Circulo De Paixões. escrita por Lorys Black


Capítulo 15
Capítulo 14 - Imensidão Azul


Notas iniciais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM JULHO DE 2023

Músicas do capitulo:
Sia - Unstoppable
New West - Those Eyes



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Posso sentir o martelar descompassado no coração de Reneesme sob os meus joelhos, a respiração dela é completamente irregular.

Ela bateu a mão direita no chão, como sinal de desistência. 

Gargalhei ainda com os joelhos em seu pescoço.

Estamos treinando há um ano, e ainda consigo ser pega de surpresa com algumas atitudes dela.

— Me senti ofendida agora. – apertei um pouco mais os joelhos. – Então você acredita realmente que existirá esse tipo de alternativa quando um sanguessuga te capturar? Reaja. Agora. – ordenei.

Nessie, não consegue falar, ou se mover direito, e me transmite imagens me lembrando que ela não está em perigo neste momento.

Desde o início, quando passei a treiná-la, Nessie, tem uma dificuldade imensa em me enfrentar quando estou na forma humana.

— Desisto. – ela sussurrou com dificuldade. 

Apertei um pouco mais meus joelhos em seu pescoço.

— Desiste? – perguntei irritada. – Então quando um vampiro como o que esteve aqui semana passada tentar arrancar seu pescoço, é isso que fará? Dirá; olha estou cansada e preciso ir embora. Ele é claro vai deixá-la ir, e voltar depois para terminar o serviço.

— Ela disse que desiste, chega Leah, você a está machucando. – Bella andava inquieta do outro lado da fronteira.

De uns tempos para cá, a sanguessuga vem assistir aos treinos de Reneesme. Junto aos demais Cullens. 

Bella decidiu treinar Nessie, após se conscientizar como a garota é teimosa, e aceitar que a filha não desistiria de aprender a lutar, porém, Nessie recusou o treinamento dos pais, por entender que eu não teria medo algum em realizar essa tarefa. E farei como deve ser feito.

— Não se meta. Eu a deixei ficar aqui pois Nessie, pediu. – cuspi as palavras. 

Reneesme, pede calma pelo toque de suas mãos em meu corpo. 

— Estou calma. – tranquilizei a monstrinha. – Você. Foco. – a encarei séria. – Vamos Nessie, pense que a sua distração pode custar algo valioso. Sua falta de concentração pode demonstrar fraqueza. – ela começou a fazer movimentos tentando se soltar.

— Deixe-a ir Leah. – o tom da sonsa é de ameaça. – Tire os joelhos dela Leah, agora. – Bella deu um passo à frente.

Dei um assovio, então Brady, Quill e Embry despontaram na forma Lupina, por entre as árvores.

— Não ouse dar um passo à frente ou ficará sem braços. – prometi. – Olhe para ela, não é uma criança e sim uma mulher, e vai aprender a se defender sozinha. Agora, pare de atrapalhar, cale a sua boca e se acalme, eu jamais a machucaria, sua imbecil. – sibilei.

Edward conteve Bella.

— Nossa filha não corre perigo, acalme-se! – ele tinha um olhar tranquilo.

Voltei a observar o rosto de Nessie. Ela parece sufocada.

Ia levantar e tirar o peso dos meus joelhos de seu pescoço, então uma idéia cruel atravessou meus pensamentos. Resolvi atacar usando algo que tenho certeza, é o ponto fraco dela. 

— Vamos! Sua distração pode custar a vida de quem estiver te protegendo. Seth certamente será o primeiro a se sacrificar, é desistindo que irá protegê-lo? – provoquei.

Nessie, inspirou profundamente e sua respiração que estava irregular normalizou. Os olhos que, alguns segundos antes estavam sem foco, ganharam um brilho furioso. Suas mãos seguraram fortes meus joelhos. Tentei acertar um golpe em seu rosto, mas a agilidade com que ela impediu meus movimentos me surpreendeu. Com uma das mãos ela impulsionou meu corpo para frente e com os pés me arremessou longe.

