Night Watchers - Primeira Temporada escrita por MS Productions


Capítulo 100
A Cega Vingança (Vol.9) - Capítulo 1




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   Sempre que o sol nascia em Cila, eram escutados pela vila vários galos que muitos dos habitantes possuíam nas suas quintas. Estes marcavam o começo de um novo dia e pelo aspecto matinal, dava para perceber que o tempo ia estar magnífico. O calor era sentido bem cedo e uma brisa suave e refrescante corria pelas ruas.

   Para muitos, era uma pena não ser fim-de-semana… Eram obrigados a deslocarem-se até aos seus postos de trabalho, em vez de aproveitarem um bom dia de praia. O que seria o caso de Leonardo Almeida se não fosse pela informação que a sua avó lhe tinha passado. Tudo mudara… Esquecera qualquer uma das suas obrigações e diversões e apenas focou-se no seu plano de vingança. Tanto o jovem, como a falsa Emília Almeida, ficaram a noite toda acordados. Ambos queriam ter a certeza que tudo correria como era suposto.

   Leonardo estava num estado lastimável… O seu cabelo completamente despenteado, os seus olhos vermelhos por ainda não ter dormido e as suas roupas, as mesmas do dia anterior, estavam todas amassadas. Sinais de cansaço estavam espelhados no rapaz, no entanto ele não o sentia. O jovem estava bem acordado, completamente fixado no plano. A sua expressão estava fria, um tanto assustadora. Emília, o Boto disfarçado, parecia estar igual… Também ele não descansara e queria aquele assunto finalizado o mais rápido possível.

Emília (Boto) - O sol já nasceu! O relógio começa a fazer a sua contagem decrescente!

Exclamou, enquanto espreitava a rua por uma das janelas da sala de estar.

Leonardo - Eles vão ter o que merecem! Vou fazê-los implorar pela vida deles!

Leonardo não sentia nada a não ser a sua vontade por vingança.

Emília (Boto) - Tens noção que a partir deste momento a tua verdadeira identidade será revelada? Estás pronto para isso?

Perguntou com toda a calma e com ar de quem estava preocupado. Afinal de contas, o Boto estava a fazer passar-se por avó do rapaz.

Leonardo - Não quero saber! Posso perder tudo… Mas terei a minha vingança!

O jovem estava disposto a ficar sem nada e sem ninguém. Sabia que no final iria a ter finalmente paz e sossego.

Emília (Boto) - Ainda não falámos acerca de uma coisa que parece-me que tens estado e evitar…

Leonardo estava de pé, frente à mesa que estava centrada na sala e olhou para a sua avó.

Emília (Boto) - O que é que vamos fazer com o Hugo, o filho deles?

O jovem desviara o olhar… Ele sabia que Melissa gostava muito de Hugo e não queria prejudicar nenhum dos seus amigos. No entanto, o filho do casal Zodiev não era normal… Leonardo sabia-o.

Leonardo - Simples…

O rapaz queria simplificar tudo ao máximo. Tinha um objectivo e nada o iria parar.

Leonardo - Se ele se meter no meu caminho, acabo com ele! Nem sequer sabemos se ele é humano… Assim é da maneira que resolvemos mais um problema!

Leonardo não queria saber das suas relações de amizade. A sua cega vingança não o deixava ver as coisas com clareza.

Emília (Boto) - Muito bem… A decisão é tua! Estás no teu direito!

Encorajou-o. Leonardo concordou e em seguida olhou para várias folhas e armas que estavam espalhadas em cima da mesa e concentrou-se nelas. Emília, a verdadeira, possuí um arsenal enorme e o jovem tinha acesso a ele.

Emília (Boto) - Vamos recapitular o nosso plano?

Sugeriu, enquanto aproximava-se da mesa.

Leonardo - Tenho de passar a manhã como se nada fosse. Quando as minhas aulas terminarem, à hora de almoço, venho até casa buscar as armas! Atacamos eles depois disso… Invadimos-lhes a casa e nem sequer escutaremos nenhuma palavra do que eles poderão querer dizer! Se alguém aparecer ou se alguém nos vir não paramos! Só quando enfiarmos as nossas adagas nos corações dos demónios é que o assunto fica encerrado!

O jovem já sabia todos os seus passos de trás para frente.

Leonardo - E não vamos falhar!

