CAPÍTULO 2

“As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.” - Lilian Tonet.

As malas e outros objetos pessoais já estavam encaixotados e guardados. Bella se encontrava sentada no sofá coberto com um lençol branco observando tudo atentamente para ter certeza de que não estaria deixando nada importante para trás. Jasper surgiu do alçapão que levava ao porão. Estava com sua camisa de musselina branca totalmente suja de poeira.

– Não vai levar os quadros que estão no porão? – Perguntou, olhando atentamente para ela.

– Não sei... – Respondeu ela suspirando.

Só de pensar em olhar para os quadros e as cenas de seu passado novamente, fez com que as feridas no coração de Bella queimassem ainda mais.

– São muito belos, não acho certo deixá-los para trás... Irão apodrecer aqui ou sabe-se lá o que os futuros moradores farão com isso aqui. – Disse ele num tom de voz persuasivo e usou seu dom para deixá-la tentada.

–Você sabe que o que está fazendo é trapaça, não é? – Disse ela suspirando derrotada e revirando os olhos. – Vou buscar mais caixas.

Ela se levantou e revirou os olhos mais uma vez para a expressão e para o sorriso satisfeito de Jasper antes de ir para os fundos atrás de mais caixas onde coubessem os quadros. Jasper se sentou e listou mentalmente tudo o que fizeram e tudo o que faltava. Logo, lembrou-se que havia um pequeno problema. As roupas que usavam e tinham provavelmente estavam muito ultrapassadas. Eles nunca iam à cidade já que moravam no meio da floresta onde raramente topavam com algum humano, então não viam a necessidade de se atualizar com tudo para manterem as aparências. Ele esperou pacientemente Bella subir com as caixas para expor seu problema.

– Precisaremos de roupas novas. – Disse ele assim que ela se sentou.

– Eu não vejo nada de errado com os meus vestidos. – Ela retrucou contrariada.

A última coisa que Bella iria querer era dar um pulo na cidade. Seus planos eram correr até Denali, comprar uma casa lá, arrumar as coisas, saírem para conhecer o lugar e aproveitar para caçar. Jasper finalmente explicou o problema das aparências e Bella suspirou derrotada. Por fim disse:

– Você que vai se virar para comprar. Quero algo simples, discreto e preto. Você sabe mais ou menos o estilo que eu gosto e pode imaginar o tamanho que eu uso.

– Mas só vai querer uma peça?!

– Vou. E sem discussões. Não gaste dinheiro com coisas tão inúteis para nós. – Jasper se preparou para sair, mas Bella o impediu. – Jasper? – Chamou-o.

– Sim?

– Pode guardar os quadros nas caixas para mim?

– Por que você mesma não os guarda? – Perguntou ele confuso.

Quando eles saíram de Chicago a mais de um século atrás, quem tinha guardado os quadros, havia sido ela mesma.

– Jasper, por favor, eu realmente não vou conseguir guardá-los. – Bella implorou com amargura.

– Tudo bem, Bella. Não fique assim. – Concordou rapidamente dirigindo-se ao porão.

Um tempo depois Jasper subiu novamente avisando que sairia para comprar as roupas. Bella lembrou-o do que queria, mesmo tendo certeza de que ele não faria como pedido. Ele deu de ombros como se concordasse e saiu. Bella aproveitou a sua ausência e foi dar uma passada rápida no penhasco e "se despedir" dele. Na realidade, ela apenas gostava da vista que aquele lugar lhe proporcionava, principalmente do nascer e do pôr do sol. Trazia-lhe certa sensação de paz. Ao retornar, Bella conferiu caixa por caixa para ver se estava tudo em ordem e depois se sentou para esperar Jasper voltar da cidade.

Ela esperou por bastante tempo e começou a se preocupar. Então pensou que ele já tinha chego e, ao não ver Bella em casa, saiu para procurá-la. Levantou-se pronta para ir atrás dele, mas achou melhor esperar em casa até ele voltar e evitar um possível desencontro. Jasper só chegou depois de anoitecer, o que deixou Bella intrigada, em suas mãos várias sacolas.

– Jasper! – Ralhou ela em tom acusatório – Eu disse apenas uma peça, não a loja inteira!

– Bella, aqui não tem coisas só para você e eu pensei em algum caso de emergência, algumas peças extras poderiam ser úteis. Vamos ficar em um navio, não dá para usar a mesma roupa todos os dias. – Ele respondeu calmamente.

– Você e essa sua mania de planejar nos mínimos detalhes e todas as possibilidades me irrita na maioria das vezes, sabia?

– Mas admita que, isso pode vir a ser bem útil. – Ele sorriu convencido.

Em resposta ela o fuzilou com o olhar. Ele gargalhou e se sentou.

– Sabe Bella, se você não fosse tão negativa, você seria hilária.

– Que bom que divirto você. – Ela estava sem expressão.