Antes do meu corpo tocar o chão, seus pés atingiram meu peito, e bati contra uma árvore. Nessie, parou imponente diante meus olhos.

— Vamos lá “Tia” faça melhor que isso. – ela provocou me chamando com seu dedo indicador.

Sorri com o desafio.

— Corra criança. – saltei e quando senti o chão já estava sobre quatro patas.

Reneesme adentrou a mata como um borrão, a cada treinamento ela fica mais veloz, ágil, e habilidosa. 

Acelerei a corrida e abocanhei seus calcanhares de leve para não machucá-la, porém minha bocarra sentiu o vazio. Ela havia saltado e estava em minhas costas.

— Boa menina. Quer um osso? – seu tom era sarcástico e vitorioso.

Porém com um movimento no corpo a lancei para frente, fazendo-a voar longe. Antes que ela atingisse as árvores, a protegi do impacto com meu próprio corpo, e a girei no ar, permitindo que apenas a poucos centímetros do chão, ela caísse.

Voltei imediatamente à minha forma humana.

— Não curto ossos fedelha, prefiro carne e de primeira se possível. – sorri vitoriosa, e estendi a mão em sua direção. Nessie sorriu enquanto eu a ajudava a ficar em pé novamente. 

— Anotado. – ela limpava as roupas – Hoje quase consegui te vencer, se não fosse minha petulância em achar que a vitória estava garantida, teria sido uma bela conquista. – sua expressão é orgulhosa.

Sorri com a verdade nas palavras dela.

— Você jamais saberá Pirralha. Agora por favor, pegue minha mochila, estou nua, e não quero essa imagem sendo reproduzida nas mentes de vários lobos. – Nessie sorriu debochada.

Nossa convivência a fez adquirir alguns hábitos meus. O sorriso debochado, o revirar de olhos, o dar de ombros.

— Eu vou com uma condição “Tia”. – revirei os olhos. – Por favor, não brigue mais com a minha Mãe, eu sei o quanto vocês tiveram problemas no passado, e não me meto nesses assuntos. Tenho consciência quanto ela é super protetora, mas a entendo. Sempre existe alguém tentando me matar, ou sequestrar. – ela me encarou com um olhar tristonho, e um tom de voz irônico.

Uma grande chantagista.

— Nessie eu não prometo nada, sem ter a certeza que vou conseguir cumprir. E estou nua, fazer esse tipo de promessa fica ainda mais difícil. Então sem chantagens, pegue minhas roupas, por favor. – pedi educadamente.

Ela passou por mim como um borrão. E retornou rapidamente com a mochila em mãos. Enquanto colocava minhas roupas notei Nessie, caminhar ansiosa de um lado para o outro.

Parei diante dela e cruzei os braços.

— O que foi Reneesme? – a observei atenta.

Tirei a garrafa de água da mochila, e aguardei ela decidir, se falaria ou não.

Nessie, me encarou com receio. Olhou ao redor, se concentrando para ter certeza que ninguém a ouvia, ou nos observava.

— Você não sente falta de beijar alguém, Leah? – quase engasguei .

Senti minhas bochechas corando, sem saber explicar o motivo.

— E quem disse a você que eu não beijo? – provoquei.

— E você beija, ou deseja ser beijada? – meu coração acelerou, e me senti desconfortável. Não sei ao certo o motivo.

— Nenhuma das duas coisas. Não sinto desejo e não ando beijando ninguém. – admiti derrotada.

— Por qual motivo? – Nessie me encarava curiosa, e após uma rápida análise, concluiu sozinha. – Entendo. – ela pareceu desconfortável por alguns segundos.

— As coisas são um pouco mais complicadas em relação aos meus desejos Nessie. – confessei, ligeiramente confusa sobre como explicar a ela minha situação, e sem a menor disposição para isso.

— Por qual motivo um simples beijo, pode ser tão complicado Leah? – Nessie tinha um olhar ansioso.

