A Mensageira escrita por Becca Armstrong


Capítulo 5
Capítulo 5 -A "dura" realidade


Notas iniciais do capítulo

Gente, segunda e tem 2 caps novos (um q eu postei antes).



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Eu corri sem pensar em nada além dos meus pais e dos meus irmãos. Incrivelmente, em uma questão de segundos eu estava no hotel, e escalei as janelas para os quartos deles, um ao lado do outro.

    -Ela já deveria ter chegado. –Minha mãe falou.

    -Ellie sabe se cuidar. Deve ter ficado na casa da amiga. Nada demais, amor. Ela sempre soube se virar e conseguir tudo o que queria de quem queria. –Papai a acalmava.

    -Ainda assim. Isso não é nosso país. Estamos do outro lado do mundo! E ela não está aqui, não está nos meus braços! –Mamãe chorava. Eu não queria preocupá-la assim.

    Ia entrar, mas, no momento, alguém bateu à porta do quarto dos meus pais.

    -Ellie! –Minha mãe foi correndo para abri-la.

    Não era eu, obviamente. Um homem forte entrou pela porta.

    -Onde ela está? –Ele urrou.

    -Quem? –Papai indagou perdido em sua confusão.

    -A caçadorazinha de merda. Cadê ela?

    -Não sabemos! Quem é esta? O senhor deve precisar de um mé...

    A voz parou na garganta de meus pais, e seria pouco dizer que eu também não fiquei perplexa. O homem saltou no ar e se tornou um lobo cinza, salivando e pronto para atacar. Ele foi na direção de meus pais e saltou. Nessa hora, eu irrompi pela janela, ficando entre minha família e um lobo gigantesco.

    -Ellie! –Minha mãe gritou.

   Apenas uma parte do meu cérebro processou. Agora eu era uma guerreira, uma caçadora, ou qualquer coisa assim. Eu estava curvada em posição animal, tal como o lobo. Nós nos chocamos no ar ao mesmo tempo. Ele rugiu quando minhas unhas arranharam seu pescoço. Minhas unhas arranharam o pescoço de um lobo! Ele me mordeu, e por pouco não sangrou. Eu avancei para cima dele e começamos á nos chocar e rolar, um tentando se preservar e ferir, não, MATAR, o outro.

   Tardiamente, eu percebi que mais cinco lobos entraram no quarto. Eu não daria conta deles. Era minha primeira batalha, e, até agora, eu me salvei e protegi meus pais por puro improviso! Antes que eu me desesperasse, ouvi tiros. Virei-me á tempo de ver Thiago, uma menina e um menino atirarem nos outros lobos.

   -Ellie! Você me desobedeceu! –Thiago avançou na minha direção. Eu não prestei muita atenção, apenas corri para os meus pais. Eu queria tanto abraçá-los! Quando eu cheguei perto deles, me assustei.

   Não havia alívio ou amor em suas faces, mas medo. De mim. Eu tentei chegar mais perto, mas vi os dois se retraírem.

   -Pai, mãe, sou eu...

   Vi minha mãe chorar e meu pai se posicionar entre nós, protegendo minha mãe de mim. Aquilo foi demais. Corri janela afora.

  

    -Ellie!

    Era Thiago. Mas de que isso importava? Meus pais já não me amavam, mas sim me temiam. As únicas pessoas que deveriam me amar incondicionalmente me odiavam. Se houvesse um lugar onde me enterrar e nunca mais acordar, ou então voltar no tempo, era para lá que eu iria. Tudo aconteceu por aquela maldição de festa. Tudo. A minha vida virou um lixo por culpa daquilo.

   -Ellie. –Ele me abraçou. Eu me virei e desabei em seus braços.

   -Por que Thiago? Por quê?

   -Eu te disse. Você os põe em risco constante, e nem todos sabem lidar com isso. A culpa não é sua.

   -Ainda assim, não é justo.

   Eu desisti de falar, os soluços eram demais. Ouvi passos atrás de mim e me posicionei para lutar.

   -Ou! Calma, garota. Ninguém quer te matar. –Disse uma loira, rindo.

