.Tétricus.

-Por FranHyuuga-

{Presente para minha Ana-flor}

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Prólogo

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Tudo é amor.

Até o ódio, o qual julgas

ser a antítese do amor,

nada mais é senão o próprio amor

que adoeceu gravemente.

{Chico Xavier}

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O reino estava em ordem. E Hyuuga Neji sinceramente não se importava que ordem não significasse paz. Ele estava satisfeito com a opressora lei que regulava o comportamento do povo e um sorriso debochado surgia em seus lábios ao vislumbrar o medo que despertava. Ele também não se importava que medo não significasse respeito.

Na verdade, Hyuuga Neji não se importava com muitas coisas.

E uma delas, em especial, eram as várias manifestações públicas de desafeto contra seu ponto de vista elitista e sectário. Isso porque, para ele, as pessoas nasciam destinadas à realeza ou à plebe. Se havia um ser que merecesse julgamentos infundados certamente não era ele. As pessoas deveriam reclamar com os deuses.

Elas, no entanto, pareciam indispostas a entender esse processo tão simples.

Elas insistiam em encher sua pouca paciência com reclamações e exigências.

E Neji apenas respondia como sabia, aplicando punições severas e exemplares.

Ele também não se importava com isso.

- Hyuuga-sama, que mulher preferirá na noite de hoje? – O súdito questionou curvando-se em humildade.

O rei sorriu com prazer ao notar o esforço do homem em fitar o chão. A lei mais severa do seu reino protegia-o de mirar olhos repulsivamente escuros. As pessoas que não pertencessem à nobreza não poderiam encará-lo. E durante milênios o sangue nobre era reconhecido em olhos perolados. Não azuis, verdes, castanhos ou ridiculamente pretos. Somente perolados.

Não havia uma alma nobre com olhos de cor. As esferas pálidas eram sinônimo de poder e glória. Homens predestinados a um futuro honroso! E Hyuuga Neji era o mais genioso deles.

- Morena. – Respondeu com a voz entediada.

Ser um jovem rei tinha seus benefícios, tal como a enorme variedade de concubinas ao seu dispor. Todas inferiores com seus olhos de cor. O reino possuía uma clara hierarquia, culturalmente herdada e rigorosamente mantida: quanto mais escuros eram os olhos, menos valor a pessoa possuía.

Concubinas eram inferiores, porque jamais seriam úteis para outras funções que não o prazer do rei. E Hyuuga Neji sabia que o mesmo destino responsável por fazê-lo nobre, seria o responsável por uni-lo à sua prometida. A única a quem desposaria.

Ele já a havia visto quando criança. Cabelos negros, elegante, de pele sedosa e alva. Os olhos eram perolados, como os dele, e a face corada com graça. Sua prima, distante e educada para ser sua esposa, nascera digna do trono.

E mesmo que não convivessem, que nunca a tivesse visto depois de adulta, não importavam a personalidade, a voz ou os planos que ela tivesse.

O rei sabia que Hyuuga Hinata era sua.

* * *

Sentou-se ereta diante do espelho. Os longos fios negros, macios e sedosos, eram escovados com suavidade por uma serva enquanto Hinata limitava-se a observar a madeira polida da penteadeira. Havia pedras preciosas incrustadas no móvel, concedendo requinte e valia, mas só o que a jovem via era um exagero cruel de detalhes que serviam apenas para dividir a nobreza dos pobres.

Ela odiava cada uma daquelas pedras brilhantes. Odiava o colar que ostentava um rubi raro preso ao seu pescoço como uma coleira. Odiava os fios de ouro trançados no candelabro e o perfume de lavanda que imanava dos incensos espalhados no quarto.

Hyuuga Hinata odiava o destino.

E ela sabia que não importava o quanto odiasse o luxo e a nobreza, o maldito destino a levaria para o leito do rei. Era essa cruel realidade que a fazia odiar o caminho supostamente eleito pelos deuses. Uma realidade inaceitável, que lhe despertava desgosto e a fazia sentir a bile revoltar-se com violência.

Neji, o homem que ostentava a coroa, era repugnante e complexado. Alguém com tamanho poder deveria saber usá-lo para promover o povo, mas o primo parecia disperso demais em contemplar sua própria glória para preocupar-se com aqueles que trabalhavam arduamente para sustentar o valioso reino.

A jovem exclamou um baixo grunhido ao mirar seus olhos perolados no espelho. Ela desejava, de uma maneira doentia, dar-lhes outra cor. Ela queria o azul do mar, o verde da vegetação, o castanho das árvores ou o negro do céu noturno! Ela queria libertar-se do destino e ajudar as pessoas, porque era isto que seu coração gritava-lhe a cada vez que se contraía!

Silenciosamente, a mão feminina interrompeu o movimento cadenciado que a serva realizava com a escova sobre os fios escuros. Os odiosos perolados refletiram determinação no espelho e Hyuuga Hinata quase sorriu ao notá-los tão expressivos. De uma maneira totalmente inusitada, uma ideia cruzou-lhe a mente!

Naquela noite, a prometida do rei desafiaria o destino.

Continua...