Na sexta encontramos a Julienne que veio encher o saco. Dei uns gritos com ela que a fizeram calar a boca e nos deixar em paz. Por fora eu estava alegre e saltitante, mas por dentro eu estava triste, nervosa, acabada.

Pov Jake

Não dá pra entender a Manoela. Ela está escondendo alguma coisa de mim. Desde a conversa com seus pais, ela está muito estranha comigo.

Ela não me olha nos olhos e nem quando vamos para a cama ela parece bem. Parece tensa, nervosa e está tentando disfarçar. Cá entre nós, ela disfarça muito bem.

Pov Manu

Continuei o fingimento até sábado à noite. Cada hora passava como se fosse um minuto. O tempo parecia tirar sarro de mim, me aproximando cada vez mais da despedida das pessoas que mais amo.

Já no aeroporto fingi que entraria com eles e fiquei por último na fila do check in. Dei um beijo profundo em Jake na fila. Esperei que ele passasse para o outro lado e fui embora. Sem despedidas, sem tchau, sem um abraço. Somente meu corpo sumindo em meio a multidão e  Murilo acalmando Jake que gritava desesperado me chamando pelo nome.

Mandei uma mensagem no celular do Jake.

“Jake, meus pais com certeza vão bloquear esse celular americano logo. Então a gente se fala pelo skype e pelo msn e tudo mais. Por favor não esquece de mim. Em pouco tempo estarei com você aí em Los Angeles indo de mãos dadas para a gravadora com um café quentinho na mão.

Entra no computador amanhã a noite. Todos dormem cedo em casa aos domingos então podemos conversar sem preocupações.

E nunca se esqueça: que eu te amo, meu gordo, te amo.

Beijos da sua Manu”

Ninguém tem e nunca vai ter noção de como foi doloroso escrever isso. Além dessa mensagem, mandei uma para cada um, inclusive para Laura que iria para Los Angeles arranjar um emprego e morar com o Andy.

Cheguei em casa e não conversei com ninguém. A mesma coisa aconteceu no dia seguinte. A noite, entrei no Skype e fiquei horas explicando a Jake o que aconteceu. Falei a ele todos os detalhes da conversa e da trágica convivência familiar aqui em casa.

Ficamos conversando até de madrugada quando dormi deitada na cama enquanto falava com o Jake pela câmera.

As semanas seguiram assim. Faltei no trabalho novo por vários dias. Fiquei em casa dias seguidos. Para matar as saudades, os meninos ligavam o Skype durante o ensio e eu ficava ouvindo as músicas e dando opiniões enquanto eles tocavam.

Nenhum dia marcante até 16 de Abril. Duas semanas e dois dias depois de eles partirem e 5 semanas e dois dias depois do dia em que fui a gravadora, conheci minha nova banda (suspense no momento) e dormi com Jake em sua casa.

Nesse dia os enjôos começaram. E continuaram por uma semana. Eu me recusava a acreditar no que estava pensando que fosse, apesar do atraso na minha menstruação.

Tudo me levava a uma conclusão. No dia 24 de abril resolvi comprar o teste de gravidez. E adivinha: positivo.

Eu não acreditei. Minha ideia de vida sempre foi não ter filhos, não casar. E justamente agora eu tornei realidade o pior de meus pesadelos.

Uma criança crescendo dentro de mim. Uma criança que apesar de ser parde de mim, eu odiava. Odiava por ela me fazer sofrer, me fazer chorar.

Esperei alguns dias e tentei fugir. Comprei a passagem de avião e fui até o aeroporto com todas as minhas malas e documentos.

Na hora de entrar me barraram. Eu era menor e não tinha a autorização dos meus pais para ir embora. Tentei argumentar mas ninguém me ouviu.

O jeito foi ir embora de cabeça baixa após uma tentativa frustrada de fugir.

Eu ainda chorava e tentava pensar quando minha mãe gritou do outro lado da porta que queria falar comigo. Lavei o rosto e fui até ela.

- Filha, seu aniversário de dezoito anos está chegando. Você finalmente se tornará uma mulher independente. Acho que isso merece uma festa, não? – Ela piscou pra mim. Mesmo sabendo que eu recusaria, ela me perguntou sobre a festa, isso tem um motivo, com certeza.

- Não sei, mãe. Acho que não.

Ela sorriu e saiu. E em questão de um minuto, eu já tinha todo um plano para ter Jake de volta. Aliás, para voltar para ele.