Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 29
Presentiment


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se!



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Perdi-me em pensamentos ingerindo a bebida de um jeito preocupado, mergulhando em devaneios. Quase pude julgar que saí de meu corpo, viajando por outra dimensão, de tão absorta que fiquei.

-Susana...! - ouvi Dash se aproximar, em trazendo de volta ao baile. Seu tom de voz demonstrava alívio, como se ele estivesse me procurando desesperadamente.

-Sim?

-Você está bem? - perguntou ele.

-Estou sim. - menti, sorrindo amarelo.

-Tem certeza?

-Sim, apenas cansei de dançar. - sorri. - Vou lá em cima ver Lilliandil, ela está demorando demais a descer, talvez precise de ajuda. - entreguei a bebida à Dash e caminhei por entre multidão até subir as escadas, sentindo-me observada outra vez, mas julguei, mesmo sem saber, que era Dash.

A desculpa de procurar Lillian funcionou e eu me tranquei em um dos banheiros. Apoiei-me com as mãos na bancada, respirando com certa dificuldade. Passei a mão no rosto retirando a máscara dourada, pousando-a na bancada, umedeci as mãos e passei-as no rosto, secando suavemente em seguida com a toalha macia.

Fechei os olhos tentando controlar a respiração e as batidas no peito. Aqueles olhos... Aquele perfume...

Não, não poderia ser ele. Dash me garantiu que ele fora para bem longe e que não voltaria... Mas... E se ele voltou?

Minhas costas tocaram a parede oposta a bancada, deslizei até sentar no chão, a saia do vestido bufando à minha volta, minhas mãos cobriram meu rosto. Não chorei. Não conseguia nem podia. Senti-me sufocada, angustiada, com medo.

Tinha medo de que ele tivesse voltado, medo de não resistir ao seu retorno, medo de sofrer tudo de novo, dessa vez, pior. Medo.

A dificuldade de respirar aumentou e eu lutei até vencê-la. Pus-me de pé. Decidi ir atrás de Lilliandil para que Dash não desconfiasse de nada, torcendo para que ela ainda estar aqui em cima.

Encarei-me no espelho, ajeitei o vestido, dei umas palmadinhas na face, passei as mãos nos cabelos colocando a máscara e fitei minha imagem no espelho novamente, agora mascarada. Respirei fundo e saí.

-Su! - ouvi a voz de Gael quando estava fechando a porta do banheiro. - Vamos, Lilliandil já vai jogar o buquê!

Gael pegou-me pela mão e levou-me em direção ao salão. Fomos ao encontro dos outros enquanto ela anunciava por onde passava que “a noiva iria jogar o buquê”. As moças encaminharam-se para os pés das escadas ao mesmo tempo em que Lilliandil descia alguns degraus no topo, virando-se de costas.

-Vamos, meninas, é a nossa vez! - disse Jill, saindo de perto do irmão e da cunhada, logo a loura sumiu no meio das jovens que tentavam conter o sentimento eufórico cujo não consegui definir se era ansiedade ou desespero. Lúcia, que já havia retornado, também deu alguns passos para lá, quando parou e virou-se para mim, trazendo-me a atenção de volta para onde estava, só então percebi que todos me olhavam.

-Você não vai, Su? - perguntou Eustáquio.

-Eu não acho...

-Ela vai sim. - Lúcia pegou-me pela mão e literalmente puxou-me em direção às moças, levando-me por entre elas até perto da escada. Lillian deu um sorriso radiante ao me ver.

Virou de costas novamente e simulou, três vezes, jogar o buquê; as moças e todos os convidados acompanharam a contagem animadamente. Quando chegou ao três, vimos as flores caindo em nossa direção.

As moças soltaram gritinhos, não contendo mais aquele sentimento eufórico. Mas não adiantou gritar nem empurrar. Como se tivesse sido lançado diretamente para aquelas mãos alvas e delicadas, formando um belo arco no ar, o buquê deixou as mãos de Lillian até cair graciosamente nas mãos de sua escolhida.

As demais moças contra a vontade, reconheceram a derrota e aplaudiram a vencedora. Lillian virou-se para ver quem foi e abriu um sorriso doce. As damas se dispersaram e a música voltou a tocar ao mesmo tempo em que nós voltávamos até os rapazes. Jill um pouco decepcionada, eu aliviada, e Lúcia corada, trazendo seu buquê timidamente.

Quando chegamos mais perto, vi Rillian lançar um sorriso ofuscante em direção a Lúcia, que sorriu e corou mais. Os outros sorriram parabenizando-a. Dash viu a troca de olhares entre Rillian e a irmã e pude identificar em sua face a expressão irmão-mais-velho-ciumento. Me aproximei dele.

-Ciúmes, Dash? - brinquei. Ele encarava Rillian e Lúcia que agora conversavam.

-Como? Ciúmes? Eu? De Lúcia e Rillian?! - ele deu uma risada forçada. - Claro que não. - tomou um gole de sua bebida. - De onde tirou essa ideia, Su?

-Do seu olhar fulminando o pobre rapaz.

-Ele acha que eu não notei! - não aguentou. - Os dois acham que eu sou algum tipo de idiota! Ficam flertando bem debaixo do meu nariz achando que sou algum trouxa...! Qual é a graça? - perguntou. Parei de rir.

-Irmão Mais Velho Superprotetor E Ciumento. - falei. - Ainda não tinha visto esse seu lado, Dash. Você fica uma graça como o irmão ciumento. - comentei. Os outros estavam entretidos em suas conversas.

