Night Watchers - Primeira Temporada escrita por MS Productions


Capítulo 49
Perigo Constante (Vol. 5) - Capítulo 3




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Depois de todo o frenesim e das últimas novidades, Érica Rodrigues achou melhor reunirem-se na sua casa, onde poderiam sentar-se e terem uma conversa racional. Antes disso, a Night Watcher teve de garantir a identidade do novo membro, Isabella. Fez um breve telefonema para a Ordem, no qual verificaram o perfil da desconhecida e deram a certeza de que ela era quem afirmava ser.

Durante todo a caminho instalou-se um silêncio desconfortável… Érica sentia-se confusa. Rodrigo não sabia o que pensar… Para ele seria um alívio haver outra Night Watcher em Cila, talvez assim, Érica pudesse aproveitar melhor o seu tempo e em segurança. Melissa observava a mulher como se esta fosse um alienígena, notava-se que estava curiosa. Independentemente destes estranhos comportamentos, Isabella parecia estar à vontade…

Ao chegarem a casa de Érica e de Rodrigo, a jovem Melissa decidiu quebrar o silêncio. Ainda não tinha compreendido muito bem o que fazia ali Isabella.

Melissa - Desculpe lá, mas ainda não percebi o que faz por aqui… Não é suposto haver apenas um Night Watcher por vila?

Isabella sorriu, mas Érica respondeu primeiro.

Érica - Calma Melissa… Não vamos bombardear a Isabella com perguntas!

Explicou Érica… De seguida olhou para Isabella.

Érica - Por favor, pode sentar-se!

E afastou a cadeira para dar lugar à mulher.

Isabella - Obrigado! Pode tratar-me por tu! Eu é que lhe devo respeito, já é Night Watcher há muito mais tempo que eu… E não há problema em a jovem colocar-me questões! Posso responder a todas!

Respondeu de uma forma muito simpática. Todos sentaram-se à excepção de Rodrigo…

Rodrigo - Querem beber alguma coisa?

Érica - Se não te importares… Fazias um chá para a nossa convidada?

Rodrigo - Trago já!

De um modo apressado, Rodrigo dirigiu-se à cozinha. Isabella parecia estar a observar tudo…

Isabella - Érica, tem uma casa muito bonita!

Exclamou cheia de vigor.

Érica - É simples…. Mas obrigado! Já agora também podes tratar-me por tu… Assim é uma maneira de estarmos completamente à vontade!

Isabella - Ainda bem… Compreendo que não deva ser muito normal aparecer outro Night Watcher por aqui!

Érica - Realmente, não é costume! O que é que te fez vir até aqui Isabella?

Melissa estava ansiosa por falar. Nunca pensou que viria alguma vez a conhecer outro Night Watcher. Então, aproveitou o momento…

Melissa - Sim, não se passava nada na vila onde vivia?

Isabella sorriu, achou a jovem curiosa…

Isabella - Desculpem, não me levem a mal mas desde que vos encontrei que tenho uma pergunta a fazer!

Afirmou com toda a naturalidade possível. Tanto Érica, como Melissa, olharam uma para a outra e acenaram que sim…

Isabella - Geralmente um Night Watcher trabalha sozinho… Foi o que nos ensinaram! Estou um pouco surpreendida ao ver contrário aqui! Sempre achei que devíamos trabalhar em grupo… Diz-me Érica, estás a liderar um grupo ou algo do género? É que era extremamente interessante…

Érica riu-se…

Érica - Não estou a liderar nada! Na verdade, é uma história muito longa… E a Ordem não sabe do envolvimento de ninguém!

Melissa - A Érica está a ajudar-me a tentar descobrir o que se passa comigo!

Érica - Desde que Melissa chegou a Cila a sua força e a sua resistência tornaram-se sub-humanas! Ainda não conseguimos perceber qual é a fonte do seu poder…

Isabella fez uma expressão de admiração…

Isabella - Sim, não parece muito normal! Deu-me a impressão que aqui em Cila, as coisas são muito mais complicadas!

