Era Dourada escrita por GiullieneChan


Capítulo 7
Capítulo 6: Novos Laços de amizade




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ERA DOURADA

CAPÍTULO 6

Índia...

Dor, desespero, abandono, medo. Eram sentimentos que inundavam o coração de Méhi naquele momento. Entregue à escuridão, ao desamparo de não saber o que fazer. Estava cego.

—Maldito seja você e sua descendência!-esbravejava o egípcio procurando apoiar-se numa árvore.-Quando eu o pegar, irei arrancar seus olhos pelo o que fez comigo!

—Sua visão logo voltará.-o mendigo falou com uma voz serena, que emanava tanta força que Méhi voltou-se na direção dela.-Mas foi necessário para que aprendesse a ver.

—Eu tinha uma visão perfeita antes de me atacar traiçoeiramente!

Sentiu uma mão forte pegar em seu ombro, pensou que era o mendigo mas não sentia o cheiro fétido que ele exalava, mas um odor agradável de flores e incenso invadia seus sentidos, lhe proporcionando uma sensação de segurança.

—Quem é?

—Sou o seu guia. Sou aquele que irá lhe ensinar sobre a força dentro de seu coração, de sua alma. A força que habita em cada ser vivo, em cada pedra, em tudo o que existe ao seu redor.

Méhi reconheceu a voz do mendigo e estremeceu.

—Vou lhe falar sobre o Cosmo que está adormecido em seu coração. E de como irá dominá-lo a ponto de ser chamado de Divino.

Algo na voz daquele homem acalmou Méhi, sentia que podia confiar nele.

—Abandone seu medo, seus sentimentos mundanos. E vamos buscar juntos a iluminação. Só assim poderá ver este mundo por outros olhos, jovem escolhido.

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Feácea...

A repentina aparição das duas armaduras douradas em meio ao coliseu causou espanto aos cidadãos de Feácea.

—Parece...que ela está me chamando...-o guerreiro disforme da ilha parece esquecido da batalha com seu adversário e de estar cercado por um exército sedento por seu sangue, hipnotizado pela beleza da armadura a sua frente.

Alessandros ergue a mão e toca a armadura em forma de um peixe dourado diante dele, e em seguida esta alça os céus e num brilho cegante se desmancha em vários pedaços, cortam o espaço e no instante seguinte cobrem o corpo musculoso do homem com perfeição.

—Mas...o que é isso?-este exclama surpreso.

Tarek prende a respiração por um instante. Aquela estranha armadura era um presente de Athena, tinha certeza disso. Estimulado pela cena, Tarek vira para Arcturus e grita:

—Arcturus, esta armadura é sua!

Nem era preciso dizer o óbvio, Arcturus parecia atraído pelo brilho daquela estátua, do poder que emanava dela. Ele, em seu íntimo, em sua alma que estava emanando um calor que ele desconhecia até aquele momento, sabia que era predestinado a usar aquela armadura.

—Vem.-ele ordenou, com o olhar quase hipnotizado.

E esta armadura o obedece, como se tivesse vida própria e cobre o corpo do romano. Este a olha maravilhado, parecia que sentia sua força aumentada centenas de vezes só de usá-la.

—Ela...parece tão leve...-murmurou, admirado.

A aura dourada que outrora emanava de seus corpos durante o combate parecia ter aumentado, somente com a presença das armaduras.

—Tarek...o que está havendo?-Niniam pergunta receosa, não conseguindo tirar os olhos dos dois homens diante dela.

—A-acho... não, tenho certeza minha irmã que encontramos dois dos guerreiros escolhidos pela deusa Athena.

O silêncio motivado pelo espanto que dominava a todos naquele recinto termina quando um dos soldados de do deus dos mares grita em tom de ordem.

—Não fiquem parados, inúteis! Mate-os em nome de nosso deus Poseidon!

Incentivados pela ordem os soldados avançam contra Arcturus e Alessandros. O romano estende a mão para pegar sua espada, mas uma voz maviosa ecoava em sua mente naquele instante.

—Arcturus, filho de Gaius Maximus. Não deve levantar a espada contra seus inimigos. Não permito isso!

