Ele vagueava pelas ruas de Cila… Leve como o vento. Não tinha forma própria, mas trazia com ele um sentimento obscuro… Uma raiva gigantesca. E nada melhor que um temporal daqueles para o fazer sair do seu habitat normal e deslocar-se nos seus arredores. Procurava algo… Algo que pudesse enganar e matar… Era tudo o que gostava de fazer. O facto de nunca ter tido vida terrena revoltava-o mais que tudo. Para ele não era justo nunca ter existido uma hipótese… Então odiava todos os que tinham tido.

As ruas estavam desertas e escuras, mas não havia problema… Ele sabia que mais tarde ou mais cedo alguém iria aparecer. Não se preocupava em ser visto, dificilmente com o tempo assim alguém conseguia visualizá-lo… Um género de névoa densa e escura. Podia andar por todo o lado à velocidade que quisesse, o que o fazia sentir-se superior face a outros seres.

Na rua onde estava, apenas existiam habitações, com os respectivos carros dos donos estacionados à porta, alguns canteiros e uma estrada recta com várias saídas que davam a diferentes ruas de Cila. Mesmo não tendo olhos, nem ouvidos, aquele ser conseguia ver e ouvir muito bem… E o que tanto procurava naquele momento, podia finalmente estar a aparecer. Um carro, mais propriamente um táxi, curvara de uma outra rua para aquela onde se situava. Ao perceber que o veículo estava
prestes a parar, o ser decidiu camuflar-se através da sua armadilha perto de um canteiro… A névoa começou a ganhar forma e cor… Uma vez transformado num bebé, apenas restava-lhe esperar…

O táxi parou em frente de uma das casas e um homem com cerca de 30 anos saiu e agradeceu ao condutor. Trazia consigo uma pasta e vinha de fato e gravata… Aparentava ter vindo do trabalho. Quando o carro arrancou, o homem mete a mão num dos bolsos para retirar a chave de casa. Morava numa das vivendas que ali se encontrava. A caminho da sua entrada, teve a sensação de ouvir algo vindo dali de perto e parou…O som de um choro de uma criança… De um bebé. Parecia que vinha do outro lado da estrada, perto dos canteiros que ali havia. Curioso, o homem volta atrás e atravessa a estrada. Ao chegar ao canteiro ficou sem qualquer tipo de reacção perante a cena que se deparava à sua frente. Alguém tinha deixado ali um bebé, sozinho, ao frio… Preocupado, colocou a pasta no chão e tirou o casaco que fazia conjunto do seu fato para embrulhar a criança. Num movimento rápido e inesperado, o braço do bebé transformou-se num género de lâmina e com um único golpe, degolou o homem que aflito, ainda tentou colocar as mãos ao pescoço para se salvar, mas em vão…Enquanto o corpo sem vida caía ao chão, a suposta criança já se tinha transformado outra vez na névoa densa e devagar afastava-se…