Sambora observava a noiva entrando na igreja, com os olhos marejados. Fora uma decisão difícil de tomar, mas enfim iria se casar com a mulher que mais amava. Ela estava linda, concluiu. O vestido branco decotado e com cauda longa deixava-a perfeita.

Ao percebê-la se aproximar, pegou em sua mão delicada e sentiu-a tensa. Preocupou-se. Estava gelada. Ela não queria estar ali? Ela não o amava? Perguntava-se. Logo apagou as questões de sua mente. Se Rosalie não o amasse, não teria aceitado tão rápido seu pedido de casamento. Conduziu-a ao altar sem conseguir ignorar as preocupações e perguntas que apareciam em sua mente.

A cerimônia deu inicio e cada vez mais, sentia a mão da futura esposa ficar mais fria. Por um segundo temeu que ela desmaia-se e olhou-a, mas seus olhos encontraram os de Jon, que tinha os olhos azuis, apertados, olhando-os. O amigo parecia tentar achar algo errado, mas continuava de boca fechada.

Ao padre fazer “ a pergunta” respondeu sem rodeios que sim, mesmo sem colocar um sorriso no rosto. Estava atormentado demais com seus pensamentos negativos que nem conseguira sorrir para Rosalie ao dar sua resposta.

A mesma pergunta foi feita para Rosalie e preocupou-se mais ainda ao ver que ela nada respondia, apenas fitava o padre com os olhos castanho-esverdeados arregalados. Ela estaria assim por ser nova demais? Ela responderia o sim que tanto desejava ouvir? Mais e mais perguntas se formavam em sua mente a cada milésimo de segundo que ela não respondia. Sentiu sua mão ser apertada e viu-a se levantar e olhá-lo. Os olhos da amada mostravam medo e raiva ao mesmo tempo. Levantou-se também e tentou pegá-la, no momento em que ela virou as costas e começou a correr porta afora da igreja.

            — ROSALIE! – Berrou, vendo-a sumir.

Não conseguia se mover. Sua garota o havia deixado no altar e fugira. Ela não o queria. Mãos o seguraram pelos ombros ao sentir que cairia de joelhos. Olhou para o lado e viu Jon e voltou o olhar para a porta.

            — ROSALIE!! – Gritou mais e mais vezes o nome da amada, que não voltava.

            — Hey! Richie! Calma cara! É um sonho! Acorda! – Jon chacoalhava o amigo que berrava o nome de Rosalie durante o sono.

Richie abriu os olhos e viu Jon. Imediatamente começou a chorar. Mesmo depois de 3 anos, ainda era atormentado pelo que acontecera. Ela o havia deixado e nunca mais aparecido. Com o passar do tempo, rezava todas as noites para o que sentia por ela se apagasse por completo. Não queria amá-la, mas era impossível. Não conseguia esquecê-la.

Sentou-se na cama e colocou as mãos no rosto, ainda derramando lágrimas que não queria. Não queria chorar por quem não merecia.

Jon sentou-se ao lado de Richie e abraçou o amigo. Ele era atormentado pelo sonho de seu casamento que não acontecera, todas as noites em que não bebia antes de dormir. Estava preocupado com ele. Queria achar Rosalie e bater a cabeça da garota na parede até ela pagar o sofrimento que estava causando em Richie.

            — Calma, Sambo...

            — Calma? Como você quer que eu me sinta calmo com esses sonhos desgraçados? Eu não consigo dormir em paz! – Olhou-o com os olhos vermelhos pelo choro.

            — Eu... – Não sabia o que falar para acalmar o amigo.  – Ah... – Viu-o se levantar.

Richie caminhou até uma pequena mesa no canto do quarto de hotel e pegou a garrafa de whisky cheia. Tinha que beber. Precisava dormir, pois tinha um show para fazer no dia seguinte e fazer uma apresentação de ressaca era bem melhor que fazer uma morrendo de sono. Sentou na cama e tomou o whisky sem nem oferecer ao amigo. Gostaria de entender o porque ela havia feito aquilo, mas não encontrara nenhuma resposta.