Alessandro parecia atônito, pois ouvira a mesma voz. No mesmo instante o tempo parecia ter parado, ambos não sentiam mais o chão sobre seus pés, o coliseu havia dado lugar a escuridão, que logo foi iluminada pelas constelações que brilhavam em festa. E no centro desta, a figura imponente de uma bela mulher, de longos cabelos e trajando uma armadura dourada aparecia diante deles.

—Quem é?-perguntou Alessandros sem entender nada.

–Minerva...-murmurou Arcturus.-Athena!

A deusa da sabedoria e da guerra não movia os lábios ao falar, sua voz parecia dirigir-se aos seus corações.

—Falo através de seus cosmos.

—Cosmos?-ambos perguntavam sem entender.

—Sim...em breve suas indagações serão respondidas. Mas ouça-me neste momento. Não permito que meus cavaleiros usem a espada ou qualquer arma contra seus inimigos.

—E como lutaremos?-Alessandros pergunta um pouco alterado.

—Seus corpos são suas armas. Suas mãos poderão rasgar os céus, e seus pés abrirão fendas no chão quando aprenderem a usar o poder que os deuses lhe destinaram. Sintam...sintam o cosmos em seus corpos, em suas almas e liberem o poder que irá realizar milagres!

Ambos fecham os olhos, tentando alcançar, sentir o cosmo queimando cada vez mais em seus corpos, conforme a deusa havia dito. Uma incrível sensação de poder parecia crescer de forma desordenada em seus corpos, uma energia incrível que precisava de algum modo ser liberada, um brilho dourado intenso envolvia a ambos naquele instante.

—Sintam seus cosmos e libere-os!

Arcturus cerrava o punho, e ao abrir os olhos novamente fixa sua visão nos inimigos que avançavam como cães furiosos sobre ele. E então, o jovem romano faz um movimento, socando o espaço diante dele, e no instante seguinte, uma enorme quantidade de energia se desprende de seu punho e se choca contra a turba enfurecida.

Os soldados gritaram quando foram atingidos pelo cosmo do romano, lançados a metros de distância com suas armaduras despedaçadas. Arcturus olha com estupefação o rastro deixado pelo seu golpe no chão.

Alessandros reúne uma enorme quantidade de energia na palma da mão e a lança contra os soldados que investiam contra ele. O impacto os lançou aos céus e em seguida caíram ruidosamente ao chão, inertes e com suas indumentárias e armas destruídas.

Todos que presenciaram a cena não conseguiam acreditar no que viam, nem mesmo os dois únicos guerreiros que permaneciam em pé, autores dos fatos.

—Incrível!-exclamou Tarek, refeito das emoções que o dominavam a pouco.-Então, os homens escolhidos pela deusa Atena poderão destruir os inimigos com as mãos nuas apenas?

Refeitos da surpresa, Alessandros e Arcturus voltam suas atenções ao rei da Feácea que se encolhe de medo.

—Ainda quer nossas cabeças, majestade?-Alessandros pergunta com sarcasmo.

—S-saiam da minha ilha...por favor?-diz o rei, se escondendo atrás de seu trono.

A multidão neste momento como que se acordassem de um sonho começam a aplaudir e a ovacionar os campeões da arena.

—Eles mudam rápido de opinião.-resmungou Níniam para o irmão.

Então, antes que Tarek pudesse contra argumentar as palavras da garota, as armaduras douradas voltam a brilhar com intensidade e se dividem em vários pedaços, saindo dos corpos dos dois guerreiros e voltando ao estado que mantinham anteriormente. E em seguida pousam com suavidade no chão da arena.

—Talvez ainda não estejamos preparados para usá-las de modo adequado.-Alessandros comenta.

—Acredito que tenhamos que aprender mais sobre este Cosmos antes. Não acho que elas permitirão que a usemos novamente antes disso.

—Então, por que elas apareceram se não nos consideram aptos a usá-las?

—Elas vieram para salvar suas vidas.-concluiu Tarek.-Sabe aonde devemos ir para que aprendam mais sobre o cosmos?

Os dois olharam para o jovem lemuriano e assentiram com um balançar de cabeça. Todos sabiam aonde deveriam ir naquele instante.

—Vamos para Athenas!-diz Tarek com empolgação.

