Um Pardal Que Tinha Medo De Voar... escrita por Sweet Mia


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Agradeço muito a todas os simpáticos reviews. São vocês que me incentivam a escrever por isso dedico este capítulo a VicCruz, Jeune Rêveur e litera tua. :) Espero que gostem...



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Nora POV



O tempo escorre...lentos segundos de agonia, preenchidos por um barulho ensurdecedor. A aula de inglês passa devagar. Devia estar a fazer um exercício que já terminei há duas aulas atrás por isso, estou a escrever aqui para a professora não me chamar ao quadro...Quanto tempo mais...por quanto tempo mais terei de aguentar esta tortura, quanto tempo mais até ao silêncio da biblioteca? Dou uma espreitadela ao relógio da parede. Duas horas e meia? Duas horas e meia de tortura. Não sei se aguento, não sei por mais quanto tempo serei capaz de aguentar...as dores, a fome, o medo permanente que agora nem na biblioteca desaparece totalmente...Tudo por causa daquele rapaz...



Não devia pensar nele mas não consigo evitar. Ele é bonito. Mais alto que eu e provavelmente mais velho, magro, ombros largos (aposto que é mais forte do que aparenta), nariz direito, cabelos castanhos-escuros ligeiramente ondulados e aqueles olhos profundos que parecem querer ver-me, o que é uma ideia que me aterroriza. Eu sobrevivo por ser invisível, de cada vez que me vêem acabo por me magoar. Como ontem...fiquei sem comer porque "ela" me viu. Embora "ela" pareça saber sempre arranjar maneira de me ver...



A aula de inglês vai acabar em breve...Uma hora e meia para o sossego...Não sei como vou fazer para me levantar. Já não como há mais de 24 horas e o meu corpo está a sentir os efeitos...Andei tonta toda a manhã. Mas é uma questão de concentração...só tenho de aguentar mais uma hora e meia...o tempo é mesmo uma coisa estranha. Parece sempre reger-se de modo a contrariar a nossa vontade.


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Estou na biblioteca, finalmente. Estou a tremer mas já não tenho fome. Porquê? Porque ele apareceu, porque ele me salvou, porque ele me... Que vergonha...nem consigo escrever. Vou começar pelo princípio.



Quando saí da última aula, que foi Físico-Química, uma tortura ainda maior do que o costume, pois além de odiar a matéria, morro de medo da professora, dirigi-me a direito para aqui. Mas apareceram os meus "amigos" do costume quando estava perto da porta que dá para o pátio. Desequilibrei-me, e como já estava com bastantes tonturas, quase caí. Digo quase porque ele me apanhou.
Ajudou-me a pôr-me de pé, pegou-me na mão e disse-me:



–Anda.



E eu fui atrás dele, tentado caminhar o mais a direito possível. Parámos num canto relativamente escondido perto da biblioteca. Escusado será dizer que estava cheia de medo. Ele segurou-me o queixo e obrigou-me a levantar a cabeça, suavemente...Disse-me que eu estava muito pálida e perguntou-me se me estava a sentir bem. Eu acenei que sim mas estava a tremer. Sentia as minhas pernas prestes a ceder de nervos e só queria esconder-me. Ele fez uma careta que só posso descrever como céptica...e disse-me:



– Mentes muito mal, sabias? Estás com cara de quem vai desmaiar a qualquer momento...mal te consegues aguentar em pé. Comeste alguma coisa esta manhã?



O que é que ele queria? Porque é que estava a fazer aquelas perguntas todas? Porque é que não me deixava ir? Ele percebeu que eu estava assustada e fez uma coisa que me surpreendeu tanto que fiquei sem reacção. Ele puxou-me sem fazer força contra o peito dele (a minha cabeça dá-lhe pelo pescoço) e...abraçou-me. E eu parei de tremer e senti-me tão estranha...e calma. Como quando estou na biblioteca e sei que nada de mal me vai acontecer...segura acho que é essa a palavra. Depois ele soltou-me, devagarinho, e voltou a falar comigo.



– Assim está melhor. Não respondeste à minha pergunta. Comeste esta manhã?



Eu acenei negativamente com a cabeça. Ele tirou uma sandes de manteiga de amendoim da mochila e estendeu-ma.



– Come, vais sentir-te melhor. Não és alérgica a amendoins, pois não?



Eu acenei negativamente com a cabeça. Ele sorriu e depois entrou na biblioteca. E eu, quando acabei de comer, segui-lhe o exemplo. Ele estava sentado no mesmo sítio da última vez. Eu peguei em Dickens, como de costume e fui para o meu lugar habitual. E agora estamos aqui os dois…ambos com livros no colo, mas nenhum de nós está a ler. Só há uma questão na minha cabeça. Porquê? Porque é que ele é assim, porque é que me ajudou? Não sei a resposta por isso o melhor é ler.



Hoje há alguém que está mesmo contra os meus planos pois assim que abro Oliver Twist, um papel acerta em cima do meu livro. Tem apenas uma frase, na verdade, uma questão.



“- Estás melhor?”



“-Sim. Obrigada.”



“-Ainda bem. Tens de ter cuidado. Pensei que ias desmaiar. Aqueles rapazes aborrecem-te muitas vezes?”



“-Algumas. Já me habituei.”



“-Porquê?”



“- É preciso uma razão?”



“- Claro. Se nunca lhes fizeste nada não deviam magoar-te, só porque lhes apetece. Ninguém pode fazer isso. É cruel e é um crime.”



“- O que é que tu percebes do assunto?”



Pronto, admito que fui um bocadinho brusca mas ele estava a deixar-me nervosa e fez-me pensar naquilo que eu não queria. Mas estou surpreendida por ter conseguido escrever aquilo. Confesso que secretamente uma parte de mim espera que se cale de vez. Não lido bem com pessoas. Mas sinto-me mal por ter sido tão brusca…nunca ninguém tinha sido simpático comigo… Que estranho. Ele respondeu.



“-Desculpa. Já percebi que não queres falar sobre isso. Tenta acalmar-te, está bem? Estares tão nervosa ainda te causa uma recaída. O que é que estás a ler?”



Porque é que ele insiste em ver-me? Porque é que não pode ignorar-me como o resto das pessoas? E porque é que eu respondo?



“-Oliver Twist. E tu?”



“-Vinte mil léguas submarinas. Eu adoro esse livro, apesar de ser uma história um pouco triste.”



“- Triste? O Oliver tem muita sorte. Eu gosto de Verne mas nunca li esse.”



“- É muito bom. Já leste a história não já?”



“-Estou a reler. É um dos meus livros preferidos.”



Porque é que eu lhe digo estas coisas? Outra pergunta para a lista de perguntas sem resposta...Está tocar. Eu devia ir. Mas ele impede-me.



– Espera. Não vás já. Tenho mais uma pergunta para te fazer.



Fiquei imóvel, à espera do bilhete que apareceu no meu colo, atirado com uma pontaria certeira. Tinha apenas uma frase.



“- Ainda não sei o teu nome.”



Eu estava a tremer. Escrevi-o cautelosamente. Atirei-o de volta e sai o mais depressa que consegui. Que esquisito, para que é que ele quer saber o meu nome? Sei que o dele é Lucas. O meu é...



“-Nora.”




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