Isabella Pov.

   Meu pai queria que eu fosse dormir na casa da Rose hoje, mas eu não estava com nenhuma vontade. Qual o problema de dormir sozinha em casa? Eu já não morei em outro país sozinha? Então, um dia sem ninguém em casa não mata ninguém.

   Eu só estava intrigada com uma coisa: por que diabos meu pai tinha ficado com tanta raiva do Edward? Qual o problema de nós dois sairmos juntos? Não tínhamos nenhum relacionamento nem nada do tipo, só somos amigos e eu só saí com ele por causa de Claire. Mas vai fazer o Sr. Charlie entender isso...

   Quer saber? Vou dormir que eu ganho mais. Amanhã, assim que meu pai chegasse em casa, eu teria uma séria conversa com ele. Está na hora dele entender que eu não sou mais nenhuma garotinha e sei muito bem me cuidar.

[...]

- Pensei que não fosse vir para casa hoje. – falei, assim que vi meu pai passando pela porta do nosso apartamento. – Já viu que horas são? Quase 9 horas da noite, pai.

- Eu sei. Precisava descobrir quem tinha atirado naquele policial, Bella. Você sabe que quando eu assumo um caso eu só descanso depois de tê-lo resolvido. – tirou a gravata e jogou em um canto da sala. – Dormiu na Rosalie?

- Não, pai. Posso muito bem ficar sozinha em casa, a propósito, nós precisamos conversar.

- É, realmente precisamos. – sentou ao meu lado no sofá. – Não quero saber de você saindo com o Edward, fui claro?

- O quê?! – levantei. – E eu posso saber o porquê disso tudo? Falar sério, pai! O Edward é meu amigo. A-M-I-G-O! E eu só saí com ele por causa da Claire.

- Não me interessa, Isabella. – levantou também. – Eu não quero ver você perto dele.

- Eu só acho que você está se esquecendo uma coisinha, pai. Eu sou maior de idade! Posso fazer o quê bem entender da vida!

- Não na minha casa! Enquanto você estiver morando comigo você segue as minhas regras!

- Ótimo! – cruzei os braços, indignada. – Então fique você sabendo que amanhã mesmo eu estou saindo daqui. – virei às costas, pronta para ir para o meu quarto, mas ele segurou meu braço, me impedindo.

- Isso tudo por causa de um cara, Isabella?

- Não é por causa de um cara, pai. Eu só não quero viver com um ditador.

- Ditador? – me olhou incrédulo.

- Presta atenção. – soltei meu braço. – Eu não quero que você fique mandando em mim, pai. Eu vou respeitar a sua opinião sempre, pode ter certeza, mas não quero que você fique me proibindo as coisas. Eu sei muito bem o que é certo e o que não é.

- Você ainda não viu nada dessa vida, Bella. – suspirou.

- Pode ser, pai. Mas não vou deixar você me proibir de ver o Edward ou qualquer outro amigo meu. Isso eu não vou permitir, não mesmo.

- Esse assunto ainda não terminou, Bella. – passou a mão na cabeça, cansado. – Eu estou muito cansado hoje, preciso dormir.

- Espera. – ele parou no corredor, esperando eu falar. – Quem atirou naquele policial, afinal de contas?

- Um lunático que queria acertar as contas com a polícia. Parece que prenderam o irmão dele por acidente, aí ele simplesmente resolveu atirar no primeiro policial que viu pela frente.

- Tem louco para tudo. – murmurei.

- Pois é... Eu tenho que dormir, Bella. Sinto que sou capaz de desmaiar de sono a qualquer momento.

- Tudo bem, pai. Boa noite.

- Boa noite, filha. Até amanhã.

   Ainda não estava satisfeita com essa conversa que tivemos. Eu queria descobrir o motivo do meu pai simplesmente não aceitar a ideia de me ver perto de Edward. O meu sexto sentido dizia que isso tinha alguma coisa a ver com a minha mãe, ou melhor, com a morte da minha mãe. Mas como Edward poderia estar envolvido nisso eu não sei.

[...]

   Todos os dias era a mesma coisa: meu celular despertava às 6 da manhã para eu ir para a faculdade. Não sei se isso é coisa de adolescente, mas eu odeio acordar cedo. Na verdade, nunca gostei, então isso não é coisa de adolescente, mas enfim... Levantei da cama no maior mal-humor e fui escolher qual roupa eu iria para a aula hoje. Rosalie estaria passando aqui daqui a pouco e dessa vez eu não queria me atrasar. Sim, eu sempre me atraso e ela fica morrendo de raiva.  

