The Empress Of Wonderland escrita por Biah_Morgan


Capítulo 8
A longo prazo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/192172/chapter/8

" − Alice, eu gostaria de conversar com você."

A sala de Severo, afinal, era bem simples. Claro, praticamente tudo tinha uma cor escura, e o naipe de Espadas estava onde os olhos caíssem, mas, fora isso, parecia exatamente com a sala do comandante de uma casa de espadachins no País das Maravilhas. Ou seja, cheia de coisas estranhas (Como um aquário de piranhas roxas que nadavam pra trás), além de um grande Dodô vesgo e aparelhos cuja função me escapava.

− Por favor, sente-se. – Obedeci, tentando descobrir o que exatamente as piranhas estavam devorando com avidez. – Alice, eu sei que tudo deve estar sendo muito confuso pra você.

Olhei-o nos olhos. Entre nós, talvez houvesse dois ou três anos de diferença. Apesar disso, tentei fazer cara de inocente curiosidade, para ver até onde ele iria.

− Por isso, eu gostaria de iluminar alguns passos que você deverá dar no futuro. Será uma jornada difícil, mas eu estarei ao seu lado o tempo todo.

Ele sorriu. Senti um arrepio: Aquele sorriso era sedutor e assustador ao mesmo tempo.

− A primeira notícia, (e se ela será boa ou má depende de você) é que nós, como Duque da Casa de Espadas e Duquesa de Cheshire, devemos nos casar.

Me engasguei com minha própria respiração.

− COMO ASSIM CASAR?!?!

Me levantei tão subitamente que a cadeira caiu no chão.

− Por favor, Alice, se acalme. Sei que a ideia de ter de se casar com um desconhecido deve ser assustadora. – Ele sorriu. Ah, eu queria mostrar pra ele o significado da palavra “assustadora” e ele ia esquecer essa ideia de casar rapidinho. – Mas nós ainda não precisamos marcar a data do casamento. Temos muito tempo para nos conhecermos.

Se eu tivesse um alicate, arrancaria cada um daqueles dentes, um por um.

− E o que te faz pensar que eu pretendo casar com você?! − Rosnei.

− Ora, Alice. É uma regra.

Ah.

Não deu pra segurar. Eu comecei a rir.

− Me diga, Severo. – Sorri. Ele se arrepiou. – O que te faz pensar que eu pretenda seguir alguma regra?

− Mas...

− Mas nada. Eu não conheço as regras daqui, mas as poucas que conheço são bem idiotas. Como você acha que eu vou conquistar esse País seguindo regras inúteis e idiotas?

Ele corou novamente. Os anos a mais, aparentemente, não eram mais uma vantagem tão útil quanto ele esperara.

− Eu não vou casar com seu ninguém só porque é uma regra, tá legal? Mas, já que você tocou no assunto... – Ergui a cadeira, e me sentei novamente. – Existe mais alguma regra idiota que eu precisarei quebrar?

− Bem... – Ele hesitou, talvez notando minha aura assassina. – É provável que todas elas, pelo visto...

− CHESHIRE!!

Ele se espreguiçou, todo meloso.

− Sim, Sharon?

(Olhar assassino)

− Ah... – Ele tentou esconder as roupas íntimas dela debaixo do travesseiro. – Olha, eu não andei fuçando na sua mochila não, eu só tava tirando um cochilo...

− Já CHEGA!! EU VOU TER QUE COMEÇAR A BOTAR CADEADO NA MINHA MOCHILA?!?! SAI DAÍ!! – Berrou Sharon, empurrando ele pra longe. – Você poderia muito bem ser útil, em vez de tarado!

− Útil? – Perguntou ele, ainda largado no chão.

− É!! Eu tive que escrachar o pedido de casamento do Severo sozinha!

Ele desviou o olhar, enquanto ela atochava as roupas na mochila. Sua expressão de tristeza a fez reconsiderar sua estratégia.

− Ei, Cheshire... Por que você tá com essa cara?

− Sharon... O Severo disse alguma coisa sobre mim?

− Sobre a regra idiota que diz que o Chapeleiro tem que te matar. E que, detalhe, eu pretendo quebrar.

− Como?! Alice, se você falhar e for pega, todas essas regras quebradas serão usadas contra você no julgamento!!

− Cheshire, eu não vou ser pega.

O olhar dela estava fixo no nada, mas sua expressão era dura e calculista.

− Não viva.

A cidade pululava ao redor da princesa e dos seus criados. Nas mãos deles, pequeninas pilhas de convites vermelhos eram distribuídos e disputados pelos plebeus.

Apenas um deles não distribuía seus convites.

− Ainda bem que você tá inteiro.

O Coelho virou 180 graus, dando de cara com uma garota parada logo atrás dele. Uma garota loira, de olhos verdes, que vestia roupas pretas e um tantinho assustadoras por causa das estampas de caveira.

−... Mas...

Ela sorriu. Um sorriso que beirava o escárnio.

− Ou você escolheu a Alice errada, porque eu fugi, ou você escolheu a Alice certa, porque eu vou dar uma só na pirralha ali. – Riu-se ela, apontando pra princesa.

A preocupação brilhou nos olhos dele.

− Mas, relaxa, não vai ser agora. Não sou tão boba.

Com dedos leves, ela pegou um convite da pilha dele.

− Mas, se você quiser limpar seu nome com a miss sonsa, pode dizer a verdade. Ela vai descobrir em breve, de qualquer jeito...

Ela piscou, travessa, antes de lhe dar as costas e se juntar ao seu companheiro, também de roupas pretas.

− O que você foi fazer com aquele Coelho, Sharon?! – Sussurrou Cheshire, por debaixo do capuz que cobria suas orelhas.

− Você vai descobrir, mas não agora. É mais um investimento a longo prazo...

Investimento?!

Ela riu da cara de indignação dele, mas foi um riso puro, não sarcástico.

− Isso é ciúme, gatinho?

Ele corou até a raiz dos cabelos.

− Ai, Cheshire... – Ela riu mais uma vez, antes de puxa-lo pelo braço até a carruagem que os esperava.

  

− Ei, Sharon...

− Oi... – Murmurou ela, sonolenta.

− O que você quis dizer com aquilo?

− Investimento? Se o Coelho passar pro nosso lado antes da miss sonsa matar ele, vai ficar muito mais fácil ganhar dela.

− Não, não isso...

Ela abriu os olhos, mas os dele estavam fixos na janela.

− Cheshire?

− O que você quis dizer com ciúme? Eu...

O gatuno corou novamente.

− Eu sou o seu gato! É meu dever te proteger! Você é a Duquesa de Cheshire, qualquer coisa que eu faça é porque eu...

−... Porque deve. – Completou Sharon.

− É... Eu não...

Ela bufou, forçando um sorriso.

− Eu só estava brincando, gatuno estressado. Chegamos.

Um serviçal abriu a porta da carruagem, e ela se apressou a descer. Restou a Cheshire observá-la pelas costas, sentindo o peso da própria mentira em seus olhos azuis, que começavam a marejar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

2 no mesmo dia pra conpensar o atraso de alguns mesesinhos na fic o/
Spolier: Daqui pra frente que o circo pega fogo