Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 36
Unexpectedly.


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse, em perspectiva Suspian, esse é um dos pontos mais altos da fic, então, divirtam-se!



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Corremos por um bom tempo ficando completamente molhados. Até que, para minha maior surpresa, num ponto remoto do bosque, chegamos a uma construção. Era enorme e mesmo estando escuro e chovendo, pude identificar um grande muro de pedra, típico de construções medievais, perdido em meio as árvores, como se estivesse abandonado.

Caspian, com muito esforço, abriu os portões pesados e me levou para dentro. Meus pés doíam muito, minhas pernas também, o vestido encharcado ficava quase impossível de carregar, meus cabelos despenteados e meu rosto com alguns leves arranhões causados pelos galhos e por alguns tombos.

Ao contrário do lado de fora, o interior parecia habitado. O aspecto rústico e a mobília charmosa tornavam o ambiente muito aconchegante. Estava tudo muito escuro e frio, fechei os braços em volta do meu corpo enquanto Caspian acendia algumas velas em castiçais, pegou um deles e veio até mim novamente.

–Venha. - e me levou para uma escada de madeira. No segundo andar, levou-me até portas que eu julguei ser um quarto, e de fato era, com cama, armário, penteadeira e uma banheira branca de frente para uma enorme janela. - Pode se trocar aqui, há roupas ali. - indicou o armário. - Não sei se servirão, mas pelo menos não ficará com essas molhadas...

Assenti, Caspian deixou o castiçal sobre a penteadeira e saiu fechando a porta. Tomei um breve banho na banheira, sequei-me e fui até o armário. As roupas eram masculinas, como eu presumi, peguei uma camisa e vesti um dos longos roupões que ficaram ainda maiores em mim. Escovei os cabelos e dei uma breve olhada em meu reflexo no espelho de pé. Haviam arranhões na maçã do rosto e nas mãos, mas nada que demorasse a cicatrizar. Suspirei e fui até a janela para observar, mas as árvores atrapalhavam a vista.

Não pude deixar de pensar em Dash. Me doía tê-lo magoado, tê-lo deixado sozinho lá quando ele não agia por si... Era inevitável não me sentir assim...

–É tudo culpa minha... - sussurrei sem me dar conta.

–A culpa não é sua. - virei para ver Caspian de pé atrás de mim, usando outras roupas. Ele se aproximou de mim, abraçando-me.

–Então por que me sinto culpada?

–Não sei, mas a culpa pode ser de qualquer pessoa, menos sua.

–Não devíamos tê-lo deixado sozinho, ele pode fazer alguma besteira...

–Iria fazer alguma se continuássemos lá. Su, Dash se deixou dominar pelo ódio, não há nada que possamos fazer para ajudá-lo. - Caspian me abraçou. - Sei que é difícil para você, para mim também é. Dash é meu irmão, apesar de tudo e eu o amo demais. Sofro em vê-lo tomar este caminho, mas infelizmente não há nada a fazer...

Fez-se silêncio por algum tempo, foi quando um pensamento passou por minha cabeça, como uma luz acendida no escuro.

–Como ele era antes...? - perguntei. Caspian afastou-se um pouco para me olhar. - Quando vocês eram mais novos... - Eu não olhava nos seus olhos, encarava seu peito, perdida no pensamento que me ocorrera. Caspian estranhou a pergunta, mas respondeu.

–Bem... Quando éramos garotos, Dash era a melhor pessoa que eu conhecia. - sorriu de leve. - O melhor irmão mais velho que já se ouviu falar, mas quando chegou à adolescência, ele mudou. Tornou-se rebelde...

–Mesmo rebelde, a relação entre vocês dois não mudou até eu aparecer, não é?

Caspian então percebeu o que se passava em minha mente, e silenciou-me pondo o indicador sobre meus lábios.