   Peguei uma blusa branca larga, uma calça jeans e meu All Star preto. Não entendia essas garotas que iam pra faculdade como se estivessem indo para um desfile de moda. Tudo bem que não era para ir toda desarrumada, mas também não era pra usar salto alto, vestido curto e etc. Até Rosalie, que cursa Moda, concorda comigo. Para quê ostentar tanto glamour? Eu me orgulho de ser uma garota simples. Enfim... Me arrumei o mais rápido possível e desci. Rose já estava me esperando lá embaixo. Um dia eu juro que consigo descer antes dela chegar.

- Oi, amiga. – se inclinou na minha direção e deu dois beijos no meu rosto.

- E aí, como foi o final de semana? – perguntei enquanto passava o cinto de segurança pelo meu corpo.

- Normal. – deu de ombros. – E o seu?

- Uma confusão, Rose. Eu saí com o Edward no sábado –

- Espera aí, você o quê? – me interrompeu, olhando para mim incrédula.

- Ei, não faz essa cara! Não é nada disso que você tá pensando, Ok? A filha dele estava junto, na verdade eu só saí com ele por causa da garota.

- Sei... – murmurou, descrente.

- Tô falando sério, Rose. Será que posso continuar contando o que aconteceu? – olhei para ela, esperando sua confirmação de que era para eu prosseguir. – Obrigada. – falei depois de vê-la assentindo. – Como eu estava dizendo, nós saímos juntos no sábado e –

- Pula essa parte.

- Rosalie! – dei um olhar repreensivo a ela. – Pára de me interromper!

- Ok, desculpa. Vou ficar caladinha, prometo! – fez um gesto, como se estivesse trancando a boca e jogando a chave fora.

- Você viu que teve uma tentativa de assassinato sábado no Central Park, certo? Saiu em todos os jornais. – ela assentiu. – Então, enquanto eu e Edward conversávamos, resolvíamos as nossas diferenças, digamos assim, o policial foi atingido com o tiro e como Edward é policial também foi ajudá-lo. Nesse meio tempo meu pai chegou e, Rosalie, você não imagina o escândalo que ele fez quando me viu com Edward!

- Ciúmes? – olhou para mim com a sobrancelha erguida.

- Não, acho que não. – balancei a cabeça negativamente. – Tenho quase certeza que não. Meu pai falou que não quer me ver perto dele, uma coisa assim.

- Por que ele fez isso?

- Não sei. – dei de ombros. – Só sei que brigamos muito feio por causa disso. Não gosto de ninguém mandando em mim, Rosalie.

- Eu sei, Bella. – estacionou o carro na vaga habitual do estacionamento. – Nos vemos aqui, certo?

- Isso. – nosso campus era diferente. Enquanto o meu ficava na direção norte, o dela ficava na direção sul. – Na verdade, – ergui o dedo indicador. – nos vemos na hora do intervalo.

- É verdade. – riu. – Beijos, amiga. Até a hora do intervalo.

- Tchau. – me afastei dela, indo em direção a minha sala.

[...]

   Dei graças a Deus quando o sinal bateu, avisando que o último tempo tinha terminado. Não me levem a mal, não é que eu não goste de estudar, até porque se eu não gostasse, eu estaria fazendo outro curso, certo? É só que tem certas matérias de Letras, principalmente a parte de Literatura, que são meio maçantes... Meio tediosas.

   Andei apressada pelo grande corredor de Columbia, tentando evitar ao máximo não esbarrar nas pessoas que andavam despreocupadamente por ali. Com essa minha falta de equilíbrio, era bem capaz de eu realmente esbarra em alguém. Quando eu era criança, vivia caindo e me machucando. Minha mãe no início achou que eu tivesse algum problema, mas quando me levou ao médico, o mesmo falou que eu era perfeitamente normal, só que tinha pouca coordenação motora, ou melhor, não tinha noção de espaço. Com o tempo, meus roxos e machucados já passaram a fazer parte de mim.

   Entrei no refeitório e olhei ao redor, tentando achar a mesa onde Alice, Rosalie e eu nos sentávamos. Logo achei uma cabeça meio loira, porém, tinha mais uma pessoa sentada à mesa e eu, definitivamente, sabia muito bem de quem se tratava.

- Oi, gente. – puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Alice, que estava dividindo a mesa conosco a mais de uma semana.

- Bellinha, como foi o seu fim de semana?

- Normal. – lancei um olhar significativo a Rose, alertando-a de não comentar nada com Alice sobre o que tinha acontecido durante o final de semana. Não queria que ela ficasse sabendo de nada.

- Bella, esse é o Emmett. – me apresentou o cara alto e forte que estava sentado ao lado dela. Eu já sabia quem era, mas tinha que fingir não saber.