Dia seguinte...numa praia da Feácea.

Níniam colocava um manto sobre as armaduras, dentro do pequeno navio, para protegê-las da maresia, enquanto isso, seu irmão e Arcturus colocavam mantimentos.

—Não é muita bondade do rei nos oferecer meios de sairmos da ilha e retornamos nossa viagem?-comentou a jovem em claro tom de sarcasmo.

—Qualquer coisa para que saiamos da sua ilha o mais rápido possível!-respondeu Arcturus que depositava um barril no chão do navio.-Aonde está Alessandros?

—Está se despedindo dos pais.-informou Tarek, observando Sophia que voava em círculos acima deles e que em seguida pousava próximo a ele, na amurada do barco.

—Ele virá conosco mesmo?-perguntou o romano, contrariado.

—Claro! Você viu que ele foi um dos escolhidos da deusa Atena.-disse Níniam com as mãos na cintura.

—É que ainda não confio nele.-completou.

—Pois eu confio!-respondeu a garota, dando as costas aos dois e descendo as escadas para o porão do navio.

—Pensei que já tivéssemos conversado sobre isso, Arcturus.-comentou Tarek.-Temos que reunir mais dez guerreiros escolhidos por Atena. Você não confia em Alessandros, ou...não aprova que minha irmã e ele sejam muito amigos?

O romano olha para Tarek com surpresa e incredulidade.

—Andou bebendo, lemuriano? Sou seu amigo e de Níniam, apenas me preocupo com a segurança dela. Não sabemos nada sobre este homem que vai nos acompanhar!

—Sei que ele salvou minha irmã. Isso basta para mim.

Arcturus nada diz, voltando a sua atenção a tarefa de terminar de carregar o navio para partirem o mais breve possível daquela ilha que considerava amaldiçoada. Mas parou um instante para observar o guerreiro desforme da ilha Faécea, ouvindo com calma as palavras de seu pai.

No fundo sentia era inveja de Alessandros. Apesar da aparência monstruosa, o homem tinha nobreza. Possuía o amor de seus pais, coisa que nunca conheceu em sua vida, e possuía a admiração de Níniam. E isso era o que mais o incomodava.

—Acredite na força de seu coração meu filho.-finalizou o velho soldado, tocando no ombro de seu filho.-Ser escolhido por uma deusa para ser seu campeão é uma grande honra! Ainda mais uma deusa que sempre protegeu a humanidade, como Atena. Você me enche de orgulho, Alessandros.

—Pai...temo sair daqui. Não sei se estou preparado para enfrentar este mundo.

—Teme a reação de todos diante de sua aparência?-perguntou a mãe, e recebeu do filho o silêncio como resposta. A mulher suspira e aponta para o barco.-Olhe para lá meu filho.

Alessandro obedece, sem entender bem o que a mãe queria lhe dizer.

—Não estará sozinho. Tem bons companheiros, uma amiga que viu além da sua aparência. Se apóie nestas amizades para superar qualquer dificuldade, meu filho.-ela o abraça.-Vá agora.

Alessandros concordou pegando seus parcos pertences que estavam em uma alforje e dando um último adeus, caminhou até seus novos amigos, e o futuro incerto que o aguardava na Grécia.

O velho casal acenavam em adeus ao seu único filho, e em seus corações eles tinha a certeza de que jamais iriam voltar a vê-lo novamente. Tal certeza causou um aperto no coração daquela mãe, que correu para dentro de casa e deixou as lágrimas brotarem abundantes pela sua face.

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Asgard, dias depois dos eventos em Faécea...

As tochas luziam e faiscavam no salão nobre de Ivar, o Ruivo, onde pedaços gigantescos de lenha queimavam na grande cavidade central do recinto imenso. A atmosfera estava impregnada com a fumaça que se desprendia da carne de veado que era assada para a refeição noturna. Nos caldeirões de ferro e de pedra sabão suspensos por tripés borbulhava um ensopado de cordeiro que exalava um aroma delicioso. Sobre as mesas de madeira, havia pães recém-assados de cevada e trigo, além de tigelas com amoras, framboesas e morangos.

