- Não se lembra de nada?

 Ele perguntou enquanto lhe estendia a mão, paciente.

- Não. Apenas do meu nome, o resto...

 A menina parecia confusa, olhando para a mão dele e logo depois o olhando. Aquilo era um convite?

- Está aqui há muito tempo? – ele prosseguiu com as perguntas.

- A mais tempo do que sequer posso imaginar – ela lhe respondeu, friamente – Está mesmo determinado a me levar?

- E porque não?

 O sorriso do garoto a fez pensar e após ponderar muito, a garota saiu de cima da pedra, molhando seus pés com a agua gélida do lago, que ia até seus joelhos.

- Está frio – ela reclamou baixinho.

 Ele riu.

- Mas é claro que está, não tem sol aqui. 

- Nunca teve.

- Como sabe?

 Ele pegou a mão da menina gentilmente e começou a conduzi-la para a margem, mergulhado no pensamento de como o lago era raso.

- Não sei – ela dava de ombros – Na verdade, apenas sinto que sei. É complicado.

- Não tem problema, vou te tirar daqui e então você poderá ver o sol.

- Ele é bonito? – ela perguntava com certa curiosidade.

- Não se lembra também?

 O menino parecia curioso sobre tal fato, voltando a encarar a face pálida e sem vida da menina, que se recusava a sorrir. Mas ele sabia que conhecia aquele rosto, em algum lugar, em seus sonhos de criança, eles já haviam se encontrado.

- Não. Acho que nunca vi o sol – ela dizia baixo – Nunca devo ter saído daqui.

- Mas irá sair, ou não me chamo Christian – ele dizia com convicção, ainda sorrindo.

 A garota o encarou, pela primeira vez, olhando em seus olhos amarelos, assim como os cabelos e apertou firmemente a mão dele.

- Christian – ela o chamou.

- Sim?

- Não vai me abandonar não é?

- Se estou aqui, te salvando, porque eu faria isso?

- Não sei, é apenas uma pergunta de quem já foi abandonada antes.

- Se lembra de algo? – ele perguntava com esperança.

- Não. Apenas sinto, somente. Não sei de nada.

- Venha, ainda temos um caminho grande a seguir.

 Ele respirou fundo, vendo o que lhe aguardava ao chegar a margem do lago e se voltou para a menina, ainda com aquele insistente sorriso.

- Porque sorri? – ela perguntava, curiosa.

- Não posso? – ele perguntava de volta.

 Silencio. Ela sorri, pela primeira vez, tímida.

- Vamos recuperar os fragmentos de memoria que você perdeu Emma. Apenas me siga, e tudo ficará bem.

 Essas foram as ultimas palavras do garoto até ele se virar e encarar a pequena estradinha de pedra.