–Shh... Não quero você pensando nisso, está bem? Chega de Dash por um longo tempo... - ele beijou minha testa e seus lábios desceram para minha face. - Vamos ficar bem aqui, apenas eu, meu pai e um amigo sabemos da existência desse lugar, Su. - garantiu. Dei um sorriso fraco. - Não vamos mais falar disso, certo?

Assenti uma vez.

–Vou pegar algo para você comer. - e saiu.

Sentei na beira da cama, sobre os lençóis macios, quentes e confortáveis. Quando dei por mim, já estava deitada, paralela aos travesseiros, com os braços abertos, rosto direcionado ao teto e os olhos fechados, completamente alheia ao redor.

Sem saber ao certo quanto tempo se passou, permaneci parada ali. De repente, senti um beijo em meu pescoço o que me fez arfar de susto, mas no mesmo momento, minha mão, antes mesmo de eu abrir os olhos, reconheceram os cabelos de Caspian.

–Desculpe assustar você. - ele estava deitado ao meu lado, passara um dos braços sobre mim para ter apoio e me assustara. Apoiou a cabeça na mão, tendo o cotovelo flexionado sobre a cama. Seus dedos tocaram meu rosto.

–Tudo bem. - falei, sorrindo sem mostrar os dentes. Fez-se silêncio novamente enquanto Caspian fitava-me.

–Você é tão linda...

–Exagero seu.

–Não, não é exagero meu. - Caspian segurou meu queixo delicadamente, mantendo meu rosto virado para si e beijou-me. Um beijo singelo, que logo deu lugar a outro não tão singelo assim, e desse modo sucessivamente.

Mas ele o interrompeu.

–Seu chá vai esfriar. - disse ele, levantando-se. Sentei na cama e Caspian trouxe para mim uma bandeja, pousando-a ao meu lado. Saía fumaça das xícaras e havia pães e bolos ao lado delas. - Desculpe, mas chá é a única coisa que eu sei fazer. - sorriu, sentando-se do outro lado da bandeja, fazendo-me rir.

–Sorte podermos comprar pães e bolos prontos. - brinquei. Ele riu.

–Sorte. - concordou. - Muita sorte.

Começamos a comer em silêncio, mas eu podia sentir o olhar de Caspian sobre mim, era inevitável não corar. Estava tudo muito saboroso, inclusive o chá preparado pro Caspian. Quando acabamos, ele colocou a bandeja sobre o criado-mudo.

–É melhor você descansar. - sentou mais perto de mim. Senti um frio percorrer minhas costas, provavelmente em virtude do último beijo.

–Onde você vai dormir? - quando vi já tinha perguntado.

Ele sorriu.

–Acho que na sala. Nenhum dos outros quartos está pronto para uso.

–Mas esse é seu quarto, não é justo tirá-lo daqui.

–Não se preocupe. - afagou meu rosto, segurando-o entre suas mãos. - Se você estiver segura, eu não me importo de ficar em qualquer lugar. - falou olhando em meus olhos daquele jeito intenso que só ele sabia.

Minha primeira reação foi abraçá-lo e Caspian retribuiu da mesma forma, mergulhando o rosto em meus cabelos, fazendo-me sentir sua respiração em meu pescoço. Deitei a cabeça em seu ombro. Podia ficar ali por incontáveis dias, sentindo seu perfume e suas batidas...

–Me desculpe. - sussurrou ele. - Por fazer você passar por tudo isso.

–Já estávamos envolvidos mesmo antes poder escolher. - falei afastando-me para olhar em seus olhos. - Está no nosso sangue.

Caspian fez silêncio por alguns segundos.

–Não me refiro a isso. - falou, tão baixo que julguei que não queria que eu escutasse, por isso agi como se não o tivesse escutado.

–Você não deve se sentir culpado. - tentei.

Caspian beijou-me a testa e não fez nenhum comentário a respeito do assunto.

–Vamos, Su, vamos dormir.

