Foi como aqueles choques que tomamos da realidade. Eu paralisei. Permaneci estática com o coração aos pulos, quase abrindo um buraco em meu peito, por longos segundos, não consegui respirar.

Eu parecia não sentir o resto do corpo nem a neve que se intensificava cada vez mais. Ele olhou para mim e sorriu, aquele sorriso que sempre ficava estampado em minha mente, lá no fundo dela. Como num estalo de dedos, eu percebi o quanto estava sentindo sendo idiota.

Ofeguei e sorri de volta, como um alívio, antes de correr para os seus braços. Pulei em seu pescoço, seus braços envolveram minha cintura e ele girou-me.

Não foi um sonho...! - eu sussurrava para mim mesmo, quase furando as bochechas de tanto sorrir. Caspian riu, pousando-me no chão, desfazendo o abraço levemente para olharmos nos olhos um do outro. Ele sorria.

Eu demorei a acreditar que tinha mesmo estado com você... - sussurrou ele, tocando meu rosto. Eu o beijei e seria um longo beijo, mas um vento frio nos fez interromper.

Venha, entre. - eu disse segurando sua mão e levando-o até a porta, em seguida para dentro de casa. - Pode ficar tranquilo, eu dispensei os empregados enquanto eu ficarei aqui. - falei.

[]

Você e Dash estão muito próximos, não é? - perguntou ele, depois de um silêncio relutante. Já escurecera e meu olhar vagou de Caspian para minhas mãos, apoiadas na prateleira.

Bem... Sim...

Hum...

Mais silêncio enquanto nossas mãos pareciam incrivelmente interessantes.

Não estou gostando disso. - comentou ele, de pé ao meu lado, ambos meio perdidos pelas prateleiras.

Do que? - meus olhos pularam para ele mais uma vez.

Desse silêncio. - abraçou-me.

Por que não me diz mais sobre a maldição? - sugeri. Ele olhou-me por alguns segundos.

Não quero que se envolva mais nessa história. - argumentou.

Mais do que eu já estou envolvida?

Ele suspirou derrotado.

O que você quer saber? - sussurrou beijando o canto de meus lábios, seguindo para o pescoço.

Como é?

O que?

Tudo.

Ele fez uma pausa.

Horrível... Doloroso... Torturante. Dura alguns poucos minutos e quando se completa, bem, eu não domino mais. - ele olhava para algum ponto indefinido acima de minha cabeça. Toquei seu rosto e seu olhar voltou a mim. - Mas você vai me livrar disso tudo. - sorriu e eu retribuí. Caspian beijou-me na testa e seus lábios logo seguiram para os meus, mas algo nos interrompeu. Um som. Ao longe, pudemos ouvir o som de alguém que batia na porta da casa.

Você não me disse que esperava visitas. - falou Caspian.

Mas eu não estava... - as batidas insistiam e eu desci para atendê-la. Caspian veio atrás de mim, mas permaneceu no segundo andar, próximo ao topo da escada, meio escondido atrás da parede, enquanto que eu atravessei o lugar, rumo a porta. Ao abri-la, com a remota possibilidade de ser Albert, encontrei alguém bem diferente dele.

Reprimi o susto.

Dash?!

Ele estava parado ali na porta, seu sorriso combateu minha expressão de susto. Debaixo de uma cartola e dentro de um grosso casaco preto, com alguns flocos brancos sobre os ombros. A luz do lampião iluminava suas costas e por trás dele a neve caía silenciosa, ele sorria levemente para mim.

Não vai me convidar para entrar? - perguntou, divertido, porém nervoso. Sem saber o que fazer, o deixei entrar. Fechei a porta com o coração aos pulos, ao mesmo tempo em que tentava disfarçar.

O que trás você aqui a essa hora? - tentei perguntar em tom despreocupado.

Eu preciso conversar com você... É importante, não podia esperar mais. - ele estava de pé no meio da sala, de costas para a escada, parecendo mais nervoso do que antes. Esperei ele continuar, mas Dash não disse nada, ficou tanto tempo em silêncio que pensei que ele esperava que eu dissesse algo, por fim ele falou.

Acho que já passou da hora de eu dizer isso... Eu nunca lhe disse isso diretamente, mas meus gestos sempre deixaram bem claro o quanto eu amo você, Suana. O quanto eu sempre amei.

Meu coração parou por segundos com o choque. Eu estava perdida. Completamente perdida.

Dash... - tentei já com a voz embargada.

Desde a primeira vez que lhe vi eu soube. - ele me interrompeu, chagando mais perto, olhando-me intensamente com aqueles olhos esverdeados e brilhantes que tanto me fizeram bem e que eu não queria magoar, mesmo sendo impossível não feri-lo. Senti as lágrimas chegando e ardendo em meus olhos. - Eu soube que você é a mulher da minha vida, que só você poderá me fazer feliz... Fique comigo, Su, seja minha esposa e eu lhe farei a mulher mais feliz do mundo!

Com o coração apertado e lutando para não chorar, desencilhei-me de Dash.

Eu não posso... - sussurrei com um fio de voz.

Por que?

Não é tão simples.

Sei que, talvez, você não sinta nada por mim agora, mas o sentimento virá com o tempo, meu amor é suficiente por nós dois e...

Não é tão simples, Dash. - repeti.

Por que...?! - ele parou. - Não me diga que - não respondi e ele voltou a se aproximar de mim, agora parecia com raiva. - Como ainda pode pensar nele, Susana?!

Dash tocou meu rosto ao mesmo tempo em que deixava-me contra uma parede.

Dash, por favor, fique calmo. - pedi.

Não! Não me peça isso! - ele quase gritou, começando a me deixar com medo, segurando-me pelos ombros com força, machucando-me. Abri a boca para falar, mas alguém me interrompeu, uma voz grave, firme e inconfundível.

Afaste-se dela, Dash.