Cinco Momentos escrita por Chiisana Hana


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Primeira parte: O Tempo.
Flashback de Shiryu e Shunrei.
Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes
Setsuna pertence a Nina Neviani.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/191913/chapter/2

CINCO MOMENTOS

(QUE DEFINEM UM RELACIONAMENTO)

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

PARTE 1

O TEMPO

"É mais do que perfeito

Melhor que o correto

Neste exato momento

O tempo simplesmente parou."(1)


CAPÍTULO I

– Ah, acho que é mágico quando perdemos a noção do tempo pela primeira vez, sabe? – Minu começou.
– É – Shunrei concordou, olhando ternamente para o marido. Tinham se casado há pouco mais de dois anos e a vida conjugal ainda era uma eterna lua-de-mel. – Eu sei bem como é... Quando você já está conversando com a pessoa há horas, mas parece que se passaram apenas alguns minutos.
– Verdade – Shiryu disse, retribuindo o olhar terno. – Foi assim conosco...

Dez anos atrás...
– Odeio falar em público, odeio falar em público – Shunrei repetia consigo enquanto passava a limpo as anotações para o trabalho final de Literatura, o qual estava detestando com toda a força. Se já morria de medo de falar em público, fazer isso no auditório do colégio seria uma tortura quase insuportável. Estava estudando desde as duas da tarde e agora passava das seis, mesmo assim não se sentia suficientemente segura para apresentar o texto. O telefone tocou e ela se assustou. Raramente o aparelho tocava e, quando acontecia, quase sempre era engano.
– Alô – disse sem entusiasmo, esperando que perguntassem por alguém que ela desconhecia.
– Oi – uma bela voz masculina disse do outro lado linha. – Shunrei, por favor?
– É ela. Quem fala? – respondeu sobressaltada. A pessoa a conhecia! Que milagre!
– Aqui é o Shiryu. Tudo bem?
– Ah, oi, Shiryu – respondeu, ainda mais perplexa, pois ele seria uma das últimas pessoas de quem ela esperaria receber um telefonema. Como ela, o rapaz tinha ido estudar na escola no começo do ano. Trocara poucas palavras com ele, geralmente quando havia trabalho em grupo pois, por ser tão reservada quanto ele, sempre eram excluídos dos grupinhos e terminavam por fazer os trabalhos juntos. Dessa vez não tinha sido diferente. Gostava de fazer os trabalhos com ele, gostava desses poucos momentos de proximidade, mas ele nunca tinha telefonado, apesar de terem trocado telefone há tempos. Ela muitas vezes sentira vontade de ligar para ele, mas durante esse ano de convivência na escola, nunca teve coragem de fazê-lo.
Tinham combinado de se verem na segunda-feira, depois da aula, na biblioteca, cada um levando sua parte do trabalho já pronta, pois assim lhes faltaria apenas discutir eventuais mudanças e acertar detalhes, mas agora ele estava ao telefone e ela não sabia muito bem o que dizer.
– Pensei numas coisas para o trabalho – ele continuou, aparentando um leve nervosismo, mas articulando bem as palavras. – Então queria conversar com você sobre isso o mais rápido possível. Posso passar aí hoje?
– Sim, claro – ela aceitou tentando parecer natural, embora a possibilidade de recebê-lo em seu minúsculo quartinho tenha feito seu coração disparar. Ficariam sozinhos e ela se questionava se, sem a censura dos olhares alheios, conseguiria esconder o sentimento que nutria por ele desde a primeira vez que o vira, no primeiro dia de aula do ano, quando seus olhares se cruzaram no pátio vazio e, sem pensar em nada, ela sorriu. Embaraçado, ele tinha sorrido de volta. Depois, ela saiu correndo ao perceber que sorrira para um estranho. Consolou-se com a ideia de que nunca mais veria o belo rapaz a quem dedicara um belo sorriso, mas pouco depois, quando entrou na sala de aula, lá estava ele, sentado na primeira cadeira da primeira fila.
– Certo – ele disse. – Então estou indo para sua casa. Até já.
– Até – ela respondeu e recolocou o fone no gancho. Correu para o quarto e olhou-se no espelho. Usava uma roupa muito velha, puída e descolorida, e o cabelo estava desgrenhado.
– Ai, meu Deus! Ele vem aqui e eu vou recebê-lo assim?– perguntou-se. Apressou-se em tomar banho e vestir uma roupa ao menos aceitável. Depois, prendeu os cabelos com um elástico cor-de-rosa e passou um pouco de lavanda para bebês, seu perfume habitual.
– Agora sim – disse quando tornou a olhar-se no espelho. – Melhorou. Um pouco. É. Pelo menos não vou assustá-lo.
Pouco depois ele tocou a campainha. Ela respirou fundo e abriu a porta.
– Oi – disse. Não queria corar, mas sentiu a face esquentar mesmo assim.
– Oi – ele respondeu com um sorriso tímido. Trazia um livro e um caderno numa mão, e um pacote na outra.
– Pode entrar.
– Obrigado – ele disse e retirou os sapatos antes de adentrar. Acomodaram-se no sofá e olharam-se um tanto embaraçados.