– Bem, – Começou ele depois de um curto silêncio – vamos levar as malas e o resto eu venho buscar aos poucos...

– Tudo ótimo! Podemos ir embora agora? – Perguntou ela se levantando.

–Não! – Disse ele sério e então sorriu ao ver a expressão de Bella se desmanchar de incredulidade. – Brincadeira.

Se pudesse, Bella estaria roxa de raiva, mas sabia que lutar contra Jasper era uma batalha perdida, então se contentou em controlar sua vontade de pular no pescoço dele. Finalmente eles estavam correndo em direção ao Alasca e à Denali.

Eles chegaram perto do porto e colocaram as roupas que Jasper comprara, depois embarcaram. Bella achava muito mais simples eles nadarem até o Canadá, mas Jasper achou melhor ir com os humanos para tentar se atualizar um pouco.

Eles se instalaram em uma mesma cabina, que por insistência de Bella, era uma das mais simples. Jasper bufava exasperado e Bella se virou para ele e ralhou:

– Você deveria parar de reclamar e agradecer por ter o que tem, pois muitos gostariam de estar em nosso lugar. Deve se contentar com pouco também, Jasper, uma vida simples e junto daqueles que amamos é a verdadeira felicidade. Não precisamos de nada muito grande, não dormimos mesmo.

– Mas Bella, não é pelo luxo que reclamo e sim pelo nosso conforto. Até para vampiros isso é inaceitável! E sinceramente Bella, você nasceu na época do arcadismo? O amor não é o suficiente para nos fazer felizes. Olhe o que o amor fez com você. Você se destruiu por causa desse Edward, irmã, um humano. – Ele respondeu sério.

Bella se levantou se sentindo mortalmente ferida pela acusação do irmão e disse com a voz alterada:

– VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE O AMOR, JASPER MUITO MENOS SOBRE MIM E EDWARD ENTENDEU?! SAIA DAQUI! SUMA DA MINHA FRENTE! SEU... – Ela se interrompeu para não dizer nada impensado e murmurou, por fim. – Eu quero ficar sozinha.

Arrependido por ter magoado a irmã, assim que as palavras saíram de sua boca, Jasper saiu do quarto cabisbaixo, sem encarar Bella, que desabou na cama e ficou chorando sem lágrimas, as memórias invadindo sua mente novamente. Jasper mais do que ninguém deveria entender o que ela sentia, mas aquela reação mostrava que não e isso entristecia Bella ainda mais.
Irritado consigo mesmo, Jasper ficou andando pelo navio entre as pessoas sem prestar atenção em ninguém. Sua vontade era de se bater até desmaiar, mas ele não podia. Frustrado e estressado ele foi em direção ao bar para observar a movimentação e tentar se acalmar baseando-se nos sentimentos das outras pessoas.

Ele entrou sem olhar para ninguém e marchou direto para o balcão e se sentou de frente para as mesas. Até que o barman o chamou e para manter as aparências Jasper pediu uísque. Ele pegou o copo e aproximou-o da boca, quando uma voz de sinos perguntou:

– Você vai mesmo beber esse líquido?

Jasper, percebendo o que estava prestes a fazer, devolveu o copo para o balcão com uma careta. Então ele olhou para a pessoa ao seu lado. A garota era baixa, muito pálida, seus cabelos eram repicados em várias direções de uma maneira interessante. Rapidamente ele constatou que ela era vampira e que, para seu alívio, também caçava apenas animais, como demonstrava a cor de seus olhos. Seus sentimentos eram de curiosidade e felicidade, sempre muito positiva.

Finalmente lembrara o porquê de estar ali e suas feições voltaram a se entristecer. A vampira, percebendo a mudança repentina na expressão dele consolou-o deixando-o surpreso:

– Ela vai perdoar você. A sua irmã.

– Como você... – Ele começou estupefato.

Porém ela interrompeu-o falando muito rápido:

– Eu vejo o futuro. A propósito, sou Alice. Alice Cullen. Quer saber? Eu estava esperando vocês decidirem ir para Denali a um tempão.

– Ahn... Prazer? – Aquilo havia soado mais como uma pergunta.

– Relaxe, Jasper. Eu não mordo. Vampiros, eu quero dizer... – Então ela começou a rir. – Acho que deveria conhecer minha família... Ah sua irmã também é claro! Carlisle vai ficar muito feliz em saber que não somos os únicos que segue a dieta vegetariana. Carlisle é meu pai, por assim dizer e Esme, a esposa dele.

–Vegetariana? – Jasper perguntou confuso.

–É. Ah! Sim, você não entendeu, não é mesmo? É claro que não! Essa é a nossa piada particular. Como não caçamos humanos, o que seria normal para um vampiro assim como é para um humano comer carne, somos como os humanos que só comem plantas, ou os vegetarianos. Entendeu? – Alice respondeu num fôlego só.

