Quando chegaram, Bella não falou com ninguém, apenas se fechou no quarto e impediu Jasper ou Carlisle de entrar. Eles decidiram que era melhor deixá-la sozinha. Sua única exceção foi quando a humana que a defendera apareceu para agradecer pelo gesto.

Jasper e Alice estavam voltando da escola quando Esme percebeu que havia uma pessoa a mais com eles e logo ficou curiosa, mas resolveu ir para a cozinha fazer um lanche para manter as aparências.

-Mãe? – Ela ouviu Jasper chamar da sala.

-Na cozinha! – Ela gritou, mesmo sabendo que não havia necessidade, mas ela já podia ouvir o coração de um ser humano na sala, então agiu como um.

Eles foram para a cozinha e sorriram ao ver Esme com quatro lanches prontos e um jarro de suco de laranja.

-Olá, queridos. – Disse ela sorrindo, porém olhava para a garota humana que os acompanhava.

Jasper notou e então disse:

-Mãe, essa é Claire e foi ela quem Bella defendeu no refeitório.

Claire olhava para o chão, intimidada com a presença daquelas pessoas incomuns e maravilhosas. Porém Esme sorriu e disse:

-É um prazer Claire! Sou Esme Cullen.

-Também é um prazer, senhora Cullen. – Disse ela baixo.

-Sinta-se à vontade Claire! Coma alguma coisa enquanto chamo Bella.

-E vocês não vão comer meus queridos? – Esme perguntou fingindo preocupação.

Jasper se segurou para não rir quando respondeu:

-Não estamos com fome, obrigado.

Então eles saíram e foram até o quarto de Bella. Enquanto isso, eles podiam ouvir Esme conversando com a garota na cozinha.

-Bella? – Jasper bateu na porta. – Eu sei que está nos ouvindo. Venha cá, tem uma pessoa que deseja te ver e agradecê-la pela a sua ajuda.

Eles ouviram passos lentos e hesitantes pelo sótão, em seguida a porta do alçapão se abrindo e os passos se transferindo para os degraus e, finalmente, a porta sendo destrancada e aberta. Jasper teve um visível sobressalto ao ver a expressão de Bella. Além dos olhos negros e as olheiras fundas, seu cabelo estava totalmente desgrenhado e o desespero estava tatuado em suas feições e em seu olhar. Alice desviou os olhos e Jasper apenas murmurou:

-Oh, Bella!

Porém com os olhos dominados pela raiva, ela fitou-o e grunhiu:

-Não ouse me olhar com pena! Eu não sou dignade pena.

Então ela arrumou como pôde os cabelos, com os dedos, se recompondo o máximo que podia e começou a andar em direção às escadas até chegar ao primeiro andar. Com Jasper e Alice em seu encalço, é claro. Assim que pisaram na sala, Jasper murmurou para que Esme deixasse Claire e Bella a sós.

-Bem, Bella já deve estar vindo, então vou deixá-la à vontade, pois eu tenho que terminar algumas coisas. Com sua licença. – Eles ouviram Esme se despedir da garota e sair.

Alice deu um leve empurrão em Bella que foi andando lentamente até a cozinha. Esme passou e sorriu para ela, mas Bella percebeu a preocupação marcante nos traços da matriarca e se sentiu ainda mais culpada. Ela respirou profundamente e entrou no cômodo. A garota comia um dos sanduíches de Esme e mantinha os olhos fixos no prato.

-Olá. – Bella cumprimentou-a educadamente com um tom de voz neutro.

A humana teve um sobressalto, corou, mas respondeu:

-Oi. – Bella esperou ela continuar e foi o que Claire fez. – Obrigada pelo que fez na escola, apesar de acabar sendo prejudicada e eu sinto muito por isso.

Bella se surpreendeu tanto pelo gesto quanto pela sinceridade da garota e sua guarda abaixou em partes. Cautelosa, ela se sentou em frente à garota e disse:

-Não sinta. Eu estou aliviada em me livrar de tudo aquilo. O que aconteceu para que aquela idiota aborrecesse você?

O olhar de Claire ficou melancólico.

