Meu Bê escrita por ARTEMIZ


Capítulo 2
Laço Azul




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    Mamãe continuou insistindo para que eu contasse para ela o que tinha acontecido. Mas eu era tão orgulhosa que eu não conseguia botar isso para fora.
    Quando acordei de manhã, o chaveiro pequeno e amarelo em cima da minha mesinha de cabeceira parecia que me encarava, e por mais que eu virasse pro outro lado para esperar passar um pouco da preguiça para eu levantar, ele ainda fazia eu me sentir pior.

- Desça do carro Mari, vamos lá. – minha mãe disse.
    Eu estava segurando o banco. Eu não queria ir pra aula. Depois do que passei ontem, não sei se teria coragem de olhar para Bernardo de novo.
- Eu não quero ir! – eu disse.
- Já que você não quis me dizer o que aconteceu, vai ter que ir pra sua aula. Vamos Mari, não vai durar muito. – ela disse.
    Fiz carinha de pidona pra ela, tentei de tudo, mas não deu certo. Droga! Entrei na escola e não olhei para lado algum com medo de ver Bernardo. Então Amanda apareceu do nada pulando na minha frente. Soltei um gritinho e caí pra trás. Quando olhei para o lado, Bernardo estava rindo e olhando para mim, e alguns garotos amigos dele o acompanhavam no ato. Olhei para Amanda e ela estava séria. Não consegui conter meu choro, então levantei e saí correndo, e me escondi atrás das salas. Era vergonhoso demais cair na frente de todo mundo, mas nada se compara a cair na frente do menino que você gosta! Como ele deve me achar boba! O sinal bateu e eu ainda não tinha criado coragem para sair de lá.
- Mari? O que está fazendo aí mocinha? – perguntou uma moça.
    Levantei os olhos. Era Roberta, minha professora.
- Me escondendo. – eu disse com voz de choro.
    Ela andou até mim e sentou do meu lado.
- E está se escondendo do quê? – perguntou.
- Das pessoas. Eu caí na frente de todos, e todos estão rindo de mim. Eu não gosto disso. – mais lágrimas vieram aos meus olhos.
    Roberta segurou meu queixo e levantou meu rosto para ficar de frente para o dela.
- Eu já caí tantas vezes na rua, já senti tanta vergonha de tudo! Mas isso acontece, todos caem, e a reação normal é rirem da pessoa que caiu. Você nunca viu alguém cair? – eu concordei com um leve movimento de cabeça. – Então mocinha, você riu dessa pessoa, não riu? – concordei novamente. – Sabe o que você faz quando você cai e quando todos estão rindo de você? Ria deles, ria junto. É o melhor para fazer. – ela sorriu para mim.
    Eu pensei um pouco e então levantei da calçada. Olhei para Roberta.
- Vamos para aula. Não vou ter mais vergonha deles. – eu disse.
    Roberta abriu um sorriso maior ainda, então levantou, segurou minha mão e me acompanhou. Quando entrei na sala, todos ficaram quietos e me olharam, ao invés de abaixar a cabeça, resolvi sorrir e não ter vergonha. E então fui sentar atrás de Amanda.
- Tá tudo bem? – perguntou Amanda.
- Tá sim. – eu disse, e sorri.
    Então Amanda sorriu também e olhou para frente quando a professora pigarreou.
    Eu ainda estava evitando olhar para os lados, já que Bernardo podia estar me olhando e eu não queria ver ele.
- Então meus anjinhos... Vocês sabem que a escola vai fazer um evento no final do ano, não sabem? Enfim, nossa sala vai fazer um teatro! Não é legal?!
    Eu sorri. Eu adorava fazer teatro na escola. Era muito melhor do que qualquer coisa que fazíamos em educação física.
- Quando eu receber os papéis da peça, vou ver quem vai ser quem . Agora, quem vai querer participar? – a professora perguntou.
    Levantei a mão, Amanda também. Susana, Bernardo e mais quatro pessoas levantaram a mão também. Olhei para Bernardo e então ele olhou para mim. Senti minhas bochechas corando, mas não consegui desviar o olhar.
- Mari, já pode abaixar a mão. – disse Amanda.
    Então abaixei, sem graça.
- Ele estava olhando para mim. – eu disse para Amanda.
- Estava? Eu não percebi. – disse Amanda.
    Fiquei quieta, e olhei disfarçadamente para ele de novo e ele estava concentrado fazendo a lição. Ele era tão lindinho! Me dava vontade de apertar ele.

- O que você acha que ele sente por você Mari? – perguntou Amanda.
- Não sei Amanda. Talvez nada. – eu disse.
    Eu desenhava aspirais, corações e estrelas na areia do parque da escola. Eu não estava animada para brincar hoje. De novo.
- Olha, ele olha pra você de vez em quanto, mas veio falar comigo. Por quê? Ele não olha pra mim, olha pra você. – ela disse.
    Amanda sustentou seu braço em seu joelho e olhou bem pensativa para algum lugar.
 - Mandy, ele não sente nada por mim. Eu sou uma boba para ele. E ele nunca vai sentir nada por mim. E não é ele me olhar que vai mudar isso. – eu disse.
    Eu prometi para mim mesma não pensar mais que ele tem sentimentos por mim só porque ele me olha às vezes. Isso é totalmente bobo.
    Tirei meu laço do cabelo e coloquei na bonequinha que eu havia desenhado na areia, então o vento soprou ele para longe. Eu corri busca-lo.
- Bonito laço. Eu gosto de laços. Mas o seu é azul, é diferente. Gostei dele. – disse Bernardo entrando na minha frente.
    Parei de respirar por 3 segundos e então pensei “Não preciso ter vergonha, não preciso ter vergonha” e olhei para ele. Ele sorriu para mim. Inevitavelmente sorri para ele também.
- É, eu não gosto de rosa. Azul é minha cor preferida. – eu disse, um pouco baixo demais.
- A minha é vermelho. – ele disse pegando o laço da minha mão e colocando no meu cabelo.
    Meu coração pulava de felicidade. Ele estava falando comigo! E ainda colocou o laço no meu cabelo. Ele era tão fofo! Eu estava sorrindo sem parar. E quando eu ia dizer algo, o sinal bateu. Então ele olhou para mim, sorriu de novo e saiu sem dizer mais nada. Fui para sala com o sorriso no rosto que não se desfazia. Alguém sabe como é isso? A pessoa que você ama falar com você depois de tanto tempo você esperando isso? Agora eu sei.

    Mamãe encostou o carro no meio-fio e eu entrei rápido no carro. Meu sorriso ainda não tinha se desfeito por inteiro. Eu ainda estava explodindo de felicidade por dentro. Rosa olhou para mim e sorriu.
- Viu?! Você parece tão feliz! E nem queria vir para aula hoje, hein. – ela disse.
    Olhei para ela e sorri. Ela tinha razão. E eu nunca esqueceria esse dia, por nada.


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