Exclamou com firmeza. Leonardo nunca estivera tão sério como naquele momento. Só assim é que dava para reparar o treino que o rapaz tinha.

Emília (Boto) - Assim é que gosto de te ouvir falar!

Incentivou ainda mais o jovem para o ódio que ele já sentia. O Boto tinha de se certificar que deixava Leonardo com uma sede insaciável por vingança, só assim é que tudo correria bem… Só assim é que o rapaz teria algo que a criatura jamais possuía… Força para matar os demónios Zodiev.

Emília (Boto) - Porém, devo informar-te da força e da capacidade do casal Zodiev! Nem sequer perguntaste que género de demónios eles eram…

Leonardo continuou focado nas folhas… Em nenhum segundo parecera dar atenção ao que a sua avó estava a dizer.

Emília (Boto) - Tens de ter muita atenção ao poder deles… Frank Zodiev é o demónio Abdel, senhor da escravidão! O próprio nome indica qual é o seu dom, ou maldição, se formos mais precisos. Cristina Zodiev é a Aeshma, o demónio que faz com que os homens enlouqueçam e executem os actos mais cruéis que possam existir! Na minha opinião, ela é bem pior que ele…

O Boto ia a continuar a sua explicação mas Leonardo não o permitiu…

Leonardo - NÃO ME INTERESSA QUE DEMÓNIOS ELES SÃO, VOU MATÁ-LOS AOS DOIS!

Leonardo passou-se da cabeça… Para ele, nada daquilo era relevante.

Emília (Boto) - Eu percebo que estejas ansioso, mas é muito importante que saibas como é que te podes defender deles…

Tentou fazer com que Leonardo percebesse o quanto eles eram fortes.

Leonardo - NÃO QUERO saber… Eles nem terão tempo de reagir!

O rapaz agarrou na adaga que há pouco referira quando recapitularam o plano…

Leonardo - Vão arrepender-se de alguma vez terem existido…

Pela primeira vez, Leonardo sorriu com malicia e raiva… Uma imagem perturbadora para quem quer que conhecesse o jovem. O Boto reparou e ficara bastante satisfeito.

*

   O calor exterior fundia-se com o calor que provinha dos seus corpos… O quarto parecia estar em chamas. Um último suspiro de prazer foi dado por Rodrigo quando este saiu de dentro de Érica. Os lençóis estavam espalhados no chão e ambos suavam como se tivessem acabado de sair de uma sauna. Os dois ficaram virados de barriga para cima e olhavam para o tecto, sorridentes…

Rodrigo - Este devia ser o nosso pequeno-almoço, todos os dias!

Exclamou com um tom sensual e provocativo.

Érica - Tens razão…

Respondeu entre gargalhadas.

Érica - Eu sei que ultimamente ando tão focada no meu trabalho que temos tido pouco tempo para estar juntos! Mas parece que agora as coisas estão a melhorar… Talvez consigamos ter mas tempo para nós!

Explicou ao marido, algo que ele já sabia.

Rodrigo - Não te sintas assim… Todos os minutos contigo são valiosos!

Érica sentiu-se relaxada… Rodrigo era a sua vida. Sem ele, nunca teria chegado onde chegou. Aquele homem era a sua força. Os dois voltaram a beijar-se intensamente…

Rodrigo - E sim, as noticias que me deste foram bastante boas! Lezard morreu e a Ísis está a ficar uma bruxa fantástica! Tudo o que servir para derrubar Abaddon é bem-vindo!

A Night Watcher já tinha actualizado o marido acerca dos recentes acontecimentos.

Érica - O que a Ísis fez foi incrível… Gostava que tivesses visto! Nunca vi tanta energia na minha vida!

Contava, ainda admirada. De repente, um som estranho foi escutado no quarto. Tanto Érica como Rodrigo levantaram-se e ficaram alerta… Os Goblins, um a um, saíam debaixo da cama do casal.

Érica - Sabias que eles estavam aqui?

Perguntou um pouco em choque, mas aliviada.

Rodrigo - Não, eu pensava que eles estavam na sala…

A meio da noite, os Goblins foram para o quarto do casal em busca de um sítio quente para dormirem. Tinham acabado de acordar. Atrapalhada, Érica pegou num lençol e colocou-o à volta do seu corpo nu.

Érica - Goblins? Desculpem ter interrompido o vosso descanso, mas é melhor irem para a sala…

Falou-lhe com muita calma e começou a indicar-lhes o caminho.