— Sinceramente? Não sei. As coisas deveriam ser mais simples, porém e infelizmente, não são. – observei sua expressão impassível. – O que está acontecendo, e por que, essas perguntas?

Antes de me preparar para a resposta…

 – Eu beijei Seth. – ela soltou de uma vez, meu coração disparou, sentei surpresa. – Eu precisava. Fui egoísta, não querendo saber qual a opinião dele ou conversando sobre meus sentimentos, e os dele antes, mas, aquele rosto lindo, o cheiro que me inebria… estavam muito próximos, completamente ao meu alcance para um pensamento racional e adequado ter mais força que o meu desejo em beijá-lo, ele estava ali tão e somente meu… não consegui me controlar como faço diariamente – Nessie estava com os olhos fechados, o coração batia frenético em seu peito.

Sorri sabendo exatamente onde a mente dela está neste exato momento. Ela está revisitando o momento que o beijou. 

Então neste momento, não existe crítica, medos, e qualquer outro assunto que justifique não deixá-la sentir o que está guardado em seu peito, ela já está apavorada o suficiente.

 

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— O que você sentiu? – o sorriso não quer abandonar meus lábios, ver esse sentimento estampado no rosto de alguém é maravilhoso.

— Não sei explicar. – ela disse sorrindo e chorando ao mesmo tempo totalmente emocionada, minha reação foi um reflexo da reação dela, sorri junto as lágrimas molhando meu rosto. – Mas posso mostrar como me senti e me sinto sobre o exato momento em que o beijei. – Nessie, esticou a mão em minha direção, caminhei até ela, e segurei com firmeza.

As imagens e as sensações fizeram meu coração disparar. 

Eram explosões de cores, sentimentos e sensações que ela jamais sentiu. Um misto de coisas absolutas e sem sentido na visão dela, felicidade, plenitude, preenchimento. Sentiu o corpo flutuando, um frio na barriga, seguido da estranha sensação de ter o corpo dominado por milhões de borboletas, ocupando tudo de repente. Nessie sentiu naquele momento que sempre foi metade de algo, e jamais soube dar um nome a esta sensação… até aquele exato momento, onde ela teve a certeza pela primeira que estava inteira, que se encaixou perfeitamente na vida.

— Você entende isso? – Nessie me perguntou, com a voz trêmula.

— Não. Mas já senti, e não tentei entender, só me permiti viver. – confessei fechando os olhos, e deixando a sensação me inundar por alguns instantes.

— Estou com medo Leah. Não quero que Seth, continue me enxergando como a melhor amiga, mas também não quero que ele se sinta obrigado a me amar, só quero que ele me ame, com a mesma intensidade que eu o amo, com a mesma emoção e intensidade, não por conta do imprinting. – sorri com a franqueza dos sentimentos dela. – E eu preciso tanto dele, que não consigo sequer explicar. 

Surpreendentemente, me sinto leve e extremamente feliz em ver esse sentimento nos olhos dela, agradecida por ela ter compartilhado comigo.

— Não sei ao certo como funciona o imprinting Nessie, mas acredito que não seja realmente algo que obrigue Seth a amá-la, não dessa forma. Não no caso de vocês. – tentei tranquilizá-la sem saber ao certo como, já que minha experiência com o imprinting não foi agradável. 

— Seth me enxerga como uma amiga, ele ficou absolutamente sem reação quando o beijei. Parecia congelado. Não sei a quanto tempo eu gosto dele, não consigo me lembrar ao certo. Mas agora que atingi minha idade adulta, tudo parece ter se intensificado, e mesmo sem conseguir dar nomes as minhas sensações, eu sinto que elas estiveram aqui sempre de uma maneira estranha. – o tom de voz dela é urgente e confuso.

Nessie, sentou em uma rocha perto de uma campina na mata fechada, próximo aos penhascos.

— Acalme-se. Você precisa simplesmente dar tempo, entender o que ele está sentindo. – sentei ao lado dela.