Servos azafamavam-se em acender o óleo das lamparinas de pedra-sabão que pendiam do teto, seguras por correntes de ferro. As chamas refletiam-se nas armaduras, nas espadas e nos machados pendurados na parede. Essas armas feitas de ferro e decoradas com cobre e prata eram os bens mais preciosos de Ivar. Uma espada ricamente ornamentada era sinal de riqueza e poder.

Homens chegavam em grupos, rindo e conversando. Mergulhavam as guampas, copos feitos de chifre, na gamela enorme contendo hidromel. Divertiam-se com concursos de bebida, jogos de tabuleiro e em falar mais alto de que o vizinho. Alguns se entretinham apostando qual dos homens acertaria o alvo, entre os quatro que disputavam o arremesso de machado.

Apesar da euforia, todos os movimentos cessaram quando um viking imponente e orgulhoso entrou no salão. Usava uma túnica castanha bordada em azul e vermelho nas mangas e na barra. A armadura de couro era presa nos ombros com tiras, e no peito, com fivelas. Usava meias escuras e nos braços, pulseiras de ouro e prata. Em cada detalhe, destacava-se a importância de sua posição social. Um chefe. Ou vice-rei, como era considerado.

Ivar, o Ruivo, um gigante de meia idade e de porte atlético, era o guerreiro mais respeitado daquelas terras esquecidas de Asgard, no extremo norte da Europa.

O gigante lançou seu olhar por todo o salão e sua voz rugia como a de um trovão, capaz de fazer o mais forte dos guerreiros tremerem nas bases.

— AONDE ESTÁ O INÚTIL DO MEU FILHO?

O silêncio foi a resposta que obteve por alguns instantes, quando um outro guerreiro que acabara de terminar de sorver o conteúdo de seu caneca, limpando a barba branca com a palma da mão, ousou responder.

— Foi para o mar, meu amigo.

— Pelo Martelo de Thor!-suspirou Ivar contrariado, atravessando o salão e sentando com ar cansado em sua cadeira, sendo servido com uma caneca de hidromel em seguida por uma mulher rechonchuda.-Eu te digo, Haakon...Erik ainda vai me entregar antes da hora ao Valhalla.

Haakon deu uma gargalhada e todo o salão recomeçou a algazarra de outrora, voltando a se serviram da boa comida e bebida, bem como das mulheres presentes, enquanto os dois guerreiros mais velhos e respeitados de Asgard continuavam a conversa.

—Não exagere meu bom amigo. Erik é igual a você quando era jovem. Lembra-se de como cruzávamos os mares em busca de fortuna e aventura? Ele não é diferente.

—Erik se tornará um guerreiro deus, Haakon. É seu destino! Por isso eu o tenho treinado tanto desde que começou a andar!-deu um soco na mesa, quase derrubando sua caneca.-Como poderá cumprir seu dever se morrer no mar?

—Não está exagerando?

—Não meu amigo. Meu filho...meu único filho deseja conhecer outras terras ao sul. Viajar por estes mares perigosos e correr de sua verdadeira herança!-Ivar suspira, bebendo um grande gole de hidromel em seguida.-Tenho que fazer algo quanto a isso...

—Então deve fazer ele querer ficar na terra firme, amigo.

—O que sugere?

—Uma esposa, oras! Há mulheres disponíveis em nossas terras! Boas mulheres de boas famílias!

Ivar começou a gargalhar.

—Está longe o dia em que meu filho vai querer se casar, meu amigo. Creio que morrerei antes de conhecer meu primeiro neto. Estou ficando velho. Os bons tempos já estão longe — Ivar retrucou com um meio sorriso.-Odin...aonde está aquele meu filho irresponsável?

Enquanto isso, em alto mar...

—Pelos deuses!-exclamava Erik Ivarson com um sorriso no rosto e se equilibrando na proa do Dragão Vermelho, o navio mais rápido da frota de seu pai.- Uma tempestade se aproxima.

Erik Ivarson, filho de um nobre asgardiano amava o mar. Isso era nítido em seus olhos cor de safira quando lançava seu navio em viagens para cidades e arquipélagos próximos. Os longos e rebeldes cabelos em um incomum tom verde-mar balançavam ao sabor do vento que aumentava a cada instante. Ele agarrou com força o leme, deslocou-o ligeiramente para a direita e o Dragão Vermelho respondeu imediatamente a sua ordem.

