Tower escrita por Sanyan


Capítulo 1
Tower


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu comecei a escrever essa one há séculos atrás e, bem não sei o que deu em mim para terminá-la. Acho que foi mesmo saudade de escrever com a Luka como principal.
E acho que isso aqui nos dá algumas lições importantes. Ou não, sou fail nessa parte de filosofar.
Enim, Boa leitura~



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Não importa o quanto as pessoas digam que sou boa, nunca serei boa o bastante para o mundo.

Estou cansada de viver ofuscada nessa realidade, a única coisa que quero é desaparecer.

E não voltarei a importunar suas vidas. Aprecio tudo que fizeram por mim, mas isso é um adeus.

Com amor, Luka.

Assim que a pequena Luka terminou de escrever, sentiu lágrimas impostoras rolarem de seus olhos e atingirem o papel. Ótimo, agora estava chorando. Enxugou os olhos rapidamente para que nenhuma outra lágrima escapasse e levantou-se da mesa.

Estava certa de que aquela carta seria vista como nada de mais. Seus pais não davam muita atenção à ela, afinal.

O certo seria desaparecer.

Correu ao quarto na ponta dos pés para não acordar ninguém e agarrou suas roupas de frio. Já estava bem tarde e parecia estar nevando lá fora, portando seria útil. Vestiu-se rapidamente e saiu pela porta de casa. Não queria perder tempo.

Sentiu o vento gelado roçar suas bochechas e pequeninos flocos de neve ajuntarem-se no topo de sua cabeça. Tremeu. E por um momento pensou em desistir. Voltar para dentro e se enroscar no meio das cobertas quentes de sua cama. Mas não seria certo. Luka estava cansada de esconder aquele conflito interno e viver como se nada estivesse acontecendo. Simplesmente estava cansada.

Forçou suas pernas a se mexerem, e assim começou a caminhar pelas ruas iluminadas da cidade. Eram luzes muito bonitas. Mas algo mais brilhante e iluminado chamava sua atenção ao longe. Uma alta torre. A torre que Luka tanto adorava visitar, primeiro com seus pais, quando era mais nova, depois com seus amigos, e, atualmente, sozinha.

Parou exatamente sob a torre e levantou o olhar, tentando enxergar o topo. Era realmente alto, o que seria perfeito.

Chamou o elevador e adentrou assim que chegou. Pelas paredes de vidro podia observar as luzes de outro ângulo. Pareciam mais bonitas agora. Mas não pôde observar por muito tempo, pois logo o elevador chegou a seu destino. O topo da alta torre.

Assim que as portas se abriram sentiu novamente o ar gelado em seu rosto. Parecia mais frio agora, como se quisesse impedir a garota de realizar o que queria. Suspirou pesadamente e saiu determinada do elevador. Estava certa do que deveria fazer e o ar gelado não seria suficiente para pará-la.

Aproximou-se da borda, inclinando-se levemente sobre a barra de metal que servia para proteção. Com impulso, subiu na barra e em seguida sentou-se. Agora era só empurrar o corpo para frente e estaria caindo. Mas não fez isso de imediato, passou um tempo observando a paisagem abaixo de seus pés. E pensava. Pensava se alguém se importaria com seu sumiço em meio a tantas luzes. Provavelmente não. Quem se importaria com uma garota como ela se a beleza ao redor era bem mais interessante?

Quem sentiria sua falta? Miku? Os gêmeos? Seus pais? Gakupo? Não, todos se sentiriam como se um fardo fosse retirado de suas costas.

Então seria assim. Luka apertou sua saia com uma mão e a barra de metal com a outra. Durante tanto tempo imaginara como seria esse momento, mas nunca pensara que poderia sentir medo. E era isso que estava sentindo. Seu coração palpitava no peito e sentia a respiração acelerada. Mas talvez fosse rápido e indolor. Como poderia saber? Nunca morrera antes.

Quando tomou coragem e preparou-se para empurrar o corpo para frente, ouviu algo em sua mente:

– Luka – disse uma voz. – Não faça isso.

– Quem é? – perguntou assustada.

– Sou sua consciência, não posso deixá-la fazer isso.

– Por quê?