— Eu sei, gostaria de não estar assim… Completamente extasiada com a liberdade de assumir o que sinto, sempre estive apaixonada Leah, e sempre guardei isso tão bem guardado. Mas os detalhes foram dominando tudo. – Nessie levantou, caminhando de um lado para o outro. – Minha Mãe, acha que devo ter cautela, avisou-me sobre a força do Imprinting. E eu sei, mas também sei dos detalhes, que amo, e eles não são provocados pela magia, tenho certeza. – sorri com o caos, e com a agitação que um beijo causou nela. É bonito observar, e saber que meu irmão merece isso.

— E quais são os detalhes? – perguntei fascinada com a forma que ela se refere a Seth.

— Seth, jamais mentiu. Sempre me escutou, e nunca disse coisas que eu simplesmente queria ouvir. Mesmo respeitando minha opinião, e muitas vezes discordando delas, esteve ao meu lado. Ele sorri sempre que conquisto algo, sempre que realizo um desejo ou simplesmente tento. Ele não me deixa desistir, quando estou cansada. Enxuga minhas lágrimas quando eu choro, e me faz sentir vergonha simplesmente com um olhar, quando eu erro e tento culpar outras pessoas. Eu amo o sorriso falso dele, quando está desconfortável demais com alguma situação, amo o tom de voz calmo, e carinhoso como ele pronuncia meu nome quando estou nervosa. Ele acha que são as palavras ditas que me acalmam, mas Leah, jamais disse a verdade. – Nessie sentou novamente, levou as mãos ao peito, como se pudesse tocar o próprio coração. – O que me acalma, é simplesmente o tom de voz dele, e como amo o som do meu nome dito por ele, Leah. Foi assim que admiti para mim, que estava apaixonada, quando percebi que poderia passar horas, dias ouvindo ele simplesmente dizer o meu nome.

— Faça sua mãe entender, assim como acabou de fazer comigo. – caminhei até ela e a abracei.

— Tenho medo de magoar Seth,  e pressioná-lo a sentir algo que ele não nutri por mim, Leah. Receio me declarar e correr o risco dessa atitude fazer com que a magia o cegue, e ele fique comigo não por me amar e sim acreditar que é o certo a fazer, algo que eu precise, não ele. – Nessie me encarou preocupada.

— Não acredito que um sentimento potente como esse, vá ferir os sentimentos dele, Nessie. – passei a mão em seus cabelos tentando tranquilizá-la.

— Eu o amo demais, e magoá-lo pode ferir mortalmente meu coração. – os olhos claros dela encheram de lágrimas. – Beijá-lo foi como colocar a minha vida em outras mãos, nas mãos certas pela primeira vez. Tudo à minha volta desapareceu em segundos.

— Diga a ele exatamente o que sente, da forma mais sincera. – senti meu peito ser inundado por saudade.

— Todos à minha volta estão dizendo como devo agir, quanto devo esperar. – Nessie, está claramente irritada. – Leah, você acredita realmente que alguém pode julgar, se tenho ou não maturidade para amar? Quando tecnicamente, tenho a mesma idade de quase todos ali, já que estão congelados no tempo. Não acho justo ter que ser cautelosa, por esse motivo.

— Ninguém deve julgar o que o outro sente na verdade. E quando envolve você, menos ainda. Nunca vimos ninguém remotamente parecido. – ela sorriu sem humor. – Quanto a ser cautelosa… neste momento é o certo a fazer. Você vem sendo até aqui, certo? – ela assentiu contrariada. – Faça por você, por Seth. 

Nessie me abraçou forte.

— Quando Seth teve o imprinting, passei noites inteiras, me perguntando qual o propósito daquilo tudo. Ele um Lobo, com o destino entrelaçado a filha de um vampiro. Ficava desesperada imaginando como seria, e perguntando aos céus porque ele?– confessei sincera. – Hoje Reneesme, eu entendo exatamente o propósito.

— E qual é o propósito, Leah? – ela me perguntou emocionada.

