Bleed For Me escrita por Joker Joji


Capítulo 15
XV - Dúvida.


Notas iniciais do capítulo

(Foi a vez que eu mais demorei ou não? Acho que não, hein!)

Queridos, sinto-lhes informar que a demora agora será frequente. Como devem saber, o curso de medicina está tomando todas as minhas forças...

Mas, se é alguma forma de consolo, eu sou incapaz de ser feliz sem escrever a Bleed. Então, todo final de semana eu procuro escrever um pouquinho, só que sou muito lerda, enfim. Vocês entenderam.

Espero que curtam o capítulo e que a medicina não esteja extorquindo o pouquinho de escritora que havia em mim. O capítulo é uma introdução à Lucille, uma das minhas personagens favoritas. Espero que gostem!

Ah... estou com saudades de vocês.



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- Você está me esperando por algum motivo?

Minha voz ainda arranhava um pouco, mas era involuntário. Apesar de já estarmos longe do incêndio, a chuva persistia, engatinhara atrás de nós e começava a desmoronar, numa espécie de implosão nebulosa acima de nossas cabeças: o sol perfurava o alvo céu com lanças ígneas.

Lucille me olhava ainda. Raras foram as vezes em que senti saber tão pouco de alguém. Retribuí seu olhar petroso, sobre o qual a chuva batia simulando o mar calmo numa encosta. Era linda, e só isso podia dizer. Psicologicamente, talvez jamais conseguisse compreendê-la. Não parecia ter tanta pressa assim de encontrar o ‘sr. Valo’, aparentemente seu chefe.

Qual seria a relação? Que espécie de pacto, de dependência ela teria dele? Porque eu não imaginava uma razão para ela submeter-se a sua procura assim, por livre e espontânea vontade. Ainda mais uma humana como ela (até que ponto, não sei). Que espécie de prazer ou favor eles trocavam, o que tinham a ganhar?

- Você vai me dizer onde está o sr. Valo, não é? – Tinha uma voz delicada e desenvolta ao mesmo tempo. Tão poderosa que imaginava o esforço que seria guardá-la dentro de si nas horas inapropriadas, uma voz tão cheia de vida e vontade própria.

- Em que momento eu lhe disse que sabia, srta. Lefevre? – Metade do meu ser ardia de vontade louca e incandescente de deixá-la fora de si. Com um objetivo que ainda não bem entendia, mas que, de alguma forma, satisfaria um desejo espontâneo que me dominava. – Acho que está esperando demais de mim. Vim apenas deixar Frank aqui. Você me foi útil, e sinto que não poderei retribuí-la da maneira que quer.

Eu estava apoiado na janela aberta do lado direito do carro, encarando-a. Ela não parecia abatida com minhas palavras – ou talvez parecesse sempre abatida, de modo que sua expressão no momento não diferia muito da costumeira. Seus cabelos laranja ondulavam seu rosto fino e alvo, emolduravam um par de íris muito sólidas que não desviavam dos meus próprios olhos. Lucille era dona de uma força que muitos vampiros sonhariam em ter.

Foi então que abriu a porta do carro. Desencostei-me, esperando vê-la melhor. Ouvi o barulho de seus saltos afundando no chão de terra da pousada. Ouvi a porta bater e o ruído do vento desviando de seu corpo longilíneo. No momento em que ela se virou para me olhar de uma maneira tão revoltada, uma ideia fugidia perpassou pelos meus pensamentos:

Lucille era um solo de guitarra.

Espontânea. Lucille partia das entranhas de si própria, como se insurgisse contra seus próprios sentimentos a cada momento. Todos os seus movimentos pareciam feri-la de alguma forma, havia apenas o sadismo dos loucos em seus olhos castanho-cristalinos – os olhos mais ferozes que eu vira até então.

Sua existência era um “apesar de”. Lucille era uma obra-prima do acaso, e um desvio da natureza: erroneamente humana. E, ainda assim, apesar de tudo, era perfeita.

- Pois eu acho que sabe bem para onde iremos, sr. Way, com ou sem a companhia do sr. Iero.

Eu precisava ouvir mais daquela voz, eu precisava admirá-la por todo o tempo que me fosse permitido nesse mundo. Nem que ele se resumisse a um segundo.

- Eu posso pensar nessa sua teoria. – É, talvez eu soubesse onde se escondiam os arquitetos do submundo. Para dizer a verdade, agora eu tinha quase certeza. – Mas Frank irá conosco.

Ela andava até mim como se fosse o vento a embalá-la, sinuosamente.

- Jura? E que olhos dúbios são esses, se me permite saber, sr. Way? – Parara a minha frente, com a postura e a tenacidade de uma nobre. Impecável até nas palavras ferozes. Sem que percebesse, eu desviara os olhos para o quarto de Frank, e então para o vidro do carro.

Aqueles olhos ímpares, tão de outra pessoa, tão de qualquer um que não eu. Um reflexo inconveniente e perdido, díspar. O olho direito, oscilando entre o verde e o castanho, agarrava-se fortemente a um passado que, um dia, me representou. O olho esquerdo, ensanguentado, psicótico, de um vermelho líquido que deixava minha boca seca, seria a cicatriz a lembrar o futuro que procurava encurralar-me.