            — Por quê, Jon? – Fitou-o, com os olhos marejados.

            — Quer a verdade? – Fez uma careta. – Eu não sei. Mas tinha algo errado.

            — Claro que tinha! Ela me largou plantado lá, naquela igreja! – Tomou outro gole de bebida. – Se não tivesse, ela responderia aquele maldito sim e eu não estaria bebendo pra dormir!

            — É... – Baixou o olhar.  – Mas...

            — Ela tinha outro? Eu não entendo.

Jon pensou por um momento. Rosalie não parecia pensar em outro no momento da cerimônia e não vira ninguém pegá-la quando fugiu. A amiga da garota, Lizzie havia lhe contado todas as confissões de Rose sobre Richie quando a levara para a cama. Deu um pequeno sorriso ao se lembrar dos bons momentos que passara com a garota na cama, mas logo voltou a raciocinar sobre Rose e o amigo. Ela o amava e nada explicava ela tê-lo largado no altar. Exceto pelo fato de... Richie nunca ter demonstrado se gostava dela ou não.

            — Não. Outro ela não tinha. Ela pode ter feito isso por pensar que você era obrigado a se casar com ela.

            — Jamais! – Bebeu outro gole. - Você sabe que ninguém me obriga a nada!

             — Mas você não demonstrou sentimento algum no dia do casamento e do pedido, e eu sei muito bem disso por que eu estava lá nas duas ocasiões.

Richie relembrou do dia em que propusera casamento à Rose. Não fora nem um pouco romântico...

FLASHBACK ON.

[...]

Voltou do palco todo suado e ofegante. Estava contente pois encontraria Rose no backstage. Correu para lá a fim de vê-la o mais rápido possível. Tomara coragem, depois de um bom tempo para dar um rumo em sua vida. Ficar com quem descobrira amar. Há pouco tempo estava com seus sentimentos estabilizados. Desconfiava que seu sentimento por Rose já não era mais de paixão, que crescia a cada dia que ficava com ela... Que estava nos braços macios e carinhosos dela. Amava-a. E já que estava com seus 25 anos completos, achava que estava na hora de formar uma família, de se casar e ter seus filhos, ainda mais agora que encontrara o pedaço que faltava de sua alma.

Ao vê-la sorridente enquanto se aproximava, tinha mais certeza ainda que queria se casar com aquela garota.

            — Vocês foram ótimos! Eu consegui ver daqui! – Ela tentou abraçá-lo, mas afastou-a. Estava suado e não queria que ela sentisse nojo de seu corpo. – Ei, me deixa te abraçar! – Ela insistiu, indignada.

            — Não, Rosie... Estou suado, você... – Foi interrompido por um abraço forte.

            — Você sabe que eu não me importo. - Sorriu, soltando-o.

            — É... Eu sei.

Ficaram em silencio por alguns segundos. Richie decidiu que era a melhor hora para fazer o pedido. Jon estava ocupado e não prestava atenção, assim como Alec, David e Tico. Tinha vergonha de expor uma coisa assim para os amigos e queria fazer sem que eles prestassem o mínimo de atenção para não debocharem depois. Sabia que não era hora e muito menos lugar para isso, mas se não falasse as poucas palavras que estavam presas em sua garganta, acabaria se engasgando com elas.

            — Rosie... Tenho algo para falar pra você. – Pegou nas duas mãos delicadas da garota e apertou firme.

            — O quê? – Ela o fitou, confusa e com medo ao mesmo tempo.

            — Você quer se casar comigo? – Olhou-a nos olhos, ofegante. Não iria gostar nem um pouco se recebesse um “não’ bem grande.