Érica suspirou… Isabella tinha razão, em Cila, nada era fácil.

Érica - E digamos que, neste momento, estamos numa situação assim! Por aqui existe sempre trabalho!

Isabella parecia ter ficado entusiasmada…

Isabella - Quero ser informada de tudo… Já tenho saudades de resolver algum caso!

Pela cara que Melissa fez, deu a entender que não tinha percebido o que Isabella acabara de dizer… Érica parecia ter ficado confusa com aquele comentário.

Melissa - Mas afinal há quanto tempo é que é Night Watcher?

A jovem não tinha resistido e teve de colocar a pergunta. Isabella voltou a rir-se e abanou a cabeça…

Isabella - Com isto tudo quase que ainda não contei nada acerca de mim!

Érica - Sim, quando liguei para a Ordem garantiram-me a tua identificação, mas não me disseram o que é que fazias aqui…

Érica sabia como lidar com quase todo o tipo de situações e momentos… A sua educação era brilhante, tanto a que tinha aprendido com os pais, como a que veio a aprender quando se tornou numa Night Watcher. Naquele momento, aparentava estar serena e à vontade… No entanto sentia-se indignada. Ultimamente o seu contacto com a Ordem Secreta era mínimo. Érica sabia que estes tinham muito trabalho, mas isso não era desculpa. Ainda pra mais sabendo da situação presente em que Cila se encontrava. Sem contar com as várias incógnitas e mistérios, para os quais ainda não tinha achado resposta. Nem o Sr. Charters telefonava como fazia tantas vezes, só para saber como ela estava. E agora, tinha outra Night Watcher à sua frente e nem tinha sido avisada…

Isabella - A minha história até é engraçada…

Rodrigo Rodrigues tinha regressado da cozinha e trazia consigo uma bandeja com um bule de chá e um prato com bolachas, o qual colocou na mesa.

Rodrigo - Desculpem interromper… Sirvam-se à vontade!

Melissa e Isabella agradeceram… Rodrigo puxou a única cadeira livre e juntou-se às três mulheres.

Isabella - Continuando… Venho da vila Tália! Tenho 33 anos e sou Night Watcher apenas há cinco!

Todos ficaram surpreendidos…

Rodrigo - Pensava que os Night Watchers formavam-se mais cedo!

Exclamou a olhar para Érica.

Érica - Sim, quase todos… Eu fui aceite aos 18! Porque é que só te passaram aos 28 anos?

Perguntou a Isabella.

Isabella - Um problema na família… Imaginem, a minha avó foi uma Night Watcher, mas os pais nunca quiseram seguir a linhagem. Derrotada, ela esperou que na próxima geração alguém estivesse interessado!

Todos estavam a acompanhar…

Érica - Neste caso, tu!

Isabella - Exactamente! Claro que os meus pais nunca gostaram da ideia e não deixaram que a minha avó me encaminhasse para esta vida! Até aos 18 anos… Quando finalmente fiquei livre! Optei por tornar-me numa Night Watcher! E por começar com essa idade, atrasei-me em relação aos outros!

Érica - Faz sentido… Quase todos começam a treinar e a estudar desde cedo!

Melissa recuou na conversa… Tinha ficado curiosa em relação a um pormenor.

Melissa - Há pouco disse que vinha da vila Tália… Onde é que fica isso?

Isabella sorriu para Melissa, a jovem era muito espontânea e ela achava piada.

Isabella - Na Grécia! É uma vila que se situa numa das ilhas gregas!

Érica ficou surpreendida… Há anos que não ouvia falar naquela vila, quase se esquecera da sua existência.

Érica - Se bem me recordo, Tália era uma das nove musas, filhas de Zeus! Mais propriamente, a musa da comédia…

Isabella - Isso mesmo!

Confirmou Isabella.

Érica - Porque é que saíste de lá?

Isabella - Por uma simples razão… Não se passa nada naquela vila! Como o nome indica, é uma zona boa, leve! Ali, todos os seres seguem as mesmas regras e dão-se curiosamente bem! Todos são felizes… Mais parece um retiro que uma vila!