– Então, no que pensou? – ela perguntou para quebrar o silêncio constrangedor que se fez.
– Ehr... eu pensei que podíamos fazer uma espécie de diálogo, sabe? Como se um de nós estivesse explicando o assunto para o outro. Então abordaríamos todos os temas de uma forma mais atraente e menos chata.
– Boa ideia. Ótima ideia na verdade – ela disse, mesmo sem se sentir muito confortável com isso. Representar seria simplesmente pior que despejar o texto o mais rápido possível, rezando para não gaguejar nem trocar as palavras.
– Que bom que gostou. Eu marquei no livro alguns pontos importantes, fiz uns rascunhos, anotei algumas coisas. Você prefere ficar com que parte?
– A menor! Por favor! Eu detesto falar em público. E sou péssima atriz.– Certo – ele assentiu e sorriu. – Eu faço a parte maior, não tem problema. Também não gosto muito da ideia de falar no auditório, mas acho que consigo.
– Obrigada! Muito obrigada mesmo! Eu vou ter uma síncope lá no palco, então é melhor você se preparar para prosseguir sem mim.
– Não vai ter nada, você vai ver – ele disse e começaram a elaborar o trabalho a partir das anotações que o rapaz fizera. Concluíram tudo em poucas horas, deixando depois que a conversa fluísse. Descobriram que tinham mais coisas em comum do que pensavam, que gostavam dos mesmos filmes, das mesmas músicas, das mesmas comidas, dos mesmos livros e lamentaram-se muito por não terem conversado direito ao longo desse ano em que estudaram juntos.
Depois, ele finalmente abriu o pacote que trazia: dois sanduíches de frango defumado e uma bandeja de docinhos de morango, os preferidos de ambos. Devoraram tudo sem culpa, conversando e trocando receitas, já que ele revelara que fizera os sanduíches.
– Acho que vão se surpreender com a dupla de esquisitos! – ela exclamou empolgada.
– Esquisitos? – ele indagou surpreso.
– É. O pessoal fala que eu sou esquisita. Bom, e que você também é. Você sabe, porque ficamos quietos, porque não nos vêem nos bares à noite, nem nas festas, porque tiramos notas altas, essas coisas.
– Eu não sou esquisito! – ele protestou. – E não acho que você seja! Bobagem. Não somos esquisitos. Somos tranquilos, reservados, calmos, qualquer coisa assim, menos esquisitos.
– É fácil pra você... porque você é bonito.
Shunrei disse a segunda frase quase num sussurro e corou. Era verdade que, embora o achassem esquisito, todas as suas colegas eram unânimes em admitir que Shiryu era um rapaz bonito.
– Então, você mora aqui sozinha? – perguntou, desviando o assunto, mas gostou de saber que ela o achava bonito. Observou o pequeno quarto onde ela vivia, bem semelhante ao que ele vivia, em outra república. Tinha uma cama, a mesa, que servia para estudar e para as refeições, uma cômoda, uma estante e o sofá. A diferença é que ele tinha uma televisão, que a mãe insistira em trazer, mas que ele pouco usava.
– É. Eu nasci na China, mas vim para Tóquio há alguns anos com meu avô, mas ele morreu... E você?
– Eu também moro sozinho num alojamento para estudantes bem parecido com esse. Meus pais são do interior e acharam melhor me mandar para estudar em Tóquio, já que é ano de vestibular.
– Pelo menos você tem pais... Os meus morreram quando eu era bebê e meu avô me criou.
– Que pena... Bom, eu era órfão. Morei num orfanato até os oito anos, quando um casal me adotou. Eles são ótimos! Mas quer dizer que você é sozinha? De verdade?
– É, eu sou – ela confirmou.
– Não é muito bom... eu sei bem o que é isso. Também me sentia muito sozinho quando estava no orfanato... Eu tive muita sorte.
Os dois ficaram em silêncio. Shiryu olhou o relógio e exclamou:
– Nossa! Nem vi o tempo passar! Passa da meia-noite!
– Jura? – surpreendeu-se Shunrei. Também não notara o tempo passar.
– Olha – ele mostra o relógio.
– Meu Deus! Como passou rápido! – disse, e completou em pensamento: "Rápido demais... queria passar mais tempo com ele..."
– Melhor eu ir embora, Shunrei – disse, com remorso por não ter percebido o adiantado da hora. Não era de bom tom ficar até tão tarde na casa de uma moça. – Ligo amanhã, quer dizer, mais tarde, se tiver mais alguma ideia. Ehr... Será que domingo poderíamos passar o texto juntos?– Sim, claro – Shunrei assentiu e seu olhar iluminou-se com a ideia de passar o domingo com ele. – Aqui em casa mesmo?
– Sim, se você não se incomodar.
– Por mim tudo bem.
– Ótimo.
– Às nove horas está bom?
– Perfeito.
– Então até domingo.
– Até...
Quando fechou a porta, Shunrei levou as mãos à boca, contendo um grito de felicidade que seria totalmente inadequado para o horário, enquanto Shiryu desceu os dois lances de escada ostentando seu melhor sorriso.
Continua...

(1) Christina Sturmer, Mehr Als Perfekt.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1) Christina Sturmer, Mehr Als Perfekt.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cinco Momentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.