[…]

Naquela noite, sonhei de novo, dessa vez a imagem oscilava entre Caspian e Dash. Ora um, ora outro. Estava sujo de sangue. A visão era turva, mas pude identificar seu rosto, com a respiração por um fio, agonizando, não sabia ao certo se era Caspian ou Dash, mas mesmo assim, estava ao chão de terra úmida, era noite, as gotas de chuva caindo por seu rosto. Ele mantinha as mãos contra o peito, como se tentasse conter o sangue que jorrava do ferimento ali. Não era um ferimento de faca ou bala, mas um extenso rasgo de garras. Ele estava morrendo e eu não podia fazer nada para ajudá-lo, apenas via o vermelho sangue escorrendo pelo chão. Eu gritava, gritava por ele, por ajuda, mas ninguém aparecia o que me deixava cada vez mais desesperada. Queria correr até ele, não estava longe, eu poderia ajudá-lo, só que não conseguia me mover, então eu gritava, gritava como se estivesse sentindo sua dor...

–Susana! - acordei com a voz de Caspian chamando-me. Ao acordar no susto, percebi que gritava e chorava de verdade. Caspian estava sentado à beira da cama com a expressão preocupada, iluminado apenas pela vela no criado-mudo.

Sentei quando ele me chamou e meu primeiro impulso foi abraçá-lo forte. Caspian me abraçou tão forte quanto eu o abraçava, tentando confortar-me enquanto eu chorava em seu ombro compulsivamente. Logo seu calor e amor me confortaram e aos poucos fui me acalmando, interrompendo com as lágrimas. Abracei Caspian um pouco mais, só então percebendo seu peito nu. Lentamente, desfiz o abraço.

–Está melhor? - perguntou preocupado. Assenti.

–Desculpe acordar você... - funguei. - Isso nunca aconteceu antes...

–Quer contar o que foi?

–Acho que não vale a pena lembrar...

–Tudo bem. - ele afagou meu rosto. - Tente se acalmar.

Tentei controlar a respiração abraçando-o novamente. Caspian cercou-me novamente com os braços nus suavemente, confortando-me. Depois de um longo tempo ele voltou a falar.

–Descanse, Su, descanse. - pediu ele, mas só em pensar de ocorrer a possibilidade de sonhar novamente, apavorava-me.

–Não quero dormir de novo. - senti-me uma criança tola, mas criança ou não, eu sentia medo. Aquilo fora tão real. - Estou com medo.

–Foi só um sonho, Su. - consolou-me, beijando-me na testa. - Já passou, não precisa ter medo.

–Foi real demais, Caspian. - senti duas lágrimas rolarem por minha face. Ele segurou meu rosto entre suas mãos e secou as lágrimas com dois beijos, no terceiro, beijou meus lábios da mesma forma.

–Eu sei. - falou, o que fez-me olhá-lo. - Eu senti. - olhava em meus olhos.

–Como?

–Não sei. Senti quando lhe toquei para acordá-la... Eu vi o sonhos e essa não é a primeira vez, aconteceu também quando eu fui à sua casa, fui ao seu quarto mas você estava dormindo... Sonhando comigo. - ele sorriu. Eu corei, baixando o olhar e pude perceber o sorriso de Caspian aumentar. Tentei sorrir também, ainda chorosa.

–Será que eu também consigo ver seus sonhos? - perguntei.

–Talvez, não duvido de mais nada - falou. - Mas se puder com certeza vai enjoar de tanto se ver. - confidenciou, me fazendo rir um pouco. Inclinei-me um pouco para frente, beijando-o.

–Obrigada. - falei, ainda próximo ao seu rosto enquanto ele secava os resquícios de lágrimas em meu rosto.

–Pronta para voltar a dormir? - perguntou.

–Não. - confessei. - Vou ficar acordada um pouco mais. - decidi. - Lendo talvez.

–Está escuro demais, não acha?

–O que você sugere? - perguntei.

–Conversar? - sorriu.

–Não quero incomodá-lo, Caspian, já basta ter acordado você.

–Eu não estava dormindo. - confessou. - Estava fazendo um lanche quando ouvi você gritar.