Ouviu um barulho e deu uma rápida olhada para o lado. Jon havia deixado a garrafa de água cair e o observava com uma mistura de surpresa e diversão no rosto. E da mesma forma estavam os outros. Odiava-os por terem ouvidos tão apurados. Voltou o olhar para Rose, que tinha os olhos castanho-esverdeados marejados e um sorriso trêmulo na face. Isso deixava seu coração palpitar mais forte, esperando pela resposta.

            — E então...? – Sussurrou, apressando-a.

            — Sim! É claro que eu quero! – Tentou abraçá-lo mais uma vez, mas foi impedida.

Sambora suspirou aliviado e beijou-a na testa. Antes de comemorar com qualquer toque entre ambos os corpos, queria tomar um banho e tirar todo o odor de suor que estava impregnado em seu corpo e um pouco do cansaço. Sorriu para Rose e saiu,pegando uma toalha.

FLASHBACK OFF.

Sim, poderia ter sido isso, mas ela falaria se houvesse algo errado, apesar de perceber que ela queria falar, mas não dera chance...

FLASHBACK ON.

            Conversava com Bongiovi sobre algo nada interessante, quando foi cutucado no ombro. Olhou para trás e se deparou com Rose atrás de si, com um olhar preocupado.

            — O que foi? – Indagou à garota, dando-lhe um pequeno beijo nos lábios.

            — Temos que conversar, Richie...

            — Depois, Rosie. Agora eu estou ocupado. Outro dia conversamos. – Acariciou-a no rosto e voltou-se para Jon.

Só poderia ser algum preparativo para o casamento e não queria se incomodar com isso. Não era assunto para ele. Tinha mais o que fazer do que se preocupar com detalhes que cabia às mulheres.

Durante toda as duas semanas anteriores ao casamento Rose tentou uma conversa, mas sempre a cortou pois já imaginava o que seria. Rose era nova e com certeza estava empolgada com o matrimônio e a festa e só podia ser esse o assunto principal da conversa que ela queria ter, então era melhor evitar.

FALSHBACK OFF.

Uma curiosidade tomou conta do moreno: O que ela queria tanto lhe falar realmente ? Era mesmo aquilo que supusera, ou era outra coisa?

Amaldiçoou-se por não ter dado importância para o que Rose tinha a dizer.

            — É verdade. E uma coisa me deixou curioso nisso tudo... – Olhou fixamente para a parede cor de creme à sua frente.

            — O quê?

            — Rosie queria me falar alguma coisa antes de nos casarmos. Mas eu não dei chance. Estava muito ocupado com a banda... – Continuou a observar a parede, pensando em todas as coisas que ela queria lhe dizer.

Jon paralisou. Se fosse o que estava pensando... Era melhor não comentar com Richie, pois ele iria começar a procurar por Rosalie nos quatro cantos do mundo. Lembrava-se muito bem das palavras de Lizzie na última visita que fizera à sua cama:  “ — É bom que se casem. Rose o ama e desconfia que está grávida. Eu tenho certeza,mas ela quer confirmar antes de contar à Richie... ‘

Não. Não era verdade. Se Rose estivesse mesmo esperando um filho de Sambora, não o largaria no altar. Pouco conhecia sobre a família da garota, mas sabia o suficiente para ter certeza que nesse caso ela se casaria com ele mesmo se Richie a odiasse. Não, Rosalie não esconderia um segredo desse por três anos. Não, ela não estava grávida de seu amigo.

            — Não acho que era muito importante... Não sei. Se fosse algo de urgente ela teria te obrigado a escutá-la.

            — Talvez...

Jon bocejou e decidiu voltar à sua cama que era ao lado da de Richie. Deitou-se e viu que o amigo fazia o mesmo, mas com o whisky ainda em mãos. Não achava muito bom ele beber daquela forma,mas se ele conseguia se sentir em paz, não falaria nada.

Sambora tomou, de uma vez, metade da garrafa de whisky e logo sentiu sua cabeça pesar. Cobri-se e deixou a bebida no chão. Talvez, agora conseguisse dormir sossegado.