Lifeless escrita por Katsumi Liqueur


Capítulo 2
Lifeless - B Side


Notas iniciais do capítulo

His side.



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Olhei seu corpo no chão. Morto. Morta. Ela estava morta. Minhas mãos se fecharam de maneira discreta, as unhas tão longas que eu tinha perfurando minha carne. Sentia algo que não estava acostumado. Na verdade, era algo que tinha deixado de lado. Algo que não gostava. 

 

            - She’s dead. And, as far I can see, you will die very soon. – Meus olhos a observavam, escrutinando cada reação sua. Eu sabia que isso aconteceria, até tinha tentado alertá-la, embora, teoricamente, aquele final me fosse favorável. Sim, me era favorável, mas eu não queria aquilo e tinha tentado avisá-la.

 

            Aquela casca vazia. Incomodava-me só olhá-la. Era e não era ela. Aquele corpo que já fora meu, empalidecendo, esfriando, decompondo-se. Diante de meus olhos. De meus próprios olhos.

 

            - You lost. And your beautiful body is in the street, like garbage. It’s your fault, you choose this weak woman and she let your body die. You will die and your soul will be mine, like I told you before. - Minha voz era seca. Tinha que conter meu ódio. A culpa era dela. Ela que deixara aquele corpo daquele jeito. Era seu corpo, mas também era meu. Ele também me pertencia e, agora, estava morto e nunca mais teria uma chance de tê-lo apenas para mim outra vez. Esses pensamentos me incomodavam. Eles deveriam parar.

 

            - Cale a boca. – Sua voz era baixa, tentava fingir um controle que não possuía. Se ela fosse de chorar, já estaria o fazendo. Mas não era esse tipo de mulher, nunca fora. – Se vai falar comigo, use minha língua. E tenha o bom senso de se mostrar feliz na minha frente, pelo menos. Faça bem ao meu ego, finja que minha alma era importante e você a queria. Faça parecer que alguma coisa saiu disso tudo, não só erros, falhas.

 

            Era válido seu pedido, embora não gostasse muito de sua língua e ela soubesse. A vi experimentar o sangue que havia nos lábios de seu corpo. Nenhuma surpresa em sua expressão. Ela conhecia seu assassino. Eu também. Queria fazê-lo sofrer. Queria fazer isso parar.

 

            - Não quero morrer.

 

            “Não quero que você morra!” Tinha vontade de gritar. “Não quero sua alma, não quero. Quero você! Não parte de você!” Apenas a olhei de maneira fria e machuquei de maneira intencional. Que ela sofresse como eu sofria.

 

            - Você já está morta. – Cada palavra bem escolhida para ampliar seu sofrimento. Meu. Nosso sofrimento. – Olhe a si mesmo. Inteira, porém, quebrada. E vazia. Antes estivesse destruída, faria melhor a você. Mas foi sua escolha, e essa mesma escolha te deixou inteira e morta. E eu não fico feliz pela sua alma. A questão é que, no final, eu estava certo e ela é minha. Não importa quão forte esse corpo seja, você já tem sua sentença.

 

            Ela se aproximou de mim. Foi preciso me conter. Conter-me para não bater nela, fazê-la pagar pela insolência de deixar aquilo acontecer.

            - Meu assassino... – Interrompi impaciente, que diferença aquilo fazia agora? Não, não podia continuar ali ao seu lado. Era hora de acabar com aquilo.  

 

            - Não. Não importa. Seu corpo morto, sua alma é minha. Já é hora, não adianta adiar. Esse corpo não é o seu, é possível vê-lo definhar a cada vez que respira, a cada grão de poeira que o toca e a cada batimento cardíaco seu que escuto. Essa é sua hora e não lamento por isso. Você deveria ter aprendido que há coisas que não se pode evitar. Você não podia fugir e tentou. Estava escrito em seu destino, você sabia. Não foi sábia a decisão de ignorar e fugir. Esse corpo definha e você sente. Essa alma, que não é mais sua, se desprende dele e você sabe. Perdeu seu corpo e perdeu sua alma. Essa é a hora e não há nada que você possa fazer...

 

            Ela fechou os olhos. Desistindo, porque não tinha alternativa. Porque sabia que o que eu falava estava acontecendo. Não queria, mas precisava agir. Não queria, mas tive que tocar aquele corpo que não lhe pertencia. Tive que beijar aqueles lábios que não eram dela, mesmo que ela não mais sentisse meu toque. Ela não sentia, não correspondia. Sequer tinha o gosto, o cheiro dela! Mas o beijo continuou. O toque naqueles terríveis lábios continuou e eu pude escutar o coração dela parar. Estava feito, bastava recolher sua alma. Bastava recolher minha alma, não mais dela. Minha, minha. Me deixei chorar, eu não havia sido o assassino daquele corpo, porque era eu a sepultar sua alma...?


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