-Você sabe que não deveria ter feito isso, não é? - Ele perguntou, fazendo o último de seus curativos improvisados no braço de Hera.

-Ela mereceu.

-Que ela mereceu, mereceu, mas você se machucou, então não valeu a pena.

-Foram só uns arranhões, Zeus, eu vou sobreviver.

-Eu sei que vai, você é imortal - Ele se sentou do lado dela na cama deles. Ela havia brigado feio com a ninfa, e acabara com alguns arranhões nos braços, das unhas da ninfa. Nada comparado ao estado que a ninfa havia ficado, mas o suficiente para deixar Zeus culpado e preocupado. - Mas mesmo assim, não saia por aí brigando.

-É só eu não ter motivos para brigar com ninguém. Eu sou calma, eu só gosto de respeito.

-E de uma bela discussão.

-É.

Ele riu, fazendo-a sorrir. Ele havia ouvido os gritos vindos do escritório de Hera e correra, encontrando, quando chegara lá, uma Hera e uma ninfa enlouquecidas rolando pelo chão. E ícor, muito ícor. Ele só conseguia ver o líquido dourado pelo chão, e seu instinto protetor falou mais alto. Ele apartou a briga, de algum modo mágico, e tirou Hera da sala, enquanto Apolo e Hermes chegavam, guiados pelos gritos. 

A ninfa ficara com Apolo, já que ela precisava de um atendimento mais urgente, julgando pelo modo como Hera a deixara. Hera não, havia apenas ganhado uns arranhões de quando a ninfa lutava para se defender. Se ela não tivesse provocado tanto Hera, Zeus sentiria até pena da coitada, mas ela armara uma bela emboscada para ele, e isso ele não esqueceria tão cedo.

Zeus então levou Hera para o quarto dos dois para estancar os cortes, já que alguns havia sido profundos (cuidado, ninfas tem unhas bem grandes) e estavam sangrando um pouco.

Ela não havia parado de insistir que ele não precisava cuidar dela, que ela se virava sozinha, mesmo que lá no fundo amasse quando ele se preocupava assim com ela, tão fofo.

De um modo, o "gelo" que Hera estava dando em Zeus acabou, já que ele parecia mesmo arrependido. Ela ainda não havia o perdoado completamente, porém.

Ela havia sorrido para ele, de verdade, e isso o dera esperanças para tentar novamente, mostrar que ainda a amava, mais do que nunca.

-Foram só nos braços os arranhões?

-Sim, sim.

-Nada mais dói? - Ele perguntou, com um tom bem preocupado, e Hera parou por um instante, pensativa, depois sorriu de canto.

-Sabe... uma massagem nas costas não seria ruim - Ele sorriu também, e concordou.

Hera começou a se arrumar para se deitar de barriga para baixo, deixando, nesse meio tempo, que Zeus retirasse sua blusa delicadamente.

Ele a massageou por toda a extensão das costas, ombros, e até um pouco nas pernas, durante 1 hora e meia, até que ela suspirou, adormecendo.

Depois que ela dormiu, ele a pegou no colo, arrumou a cama para deitá-la e a colocou deitada novamente, cobrindo-a com os lençóis brancos. Estava uma noite fresquinha no Olimpo. Ele então se deitou ao lado da esposa e a abraçou por trás. Ela, instintivamente, se virou para ele e se aconchegou em seus braços, adormecendo profundamente com um sorriso nos lábios.

Quase tudo havia voltado ao normal. Quase tudo.

Zeus fechou os olhos para adormecer também, e deixou que sua mente voasse para todos as ótimas memórias que ele havia compartilhado com Hera, todos seus momentos juntos, desde quando haviam se conhecido, as horas que ele passara a observando, as preces que ela fazia a ele. Seu casamento, suas brincadeiras, tudo. Cada mínimo detalhe. Tudo fazia a diferença, e ele nunca havia notado o quanto ela era importante para ele. 

Ele não era nada sem ela ao seu lado, para o confortar em perdas, o levantar quando ele tombava e o apoiar em momentos difíceis. Ela sempre esteve lá, com ele, e ele sempre estava saindo com uma ninfa ou mortal diferente. Ele queria simplesmente se atirar do Olimpo por ser tão imbecil.