Jasper assentiu sorrindo, achando graça da piada. Alice parecia ter um humor inabalável. Então logo os dois começaram um diálogo, onde Alice falava a maior parte do tempo.

Ele foi lentamente se acostumando com o jeito elétrico da baixinha, na verdade, era até divertido. Ele se simpatizou rapidamente com ela e achava que talvez ela fosse a amiga que Bella precisava. Talvez ela fosse a companhia que ele precisava. Com um meneio de cabeça ele afastou esse pensamento, desacreditando que podia cogitar uma coisa dessas. Alice percebeu, mas não deu importância acreditando que os pensamentos dele estavam na irmã.

Eles conversaram por bastante tempo até Alice interromper a conversa dizendo:

– Sua irmã vai se acalmar em 5 minutos e Esme está me procurando, então eu acho melhor eu ir... Você e sua irmã no convés às cinco da tarde, você me ouviu bem? Ótimo. E não se esqueça.

– Como se eu pudesse esquecer... – Ele murmurou rindo e ela acompanhou-o.

E então ela o fitou e disse bem séria:

– É sério. Estejam lá.

Jasper caminhou pensativo no caminho até sua cabine. Alice, apesar de ser o seu oposto e totalmente bipolar, mexera nele de uma maneira inédita, parecia que seu coração voltara a bater e quando pensava nela este parecia disparar. O que será que ele estava sentindo? Apesar de sua experiência com sentimentos, aquele lhe era totalmente desconhecido.

Ele bateu levemente na porta, sabendo que Bella a escutaria. Em seguida entrou olhando para o chão totalmente arrependido. Sentou-se na cama em frente à dela e finalmente criou coragem para encará-la. Sua expressão e suas emoções fizeram com que ele se sentisse mais apreensivo do que antes. Ela o encarava de maneira fria e seus sentimentos eram de mágoa e frustração.

– E então? – A voz cortante dela fez ele se encolher.

– Eu sei que jamais farei o suficiente para merecer o seu perdão pelas besteiras que te disse. – Começou, e depois respirou fundo antes de continuar – Eu estava... Não. Eu estou cansado de te ver sofrer, Bella. Você é aquilo de mais importante que tenho e me dói profundamente ver você se destruir dia a dia por causa de sua dor. Eu não sei mais o que fazer Bella! – ele exclamou desesperado passando a mão pelos cabelos e puxando-os. – Mas isso não faz com que aquilo que disse seja justificável. Nada faz com que o que eu disse seja aceitável. Eu só te feri mais ainda! E por um impulso idiota! Oh Bella! Se você soubesse o quanto me arrependi de te dizer aquilo assim que as palavras saíram da minha boca!

Lentamente, Bella se levantou e sentou ao lado do irmão. Apoiou a cabeça em seu ombro e disse séria:

– Não posso dizer que suas palavras não me feriram, Jasper. Mas sei que o que disse tem um fundo de verdade, só que é inevitável. Eu amava Edward demais, Jasper. Eu achei que você entenderia por sentir o que sinto, mas me equivoquei. É preciso sentir na pele para realmente entender o que sinto. Eu também, mesmo sabendo do meu erro, não me arrependo um segundo de ter vivido o que vivi com Edward e se tivesse a chance eu escolheria fazer tudo de novo com ele, sempre com ele. Mas eu te perdôo, Jasper, porque você também é tudo o que me resta, é meu alicerce e eu te amo.

– Eu também te amo, Bella. – Disse ele aliviado.

– E então... Encontrou alguém interessante lá em cima? – Perguntou ela mudando de assunto.

– Na verdade... Sim. – Ele respondeu subitamente alegre.

Bella percebeu a animação súbita e viu um brilho diferente nos olhos do irmão e isso a deixou desconfiada. Porém ela preferiu deixar que ele falasse tudo sozinho antes de tirar suas próprias conclusões. Só que Jasper não disse muita coisa, ele apenas disse:

– Você vai conhecê-los hoje. Mas devo alertar que são vampiros, porém seguem a nossa dieta, então não se preocupe com nada, tudo bem? Você vai gostar deles, pelo menos da Alice acredito que sim. Não conheci os outros dois ainda.

– Quando e onde? – Bella perguntou calmamente.

– Mais tarde no convés. As cinco para ser mais exato.

– Por mim tudo bem. Estarei lá. – Bella concordou deitando na cama novamente.

Confuso e curioso, Jasper perguntou:

– Não vai sair e conhecer o navio?

Mas ele já deveria prever a resposta e a vontade de Bella:

– Não. Não tenho vontade de sair. Não haverá nada de novo lá em cima. Apenas humanos.

Ele balançou negativamente a cabeça e conteve um suspiro. Então também se deitou e perguntou finalizando a conversa:

– Se importa se eu também ficar?

– Não.

E o silêncio se instalou no quarto.