Nas Mãos Da Semideusa escrita por Naty Almeida


Capítulo 20
Capítulo 20 - De volta ao acampamento.


Notas iniciais do capítulo

Ufa, essa missão rendeu dores suficientes para o resto da vida de Silena, na opinião dela... Coitadinha, mal sabe o que enfrentará na guerra contra Chronos...



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Chegamos ao acampamento , pousando direto em frente à Casa Grande. Quíron estava na porta, jogando cartas com o senhor D. e alguns sátiros. Quando nos viu, ergueu a cabeça preocupado e veio galopando em nossa direção:

-E então? Estão todos bem? Tiveram êxito na missão?

Charlie entregou a espada de Reyden, que pegara pouco antes de fugirmos. Estava de cabeça baixa, em sinal de respeito. 

-Ah... -Arquejou Quíron, triste e sem graça. -Sinto muito... E... E Max?

-Nos traiu. Era aliado de Circe. Mas tivemos... Tivemos êxito. -Murmurou Charlie. 

-Muito bem, hoje a noite faremos o funeral de Reyden, mas entrem e contem detalhes, por favor... 

Estávamos fracos, mal havíamos comido na viagem de volta pois nossas mochilas com suprimentos tinha sido confiscada. Sentamos no escritório de Quíron, que nos deu néctar e ambrosia enquanto relatávamos tudo o que passamos. No final, ele comentou:

-É curioso que os deuses tenham ajudado tanto... Não costumam fazer isso... 

-Meu pai me disse em sonhos que acontecimentos importantes estavam vindo, isso garantiu maior atenção dos deuses. Mas nos alertou que os outros semideuses não devem saber dessa ajuda extra para não ficarem enciumados. Os deuses sabem que teremos um papel importante no futuro. 

-E eu -completei. -Acho que esse futuro será em breve. 

-Concordo com você, Silena. Aliás, acho que não será fácil o que vem por ai... Agora contem-me: entenderam a profecia? 

-Sim... A tradução era óbvia... "Apenas um deverá enfrentá-la..." Esse 'um' era Charlie, digo, Charles. O resto ficou claro, menos a parte da "ameça surge no tártaro". 

-Isso nem nós sabemos. -Quíron encolheu-se. Pensei que ele teria todas as respostas. 

-Reyden achava que era seu pai. 

-O titã? Chronos é seu pai?

-Infelizmente. -O centauro coçou a barba, envergonhado. -Mas penso que não seja ele... Vamos analisar a possibilidade. 

-Senhor? -Chamei, hesitante.

-Sim, Silena? 

-Posso lhe pedir uma coisa?

-Se for viável. -Ele ergueu uma sobrancelha. 

Minha voz tremia:

-Reyden será homenageado como merece, como herói, não é?

-Sim, Silena. 

Sorri, um pouco melhor:

-Obrigada. 

Sai com Charlie de lá, e depois de um banho, sentamos juntos para um lanche rápido que nos cederam no refeitório. Ele notou como ainda estava mal pela morte de Rey e disse:

-Silena, eu sinto muito... 

-Foi tudo culpa minha. -Segurei o choro, o que fez minha voz ficar estranha. 

-Não diga isso... -Sua voz era baixa e consoladora. 

-Eu fui fraca, me machuquei e ele deu a vida para me proteger... 

-Silena, ele fez isso porque quis. Eu poderia ter feito o mesmo, mas pensei que estivesse tudo sob controle e vi que não daria certo se tentasse. Você não teve culpa. Tentou lutar, tentou defendê-lo, e o idiota  não deixou que atraísse a atenção do minotauro. 

-Não fale dele assim... 

-Desculpe. -Charlie enxugou uma lágrima da minha bochecha, depois continuou. -eu sei que está abalada, mas as escolhas dos outros nunca são nossa culpa. Não deve se sentir assim. Ele morreu como um herói, você deu o melhor de si e não foi culpa de ninguém. Era o destino dele desde o começo. 

Minha mãe tinha dito que nesse romance haveria um coração partido... Imaginava que seria o do meu par... Mas não, o coração partido era o meu... E como se partira...

-É, acho que sim... Escute, as pessoas não devem ficar sabendo que eu tive nada com ele. Não quero que sintam pena de mim por ter perdido um... Namorado ou sei lá o que Rey era.

-Pode deixar. Drew te infernizaria, não é?

Fiz que sim. 

O filho de Hefesto me abraçou e chorei um tempão com a cabeça em seu ombro. Depois me afastei e disse, os olhos vermelhos de tanto chorar:

-Desculpe te deixar me ver desse jeito... Devo estar ridícula... Olhe só pra mim, cabelo colorido e olhos vermelhos de tanto chorar... 