Mais uma vez, todos ficaram espantados…

Rodrigo - Porque é que não vivemos lá?

Perguntou a Érica, de uma forma um pouco engraçada.

Érica - Não é muito habitual… Então e não te colocaram em outra vila?

Érica estava curiosa… Existem vilas que ainda precisam de Night Watchers.

Isabella - Eles tinham isso em mente… Mas uma vez que o meu percurso foi um pouco diferente, acabei por propor-lhes algo diferente! Acho que seria mais útil se viajasse por várias ilhas, para conhecer vários Night Watchers e poder ajudar no que for preciso! E assim também era uma maneira de me desenvolver ainda mais!

Explicou Isabella…

Érica - Eles aceitaram a ideia?

Isabella - Estou aqui, não é verdade? É por isso que acampei no parque de Cila… Agora nunca tenho uma casa fixa!

Respondeu com um sorriso bem alargado. Melissa ainda estava pensativa…

Melissa - Mas quantas vilas destas é que existem? Cada vez ouço falar de mais e mais…

Disse, um pouco confusa…

Érica - Inúmeras… Algumas delas desabitadas e ainda por descobrir, por estarem tão bem escondidas! Para te dar uma resposta, teríamos de falar durante horas!

Melissa estava pasmada a olhar para Érica… Nunca pensou que existissem “inúmeras” vilas.

Melissa - Pensando melhor, é melhor não… Já me contento com Cila!

Isabella - Sim, ainda contaram-me muito pouco acerca do que se passa na aqui na vila! O que é que faziam no parque?

Érica - Perseguíamos Fúrias. Tentaram atacar-nos! De certeza que o demónio Abaddon enviou-as… Está à procura de vingança, por causa da perda de Lunatik!

Isabella endireitou-se e ficou atenta…

Isabella - Abaddon está aqui em Cila? Um demónio da ordem superior demoníaca?

Perguntou preocupada… Isabella tinha estudado muito bem os demónios, sabia que Abaddon era muito perigoso.

Érica - Sim, é uma longa história… Vai demorar um pouco para contar tudo!

Isabella - Tenho muito tempo… Se não se importarem!

Exclamou esperançosa.

Érica - Claro!

Respondeu com simpatia.

Melissa - Não posso chegar tarde a casa! Amanhã tenho aulas!

Rodrigo - Falando nisso… Onde é que andou a Ísis? Ela não era pra ter vindo aqui?

Perguntou Rodrigo… Ísis tinha combinado ir ter com eles mas não aparecera.

Melissa - Eu falei com ela… Pediu desculpa, mas preferiu ir passar algum tempo com os seus novos animais de estimação! Vocês sabem…

Isabella não tinha entendido… Mas Érica e Rodrigo perceberam de imediato a que é que Melissa se referia…


*

Nem uma única rajada de vento era sentida… A noite estava particularmente calma e silenciosa. O céu estava estrelado e a lua grande e circular, na sua fase cheia. A forte luz que emitia iluminava todos os espaços do ferro-velho de Cila, no qual existia pouca claridade durante as noites. Ou pelo menos, era o que a jovem Ísis Rocha achava… Até ao momento, sempre que lá ia, levava consigo um candeeiro a petróleo para poder ver melhor e sentir-se minimamente segura. Em certa parte, até era normal aquela zona não ter tanta iluminação… Além de ser afastada do centro da vila, ninguém ia para ali à noite, não havia nada de interessante para ser visto. O que a fazia pensar, cada vez mais, que aquele sítio era mesmo o ideal para os seus novos amigos, os Goblins.

Como de costume, sempre que chegava, os cinco saiam dos seus esconderijos e vinham em direcção a ela, bastante contentes e eufóricos. Ísis achava imensa piada… Era impossível vê-los como destruidores e revoltados. Com ela eram tão dóceis e brincalhões que toda a descrição que era feita sobre eles, não tinha valor para a jovem.

