alguns minutos para entrar e fazer alguma coisa. Ao ver, porém, que Afrodite nunca pararia de chorar por conta própria, ele resolveu consolá-la.

Abriu devagar a porta e olhou para dentro. Lá estava ela, deitada chorando.

- Ahm... Mãe? – Perguntou Eros em um tom de voz baixo – Está tudo bem?

- Vá embora! – Berrou Afrodite irritada novamente.

O Cupido se encolheu de medo, mas tomou coragem o suficiente para fechar a porta devagar, e andar até a cama dela.

- Ei... Calma. O que aconteceu? – Perguntou ele devagar.

Afrodite levantou o rosto com raiva, mas ao ver o rosto de Eros, começou a chorar novamente.

- É aquele idiota! – Exclamou ela entre choro – Ele...! Ele está saindo...! Com outra pessoa!

- Com quem? – Quis saber Eros, mais para consolá-la do que por curiosidade.

- Com uma semideusa! – Berrou Afrodite com raiva – Uma garota chamada Ray!

- Ray? – Repetiu Eros tentando ver se aquele nome era familiar – Uhm... Não acertei nenhuma Ray hoje.

- É claro que não acertou! – Exclamou Afrodite como se fosse óbvio – Até parece que você ia acertar alguém para ficar com o meu par.

Eros assentiu, mas logo uma ideia passou em sua mente. Ele lembrou de como estava cansado e com sono quando acertou a última pessoa do dia. Uma filha de Poseidon... Não era?

Ele não sabia. Na verdade, não se lembrava.

- Ray é uma meio-sangue... – Eros esperou por Afrodite completar a frase.

- E o que tem isso? – Perguntou ela sem saber.

- Filha de quem? – Perguntou Eros.

- Ah, de Apolo, eu creio. – Bufou Afrodite. Ela prendeu a respiração de raiva, e depois bufou novamente – Como ele se atreve á isso...

Filha de Apolo...

Eros notou. Notou que tinha feito uma grande besteira. Talvez, só talvez, é claro, a garota que acertara por último sem querer não fora uma filha de Poseidon. Talvez ele tenha acertado alguém que estava na frente do Chalé de Apolo. E que... Provavelmente... Seria um campista do Chalé do Deus do Sol.

- Droga... – Murmurou ele distraído.

- Eu só sei que isso aconteceu sem mais nem menos! – Exclamou Afrodite irritada – Não estava no papel de casais! Não era para acontecer! Não tinha como acon...!

Ela se interrompeu e olhou para o filho. Ao ver que Eros estava pensativo, suas suspeitas aumentaram. Ela estreitou seus olhos de modo perigoso.

- Eros, querido... Amorzinho. – Sorriu ela. Afrodite se colocou sentada na cama e esticou suas duas mãos bem feitas em direção á ele. Tocou seu pescoço delicadamente, mas então foi apertando cada vez mais – Você não acertou essa tal de Ray por engano, não é mesmo?

- Eu... Mãe... – Ele estava ficando sufocado.

- Você não fez essa besteira, não é? – Perguntou ela trincando os dentes perfeitos – Não é mesmo?! Você não errou o alvo novamente, certo?!

- Eu... Não tenho... Certeza. – Respondeu ele sufocado. Afrodite o lançou para o lado, e ela caiu no chão puxando ar para os pulmões – Eu não sei! E-Eu...! Eu estava cansado, e aquela garota era a última da lista! A filha de Poseidon que tinha que ficar com o filho de Hermes!

- E em troca disso você acertou uma filha de Apolo para se apaixonar pelo Deus da guerra?! – Berrou ela – Idiota!

- Calma...! Eu posso consertar isso! – Exclamou ele.

- Que flecha você usou? – Perguntou Afrodite trincando os dentes. Eros engoliu em seco – Que flecha você usou, Eros?!

- Ah... De paixão eterna... – Respondeu ele baixinho. Afrodite berrou de raiva e derrubou mais uma série de vaso, estátuas, e móveis que viu pela frente.

- Paixão eterna?! – Berrou ela com raiva – Eu devia fazê-lo se apaixonar por uma planta, seu desmiolado incompetente!

Xingar os outros não era algo do costume de Afrodite, mas aquele era um caso especial. Ela estava com raiva pela besteira que o filho fizera, e o filho, por sua vez, só queria salvar sua própria pele enquanto ainda não era jogado no Tártaro.

- Olha...! Dá para consertar. Foi uma flecha da paixão eterna. E não do amor eterno. – Explicou se pondo de pé – Se eu acertar a garota mais uma vez, e ela olhar para outra pessoa, a paixão vai ser... Substituída!

Afrodite erguera um vaso de porcelana e estava pronta para jogá-lo em Eros, mas quando o Cupido contou sua ideia, ela se interrompeu. A Deusa do amor abaixou o vaso bem devagar e ergueu uma sobrancelha para ele.

- Tem certeza que isso não vai deixar marcas sentimentais? Ele pode ficar apaixonada por duas pessoas. – Comentou Afrodite.

- Não. Eu já fiz isso antes. – Confirmou Eros – Se eu acertar ela, Ray vai se apaixonar perdidamente por outra pessoa. Vai deixar o Ares de lado.

Afrodite analisou mentalmente a ideia, e depois assentiu.

- Ótimo. Faça isso. Corrija o seu erro. – Confirmou ela.

Eros pensava estar livre, mas de repente, a Deusa virou-se para ele segurando um de seus saltos altos agulha. Ela apontou o salto para o Cupido, e ele podia jurar que o acessório parecia mais uma faca do que um sapato.

- Mas eu vou logo avisando, meu bem. – Disse ela puxando a gola da camisa dele e encostando o salto em seu pescoço – Se você fizer mais uma besteirinha com essas suas flechas... Eu arranco a sua pele e faço um casaco, ouviu?

Eros engoliu em seco.

- Sim. – Confirmou ele.

- Então vá chutar essa garota para fora do meu caminho. – Disse ela trincando os dentes – E pode deixar que o Ares eu mesma chuto. Vai!

Eros foi até a porta, mas parou ao ver que Afrodite sentou-se na cama, pensativa. Ela olhou a bagunça que tinha feito, mas seu pensamento estava mais longe daquele quarto.

A Deusa fez um papiro aparecer, e forçou a memória.

- Ray... – Murmurou ela pensativa – Rayssa Oliveira.

Ela lembrou-se da garota. Perfeitamente até.

Com um sorriso maldoso no rosto, Afrodite escreveu o nome dela no papel, e de outra pessoa. A Deusa levantou-se e foi até Eros.

- Eu espero que dessa vez cumpra a minha ordem. – Disse entregando o papel com o nome do recém casal.

Lá estava escrito “Rayssa + Gael”.