— Seth merece alguém que o ame desta maneira Nessie, nessa intensidade, com toda essa entrega. E você merece meu irmão. – ela me abraçou novamente. – Alguém me disse certa vez, que se a pessoa está escrita no seu destino, ela será sua, não importa o caminho que trilhou para chegar ali. Essa magia entre vocês, foi o caminho para este momento, e se você não estivesse escrita no caminho dele, provavelmente Seth, jamais seria amado nessa intensidade, com tamanha devoção! – apertei o corpo dela em meus braços.

— Obrigada Leah. Eu não sabia o quanto precisava ouvir isso, até você me falar! Obrigada.

Vendo Nessie, declarando seu amor por Seth, tenho certeza o quanto ele será feliz. Ela lutará por ele, aja o que houver, nunca o deixará. Seth jamais terá seu coração partido por um amor não correspondido como eu tive.

Respirei fundo,  barrando as lembranças que ameaçaram sair do fundo da minha mente, onde as coloco em segurança.

— Seus pais já sabem sobre o beijo? Qual a reação deles? – perguntei com um leve receio de Seth, correr algum risco.

— Sim eles sabem, é claro. Não me importei muito com a reação deles, minha única preocupação neste momento é com Seth. – ela explicou calmamente.

Sorri satisfeita.

— Justo. Tudo vai se encaixar como deve ser. – levantei e estendi a mão para ela.

— Leah, você sabe como lidar com essa ansiedade constante? – ela me olhou constrangida.

 – Ansiedade? – a encarei confusa. 

— Após beijar Seth, sinto uma necessidade de fazer isto a todo momento. Dizer a ele que não desejo mais beijar ninguém, enquanto eu viver. – ela tenta conter as palavras. – Como lidar com esse sentimento. Você já teve essa sensação?

Respirei fundo.

— Sim, eu senti tudo o que você acabou de descrever, o que acabei de ver. A diferença é que Seth sentiu também. Tenho certeza. Mesmo se ele não estiver entendendo ao certo como lidar com isso, Nessie. Eu senti tudo sozinha, e por isso, lidar com o que houve foi muito difícil, você terá Seth te ajudando, mesmo antes dele entender a grandeza do que você sente por ele, ele é seu amigo, não a deixará sozinha. Fique tranquila, vai dar tudo certo, você saberá lidar com tudo, da forma que já vem fazendo, tendo paciência e amor. – Nessie assentiu,  o olhar indecifrável. – Agora preciso ir ou vou ficar atrasada. Vamos. – tentei esconder a dor que essas palavras me trazem, sem saber ao certo se consegui.

— Como sabe que sentiu sozinha? – Nessie, me encarou séria.

Suspirei tentando encontrar as palavras.

— Estou aqui sozinha, certo? – prendi a respiração, tentando conter o desconforto que o assunto me causa.

Nessie apenas assentiu.

Coloquei minha mochila nas costas e partimos em direção à clareira. Estranhamente ela permaneceu em silêncio durante todo caminho.

Jasper a aguardava na linha do tratado.

— Estão inteiras. Estou aliviado. – ele fez piada.

— Ah sim, mas foi por pouco, quase arranquei o braço dela, contudo me lembrei que ela não pode colar partes retiradas como vocês. – provoquei. – Uma pena, ela não é um lego gelado.

Jasper gargalhou.

— Certamente não. E por este motivo, a ideia de retirar partes do corpo vivo dela, não seria agradável para ninguém. Carlisle, é um vampiro, não um santo milagreiro. – tentei conter o sorriso, falhei. Droga.

— Bem, a encomenda está entregue. – dei um beijo na testa de Nessie. – Agora preciso ir trabalhar. Até amanhã Pirralha. 

Antes de iniciar a corrida, Nessie me chamou.

— Leah, espere. – ela se aproximou, e segurou minhas mãos.

— Algo errado? – perguntei curiosa.

Nessie invadiu meus pensamentos.