— Os deuses parecem que querem nos testar.

—Senhor Erik! Olhe para lá!-avisou um dos marinheiros, apontando para trás.

Cinco navios se aproximavam rapidamente, e Erik estreitou o olhar ao reconhecer as bandeiras que identificava a terra da qual se originavam.

—Cinco contra um. Esta promete ser uma corrida interessante.

No navio, tinha cessado todo movimento. Todos os homens se voltaram para o Erik, esperando suas ordens. Seus semblantes expressavam uma mescla de ansiedade e antecipação enquanto apoiavam suas mãos calosas sobre os remos.

—Vieram te buscar.-disse o velho amigo de Erik, Rurik o Negro de onde estava sentado.-Suas ordens meu senhor? Como vamos ganhar de tantos navios em meio de uma tormenta?

Rurik era o melhor amigo de Erik, cresceram e treinaram juntos tendo Ivar como um mestre justo mas muito exigente, e ambos também tinham um amor incondicional pelas aventuras no mar. Rurik era alto, de cabelos negros sempre presos por uma tira de couro e olhos azuis e límpidos, tão comuns nos habitantes do extremo norte.

Erik ajustou a tira com a que segurava o leme, passou a mão pelos lábios e olhou preocupado para as nuvens que cobriam o céu.

—Navegaremos para lá e os deixaremos atrás. O Dragão Vermelho é o navio Aagardiano mais rápido que navega pelo mar. Fará tudo o que lhe peçamos.

Sem pestanejar os marinheiros obedeceram as ordens de Erik, enquanto este se concentrava nas ondas que golpeavam o navio. O vento levantava ondas de espuma branca. O jovem asgardiano segurava o leme com mão firme. O Dragão Vermelho poderia ganhar qualquer corrida contra o vento. A quilha e os equipamentos do barco tinham sido desenhados com esse propósito, e conseguiria superar uma situação como aquela.

—Poremos à vela a prova! Vamos dar a volta na enseada a frente!-ordenou apontando para as terras a frente.

Os homens dão um grito de guerra concordando com as ordens de seu líder, e se preparando para remarem com todo o vigor que possuíam, enquanto os céus começam a escurecer anunciam a terrível tempestade que não tardaria a começar.

—O mastro range com o vento, Erik! —gritou Rurik. —Teremos que baixar logo a vela se não queremos nos arriscar a rompê-lo.

—Mantenham tensas as cordas! —Erick olhou para as nuvens de tormenta enquanto o Dragão Vermelho se inclinava a golpe de leme, disposto a voar sobre as ondas.

—Sabe que ainda quero viver para conseguir minha Robe Sagrada?-indagou Rurik.

—Eu também viverei para isso. Agora, quero que redobremos a velocidade quando abaixarmos a vela.

—A suas ordens.

Toda a tripulação tinha as mãos sobre os remos e os olhos fixos nele. Erick elevou a mão e esperou enquanto a água açoitava os laterais do navio, desfrutando da intensa sensação de pôr a prova seu engenho contra o mundo.

—Agora!

Começou a descender a vela branca com o desenho de um dragão de duas cabeças, durante um instante e enquanto os homens lutavam com as cordas, bateu contra o vento. Erick avançou para diante, agarrou o cabo da corda e a esticou com grande facilidade. A vela voltou a inflar-se e esticar-se contra as cordas.

O Dragão Vermelho redobrou a velocidade e se deslizou pelas águas, contornando a enseada por completo, e com facilidade passou entre os dois primeiros navios que tentavam cercá-lo a tão pouca distância que Erick pôde distinguir a expressão de assombro da tripulação ao ver escapar a sua presa.

Erick saudou o capitão de um dos navios com um sorriso de deboche, ele podia jurar que ouvir Rolf Longsword, o capitão de um dos navios, blasfemar contra ele e sua descendência.

—Os deuses sempre sorriam para mim, Rolf. Jamais vencerá meu navio numa corrida!

—Erik seu bastardo!-berrava Rolf.-Seu pai ordenou que o levássemos de volta!