Todas as noites em que tinha tempo livre, saía para fazer-lhes companhia e levava consigo algum presente para os mesmos. Daquela vez, decidira criar um género de roupas para os Goblins, feitas essencialmente de algodão… Cinco pares de calças e t-shirts, todas de cores diferentes. Quando se aproximou e mostrou o que trazia, estes começaram logo aos pulos a tentar ver o que era…

Ísis - Pensavam que eu hoje não vos vinha ver, não era?

Perguntou carinhosamente e os Goblins dançavam à volta dela, alegres.

Ísis - Já viram o que tenho para vocês?

Nesse instante, voltaram a colocar-se todos em frente a Ísis, curiosos.

Ísis - Antes de vos mostrar, têm de saber que não é para destruir! Tive muito trabalho a fazer-vos isto…

Os cinco pareceram entender o que ela acabara de dizer e foi aí que esta lhes mostrou os conjuntos que trazia… Azul, verde, vermelho, preto e amarelo. A jovem distribuiu-os pelos Goblins e estes observavam as roupas com um ar estranho.

Ísis - Não se preocupem. Vão ver que depois de se vestirem vão sentir-se bem melhor! Eu ajudo-vos…

Ísis baixou-se e começou a vestir um dos Goblins… Os outros assistiam e ao mesmo tempo imitavam e vestiam-se. Em menos de um minuto, já os cinco tinham-se vestido, olhavam uns para os outros e tocavam-se para se habituarem ao novo visual. A jovem voltou a pôr-se de pé para ver como tinham ficado e riu-se…

Ísis - Oh, estão tão engraçados… Parecem os Power-Rangers em miniatura!

Foi a primeira coisa que pensou assim que os viu com aqueles trajes. O seu sorriso aliviou um pouco os Goblins e estes acabaram por aceitar as roupas e correram na direcção de Ísis para se abraçarem às pernas dela, em agradecimento.

Ísis - Ainda bem que gostaram! Fico contente!

Exclamou, enquanto voltava a baixar-se para abraçá-los também… Ísis estava de costas para a entrada do ferro-velho e num dos abraços a um deles, ao verde, este ficou agitado e começou a rosnar baixinho… A jovem assustou-se e olhou para trás para ver o que se passava. Ao mesmo tempo os Goblins esconderam-se atrás dela.

Leonardo - Desculpa, não queria assustar-te…

Era Leonardo Almeida, o seu melhor amigo e por quem nutria alguns sentimentos a mais… Ao vê-lo, ficou mais aliviada.

Ísis - Leo, és tu… Que susto!

Os Goblins espreitavam, por de trás da jovem, para verem o rapaz.

Ísis - O que é que fazes aqui?

Perguntou logo a seguir, um pouco admirada ao ver o seu amigo ali.

Leonardo - Estava farto de estar em casa. Não havia nada pra fazer! A não ser que fosse ver novelas com a minha avó… Que interessante não é?

Perguntou com alguma ironia e Ísis riu-se pelo comentário.

Ísis - Sinceramente? Até consigo imaginar-te sentado no sofá a assistir àqueles dramas todos!

Respondeu de um modo brincalhão, o qual já era costume usar com Leonardo.

Leonardo - Oh sim… Tal e qual!

O jovem deu uma breve gargalhada… Que na verdade era sinal de nervosismo… Leonardo estava ali por uma razão, se bem que não sabia como chegar ao que queria.

Leonardo - E foi aí que me lembrei… Quando liguei-te disseste que vinhas até aqui pra passar algum tempo com os Goblins!

Ao dizer o nome deles, Leonardo avançou naturalmente para se aproximar da amiga… No entanto, quando o fez, os Goblins não gostaram e saíram de trás de Ísis pra fazerem frente ao jovem.

Ísis - Calma meninos… Ele não nos vai fazer mal!

Exclamou, de modo a que pudesse acalmá-los. E como sempre, resultou. De seguida voltou a virar-se para Leonardo.

Ísis - Então e preferiste vir até aqui? Podias ter ido com a Melissa e com a Érica investigar qual é a nova ameaça que aí anda… Eu liguei-lhes a avisar que afinal não ia. Preciso de estar com eles, são minha responsabilidade!