“Eu acredito em todas as palavras que me disse esta tarde, tenha fé nelas também, por esse motivo eu sei… Jacob está escrito no seu destino Leah, e ninguém te explicou como seria difícil chegar até o exato local que você deve estar, nem te avisou o quanto seria doloroso, mas acredito que está no caminho, não no final ”— ela soltou minhas mãos, e foi minha vez de ficar sem palavras.

Nessie partiu ao lado de Jasper. 

Fiquei alguns segundos ali, sem saber ao certo como processar as palavras dela. Conter esses pensamentos sem transformá-los em expectativa, ou uma crença que pode me impedir de seguir adiante, é muito difícil!

— Chega disso por hoje. – iniciei minha corrida. Não quero e não vou deixar a tristeza me dominar novamente. 

 Tracei meu caminho diário até a praia, para relaxar como faço há um ano. E como vem acontecendo há dias quando caminho pelas areias de La Push, a imagem dele chama minha atenção novamente… o homem sentado sobre uma prancha em alto mar. Fico sentada na areia durante uns quarenta minutos, observando ele.

Seus movimentos são involuntários causados apenas pelas ondas. Ele permanece ali, observando a vastidão do azul diante seus olhos, sentado na prancha com as pernas no mar.

Não sei o motivo, mas a imagem simplesmente me relaxa por completo. Talvez seja por me identificar com a postura dele, sempre gostei de observar o mar em meus momentos de dor, ou angústia. Ou simplesmente para ordenar meus pensamentos.

Acredito que ver alguém fazer isso de uma forma tão natural, me faz entender, e me identificar com uma pessoa a qual jamais troquei nenhuma palavra sequer. E tenho medo de conversar com ele e essa imagem se dissolver, claro que não é algo que faria, ir até ele conversar… e por este motivo, resolvi dar a este homem uma história, que obviamente nos conecta. 

Ele com certeza está sentindo-se perdido fora do mar, e ali é seu refúgio e nada pode atingi-lo em cima daquela prancha. 

Com certeza é a melhor história para ele.

Sentei-me na pedra onde o observo todos os dias. 

Hoje o mar está agitado, mais que o normal, e as ondas fazem com que ele não permaneça parado, como de costume.

Céus, as águas estão agitadas desta maneira, e ainda sim ele resolveu ficar em alto mar?

Olhei o relógio e está quase na hora de ir para o centro acompanhar a abertura da loja como faço todos os dias.

Mexi no bolso da jaqueta, o crachá de gerente conquistado com um trabalho duro, sempre me deixa feliz pela manhã, não tanto pela noite já que o cansaço me deixa de péssimo humor. Contudo, me sinto orgulhosa de como estou evoluindo, consigo administrar a matilha e a loja, e não enlouqueci até hoje.

Apoiei minha cabeça nos joelhos e fechei meus olhos, tentando imaginar se a vida fosse como eu gostaria há quatro anos atrás… será que eu teria orgulho de mim, como tenho hoje?

Uma sensação péssima me dominou, fazendo um calafrio percorrer todo meu corpo. Abri os olhos em alerta, já escutando o grito de socorro vindo do mar. 

Olhei para o exato local onde o homem nadava urgente sob sua prancha em direção aos gritos desesperados por ajuda. Desloquei meu olhar, encontrando o ponto de onde vinham os gritos. Localizei um barco em alto mar, completamente distante de mim, mas cada vez mais próximo do homem em cima da prancha.

Olhei ao redor, para ver se algum dos meninos estava por ali. Ninguém, todos na mata.

Corri até o forte na praia, o acesso mais rápido da trilha que leva aos penhascos, e neste momento é a forma mais fácil e rápida de alcançar o barco. 

Corri o mais rápido que pude até o primeiro ponto que me dá uma visão privilegiada do que está acontecendo.

O homem na prancha alcançou o barco, onde uma mulher grita desesperada. Corri alguns metros para trás, para pegar impulso e velocidade e chegar até eles com mais velocidade.

— Chegarei tarde hoje no trabalho. – saltei no mar.