—Maldição.-suspirou Erik.-Acho que devemos voltar...

—Ou seu pai arrancará sua língua.-gargalhou Rurik.

—Não tem graça.

—Olhem para os céus!-Erik ouviu a voz de Swein, um garoto de sua tripulação que admirava-o cegamente. Virou-se para onde o rapaz loiro no alto de seus treze anos apontava.

A constelação acima deles parecia iluminar-se com mais força e dela uma raio de luz soltou-se.

—Uma estrela cadente?-murmurou Erik.

De repente, o medo tomou conta de todos a bordo, a dita estrela cadente parecia ter mudado sua rota e estava vindo a toda velocidade na direção do Dragão Vermelho. Gritos de medo dos marinheiros foram ouvidos e os mais medrosos se jogaram ao mar.

Mas Erik e Rurik permaneceram firmes e ambos tiveram que virar os rostos para se protegerem da luz incandescente e dourada diante deles. Quando finalmente puderam abrir os olhos, ambos viram com assombro a figura de uma estátua dourada de uma figura humana segurando o que parecia ser um vaso acima da cabeça.

—Pelo Martelo de Thor!-Rurik falou finalmente, ainda com espanto.-O que é isso?

—Um presente dos deuses...-murmurou Erik, encantado pela estátua feita de ouro.

Em terra firme, observando a tempestade que se aproximava de Asgard, uma mulher que carregava o peso dos anos nas costas e as marcas do tempo em seu rosto, aguardava. Ela havia recebido uma visão dos deuses, e precisava cumprir seu papel.

Siriana, filha dos grandes sacerdotes dos deuses, deveria ensinar a um impetuoso jovem seu destino. O de seguir uma deusa das terras quentes do sul. Pois o inimigo também investiria sobre as terras geladas de Asgard.

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Tebas, naquele instante...

No palácio do rei Penteu, neto de Cadmo, o lendário fundador daquela orgulhosa cidade, a conversa mais frequente eram as notícias das cidades e arquipélagos do mar Egeu terem sucumbidos diante de um poderoso exército vindo da grandiosa Atlântida. Todos aguardavam diante do rei com grande ansiedade o retorno dos espiões enviados por seu soberano para descobrirem mais sobre o inimigo.

Treze homens haviam sido enviados para tal missão, e qual foi a surpresa de todos quando apenas um, exausto e muito ferido, retornara. O homem chamado Aahbran parecia um arremedo do orgulhoso guerreiro que partira semanas atrás de sua terra natal. Mal tinha forças para vencer a distância entre os portais da sala do trono até ficar diante de seu rei e falar com a voz trêmula, denotando a falta de esperança nesta.

—Espórades, Cíclades Dodecaneso..os arquipélagos acaíram...todos caíram diante do exército de Atlântida, meu rei...eles se dirigiam a Creta...quando fomos descobertos. Todos...TODOS FORAM MORTOS!

—Acalme-se Aahbran!-ordenou um nobre.-Está diante de seu rei!

—Todos mortos...mortos...-murmurava em lamentação.

—Não deve se culpar pelas mortes de seus irmãos, Aahbran.-dizia o rei Penteu, tentando acalmar a todos com sua postura serena.-Eram apenas treze contra um exército! Foi um notável feito ter voltado com vida desta missão...

—Não...ERA UM HOMEM...APENAS UM!-exclamava de modo insano.-Só um demônio... NÃO, NÃO...NÃO ERA UM HOMEM...ERA UM DEMÔNIO VINDO DO MAR! Ele usava uma armadura como jamais havia visto antes! Ele destruiu todos os exércitos com as mãos nuas!

—Impossível!

—Está louco!

Todos no salão exclamavam, olhando com incredulidade o arremedo de homem diante deles.

—Só me deixou viver...para lhe dizer meu senhor...-Aahbran ergue o olhar cheio de temor ao seu rei que o fitava preocupado naquele instante.-Que os Generais de Poseidon logo chegariam a Tebas...

Então após dar esta notícia, o tebano cai ao chão inerte. Guardas se aproximam e comprovam a morte de Aahbran e olham para seu rei esperando suas ordens diante daquela crise. Penteu aperta os lábios, em nítida raiva pelos acontecimentos.