   -Já limpamos tudo, T., ninguém desconfia que lobos passaram por ali. –Acrescentou um moreno musculoso.

   -Obrigado, gente. –Thiago me abraçou novamente. –Will, Lizzie, essa é Ellie. Ellie, esses são meu amigo e minha irmã, os outros Dois Grandes.

   -Finalmente você chegou! Eu estou precisando urgentemente de uma amiga, viver com esses dois não é fácil! –Disse Lizzie.

   -É bom ver o grupo completo, finalmente. –Acrescentou Will.

   Eu tentei forçar um sorriso, mas não saiu.

   -Eu... Fico feliz em conhecê-los, mas, preciso... De um tempo. Desculpem-me.

   Eu me virei e fui correndo.

   Será que tinha que ser assim? As pessoas que eu mais amava e que mais me importavam não poderiam me amar ou viver comigo? Eu, como essa espécie estranha de alguma coisa que eu não sei, nunca veria meus pais novamente? Droga! Eu me sinto tão perdida! Não tenho nada, nem ninguém!

   -Não se preocupe. É assim com todos nós. –Thiago estava atrás de mim. Eu nem notei, mas estávamos perto do mar, e o sol estava nascendo. –Todos sofreram com nossas transformações. Alguns mais do que outros.

  -Você sofreu? –Nos sentamos em uma pedra gigante.

  -Nem tanto. No acidente em que eu e minha irmã nos transformamos, eu já não tinha meus pais. Eles morreram e nós nos tornamos uns dos Quatro Grandes. Ainda tinha meu tio...

  -Isso é algo que vocês vivem falando e eu nunca entendo. O que são os Quatro Grandes?

   -Eu, você, a Lizzie e o Will, somos os Quatro Grandes. Somos, por assim dizer, os mais poderosos da nossa espécie. Nós devemos protegê-la, e até mesmo governá-la um dia. Meu tio é o último sobrevivente da geração anterior, que incluía meus pais... –Seu rosto se tornou triste. Eu tinha uma pergunta para mudar o rumo de seus pensamentos.

  -Como assim “nossa espécie”? –Ele me olhou com aqueles olhos verdes perfeitos e me falou:

  -Nós, da Corporação De Caçadores De Criaturas Míticas, ou CCCM, se você preferir; somos quem caça os animais do mundo “mágico” que causam desordem. Na verdade, eles sempre andaram perto dos humanos, mas na maioria das vezes passam despercebidos. São demônios, fantasmas, vampiros, lobos, sereias, gnomos, duendes, fadas, enfim, qualquer um que saia da linha. A maioria deles nos odeia por isso.

  Ele levantava um sorriso engraçado. E eu soube que consegui distraí-lo.

  -E nós temos poderes?

  -Claro! Somos os melhores em qualquer luta, e cada um controla um elemento: água, terra, fogo ou ar. Mas nós, os Quatro, conseguimos entrar em contato com qualquer elemento. E um de nós consegue se comunicar com o Mundo Dos Espíritos. Eu já sei que não consigo. A Lizzie e o Will Também não. E ontem, ou melhor, hoje, você me disse que falou com um ser do outro lado. –Ele levantou uma sobrancelha, sugestivamente.

  Levei um tempinho para digerir. Eu? Helena Carter? Não pode ser. Eu nunca fui a melhor em nada, nem sequer soube lutar. Agora eu sei que sou a mais poderosa dos mais poderosos de uma raça poderosa que luta contra criaturas poderosas. Acabei? Ou tem alguma coisa além?

  -Algo mais, Thiago? –Eu precisava me certificar.

  -Na verdade, sim. –Eu arregalei os olhos e ele riu da minha cara. –O que foi? Você perguntou. Nós temos uma lenda referente á uma mensageira. Ela será quem decidirá nossos destinos na Batalha Final, ou Grande Batalha, e dependerá somente dela o equilíbrio entre os dois lados. Meu tio acha que você é essa garota. “A Mensageira”.