Nadei, em velocidade consideravelmente rápida, já que necessito de ar. Submergi e vi que já estava próxima ao barco, onde a desconhecida continuava gritar histérica. Em algumas braçadas alcancei o dique, e subi agilmente. A mulher sequer notou minha presença.

As ondas sacudiam o barco.

— O que houve ? – perguntei a ela, olhando em direção ao mar, sem ver absolutamente ninguém. 

A mulher se assustou, porém estava tão desesperada que não questionou de onde surgi.

— Meu marido caiu na água, ele estava passando mal, um rapaz tentou ajudá-lo, mas agora os dois afundaram. Ajude-me. Por favor. – ela agarrou minha jaqueta, gritando.

— Escute. – falei o mais alto e calma que pude. – Sei que é difícil, mas preciso que você se acalme. Vamos nos ajudar, tudo bem?

Ela assentiu, tremendo, o olhar desesperado.

— Vá à cabine imediatamente e emita um aviso a para a guarda costeira. Vocês tem sinalizadores no barco? – ela assentiu novamente. – Quantos?

— Não sei ao certo, uns oito. – seu tom de voz era de terror completo.

Puxei o colete que estava preso no dique, e vesti nela.

— Você vai utilizar metade do que tem, e a outra metade de acordo com as orientações da guarda costeira, vamos atrair o máximo de atenção possível, após fazer isso, fique na cabine e proteja-se, vou trazer seu marido de volta, mas preciso de você, consegue me ajudar? – meu olhar concentrado e confiante, de alguma forma refletiu no dela.

— Consigo. – ela apertou minhas mãos.

— Agora lembre-se, escute as orientações da guarda e até lá proteja-se, agora vá. – soltei o corpo trêmulo da mulher, e ela caminhou até a cabine alcançando com certa dificuldade. Ouvi algo bater no casco. Antes de saltar novamente no mar, vi a prancha batendo violentamente na lateral do barco.

Mergulhei, nadando rapidamente até o fundo do mar. Ajustei minha visão o melhor que pude, e não havia sinal de nenhum dos dois homens. 

Fechei os olhos. Foquei em todos os sons ao redor, tentando ouvir os batimentos deles.

— Achei. – senti um alívio ao nadar na direção do martelar fraco de dois corações. Nadei o mais rápido que posso, estou ficando sem ar.

A imagem é distorcida, e mesmo assim muito chocante. Um homem mais novo estava com o pé enroscado em um cordão, e um homem mais velho com a mão enrolada neste mesmo cordão, puxando o mais novo para baixo, nesse momento os dois afundam quase sem resistir. 

Alcancei os dois, e circulei cada um dos meus braços, na cintura de cada um deles, colocando-os na lateral do meu corpo, um em cada lado. Nadei na direção do barco.

Emergi com os dois homens inertes em meus braços. Estava quase sem ar. Vi a aproximação de uma lancha da guarda costeira. Havia nela um único homem.

O salva vidas agilmente parou sua lancha ao lado do barco, e puxou um dos homens, enquanto eu subi com o outro.

— Você está bem? – ele perguntou, enquanto checava os sinais do homem mais velho.

— Sim, não se preocupe. – tranquilizei.

— Consegue me ajudar? – ele já realizava manobras de ressuscitação no homem mais velho.

Assenti já fazendo o mesmo no mais novo.

A mulher gritava desesperada, enquanto o salva-vidas, massageava o peito do homem incessantemente. 

Fiz o mesmo com o rapaz que tem tranquilizado minhas manhãs, apenas sentado em uma prancha.

Ele não está respirando.

 – Vamos, respire. – conto mentalmente o número das massagens que realizo em seu peito. – Vamos, respire. – segurei o rosto pálido dele entre minhas mãos, separei seus lábios encostei os meus, soprei uma lufada de ar tentando fazê-lo respirar. – Lute, seja forte, vamos, lute!!– exigi, voltando a massagear seu peito. 