Lucille esperava sua resposta com uma boca curvada para um dos lados. Eu procurava as palavras para respondê-la, em vão, em qualquer canto do meu ser ambivalente. Estariam elas no meu lado humano ou no vampírico?

Em qual dos lados estava o meu amor por Frank?

- Não há dúvida. Tampouco há algo da sua conta, srta. Lefevre. – Frank vinha a nosso encalce, podia vê-lo vindo do quarto número quatro.

- Há dúvida, sim, sr. Way. – Sem que eu houvesse visto, ela aproximara-se, aproximara-se demais. – Não pense que o sr. Valo lhe contou tudo. E, sempre que há a ignorância – perto demais – há a dúvida, meu caro Gerard.

Suspirei aliviado quando Frank apareceu. Não que sua presença houvesse influenciado as atitudes daquela mulher de alguma maneira, duvido muito. Mas Frank significava, naquele momento, uma desculpa para que eu pensasse em outra coisa. Pelo menos isso. Esquecer as palavras de Lucille provava-se quase uma necessidade.

Pude notar apenas que Frank retirara a blusa imunda de sangue, suor, lama, cinzas e todo o tipo de sujeira que cruzara nosso caminho, exceto as da alma – essas não eram tão simples assim de serem deixadas num quarto de hotel. Vestia outra blusa e uma jaqueta por cima, cujo zíper fechava agora até o fim do seu pescoço. Entendi aquilo como uma forma de se proteger, um pouco duvidosa. Por um momento, pensei em todo o medo que o pequeno deveria estar sentindo dentro daquele corpo frágil e inocente. E na coragem que deveria estar circulando em seu sangue. A vontade de abraçá-lo e beijá-lo subiu-me até o peito, enfurecida.

Os cabelos negros no canto de seu rosto ovalado, chegando à borda de seus olhos humanos, o deixavam tão magnificamente lindo. E eu só podia, então, desejar que isso tudo chegasse ao fim em breve, um final feliz, talvez. Pelo menos, para ele. Já seria o suficiente.

- Trouxe algo para você. Não sei se pode ajudar, mas, como vejo as recepcionistas daqui usando golas altas, alguma forma de proteção isso deve ser.

Do bolso, um antigo lenço vermelho saiu. Reconheci o lenço de longa data, que Frank usava por aí em seu pescoço, num estilo meio de foragido da justiça. Peguei de suas mãos, instintivamente aproximando-o do rosto, sentindo o cheiro de perfume barato que trazia consigo. A colônia ou qualquer coisa que Frank usava na maior parte do tempo, dia após dia. Ainda ausente do mundo nublado e obscuro em que estávamos, fechei os olhos, buscando na imaginação algum tipo de refúgio, talvez o gosto de seus lábios que ainda não saíra de minha boca, ou as meras lembranças de um sorriso que poderia não mais voltar. Ah, como aquele cheiro fazia-me sentir monstruoso por simplesmente ter esquecido um passado brilhante...

- Já ajudou, Frank. – Amarrei o lenço com força ao redor do meu pescoço, sentindo-me humano como não sentia há dias. O “obrigado” ficou entalado na minha garganta, e talvez até houvesse dúvidas quanto à relação que vivíamos. Mas quanto a algumas poucas coisas, não havia dúvida alguma.

- Podemos ir, sr. Way? – Lucille abrira a porta do carro em seu lado esquerdo, esperando um sinal de que entraríamos mesmo no carro. – O sr. Iero irá mesmo conosco?

A provocação já tão característica da donzela dos cabelos ruivos. A vontade de respondê-la de maneira digna pinicou minha barriga. E eu respondi.

- Ele irá conosco, por uma única razão, imutável e sem um pingo de dúvida, srta. Lefevre.

Minha mão estava na maçaneta, Frank atrás de mim esperava que eu abrisse a porta. Lucille olhava-me fixamente por cima do carro, sem rancor, parecia-me, sem provocações dessa vez. O lenço estava firmemente amarrado à minha nuca, o nó embaralhando-se com poucos fios de meu cabelo molhado, e o cheiro de Frank na altura da minha boca fazia minha razão escorrer para a ponta dos meus pés. Nessa hora, instalou-se o silêncio. Creio que até eu estava curioso para descobrir o que sairia daquela boca, de um homem despido de raciocínio, quer fosse ele humano ou vampiro.

- A razão é que eu o amo.

E estou pouco me fodendo se a senhorita acha que há alguma dúvida nessa afirmação.


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Notas finais do capítulo

Que fique claro que não há travessão antes dessa última frase, então, nem eu mesma sei se ele falou ou não isso.

Espero que tenham gostado... Gerard tá meio tenso, né? UAHUAH estou amando descrevê-lo dessa maneira deformada. Viva o Gerard com olhos diferentes!

Beijos para vocês!



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