Prefácio.

O dia para mim sempre amanhece mais cedo, hoje fui acordada com algo se mexendo na minha cama, na pressa de levantar acabei enrolando os pés nos cobertores e caindo.

–Ótimo modo de começar o dia- resmungo levantando-me e espanando a poeira do pijama.

Levantei as cobertas para ver o que havia me acordado e não foi surpresa constatar, mais uma vez, que Laila a lagartixa de Matt estava solta, coloquei-a em sua gaiola e voltei para o quarto, ou melhor, sótão, a passos leves, porque se a jararaca ruiva acorda antes das 10 horas da manhã eu já posso esperar uma lista imensa de afazeres pro dia seguinte. Liguei o som no andar de baixo e coloquei tudo no lugar, usando o espanador de microfone e a vassoura de parceira de dança, como sempre. Preparei o café da manhã e subi para chamar os garotos, sim eu também sirvo de
despertador.

–Dylan, Matt esta na hora de acordar. – disse batendo na porta –Matt? Vamos garotos o café já esta na mesa! – como não obtive resposta decidi verificar com meus próprios olhos, mas quando abri a porta escutei um “plack” como se algo tivesse arrebentado e no instante seguinte uma chuva de bolas atingiu minha cabeça me levando direto pro chão, mais uma vez. Ainda pude ver quando duas sombras baixinhas passaram por mim correndo... E rindo.

Levantei-me com alguma dificuldade chutei as bolas para dentro do quarto e fechei a porta.

–Rachel o café está na mesa. – disse em frente à porta do quarto.

–Já vou... - disse um pouco sonolenta, mas ainda assim ríspida.

Já estávamos todos na mesa comendo quando Viviam (ou jararaca ruiva se preferir) chegou.

–Mãe, acordou cedo. – disse Rachel com espanto.

–Dylan para de jogar cereal no lustre, por favor – Repreendi o garoto, não me entenda mal, mas limpar aquilo é realmente difícil.

–Bom eu tenho grandes novidades por isso acordei mais cedo. – respondeu Viviam sentando-se na mesa.

–E eu posso saber quais são elas? – perguntou Rachel.

Senti algo viscoso na minha perna.

–Matt sua lagartixa ta na minha perna.

–Eu pego – disse ele de boca cheia enfiando-se embaixo da mesa, o que causou um grande tremor na mesma.

–Eu consegui uma vaga para você na academia de artes em LA! Querida você vai estudar música e vai poder realizar o sonho da mamãe... Quer dizer... Er... O seu sonho. – Seguiu sem se importar com o filho que corria atrás da lagartixa.

–Mas mamãe, isso não é possível – disse Rachel.

–Como não é possível Rachel?

–Mãe me escuta uma única vez, não é isso que eu quero...

–Escuta aqui Rachel, essa é a sua chance de brilhar, de ficar famosas de conhecer pessoas ricas e interessantes...

–Ta... Tudo bem – interrompeu Rachel que já conhecia de cor aquele discurso – eu vou, mas como eu vou ficar lá? Quer dizer... É uma espécie de internato agente dorme lá,só voltamos pra casa no final de semana, quem vai lavar minhas roupas? E o dormitório? E a comida?

Suspiro revirando os olhos, Rachel nunca fez nada do tipo, não sei como elas fariam se eu não existisse, bom pelo menos ela vai embora e eu não vou ter de aturar suas crises existenciais...

–É exatamente pro isso, que Annabeth vai com você.

–O QUE? –Gritamos Rachel e eu ao mesmo tempo.

– Você só pode estar brincando- disse Rachel apavorada. – mamãe isso é loucura, o que essa...- ela olhou pra mim como se tentasse decifrar de que raça eu sou- o que isso faria numa escola de artes? Varrer o auditório?

Não posso negar que as palavras dela me machucaram, mas com o tempo eu aprendi a não demonstrar afinal eu estou presa com essa família até que eu atinja a maioridade e possa finalmente pegar a minha parte na herança e me mandar pra bem longe dali.

– Querida escute, desde a morte de Frederick que nossa família esta na mídia, nos jornais, na TV... Já imaginou o que diriam se eu te colocasse na melhor escola de artes de toda a LA e deixasse minha enteada órfã em uma escola qualquer?

–Então isso tudo é só pra manter as aparências da família feliz?- perguntei sem conseguir me conter.

–Sim, e eu acho bom que isso fique apenas entre nós – disse num falso tom gentil.

–Quando começam as aulas? – perguntei irritada.

–Amanhã! Arrume suas coisas.

–Com licença- pedi depois de assentir.

Subi para o meu quarto|sótão peguei o violão e descarreguei todo o turbilhão de emoções que sentia em uma canção.