Nada pior para uma filha de Afrodite do que quebrar unhas e borrar maquiagem, certo? Errado. O pesadelo de todas nós é sermos desprezadas, odiadas. Pelo menos da maioria. Fomos feitas para sermos amadas, e quando algo impede isso, ficamos muito deprimidas. Meu maior medo era que as pessoas não me aceitassem ali, caso eu perdesse a aposta. É ridículo, eu sei.

A próxima captura à bandeira seria no sábado, e ainda era quinta feira, mas mesmo assim estava louca de preocupação. Imagine só, ter meu precioso cabelo tingido metade de rosa metade de azul?

A garota asiática, que depois descobri chamar-se Drew, tentava me intimidar fazendo uma sabotagem atrás da outra. Já estava começando à questionar se aquela aposta era uma coisa boa.

Saí com o meu chalé para tomar café da manhã, meio zonza de sono, porque havia ido dormir depois das 3:30 da madrugada, pensando no que diabos era captura à bandeira.  

Alguém (Oh, quem será?) havia escondido minhas melhores calças jeans e toda a minha maquiagem importada, então fui obrigada à andar parecendo uma mendiga por ai. 

Já sentada, Drew "tropeçou" e "inocentemente" fez com que minha cara fosse parar dentro do meu prato, me sujando inteira de mingau de aveia e morangos. Ah, aquela era a gota d'agua...

Levantei num salto, o rosto todo melecado, e todo o refeitório caiu em silêncio quase absoluto, tirando um ou dois otários que resolveram rir de mim. 

-Drew -Eu disse, o cérebro atrapalhado pela raiva- Qual é o seu problema, hã? Tem mesmo que humilhar as pessoas, sacanear com elas para se sentir bem? 

Ela ergueu a voz, toda fabulosa com sua melhor roupa e melhor maquiagem e afirmou:

-Querida, eu não humilhei nenhuma pessoa, eu humilhei você. 

O lugar todo ecoou um "AAAAAAAI" bem alto, Quíron me fitava calado, sem reação:

-Você devia se envergonhar, sabia? Ser arrogante dessa maneira, jogar tão sujo! Dou graças à Deus de não ser como você!

Um "OOOOH" ecoou, e me toquei que ninguém ali falava "Meu Deus". Só "meus deuses". Corando pelo erro, corrigi:

-Graças aos deuses, quis dizer. Enfim, o que interessa, é que isso é ridículo! Eu não entendo por que tem que agir assim, exageradamente!

-Você me ofendeu, e eu não admito que me ofendam! 

-Você me ofendeu primeiro, lembra? 

-Mas se você não fosse tão orgulhosa e fútil, teria se colocado em seu lugar e não revidaria! 

-Eu não sou orgulhosa e fútil!

-Então porque aceitou aquela aposta?

Eu fiquei sem resposta. Claro que foi por pura vaidade, por puro orgulho... Não precisava ter feito isso. 

Um burburinho começou, todos perguntando uns aos outros de que aposta estávamos falando. Drew subiu na mesa, exibida, e falou:

-A novata quis me desafiar no captura à bandeira! 

-VOCÊ ME DESAFIOU! -Protestei.

-Tanto faz -Ela fez um sinal de desprezo com a mão, depois continuou como se fosse política -Quem perder a aposta raspa o cabelo ou tinge ele metade de rosa e metade de azul! Para tornar isso mais interessante, vocês todos escolherão a vencedora, qual de nós jogou melhor. 

Algumas mesas aplaudiram com tremenda empolgação que me encolhi. Não era para tanta gente assim se meter, e com certeza, se pudesse voltar no tempo, não teria aceitado a aposta. A mesa com as crianças de Ares e de Hermes foram as mais barulhentas, enquanto as duas únicas mesas que permaneceram em silêncio, haviam sido a nossa e a de Atena. O rapaz dos cabelos pretos e olhos azuis, filho de Hermes, levantou-se também:

-Acho que todos nós já conhecemos muito bem a personalidade competitiva de Drew para saber que ela sabotará a competição assim que tiver chance!

Ouve algumas vaias, e um ou outro grito de aprovação.

-Reyen, não se meta!

-Assim como você não se meteu com a novata?

A garota corou, mas não desistiu:

-Você não é ninguém, NINGUÉM, entendeu? Não tem o menor direito de dar sua opinião!

-Deixe disso,Drew, Você é tão vaidosa que consegue ficar feia!

-Querido, sou filha de Afrodite, não posso ficar feia.

-Talvez não fisicamente, mas nem o rosto mais bonito do mundo compensa essa sua personalidade ridícula. Deixe a garota em paz, ela acabou de chegar no acampamento!

-Não se meta seu ladrãozinho!

Ele ia avançar nela, mas uma de suas irmãs o segurou.

-Ladrãozinho é o Ca...

Quíron gritou:

-BASTA! -Antes que ele completasse a frase. -Drew, estou decepcionadíssimo com você, mesmo já estando acostumado à esse seu tipo de comportamento. Reyen, acho muito legal você tentar ajudar Silena, mas seu vocabulário está cada vez mais sujo, realmente deplorável! E você, senhorita Beauregard -Disse ele, apontando em minha direção como se fosse me acusar de matar alguém - Não acredito que já se meteu em confusão! Mal se instalou no acampamento!

-Ela me provocou! -Retruquei, parecendo uma criança de 5 anos.

-Não importa! As duas receberão uma punição, e não sou eu quem a dará, mas o senhor D. E ai de quem reclamar!

-Mas... -Drew começou.

-Sem mas! As duas para a Casa Grande JÁ!

Indignadas, nós fomos até lá.

(...)

-Senhor D. eu... 

-Calada Drew. Eu sei porque você e a Simone...

-Silena.

-Sim, Simone, foi o que eu disse, porque vocês duas estão aqui. Que história é essa de criar um barraco no MEU refeitório?

-Ela empurrou minha cabeça no prato!

-Mentirosa!

-Pergunte à qualquer um!

-BASTA! -Ele tinha uma cara de tigre! -A punição de vocês será continuar com a aposta. Eu decidirei quem perdeu. 

-O quê? -Minha voz falhou.

-Com medo, Beauregard? -Drew sorriu maldosamente.

-E-EU? Claro que não! -Menti, tentando parecer confiante.

-Ótimo, então estamos conversados. Até o sábado quero jogo limpo entre vocês, ENTENDIDO, Drew? 

-Sim, Senhor D.

-Caso eu fique sabendo que uma de vocês sabotou a outra, eu mesmo rasparei o cabelo da infratora, entendido?

-Sim Senhor D. -Dissemos em coro. 

-Estão liberadas. 

-Você está morta, Beauregard. -Drew sussurrou no meu ouvido, quando deixavamos o lugar.

-Não se preocupe com isso, Drew, se você não me matar o resto dos filhos de Afrodite farão isso. 

-Ótimo, nem precisarei sujar minhas próprias mãos.

Estremeci só de pensar no que a conselheira diria sobre nosso comportamento.