  Meu mundo caiu, parou de girar e depois explodiu! Que merda! Como se não bastasse a atenção que eu estou tendo (com a qual eu nunca soube lidar), eu ainda vou reger o controle de várias raças! Olha a furada na qual eu fui me meter.

   -Tem alguma chance de eu conseguir pular fora? –Supliquei, e Thiago riu pela terceira vez em questão de minutos.

   -Ter, tem. Mas o destino da nossa raça sempre se faz cumprir, uma hora ou outra isso acontecerá com você. –Ele riu novamente.

   -Qual é a graça? –Ele ria ás minhas custas descaradamente.

   -Não é tão engraçado. Você só me lembra um pouco eu mesmo. Quando descobri o que eu era, eu também quis fugir.

   -Quantos anos você tinha?

   -Quatorze. –Rimos juntos.

   -Você está me comparando a um garoto de quatorze anos?

   -Não a qualquer garoto. Eu. Meu tio vive me dizendo que eu nasci com trinta anos e envelheço mais á cada minuto.

  -Exatamente o que minha mãe me diz.

  Ficamos sérios de repente. Lembrar-me do que eu vi a menos de uma hora no quarto de hotel doía. Thiago entendeu, e me abraçou. Sem que eu me desse conta do que ele estava fazendo, ele se deitou na pedra e me puxou para seu peito. Seus braços formaram uma gaiola protetora ao meu redor, e eu amei a sensação. Eu sei que eu estava triste demais, e que não deveria pensar nessas coisas agora, mas permita-me dizer: o corpo do Thiago é perfeito. Não deveria ter um grama de gordura á mais, e era musculoso na medida certa. Ele também era alto, bem mais alto do que eu. E, por mais que ele tivesse esse corpo de lutador e, de fato, lutasse contra monstros, ele não me amedrontava. Pelo contrário, me transmitia uma sensação de paz, tranqüilidade e segurança. E eu amei essa sensação.

   Acho que ficamos assim por um tempo. Nenhum de nós parecia querer sair dali, mas eu sabia que deveríamos voltar. Ele pareceu ler minha mente, porque falamos em uníssono:

   -Devemos voltar. –Rimos juntos por uns minutos.

   -Vem. –Disse Thiago, saindo levemente de baixo de mim e me puxando para cima com uma mão. Com o meu senso de equilíbrio ele não deveria esperar que eu me ficasse de pé por muito tempo. Eu quase caí de cara na areia, mas ele prendeu minha cintura no último minuto e me virou para si. –Seu senso de equilíbrio é horrível.

   -Eu não pedi sua ajuda. –Reclamei.

   -Mas não lutou contra quando lhe foi dada.

   -Eu nem tempo de pensar tive! –Contra ataquei.

   -Mas tem tempo agora, e ainda não saiu dos meus braços. –Ele estava certo. Seus braços ainda me seguravam. E eu senti que havia algo além de proteção ali. Era um tipo de carinho.

   -Como se um armário como você me desse chances de fugir. –Eu estava meio sem ar por culpa dos olhos verdes que me encaravam.

   -Você fez isso no acidente. –Seus lábios baixaram á minha orelha direita, e ele sussurrou, me causando arrepios. –O que pode ter mudado?

   Afastei-me dele e me arrumei. O que estava acontecendo comigo? Justo eu, gostando de um cara como ele? O Thiago deve ter namoradas lindas, deve ficar com as mais desejadas da cidade, e todas devem babar por ele.

   -Vamos? –Corei visivelmente quando olhei Thiago retirar sua jaqueta de couro e sua blusa de algodão, deixando apenas uma camiseta preta que ressaltava seus músculos. Foi quando olhei para minhas roupas e percebi que estava de salto e com o mesmo vestido da festa da Melanie. –Thiago?

   Ele se virou e me olhou.

   -E minhas roupas?

   -Lizzie e Will já retiraram suas coisas do seu quarto e levaram á Corporação. Mas, se você quiser, podemos comprar algumas mais. Meu tio me dá dinheiro suficiente para esse tipo de ocasião.

   -Não! Eu não vou gastar seu dinheiro! –Só a idéia já me assustava.