-Ela sempre me aborreceu por eu ser diferente e não me submeter às modas estúpidas dela. Agora que meu... – Sua voz se quebrou. – Que meu namorado se foi, ela ficou ainda pior, porque encontrou meu ponto fraco.

-O que houve com ele? – A voz de Bella de repente estava solidária. Ela já imaginava o que havia acontecido antes dela responder.

-Nós fomos viajar com minha família e sofremos um acidente. Apenas eu sobrevivi. – Ela soluçava audivelmente.

Bella sabia o que a garota estava sentindo e se sentiu na obrigação de fazer alguma coisa por ela. Então resolveu que mostrar que ela não estava sozinha e revelou em um murmúrio:

-Meu namorado também se foi em um acidente. – Namorado nunca seria a palavra ideal para descrever o que Edward foi para ela.

Claire levantou o rosto surpresa e olhou nos olhos da vampira.

-É mesmo?! – Perguntou.

Bella desviou o olhar e assentiu silenciosamente.

-Faz pouco tempo?

-Não. Faz algum tempo. – Disse. – Mas não se deixe enganar pelo que os outros dizem sobre a dor passar com o tempo. Se você realmente o amava, essa dor nunca irá passar. – Sua voz estava repleta de agonia e amargura. – Mesmo que eu pudesse jamais iria esquecê-lo.

Claire reprimiu um soluço e disse:

-Como ele era?

-Edward? – Bella perguntou retoricamente. – Não há palavras suficientes para descrever o quanto ele era maravilhoso em todos os sentidos. Vê-lo de mau-humor era algo praticamente impossível, ele era esperançoso e acreditava no melhor das pessoas. Era tenaz, talentoso, inteligente, cavalheiro, capaz... Ele me entendia. Ele não sabia tudo de mim, mas mesmo assim sabia como me consolar. Os olhos verdes dele podiam ver através da mim, de meus pretextos. Ele me conhecia. Ele me completava.

-Engraçado.

-O quê?! – Ela perguntou incrédula.

-Eu quis dizer irônico. Mark era exatamente o oposto, mas toda vez que eu olhava nos olhos deles eu podia ver que por dentro, por detrás daquele badboy, órfão e rebelde, havia uma pessoa boa. O mais triste é que apenas eu via isso e ele era o único que via o que eu era capaz. Agora não restaram mais ninguém nem nada ao que acreditar e me apoiar. Eu não sei mais o que fazer.

-Eu não sei como você suporta. – Bella disse sinceramente. – Eu desejo mais do que tudo poder partir e me encontrar com ele, mas agora estou presa à minha família. Eu não poderia trazer essa dor a eles, pois também amo a eles e eles também a mim. Você não tem mais ninguém, mas continua aqui.

-Esse é o ponto. – Ela murmura de volta. – Eu não sei se aguento mais. Acho que estou enlouquecendo... Assim como vo... – Ela se interrompeu.

-Assim como eu? – Ela completou sem emoção nenhuma. – Você não tem ideia do que é realmente estar louca. Você está bem melhor que eu, acredite.

-Eu duvido muito. – Claire murmurou com desgosto.

Claire fez uma careta, desacreditando no que a vampira afirmara. Bella olhou levemente irritada para ela. Como aquela humana ousava menosprezar seu sofrimento?! Antes que a conversa tomasse rumos mais descontrolados dentro da dor de ambas, Jasper entrou e interrompeu a conversa olhando carinhosamente e tristemente para a irmã.

-Bella, está tudo bem? Mamãe quer saber se precisam de alguma coisa. – Automaticamente ele lançou seu dom sobre as duas, acalmando o ambiente.

Bella suspirou reprimindo a vontade de desabar em um pranto raivoso e desesperado e se levantou dizendo:

-Não. Já terminamos por aqui. Você irá levá-la para casa em segurança, Jazz?

-Mas é claro. – Respondeu ele prontamente. – Está pronta, Claire?

A humana apenas assentiu positivamente e se levantou enxugando as lágrimas. Ela olhou para Bella e murmurou:

-Adeus, Bella.

-Adeus, Claire. – Ela respondeu.

Ela saiu e Bella voltou para o sótão para não mais sair por dois meses.

Uma semana depois Claire Stevens foi encontrada morta na casa da madrasta. Ao seu lado, um frasco de calmantes vazio.