–Então vou deixar você comer em paz. - rimos. Fizemos silêncio no qual os sorrisos se desfizeram.

–Foi horrível. - disse ele, algum tempo depois, quebrando o silêncio.

–O que? - perguntei.

–Ouvir você gritar.

–Como você disse, já passou. - consolei, tocando seu rosto. Ele pegou minha mão.

–Já passou. - olhou-me nos olhos por alguns segundos antes de respirar fundo, mudando o tom, ficando mais animado. - Vamos, Su, tente dormir, você precisa descansar. - voltou a sugerir. - Vamos, fico aqui até você dormir.

Suspirei sabendo que não haveria outra coisa a fazer senão dormir novamente, mesmo com medo. Cobri-me outra vez, Caspian deitou-se ao meu lado abraçando-me lateralmente e eu deitei a cabeça em sue peito, sentindo Caspian afagar-me os cabelos.

–Fiquei aqui quando saí de Londres. - disse ele, de repente. - Trouxe sua pintura para cá e não parei de pensar em você um só segundo...

–E eu pensando em você. - confessei. Ele beijou-me no alto da cabeça.

–Quando fui à sua casa, tive medo de que não me perdoasse. Tive pavor, para falar a verdade, sequer podia imaginar como viveria se me recusasse. - Caspian riu de leve. - Falando assim parece obsessão, mas a verdade é que eu a amo demais para sequer pensar na possibilidade de perdê-la.

Ergui-me para olhá-lo nos olhos. Foram poucos segundos de uma intensa troca de olhar, mas parecia se passar mais de uma eternidade. Não importava, eu queria ficar ali para sempre. Estar sempre ao lado dele fazia parecer a morte qualquer distância, por mais insignificante que fosse e por mais dramático que pudesse ser. Eu queria Caspian, e somente ele.

Eu pertencia a Caspian, e somente a ele. De uma forma que eu não podia compreender.

Antes que eu pudesse fazê-lo, ele inclinou-se para mim e tomou meus lábios de forma ansiosa, fazendo-me saber que ele sentia o mesmo. Lenta e suavemente, Caspian puxou-me para deitar com ele.

Seus lábios doces e carinhosos beijavam-me como se tivéssemos a eternidade, da mesma forma que suas mãos me tocavam, e algo, lá no fundo, me dizia que tínhamos. Seus toques eram honestos à medida do avanço, abraçando-me com delicadeza sem nunca interromper o beijo...

[…]

Nunca experimentara nada parecido antes. Poderia ter se passado dias, nós nem notaríamos, tão mágico foi.

Agora estávamos abraçados, quietos e silenciosos sob os lençóis, ouvindo os próprios pensamentos e ao fundo o som da chuva, do lado de fora.

–Era você, não era? No bosque, na igreja, no baile...

–Queria me aproximar aos poucos, ver como você reagiria... - sussurrou de volta.

Então, era por isso que Dash sempre reagia daquela forma. Ficamos em silêncio novamente, os dedos de Caspian desenhavam círculos em meu ombro nu, eu sentia seu cheiro único, meio amadeirado, que já parecia estar presente em mim, o clima frio contrastando com o seu calor contra minha pele aumentava cada vez mais a vontade de nunca sair dali. Mas infelizmente não seria assim.

–Caspian?

Ele beijou-me a testa.

–Hum?

–O que faremos a partir de agora?

Caspian suspirou e ainda mantendo-me abraçada contra si, levou alguns segundos para responder.

–Não se preocupe com isso, meu amor... Eu cuido de tudo. - Beijou-me suavemente nos lábios.

Aconcheguei-me em seus braços e ali adormeci, sem saber o que seria daqui para frente, sabendo apenas que eu estaria com ele, e ele comigo.


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Notas finais do capítulo

Aos Suspian, esse capítulo é para vocês. Espero todos nos comentários e, quem sabe, recomendação?

Beijokas!!



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