   -Ellie, fica fria. Cada aluno recebe uma mesada bem generosa. Você deve receber a sua hoje. Quando chegarmos, você me paga.

   Pensei por um minuto. Não.

   -Quando eu receber minha mesada, eu compro as roupas. Vamos.

   Corremos juntos até a CCCM. Ao chegarmos, notei que o movimento já havia aumentado. Garotas andavam em grupos, garotos se exercitavam, adultos mantinham a ordem. Parecia uma típica escola americana. Eca.

   Não era só isso. À medida que Thiago passava, as meninas me fuzilavam com os olhos. Em todos os rostos, uma dúvida em comum: “Quem é aquela ruiva?”. Senti meus olhos azuis se arregalarem e corei um pouco. Aquela atenção não era para mim. Eu não estava acostumada com aquilo. Thiago pareceu perceber meu desconforto, porque passou os braços de forma protetora sobre meus ombros. Nessa hora, vi Lizzie e Will saírem.

  Lizzie era realmente linda. Seus cabelos eram levemente ondulados, e mais loiros do que os de Thiago. Seu corpo era perfeito, e seus olhos verdes tão maravilhosos quanto os de seu irmão. Will tinha cabelos pretos e um corpo malhado, bronzeado e musculoso. Um pouco menor e menos musculoso do que o Thiago, não deixava de ser feio.

   -Meu Deus! Você voltou! Eu sinto muito pela minha indelicadeza, só fiquei sabendo que aqueles eram seus pais agora á pouco. –Ela me abraçou. –Suas roupas já estão no seu closet, e eu arrumei tudo por espécie e cor.

   Olhei boba para ela.

   -Fiz errado? Desculpe-me! É tudo culpa dessa minha mania de ser organizada.

   -Não. Eu só não acredito que encontrei alguém... Como eu. –Encontrar pessoas extremamente organizadas do outro lado do mundo, em pleno século XXI? As chances eram de um por cento. Contudo, aqui estava eu, falando com um exemplar dessa espécie em extinção.

   -Sério? Ah, que alívio! É que bom saber disso.

   -Não acredito que existe alguém tão organizada como a Liz aqui. –Disse Will, abraçando-a e beijando-a nos lábios. Eu nem percebi que os dois eram namorados. Eu sou tão desatenta!

   -Enfim, acho que Ellie deve subir e se arrumar. Afinal, nossa aula já vai começar. –Disse Thiago.

   -Que aula? –Perguntei.

   -Nosso tio Joe nos dá aulas. Ser parte dos Quatro é muito importante, então apenas outro Grande tem a capacidade de nos instruir adequadamente sobre os ossos do ofício. –Disse Lizzie.

   -Vem, você tem que se arrumar. –Thiago puxou minha mão, mas Lizzie o interrompeu.

   -Nada disso. Essa é uma tarefa para a colega de sala, não para o namorado.

   -Mas ele não... –Tentei dizer que Thiago não era meu namorado, mas Lizzie já me puxou. Ela estava certa. Seria muito constrangedor precisar me trocar com Thiago em meu quarto.

   -Eu sei. Eu sei. E Papai Noel existe.

  

   Ela me levou até meu quarto e entrou comigo. Trancou a porta e foi ao closet, me dando um vestido branco de algodão de costas nuas e uma sandália rasteira.

   -Se vista e retire essa maquiagem. O Thiago adora mulheres de vestido e odeia que elas cubram seus rostos com todos esses adereços.

  -Mas eu... Não...

  -Ah, qual é Ellie? Eu não conto para o Thiago. –Ela sorriu e desabotoou meu vestido.

  Eu fiquei apenas com a calcinha da festa, e fui rapidamente para o chuveiro. Liguei a água e voltei á falar.

  -Não há nada á dizer. Nós não temos nada.

  -Ellie, encare a realidade: Você está caidinha pelo Thiago, e eu, como irmã dele, posso afirmar que os sentimentos dele por você não estão muito diferentes.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Falem o q quiser, mas deem opinião. Com vários comentários, eu posto mais um cap quarta.



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