-Eu não sou um irmão ciumento! - defendeu-se. - Sei muito bem que ela já está bem crescidinha, já tem consciência do certo e do errado e não precisa mais de mim... E que já está na idade de seguir seu caminho... De viver a sua vida... - seu olhar se perdeu em pensamentos, lembranças, e sua expressão ficou desolada, pude jurar que Dash começaria a chorar. - Ela já é uma moça... Não é mais aquela menininha que eu carregava no colo... Que andava sempre com sua boneca preferida... Aquela menininha que costumava me pedir ajuda para tudo... Que se escondia atrás de mim quando estava com medo... Que adorava quando eu lhe derrubava onde quer que fosse e lhe atacasse com cócegas... Que gostava de sentar nos meus ombros enquanto corríamos pela casa, e fingia estar voando...

-Dash... - tentei, arrependendo-me de ter tocado no assunto.

-Então chega um cara qualquer, se achando o dono do mundo, se achando no direito de cortejá-la! Rá! É o fim do mundo!

-Dash!

Ele me olhou, percebendo o que estava fazendo.

-Desculpe, Su... - ele pigarreou, discretamente secou as gotas cristalinas que surgiram nos cantos de seus olhos.

-Tudo bem. - falei, tocando seu braço. - Está mais calma?

Ele balançou a cabeça, afirmando.

-Escute. - falei, tentando animá-lo. - Vamos dançar, assim você se distrai, o que acha?

Ele sorriu.

-Adoraria dançar com você.

Ele entregou sua bebida a Pedro e levou-me pela mão até onde os casais dançavam.

[…]

Dançar ali conseguiu distrair Dash. Como uma boa conversa que sempre temos, nós rimos e nos divertimos bastante pelo resto da festa e aquele episódio durante a dança, mais cedo, perdeu quase todo seu efeito sobre mim, foi como se Dash espantasse todos os medos.

Quase no fim da festa, Lillian e Corin se despediram dos convidados, entraram na carruagem e, levados por Trumpkin partiram para a sua lua-de-mel.

Pouco depois que eles foram, os convidados começaram a ir embora. Lillian deixara bem claro que Lúcia, Dash, Gael, Ed, Pedro, Rillian, Eustáquio e Jill poderiam dormir em sua casa, ou melhor, poderiam “ficar aqui o quanto quiserem”, mas a maioria deles iria embora no dia seguinte por causa dos compromissos em Londres.

Dash pediu para que Eustáquio ficasse de olho em Rillian enquanto ele me acompanharia até em casa. Bri nos levou na carruagem dos Kirke até minha casa, passando pela mesma estrada estreita, por entre o bosque, agora, escuro, silencioso e sinistro. Fomos em silêncio o caminho todo dentro da carruagem enquanto Bri guiava do lado de fora. Eu observava o bosque pela janela do lado direito e Dash pela da esquerda, ambos sem dizer palavra sequer, ouvindo apenas o trote dos cavalos.

Bri estacionou em frente a minha casa solitária no meio daquela clareira, perdida no bosque. Dash pareceu nervoso.

-Tem certeza de que é uma boa ideia ficar sozinha aqui? - perguntou, atropelando as palavras.

-Claro, é minha casa, Dash... - falei, sem entender por que ele estava nervoso. Bri abriu a porta para nós, Dash desceu e estendeu a mão para que eu fizesse o mesmo, ele pediu para que Bri o aguardasse e me acompanhou até dentro de casa.

-Não acho uma boa ideia você ficar sozinha aqui. - tornou ele.

-Tenho ficado todas as últimas noites sozinha aqui, Dash, e nada me aconteceu, porque hoje seria diferente? - indaguei. Ele demorou alguns segundos para responder.

-Só acho que você poderia ficar com todos na casa de Corin. - justificou, mas deu para perceber que não era por causa disso, só não soube dizer pelo quê era.

-Eu prefiro dormir aqui, Dash. - expliquei. - Chamei Lúcia para dormir aqui, mas Jill não deixou, você viu o escândalo que ela fez. - nós rimos ao lembrar. - Mas qual o problema em ficar sozinha aqui? Com o que você está preocupado?

-Não é nada. Você tem razão. - sorriu levemente. Sorri de volta. - Bom, Lúcia e eu ficaremos mais alguns dias, então... Vejo você amanhã.

-Com certeza. - sorri. Houve alguns segundos de silêncio constrangedor. Num rompante, Dash se aproximou de mim com passos largos, mas parando abruptamente ao me alcançar, bem perto, fazendo minha respiração acelerar.

Ele hesitou, olhando em meus olhos, mas como não o impedi, Dash foi em frente. Puxou-me pela cintura contra si e colou seus lábios nos meus. Não sei o que acontecia comigo, mas eu simplesmente não conseguia resistir ao seu beijo. E aquele fora parecido com o da adega, não tão voraz, mas parecido.

Com um estalo suave, ele acabou. Dash me deu um abraço forte, como se não quisesse me deixar ali. Ele estava estranho, mas mesmo assim, com acenos de cabeça, nos despedimos e eu o vi atravessar a porta como se não quisesse ir, como se não quisesse me deixar...

Como se pressentisse que algo de ruim estava prestes a acontecer. 


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Notas finais do capítulo

Adivinhem o que vai acontecer no próximo capítulo!!
hehe

Reviews!

Beijokas!!