Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 12
Today Will Be Different.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, nos vemos nas notas finais.



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- Não é saudável frequentar tanto o cemitério, Susana.

- São meus pais, Polly. – lembrei tranquilamente enquanto descia as escadas, rumo à porta.

- Eu insisto em leva-la. – disse Albert. – Para garantir que não vai para a casa de nenhum rapaz aprender esgrima. – acrescentou. Eu ri.

- Al, você sabe que Edmundo é de confiança e não, não precisa me levar, eu vou só, a tarde está linda para ir dentro de alguma coisa, eu vou a pé. – abri a porta.

- Juízo. – pediu Polly.

Caminhei tranquilamente pela calçada, aproveitando aquela tarde de clima frio, agora sem pressa, afinal não estava indo fazer nada às escondidas. Dobrei três esquinas, atravessei o parque onde comprei flores, andei mais duas quadras enfim chegando ao cemitério.

Adentrei o local primeiro caminhando pelos caminhos de pedra depois por cima da grama, levemente irritada com o barulhento som do salto contra o chão. Ajoelhei-me sobre a relva, sentando-me sobre ela e tendo a saia do vestido tufando à minha volta, de frente para as lápides de meus pais debaixo daquela frondosa macieira. Suspirei e sorri de leve pousando as flores sobre as sepulturas. Senti meu solhos arderem, logo em seguida sequei com o dorso da mão as lagrimas que escaparam.

A saudade chegou a doer logo no inicio, mas agora não doía, não tanto quanto antes. Ela fazia-me perder a noção do tempo, mergulhada nas lembranças boas de meus pais. O sorriso e o abraço reconfortante de minha mãe, o olhar sábio e inteligente de meu pai, suas histórias... Tudo o que fora tirado de mim em poucos minutos. Eles estavam para o interior, já estava escurecendo, chovia muito...

Eu pedi para eles esperarem a chuva passar e iniciar a viagem pela manhã, mas eles disseram que quanto antes chegasse lá mais rápido estariam de volta. Então eles foram e no meio da noite só a notícia do acidente...

Era para eu estar enterrada ali com eles. Eu iria naquela viagem, mas eles não me deixaram ir de ultima hora... Um soluço escapou. Enxuguei as lágrimas mais uma vez.

- Atrapalho? – alguém atrás de mim. Ergui o olhar e encontrei um par de olhos negros acompanhados de um leve sorriso.

- Não, claro que não. – falei com a voz ainda um pouco embargada limpando de meu rosto qualquer vestígio de lagrimas. Caspian sentou ao meu lado na grama, de costas para as lápides. – O que você faz aqui? – perguntei, puxando assunto.

- Fui até sua casa e Polly me disse que você estava aqui. Ah, antes que eu me esqueça, para todos os efeitos, eu não vim atrás de você. – falou.

- Por quê?

- Não quero meu pai atrás de mim de novo com Dash em seus calcanhares...

Eu ri.

- Imagino.

- Soube o que aconteceu com seus pais, estou meio atrasado, mas mesmo assim, sinto muito.

- Obrigada. – sorri de leve. – Mas você não veio atrás de mim só para dar os pêsames atrasados... – provoquei. Caspian sorriu, ele foi pego.

- Queria ver você... – falou e eu corei levemente. Alguns minutos de silêncio. – Susana?

- Sim?

- Posso leva-la à um lugar?

- Hm... Pode... Onde é?

- Surpresa. Podemos ir agora, ou você quer ficar mais um pouco? – perguntou em tom de compreensão.

- Podemos ir. – levantei e ele me acompanhou.

Caminhamos para fora do cemitério, meia hora depois chegamos a frente a uma casa no subúrbio. A fachada era de um vermelho desbotado e embora não parecesse abandonada, era claro que não era frequentada por nenhuma família.

- Era a casa dos meus avós. – disse Caspian depois que entramos. – Ninguém mora aqui, mas faço questão de mantê-la... Trás recordações, sabe...?

- Sei, sei bem como é...

- Gosto de vir para cá... Ficar um pouco sozinho...

- Sozinho? Então por que me trouxe? – questionei. Ele sorriu de lado.

- Quero lhe mostrar uma coisa. Venha. – abriu caminho para a escada. Confesso que senti um frio na barriga, mas Caspian me transmitia segurança, então subi. Ele veio logo atrás de mim e guiou-me até um dos quartos. – Aqui. – disse ele, indicando uma porta de madeira onde fora esculpida uma frondosa árvore. Ele abriu a porta revelando um cômodo diferente.