Leonardo - Eu sei… Avisei-as logo que hoje não dava mesmo. Nem era pra sair, tenho o quarto por arrumar e ainda demora! Só que precisei mesmo de vir apanhar ar e decidi vir aqui, já que estavas sozinha.

Ísis - Bem, não estou sozinha… Mas eu entendi a intenção! Obrigado!

Agradeceu com um sorriso.

Leonardo - De nada! Então e posso ajudar em alguma coisa? O que estás mesmo a fazer?

Ísis - Vim dar-lhe umas roupas e brincar um pouco com eles… Precisam! Se eu pudesse levava-os para casa!

Ísis olhava para os Goblins com uma expressão carinhosa, que era igualmente correspondida pelos cinco. Leonardo achava aquilo estranho, mas tinha de se manter focado… Lembrou-se, novamente, que estava ali por uma razão, tinha um objectivo…

Leonardo - Pois, eles até parecem queridos quando estão contigo! Continuo a achá-los parecidos com duendes, ou elfos

Ísis - É uma questão de hábito! Se analisares bem as três espécies, irás notar muitas diferenças entre elas!

Um dos Goblins olhava para Leonardo com alguma curiosidade, não era vulgar estar ali mais alguém… Os outros continuavam distraídos enquanto Ísis passava-lhes a mão pela cabeça.

Leonardo - Mesmo assim, têm muitas semelhanças… Por exemplo, tanto os duendes como os elfos possuem Magia! Têm a certeza que os Goblins não têm?

Ísis - Esse é um dos pontos mais curiosos… Há quem diga que sim mas também há quem afirme que não! De qualquer dos modos é inofensiva. E até agora, estes não mostraram possuir tal dom!

Leonardo - Talvez tenham… E ainda não decidiram usar!

Exclama pensativo.

Ísis - Seja como for, adoro-os à mesma! De algum modo fazem-me sentir mais responsável… Parece que tenho um papel ainda mais portante no grupo!

Admitiu a jovem, a sorrir para os Goblins.

Leonardo - Nota-se! Ficas muito feliz quando estás com eles!

Afirmou Leonardo, de um modo simpático mas um pouco distante… Ia aproveitar aquele momento para alcançar o seu objectivo.

Leonardo - Por falar em Magia, tens o Grimório que encontraste contigo?

Perguntou disfarçadamente.

Ísis - Por acaso não… Porquê?

Ísis sentiu alguma curiosidade.

Leonardo - Nunca mais soubemos nada acerca desse livro! Até tenho uma certa curiosidade em descobrir mais acerca dele!

Tentou disfarçar…

Ísis - Também eu… Só sei que deve ter pertencido a alguém muito poderoso! Todo aquele tipo de Magia… Acho que ensina todo o tipo de feitiços! É incrível…

Ísis ainda conseguia ficar admirada quando pensava no Grimório… Realmente era um manual muito bem construído e até ao momento presente, já tinha sido muito útil à jovem.

Leonardo - Ainda não consegui debruçar-me muito sob o Grimório! E tive a pensar… Será que podias emprestar-mo? Gostava de o poder ler!

Leonardo aproveitou para perguntar o que tanto queria. Há algum tempo que pensava em ler aquele livro… Talvez existisse algum feitiço que pudesse responder às muitas questões que possuía. Ísis, ao ouvir o pedido, sentiu-se desconfortável… Nunca negava nada a ninguém, mas desta vez, tinha de o fazer. Não emprestava o Grimório, pois nada sabia acerca deste.

Ísis - Não é por mal, mas não acho boa ideia Leo… Não quero emprestá-lo sem termos mais informação. Desculpa!

Leonardo pareceu ter ficado desanimado e Ísis reparou.

Ísis - Numa próxima vez que estivermos juntos e eu tenha o Grimório comigo, deixo-te dar uma vista de olhos! Que dizes?

Perguntou a jovem bruxa, numa tentativa de animar aquele momento constrangedor.