—Enviem mensageiros às todas as cidade da Grécia! Avise-os deste inimigo que se aproxima pelo mar!- ele ergue-se do seu trono.-QUE MEU EXÉRCITO SE PREPARE PARA A GUERRA!

Mal acabara de dar a ordem gritos foram ouvidos do lado de fora do palácio. Um som que nenhum tebano antes havia presenciado antecipou a queda dos enormes muros da cidade do lado norte. O rei correu na direção do estrondo e sem esconder seu assombro viu ruínas no lugar da orgulhosa muralha.

—Pelos deuses! O que houve aqui?

O monarca exclamou, e o suor frio percorreu sua fronte quando avistou saindo da nuvem de poeira resultante da queda do grandioso muro a figura de um jovem de longos cabelos negros, trajando uma espécie de armadura em diversos tons dourados.

O rapaz fitou o rei com seus gélidos olhos azuis e fala com autoridade:

—Em nome de sua Majestade Poseidon, ordeno que este reino se renda a sua vontade e aceite-o como sua única e verdadeira divindade!

—Tebas não se curva a ninguém!-responde o rei que avista seus soldados que apareciam a centenas com espadas a mão.-Matem o invasor!

O rapaz nem se abala com a presença dos soldados, erguendo apenas a palma da mão na direção destes. Seu corpo é envolvido por uma luz cegante, rubra:

—DAEMON!-ele grita e da sua mão sai uma esfera de energia escarlate que é lançada contra os tebanos e ocorre uma enorme explosão, reduzindo os orgulhosos guerreiros a nada.

Penteu mal podia acreditar no que via. Corpos calcinados de seus soldados jaziam entre as ruínas das construções que outrora haviam ali.

—Eu sou Egéon de Dragão Marinho! Ajoelhe-se diante de mim, "rei"...e viverá para ver um novo mundo. Recuse e verá sua amada Tebas ser reduzida a cinzas!

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—POR QUE PAROU???-esbravejaram os cavaleiros quando Shion enrolou o manuscrito. O brado quase o derrubou da cadeira.

—Porque está tarde!-respondeu o lemuriano.-Estão empolgados demais! Acho que devem se retirar, continuaremos outro dia a leitura. Lembrem-se que temos afazeres ao amanhecer.

—Mas...mas...-reclamavam, mas Shion foi firme e se retirou do recinto.

—Vão para seus templos dormirem!

—E agora?-suspirou Shura.-Não tenho sono. Shaka, leia sobre seu ancestral!

—Não creio que...-o virginiano tentava argumentar.

—Queremos saber mais sobre seu ancestral pervertido sim.-disse Aiolos rindo, depois olhou para Afrodite que mordiscava a unha nervoso.-Que foi, Afrodite?

—Eu...não entendo.-dizia o cavaleiro.-Por que o primeiro Cavaleiro de Peixes era...era...

—Diferente de você?-perguntou Máscara da Morte.

—Feio!-respondeu o cavaleiro indignado.-Sempre achei que os que usaram a minha armadura eram a personificação da verdadeira beleza!

—Talvez Atena quisesse mostrar que a verdadeira beleza é a da alma. Afinal, o Alessandro é citado como um dos mais nobres e corajosos Cavaleiros que o Santuário já teve.-respondeu Seiya para o assombro de todos.-Que foi? Eu não sou tão alienado assim.

Afrodite ficou em silêncio, depois concordou com um aceno de cabeça. Virou-se para Shaka:

—Por favor, Shaka. Poderia ler para nós? Você é um dos únicos que pode ler.

Shaka suspirou, concordando. Levantou-se e procurou entre os pergaminhos e quando encontrou o que queria sentou-se na cadeira que antes era ocupada por Shion, começando a ler:

Continua...


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Notas finais do capítulo

Notas:
Robe Sagrada: Seria a Armadura dos Guerreiros deuses de Asgard.
Penteu, na mitologia grega, foi um rei de Tebas, um dos semi-deuses, neto da deusa Harmonia, trisneto do deus Ares, filho de Equion e Agave. Agave era filha da Cadmo.
Egéon é o nome de um dos Hecatonquiros, um dos três gigantes, filhos de Gaia e Urano.



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