A luz que o iluminava vinha da comprida janela, logo abaixo dela havia uma espécie de cama, presa entre as paredes. Do outro lado da sala, no canto, haviam varias telas enfileiradas no chão, dividindo-se em duas colunas, seguindo o plano do assoalho. Ali perto havia uma mesa simples de madeira manchada de diversas cores, sobre ela estavam pincéis e tintas, ao lado do móvel havia um cavalete e dois bancos. Nas paredes exibiam-se quadros, um deles retratando um castelo da realeza britânica, e uma moça de costas para o pintor e de frente para um vasto jardim. Os detalhes daquelas pinturas, as texturas e os traços humilhavam terrivelmente as minhas telas.

- Você quem fez? – perguntei sem tirar os olhos dos quadros, aproximando-me lentamente dos mesmos.

- Sim, eu sou o culpado. – assumiu, parando ao meu lado. Eu ri. – Gostou?

- Muito. São lindas! – falei sincera. Caspian sorriu orgulhoso.

- Soube que você também tem as suas.

- Mas nem se comparam com essas. – falei.

- Não acho isso.

- Você já viu uma delas? – perguntei desconfiada. Ele assentiu, olhei-o surpresa.

- Lucia mostrou-me uma que você deu a ela. – explicou. Então me lembrei do retrato de Lucia que fiz há quase um ano. – Ficou incrível.

- Obrigada. – sorri tímida.

- Ela também me falou que é muito difícil encontrar um quadro em que você esteja presente.

Dei um sorriso travesso.

- Eu estou, e quase todos que estão na minha casa, quem você acha que estava pintando?

Caspian riu.

- Refiro-me a aparecer na pintura, mas sei que você entendeu isso.

- Acho que eu prefiro ficar no “anonimato” – disse, fazendo aspas no ar.

- Interessante... – ele pareceu ter uma ideia repentina, seus olhos brilharam e ele abriu um sorriso lindo. – Hoje vai ser diferente.

- Como assim? – uni as sobrancelhas.

- Hoje, eu farei um retrato seu. – falou. – Faço questão e só aceito sim como resposta.

Balancei a cabeça negativamente, suspirando derrotada. Não adiantaria argumentar.

- Tudo bem.

Ele sorriu vitorioso. Não dissemos mais nada. Caspian tirou o paletó, pegou o cavalete, armou-o e pôs uma tele branca sobre o mesmo, pegou as tintas e puxou um dos bancos. Enquanto isso, eu tirei meu xale preto deixando os ombros descobertos e sentei sobre as pernas aos pés da janela, espalhando a saia do vestido ao meu redor. Apoiei meu cotovelo, com a mão apoiando a cabeça delicadamente enquanto a outra mão repousou sobre um dos tornozelos.

Caspian veio até mim, ajoelhando-se a minha frente. Em seus olhos havia um brilho diferente, de admiração. Corei, mas mantive a posição. Com o indicador, Caspian ergueu meu queixo levemente ainda olhando-me intensamente nos olhos. Não houve repulsa de minha parte como quando havia toda vez que algum homem olhava-me com seus olhos cheios de cobiça. O olhar de Caspian era diferente, possuía admiração. Uma admiração sincera, sem toda a cobiça aparente que os outros expressavam tão nitidamente. Ele levantou e assumiu seu lugar atrás da tela.

Permaneci imóvel, olhando para ele sem dar atenção para o que fazia. Minha mente se perdeu e lembro perfeitamente de seus olhos atentos a cada traço, ainda com os resquícios daquele brilho de admiração. Seu rosto sério e concentrado, o olhar minucioso, com um toque de mistério, fez-me perder a noção do tempo. Seus olhos escuros e profundos como o céu a noite davam razão para o meu coração bater, porém eu ainda não sabia disso.

Sabia apenas de seu efeito sobre mim. Meu coração descompassado, o frio na barriga, o peito cheio de algo que insistia em sair... Algo que estava cada dia mais evidente e difícil de conter.

Algo mais profundo do que minha mente podia imaginar... E tão poderoso quanto meu coração podia sentir...


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Não ficou tão mal, né? Espero seus reviews e quem sabe alguma recomendação?!
Beijokas!!