Leonardo - Mas não confias em mim? Tens medo que te estrague o livro?

Leonardo tinha mesmo ficado desiludido e Ísis não estava a contar com aquilo. Devagar, levantou-se e encarou o rapaz. Os Goblins voltaram a esconder-se atrás dela.

Ísis - Não é isso, é claro que confio em ti! Apenas não me sinto confortável com o facto de o ter de emprestar… Ok, eu não sei porquê é que sinto isto, tenho de admitir! Mas a vida sempre me ensinou que devemos seguir os nossos instintos primários!

Leonardo - Ok, tu é que sabes… Como já o tens há algum tempo e eu fui o primeiro a saber, pensei que merecia algum mérito!

Mesmo entre linhas, Leonardo estava a colocar alguma pressão em Ísis, para ver se esta cedia…

Ísis - Por favor, não insistas mais Leonardo! A decisão é minha… E além disso, não percebo esse teu interesse súbito pelo Grimório!

Ísis não tinha tendência em ser rígida, mas desta vez teve de se mostrar… Conhecia muito bem Leonardo e sabia que este não desistia tão facilmente. Então, decidiu ser directa para não existirem mal entendidos. Os Goblins, ao verem aquela atitude por parte da jovem, colocaram-se ao lado dela em sua defesa.

Ísis - Calma… Não há problema!

Disse para as criaturas. Leonardo estava a olhar para aquela cena, um pouco incomodado e indisposto.

Leonardo - Não era preciso ficares tão enervada… E podes avisar os teus amigos que eu não te faço mal!

Respondeu com algum rancor.

Ísis - Oh, Leonardo… Não estava enervada! E os Goblins são mesmo assim, eles não iam atacar!

Exclamou com calma… Tentou remediar a situação.

Leonardo - Sim Ísis, eu entendi! Não queres que meta as mãos no teu precioso livrinho!

Ísis ficou boquiaberta… Leonardo estava mesmo chateado.

Ísis - Leo…

Ísis nem conseguiu dizer mais nada, Leonardo já estava a falar por cima.

Leonardo - Sabes o que te digo? Eu não te chateio mais… Se queres ser egoísta e ficar com a informação só para ti, estás à vontade! Quero lá saber… Esperava mais de ti Ísis!

Ísis - Leonardo?

Tentou chamar, mas o jovem já lhe tinha virado as costas e estava a ir embora… Ísis ficou a olhar, espantada… Ela e Leonardo nunca tinham discutido antes e aquele nem parecia o comportamento normal do seu amigo. Sentiu-se triste e teve vontade de ir atrás dele, mas se calhar não era boa ideia… Leonardo parecia estar bastante chateado. Mais tarde tentaria falar com ele. De seguida olhou para os Goblins e estes pareciam estar contentes…

Ísis - Ao menos vocês gostam mesmo de mim e nunca se chateiam…

Admitiu, a sorrir para as criaturas…

*

O ambiente nas grutas secretas de Cila mantinha-se igual… A única diferença, era a enorme tensão em que os seus habitantes se encontravam. Abaddon estava ansioso pela chegada de um novo membro. Lunatik estava sempre em sintonia com o demónio, logo sentia o mesmo que este. Carlota era a única que parecia continuar aborrecida e um pouco impaciente… A ideia de trazer um novo elemento para realizar um trabalho que ela própria poderia executar, não lhe agradava muito.

Carlota - Não achas que esse teu novo amigo não está a demorar um pouco? Há quanto tempo estamos à espera?

Abaddon - TEMOS TEMPO!

Gritou o demónio… A metamorfo calou-se.

Abaddon - Para quem não queria que ele viesse, pareces muito ansiosa!

Respondeu com sarcasmo.

Carlota - Sim… Pode ser que pelo caminho tenha sentido fome! Talvez tenha comido aquele feiticeiro ignorante!

Exclamou com um ar sonhador… Carlota também não gostava de Lezard. Aliás, ultimamente, não gostava de ninguém. Tinha a sensação de estar presa… Nada evoluía.