Érica - Vamos, devagar…

Incentivava-os. Estes saíram do quarto em fila, completamente ensonados. Logo de seguida, Érica fechou a porta.

Érica - Até correu bem!

Exclamou, admirada consigo mesma.

Rodrigo - Não sei se isto vai resultar…

Deu a sua opinião, enquanto voltavam para a cama.

Érica - É por pouco tempo… Só até a Ísis encontrar um novo lar para eles! Se eles continuarem a portar-se assim vai correr tudo bem!

Ambos deitaram-se e assim que o fizeram, o telefone que existia em cima da mesa-de-cabeceira começou a tocar…

Érica - Mas será que não conseguimos ter um pouco de sossego?

Até a Night Watcher começava a ficar cansada de estar sempre a ser interrompida. Um pouco chateada de estarem a ligar tão cedo, atendeu a chamada.

Érica - ‘Tou? Quem é que está a ligar a estas horas?

Rodrigo riu-se perante a atitude da mulher.

Érica - Ahhh… Sr. Charters!

Disse, um pouco atrapalhada. Era o Sr. Charters do outro lado da linha, um dos membros chefe da Ordem Secreta dos Night Watchers. Nem sequer passara pela cabeça de Érica que pudessem ser eles.

Érica - Desculpe os meus modos, estava a descansar! Como está?

Justificou-se logo em seguida e compôs a sua postura. Rodrigo sorriu disfarçadamente.

Érica - Também está tudo bem por aqui! O Rodrigo ainda está a dormir!

E piscou o olho ao marido.

Érica - Tenho saudades suas, já não o vejo há muito tempo!

...

Érica - Ai é? Então porquê?

Perguntou, bastante curiosa.

Érica - Sim, claro… Está à vontade! Mas está mesmo tudo bem?

E aguardou a resposta, pacientemente.

Érica - Está combinado, não há qualquer problema Sr. Charters…

Érica - Eu conheço o protocolo… Ficarei então a aguardar as suas instruções! Até já!

E desligou a chamada, devagar e com algum suspense.

Rodrigo - O que é que aconteceu? Porque é que estavam a ligar-te da Ordem?

Rodrigo ficara um pouco preocupado. Não era muito vulgar a Ordem estar a ligar… Só o faziam quando acontecia algo muito sério. Eram sempre os Night Watchers que ligavam para lá e não o contrário.

Érica - Não sei… O Sr. Charters vem fazer uma visita a Cila! Disse que precisava de me ver e que o assunto era muito delicado… Não quis falar pelo telefone!

Contou, ainda espantada.

Érica - Não estou com um bom pressentimento Rodrigo! Algo deve ter acontecido… Algo muito grave!

Érica olhou com preocupação para Rodrigo e este retribuiu-lhe o olhar… Toda a emoção e alegria que estavam a sentir, desaparecera em segundos.

*

   Aquele era mais um dia em que o jovem acordava naquela casa fria e sombria… Apesar de não apreciar o seu estilo de vida, o seu lar era sempre o seu lar.

   Hugo Zodiev despertou com os mesmos sonhos que costumava ter todas as outras noites e que guardava em segredo, a morte. O rapaz sonhava sempre com o mesmo cenário… Encontrava-se num local público, perdia completamente o controlo do seu misterioso poder, transformava-se em algo que nem ele próprio conseguia decifrar o que era e começava a chacinar todas as pessoas que se encontravam por perto. Para o jovem, esta era uma imagem de puro terror e sempre que acordava começava logo a distrair-se, de modo a que esquecesse o seu sonho. Era algo a que já estava habituado e que conseguia fazer muito bem. No entanto, exactamente como no dia anterior, a sua manhã estava a ser bem diferente… E a razão disso era Melissa Monserrate. Desde que começara uma relação com a rapariga, tudo parecia ter mudado. Sentia-se alegre e bem-disposto, independentemente de continuar a ser atormentado durante as noites.

   Ao levantar-se, saiu do seu quarto e caminhou até à cozinha… Assim que começou a aproximar-se, ouviu vozes e concluiu que os seus pais já lá estavam, também eles tinham acordado cedo.

Hugo - Bom dia!