-Está linda... Sempre vai estar linda Silena... Será que você não vê? Não consegue ficar feia nem se quiser... -Ele sorriu e tirou uma mecha de cabelo do meu rosto.

Eu acariciei seu rosto:

-Obrigada por ser meu amigo desde sempre. Nunca vou esquecer o que fez por mim. 

-Eu gosto de você demais, Silena, por isso te ajudo. Você sabe disso, não sabe?

-Também gosto de você, Charlie. 

Ele sorriu e não falou nada. 

Perguntei o que tinha acontecido, se eu tinha falado alguma besteira, mas o semideus apenas murmurou sorrindo:

-Adoro quando você me chama assim. 

Ia aproximar meu rosto ao dele, mas Drew chegou na mesma hora e nos afastamos para que não percebesse nada:

-Ah, a perua recalcada voltou. 

-Perua recalcada? Que criativo... Acho que essa maquiagem de segunda afetou seu cérebro. -Resmunguei. 

-Vejo que o cabelo está ruim de novo, o que aconteceu? A princesinha perdeu os super-poderes?

-Vejo que conseguiu ficar ainda maior enquanto estive fora... O que aconteceu? Parou a dieta?

Como sempre, ela fez aquela expressão perigosa que todas as filhas de Afrodite fazem se são chamadas de gordas. 

-Não vai querer se meter comigo outra vez, vai, Beauregard?

-Não, tenho coisas mais interessantes à fazer. 

-Vejo que não teve muito sucesso... Cadê seu outro amiguinho e o sátiro?

-O sátiro fugiu e nosso amigo morreu como herói. Ao contrário de você, que morrerá sem ser ninguém. -Charles me surpreendeu. 

-Não se meta, filho de Hefesto... Sua moral não está tão alta assim. 

-Muito menos a sua... -Retruquei. -Aliás... Se a moral dele não está tão alta, porque queria tanto que ele o chamasse para sair?

Foi o melhor comentário que fiz naquele dia! Nunca vi ela ficando tão vermelha... 

-Então vai mesmo me desafiar de novo, Beauregard? -Drew cerrou os olhos.

Levantei... Não iria mais deixar que meu orgulho me colocasse em roubadas. 

-Vamos Charlie... Não preciso disso. 

-WOW! "Charlie"? Será que estou vendo um apelidinho carinhoso aqui, Silena? 

-Está sim, ele é meu amigo. Será que estou vendo uma espinha aqui... Drew? -E apontei para sua testa. 

Ela ficou afetada, mas esperou que eu me virasse antes de procurar um lugar para checar seu rosto. Ridícula. 

(...)

Era hora do funeral. O "caixão" simbólico de Reyden era da cor de seus olhos, com o símbolo de Hermes pintado em negro. Queimaram sua espada e seu "caixão" (na verdade uma espécie de urna funerária grega) na fogueira do acampamento que estava colorida por um roxo fúnebre. Quíron discursou sobre a morte heróica de Rey, fez uma homenagem e eu também falei algumas palavras sobre meu falecido "namorado". 

-Ah, Silena... Antes da batalha ele pediu pra te entregar isso caso não sobrevivesse... -Charlie me estendeu a caixinha azul-elétrica que Reyden tinha ganhado de Kyma... Confusa e curiosa, aceitei e guardei-a. 

-Vendo que o conselheiro do chalé de Hermes faleceu, seu posto será substituido pelo antigo conselheiro que voltou à pouco tempo, senhor Luke Castellan. 

Um rapaz alto e atlético com feições parecidas às de Rey levantou-se para que pudessem aplaudí-lo tristemente. Tinha olhos azuis como o de Reyden, mas bem mais apagados. Nunca encontraria olhos como aqueles... Seus cabelos eram cor de areia, como meu "namorado" tinha descrito que os seus seriam caso não os tingisse. 

Ele olhou na minha direção, com um sorriso de "sinto muito". 

Eu fitei o chão, sem graça e muito abalada ainda para qualquer atitude gentil. 

Aquilo tudo acabou, os irmãos de Rey vieram conversar comigo e desejar seus pêsames, o que eu também fiz à eles. Abracei Charlie, chorei mais um pouco e fomos jantar para depois dormir. 

Cai no sono assim que me deitei e dormi profundamente até tarde. 


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Notas finais do capítulo

Pelos meus cálculos, temos apenas mais dois capítulos pela frente... Então fiquem de olho! ;)



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