- Oi, Emmett. – sorri. – Meu nome é Isabella, mas prefiro que me chamem de Bella.

- Você é italiana ou alguma coisa do tipo?

- Não, minha avó era italiana, foi ela quem escolheu meu nome.

- Ah sim...

- Então, Bella, você se importa de voltar de metrô para casa hoje? É que eu e Emmett vamos almoçar juntos. – colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha. Olhei para ela com uma sobrancelha erguida, indagando silenciosamente o que tinha acontecido nesse período.

- Hã... Claro que não, posso voltar de metrô sim. Sem problemas.

- Obrigada. – retribui meu olhar, indicando que mais tarde nós conversávamos sobre isso.

   Passamos o resto do intervalo conversando sobre assuntos banais. Mas eu estava realmente curiosa para saber se Edward havia comentado alguma coisa com Alice sobre o final de semana, mas acho que se tivesse o feito, ela com certeza daria a entender... Ou será que não?

- Alice? – assim que o sinal bateu, avisando o início das aulas, Rosalie e Emmett saíram em disparada, sem nem ao menos nos dar a chance de acompanhá-los. – Será que eu posso falar com você por uns instantes? – mordi o lábio inferior, hesitante.

- Ora, Bella, mas é claro que pode. – diminuiu o passo, andando lado a lado comigo. – Está tudo bem?

- Claro, claro. Na realidade, eu queria te fazer uma pergunta.

- Pode fazer.

- Seu irmão comentou com você alguma coisa sobre o final de semana? – paramos em frente ao meu armário, onde eu me escorei no mesmo.

- O final de semana? – ela riu. – Olha, Bella, apesar de o Edward ser 6 anos mais velho que eu, nós somos muito amigos, por isso não temos segredos um com o outro, então respondendo a sua pergunta: sim, ele falou para mim que saiu com você e com a Claire no final de semana.

- Ah! – exclamei, por falta do que dizer.

- Você deve estar se perguntando por que eu não comentei nada até agora, não é? – assenti. – Simples: Edward me pediu segredo. – deu de ombros, como se aquilo fosse uma coisa banal.

- Por que ele te pediu segredo? – franzi o cenho, estranhando aquilo.

- Ele achou que talvez você não quisesse que ninguém ficasse sabendo, sem contar à confusão que teve com o seu pai.

- Por que eu ia querer que as pessoas não ficassem sabendo disso? Se eu não conheço quase ninguém nessa faculdade...

- Aí já não é para mim que você tem que perguntar, Bella, é para o meu irmão.

- Ok, Alice. Obrigada. – sorri.

- Agora eu posso te pedir uma coisa?

- Claro.

- Se você for se envolver com o meu irmão –

- Mas eu não –

- Espera! – ergueu a mão direita, indicando para eu esperá-la concluir a frase. – Se você for se envolver com o meu irmão, tenha paciência com ele, sim? Desde que Edward perdeu a esposa ele se fechou para o mundo. Acredite se quiser, mas você, depois de dois anos, é a única que conseguiu se aproximar tão facilmente do meu irmão. – respirou fundo antes de continuar. – Obrigada, Bella. De verdade. – se afastou, me deixando sozinha no corredor, refletindo sobre as palavras que ela tinha acabado de dizer.

[...]

   Dessa vez o sinal bateu avisando que o dia de aula tinha acabado. Não via à hora de chegar em casa e descansar... Esse final de semana tinha sido tão cansativo! Não só para mim, meu pai também estava muito cansado, tanto que hoje ele nem foi trabalhar. E olha que Sr. Charlie só aceita ficar em casa em caso de extrema necessidade.

   Peguei minha bolsa que estava pendurada na cadeira e fui em direção a saída. A estação de metrô ficava em frente à universidade, se eu o pegasse logo agora, em menos de 30 minutos estaria em casa, o que me daria a tarde toda livre. Hoje eu ainda queria procurar na internet algumas editoras para estagiar. Conforme fosse, talvez no final da semana eu já estivesse estagiando em alguma grande editora. Pelo menos é o que eu espero, né?

   Assim que cheguei do lado de fora do campus, me deparei com o carro de Edward estacionado perto da entrada. O que ele está fazendo aqui?

- Oi. – murmurei, me aproximando de onde estava.

- E aí? – desencostou do carro e se inclinou em minha direção, largando um beijo na minha bochecha.

- Olha, o prédio da Alice é naquela direção. – apontei para o prédio que ficava na direção oposta do meu.

- Eu sei. Eu não vim aqui para ver a Alice.

- Não?

- Não. Vim aqui para te ver.