Abaddon - Não consigo compreender-te! Era suposto gostarmos uns dos outros… Afinal de contas, agimos como uma família!

Exclamou um pouco desapontado. Lunatik abanou a cabeça para concordar com Abaddon.

Carlota - Ai era? No nosso pequeno contracto não estava estipulado nada disso! Eu apenas estou aqui por uma razão… Prometeste destruir a raça humana!

Abaddon - E alguma vez disse que não era esse o meu principal objectivo?

Perguntou a rir-se… Nesse preciso instante dois indivíduos entraram na caverna. Todas as atenções foram viradas para a entrada. Lezard tinha chegado e trazia consigo um homem alto, de cabelos e olhos escuros, feições agressivas e penetrantes, com um ar clássico e aparentava ter meia-idade. Abaddon sorriu com impacto…

Abaddon - Há quanto tempo Giovanni… Bem-vindo!

Giovanni - Abaddon, meu caro! Há quanto tempo…

Respondeu o vampiro com uma voz rouca e profunda e um sorriso obsceno. À volta da sua boca trazia sangue que aparentava ser fresco…

Abaddon - Presumo que o nosso Lezard tenha providenciado uma boa viagem até aqui!

Giovanni - Claro… Aqui o nosso amigo feiticeiro esperou pacientemente enquanto drenei quatro humanos pelo caminho. Aqui em Cila, as pessoas têm um gosto diferente… Há algo mais atraente!

Como sempre, disse aquilo com a maior descontracção que podia… Giovanni era muito feroz, uma verdadeira besta. Um dos criadores de muitos vampiros, venerado por muitos, principalmente pelo seu próprio clã.

Carlota - Óptima ideia! Deixar um rasto de corpos pelo caminho! Deve ser para descobrirem onde estamos!

Exclamou a metamorfo, cheia de ironia. Giovanni fitou-a, com admiração.

Abaddon - Apresento-te um outro elemento, Carlota. Ela é uma metamorfo!

Giovanni sorriu…

Giovanni - Sempre adorei tais criaturas… Tão inteligentes!

Abaddon prosseguiu…

Abaddon - E este é o Lunatik… Um humano convertido por demónios! Uma verdadeira máquina assassina!

Disse o demónio, cheio de orgulho, apontando para Lunatik.

Giovanni - Já ouvi falar… Mas nunca aprofundei. Humanos são desprezíveis!

Abaddon - Concordo plenamente! Estás igual… Os anos não passaram por ti!

Abaddon riu-se face ao que disse… Apeteceu-lhe brincar com o vampiro, que já conhecia há tanto tempo.

Giovanni - Pois, é a vantagem de ser vampiro! Mas tenho a certeza que não me chamaste aqui para discutirmos a minha beleza e a passagem dos anos…

Giovanni voltou a usar o seu tom perverso.

Carlota - Que perspicácia!

Exclamou, de uma forma ofensiva… Era óbvio que estava a gozar com o vampiro. No entanto, o seu comentário foi desprezado.

Abaddon - Também podemos falar sobre a tua beleza… Mas na verdade, tenho de confessar que chamei-te aqui por uma razão! Estou com um problema e não existe ninguém melhor que tu para o resolver!

Carlota revirou os olhos, ainda mais aborrecida, por todo aquele discurso.

Giovanni - Vou ser honesto… Estou curioso por saber o que é assim tão importante, que não o possas fazer tu! Vocês, demónios, dizem ser capazes de tudo…

Abaddon riu-se ao ouvir as palavras de Giovanni.

Abaddon - E somos! Mas infelizmente estou preso neste corpo, com a sua dona…

Giovanni era muito velho… A sua idade era desconhecida. Por caminhar na Terra há tantos anos, era muito sábio… E ao ouvir o que o demónio dissera, fez uma expressão indignada.

Giovanni - Como é que isso é possível?