Cumprimentou-os ao entrar. Nenhum dos dois respondera ou sequer olhara para ele. Por não ser a primeira vez que faziam isto, o jovem não se preocupou e com todas as calmas começou a fazer uma sandes. Estava bem e isso é que interessava. O silêncio ocupava todo o espaço…

Cristina - Queres manteiga Hugo?

Quebrou o silêncio. Cristina Zodiev passou o pacote ao filho, sem este ter aceitado. Hugo sorriu… Os seus pais podiam ser maus, mas no fundo, preocupavam-se com ele. Claro que as suas intenções não eram as melhores, mas era assim que “funcionavam”. Na visão deles, tudo o que faziam era para seu bem. Por muito que o tivessem condenado a uma má infância, o jovem não conseguia deixar de gostar deles… Afinal de contas, eram a sua família.

Hugo - Sabes que eu gosto de manteiga!

Fez uma observação, se bem que em tom de agradecimento.

Cristina - Claro que sei! És meu filho, conheço-te muito bem!

Aeshma chegou perto do filho e deu-lhe um beijo no rosto.

Frank - Só uma pequena correcção… NÓS conhecemo-lo bem!

Frisou Frank, o demónio Abdel.

Frank - E como teu pai, consigo reconhecer que algo está diferente em ti! Andas… feliz!

Hugo ficara atrapalhado… Jamais calculava que se notava o seu estado de espirito assim tão facilmente. Convinha os seus pais não saberem de nada. Estes não gostavam que ele tivesse relações com humanos. Por alguma razão nunca tinha frequentado uma escola, como todas as outras crianças e adolescentes normais.

Hugo - Ah? Não! Acham mesmo?

Tentou disfarçar. Frank olhava para ele, a sorrir. Cristina estava boquiaberta, a mostrar o seu espanto.

Cristina - É um rapariga, a causa de toda esta felicidade?

Perguntou, enquanto a sua expressão mudava para algo mais atrevido.

Hugo - O quê? Não!

Respondeu como se fosse o maior disparate do mundo. Mesmo assim, Cristina e Frank viram que ele estava a mentir.

Cristina - Hum, amor jovem, de adolescentes… Não há nada mais intenso! Ainda te lembras Frank?

O marido olhou-a profundamente… Tinham uma longa história de amor, se assim se pudesse chamar.

Frank - Não só lembro, como ainda o sinto!

Hugo ficara a apreciar aquele momento. Por vezes, os seus pais pareciam ser normais.

Hugo - Nunca me contaram a vossa história…

Observou e o clima romântico desparecera

Cristina - Não mudes de assunto, estávamos a falar acerca de ti!

Frank - Sim Hugo, quem é a rapariga? É aquela com quem te apanhámos há algumas semanas atrás?

Referindo-se a Melissa. Frank e Cristina encontraram-no com a jovem, no dia em que o demónio do medo, Agramon, caminhou pelas ruas Cila.

Hugo - Eu não conheço ninguém…

Tentou mentir novamente, mas Frank interrompeu-o…

Frank - Vinte e dois anos passaram e continuas a mentir-nos, como sempre! Devias ser grato por tudo o que fizemos por ti! Dissemos-te para não andares com essa humana e mesmo assim, desobedeces… e mentes!

Atirou-lhe à cara. O jovem deixou cair a sandes com o nervosismo.

Cristina - Frank… Agora não!

Pediu.

Hugo - Desculpem…

Foi tudo o que disse, para não criar problemas. Na verdade, não percebera porque é que o seu pai tivera aquela reacção… Eles nunca o deixaram fazer nada. Não entendia o que é que tinha a agradecer…

Cristina - Não tens de pedir desculpa… Em breve, tudo ficará bem e serás livre de fazer o que quiseres! É para isso que tanto temos lutado!

Explicou-lhe e passou-se a mão no rosto, com suavidade.

Cristina - Agora vai para o teu quarto! Eu e o teu pai temos de tratar de uns assuntos e precisamos ficar a sós!

Pediu com gentileza. A sua mãe era bem mais gentil com ele do que o seu pai. Hugo, de cabeça baixa, fez sinal que tinha entendido a mensagem e saiu da cozinha. Os seus pais fecharam a porta, atrás de si. O jovem ficou desanimado e não entendera o que a sua mãe quis dizer nas últimas palavras. Aborrecido, subiu as escadas para o seu quarto… Ia fazer tempo até à hora de almoço, pra encontrar-se com Melissa. Isso era a única coisa que o ia deixar bem-disposto.


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