Mesmo que a voz estivesse apenas em sua cabeça, Luka pronunciava as palavras em voz alta. Queria assim demonstrar confiança, mas apenas fazia parecer mais covarde.

– Você é linda, tem amigos maravilhosos, pais que te amam muito... Não pode desistir disso tudo. – prosseguiu a voz.

– Não sou boa o suficiente para o mundo – rebateu Luka.

– E quem disse que você precisa ser boa para o mundo? Só deve ser boa para você mesma, esqueça o resto.

– Mas eu... – sua voz começara a falhar nesse momento. – Mas eu não sou boa nem para mim mesma.

– É claro que é. Eu sou o seu lado interno, como você realmente é por dentro. Eu acredito que sou boa o suficiente, então você também acredita, apenas não quer aceitar isso. Você não quer me aceitar.

Aquilo pegou Luka de surpresa. Pois era mesmo verdade. Ela buscava ficar distante de sua parte que era confiante e que acreditava em si mesma. Buscava ficar distante porque estava triste demais se rebaixando em relação ao outros para atingir aquela sua outra parte.

Disposta a ouvir melhor o que aquela voz lhe falava, virou-se o corpo na barra de modo que ficasse de costas para a paisagem que observava e voltou a colocar os pés no chão. Então voltou-se para a paisagem. Mas não a observou por muito tempo, em vez disso abaixou a cabeça e encostou a testa na barra, sentindo o metal gelado em contato com sua pele.

– Então o que acontece se eu te aceitar? – perguntou ela com a voz quase inaudível.

– Não quer fazer o teste?

Sem pensar duas vezes, balançou a cabeça positivamente. E então sentiu. Era como se uma pequena chama escondida em seu interior começasse a se espalhar pelo resto de seu corpo. Tomava cada parte e enchia seu ser de esperança, confiança. Aqueles pensamentos que a faziam achar que não era boa o suficiente para o mundo pareciam ter desaparecido.

Agora estava se sentindo diferente. Como se estivesse sendo abraçada. Ela sabia que não estaria mais abandonada.

Um apito baixo chamou sua atenção, seguido de um leve tremor no bolso de seu casaco. Era o celular. Levou a mão até ele e puxou-o para ver do que se tratava. Era uma mensagem sem remetente.

Mesmo que você chegue a desaparecer, eu nunca vou me esquecer de você.

Se você desaparecer, eu também vou desaparecer. Mas apenas de corpo, pois meu corpo é o seu corpo.

E se meu corpo desaparecer, ainda poderei vagar em alma. E dessa forma terei você sempre em mente.

Mas sei que não vai pensar novamente em desaparecer, pois seus pais e amigos vão se sentir mal se isso acontecer. Pode pensar que não, mas a verdade é que vão. Então não pense mais nisso.

Eu vou sempre ouvir a sua voz, mesmo que ninguém a ouça.

Eu estarei com você.

 Não precisava pensar muito para deduzir de quem era aquela mensagem. Chegava a ser engraçado seu interior comunicar-se com ela por meio de mensagem de texto. Mas ela estava certa.

Virou-se e, sem olhar para trás, voltou ao elevador. E logo estava sob a torre novamente. Levantou o olhar para o céu escuro cheio de estrelas e abriu um largo sorriso.

– Obrigada – sussurrou. Mas não teve resposta de seu interior. E sabia que o porquê. Sabia que aquela voz que a salvara não teria mais necessidade de aparecer uma vez que havia se fundido com ela.

Luka caminhou de volta para casa. Assim que chegou, amassou o bilhete que ainda estava sobre a mesa e atirou-o no lixo mais próximo. Guardou as roupas de frio em seu quarto e deitou-se sobre a cama, enroscando-se nas cobertas quentes.

– Obrigada – sussurrou novamente antes de cair no sono.       


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? >3
Estou pegando o embalo de escrever com a Luka e estou fazendo o próximo capítulo de Seven deadly sins -random.
Mas espero que tenham gostado. Não esqueçam o review.
E, ham, acho que nos faz pensar sobre aquelas pessoas que pensam em se matar apenas por acharem que todos no mundo são superiores. Mas a força para se manter em pé está em seu interior, é só achá-lo e ganhar confiança.
Pelo menos foi isso que pensei enquanto escrevia isso aqui.
Enfim, até a próxima, lala.