Abaddon - Ainda não sabemos… Por agora estou focado em outro assunto! Na tarefa que gostava que realizasses…

Giovanni sorriu com alguma malicia… Não gostava de trabalhar para outros, ninguém lhe dava ordens. Afinal de contas, era um vampiro antigo, poderoso, que começou a sua própria linhagem. No entanto, conhecia Abaddon… E era estranho o demónio tê-lo chamado até ali se não fosse algo realmente importante. Sentiu-se bastante curioso…

Giovanni - Abaddon, tu conheces-me… Sabes que não faço nada para ninguém sem ter algo em troca!

Abaddon era muito inteligente… E como era de esperar, estava a contar com aquilo.

Abaddon - Eu sei… Como acabaste de dizer, eu conheço-te!

O vampiro, com a sua habitual classe, sorriu e acenou com a cabeça.

Giovanni - Então? O que tens para mim?

O demónio foi directo. Estava farto de tanto suspense.

Abaddon - Que tal o sangue de uma Night Watcher?

Todos os que estavam presentes na gruta olharam para Abaddon… Giovanni deu um passo em frente, deliciado. Para ele, não havia nada melhor que o sangue de uma Night Watcher, sempre tão fresco e poderoso.

Giovanni - Isso é interessante… Mas tenho a tua palavra?

Abaddon - Sabes que eu não falho… Também me conheces!

Giovanni - Qual é o trabalho que queres que eu faça?

Abaddon - É simples… Quero que raptes a Night Watcher aqui de Cila e podes fazer o que quiseres com ela! Torturá-la, drená-la, consumi-la… À tua escolha!

Giovanni ficou a olhar para o demónio, incrédulo.

Giovanni - É só isso?

Perguntou espantado.

Abaddon - Sim! Mas preciso que faças algo antes de a matares…

Giovanni - Eu sabia que parecia fácil demais!

Abaddon - Tomei conhecimento que há uns meses atrás a humana que está presa a mim, a Vanda, teve uma conversinha com a Night Watcher e os seus ajudantes! E eu preciso de saber o que é que eles falaram…

Carlota interrompeu.

Carlota - Como é que sabes?

Abaddon - Aos poucos estou a conseguir aceder às memórias da humana… É como se nos tivéssemos a fundir num só. Repugnante… Preciso de tirar esta doença de mim!

Vanda, que se encontrava aprisionada no seu próprio corpo, conseguia escutar todas as palavras do demónio… E também ela, aos poucos, conseguia aceder às memórias do mesmo. Ao ouvir o que Abaddon acabara de dizer, a sua tristeza e terror foram acalmados por segundos. Aquela fusão à qual o demónio se referia podia dar-lhe forças para lutar pelo seu corpo…

Giovanni - Basicamente, precisas que eu extraia a conversa que a Night Watcher e essa tal de Vanda tiveram… Certo?

Abaddon - Exactamente! Nem mais, nem menos…

Explicou, com muita serenidade.

Giovanni - Bem, já podias ter dito! Isso não será um problema… Um pouco de tortura e ela cuspirá as palavras! Onde é que eu encontro essa Night Watcher?

O demónio sorriu vitorioso e olhou para o feiticeiro presente na caverna.

Abaddon - Lezard, acho que está na altura de um pouco de Magia… Vamos descobrir onde é que a Night Watcher mora!

O feiticeiro negro aproxima-se…

Lezard - Como desejar! Um feitiço localizador resolverá o problema!

Abaddon - Não é necessário nada?

Lezard - Apenas o nome da pessoa em questão!

Giovanni - Nunca gostei de Magia! Não podem acelerar o processo? Fiquei ansioso!

Carlota riu-se e voltou a intervir.

Carlota - Alguém sabe o nome da Night Watcher?

Lezard - Érica Rodrigues! Tive o prazer de a conhecer…

Disse com um ar diabólico. O demónio olhou aliviado para Lezard.

Abaddon - Adoro a tua eficiência Lezard… Serás retribuído! Mas por agora, mãos à obra! Temos uma Night Watcher para matar…

Ao dizer isto, os seus olhos ficaram negros, invadidos pela escuridão… Então, deu uma gargalhada tão forte e tenebrosa que ecoou por todas as grutas subterrâneas de Cila.


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