À minha frente vi o homem que ainda tinha a corda do surfista nas mãos, cuspir uma quantidade enorme de água. E mais um barco da guarda se aproximando.

— Vamos, seja forte, estou aqui com você!!! – gritei antes de encaixar nossos lábios novamente. E com toda a força em meus pulmões empurrei o ar tentando fazê-lo respirar.

Senti a pulsação em seu peito, o coloquei de lado rapidamente. Ele começou a tossir compulsivamente, expulsando a água em seu peito.

O salva vidas se aproximou me afastando e tentando atendê-lo melhor.

Fiquei observando aflita. Ele permanece de olhos fechados.

Ajoelhei-me ao lado de seu corpo e segurei suas mãos. O salva vidas colocou algo em suas costas.

— Vamos, abra os olhos, você salvou o homem, foi um herói, não desista agora, lute!!! – apertava sua mão. – Você é corajoso.

Enquanto seguro a mão do rapaz, estou atenta à movimentação dos paramédicos no barco, e dos meninos na margem da reserva atentos enquanto o barco se aproxima. 

Voltei a olhar o homem deitado inerte no chão do barco, e fui surpreendida. Ele estava com os olhos abertos. Fixos em mim.

— Ele abriu os olhos!!! – avisei o médico que o examinava e se preparava para removê-lo dali.

— O senhor pode me ouvir? – a voz preocupada do paramédico,  pareceu não alcançá-lo, mas seu coração parece querer sair do peito.

Estranhamente não consigo desviar meu olhar da imensidão azul nos olhos dele. É a primeira vez que o vejo de frente, pois sempre o observo sentado na prancha de costas para a margem, a uma distância segura, para que continue achando ele inatingível.

Chegamos à margem. Não soltei sua mão nem por um segundo até chegarmos em terra firme.

Quando coloquei meus pés na areia, Paul e Sam estavam ali observando a movimentação. Obviamente eles já esperavam por mim na margem.

Tentei desvencilhar minha mão do estranho porém ele a segurou com firmeza, mesmo estando claramente exausto

— O que houve? – Sam questionou, o tom de voz continha preocupação. Evidentemente ele quer saber se eram sanguessugas tentando entrar novamente na cidade, ou algo causado por eles em alto mar.

— Acalme-se. – sussurrei – Não é nada sobrenatural. E todos vão ficar bem. Como os ajudei, vou acompanhá-los até o hospital. – lembrei algo importante. – Sam, por favor, peça a Seth para ligar no meu trabalho e explicar o que houve. Vou demorar um pouco mais. – ele assentiu aliviado.

Entrei na ambulância e os olhos azuis do desconhecido estavam fechados, porém sua mão continuava segurando firme a minha.

O caminho foi rápido, claro que eu sem me transformar era inúmeras vezes mais veloz, porém, como explicar ao homem em choque, algo deste tipo?!

Entretanto, a ansiedade em saber se ele ficará realmente bem, já está me incomodando.

As duas ambulâncias chegaram juntas ao hospital, e todos fomos levados para realizar exames.

Fui examinada superficialmente já que garanti estar bem, e informar que havia apenas ajudado a socorrer as pessoas no barco. Não quero chamar atenção neste momento para os batimentos acelerados e minha alta temperatura corporal.

Caminhei até a recepção e uma estranha mulher uniformizada, tentava descobrir os nomes dos homens que se afogaram. Informei que não troquei nenhuma palavra com eles por motivos óbvios. Estou sentindo uma vontade imensa de arremessar essa mulher longe, porém, vou apenas ignorar.

Sentei nas cadeiras à espera de notícias, liguei para a loja e o Sr. Toshiro foi um amor como sempre.

Depois de algumas horas uma enfermeira me chamou e informou onde estavam os homens. O mais velho estava em um quarto, ligado a alguns fios, e dormindo. A mulher ao seu lado levantou emocionada ao meu ver ali.

— Você salvou nossas vidas, eu jamais poderei agradecer o que fez por nós hoje. Muito obrigada. – ela me abraçou.

— Não me agradeça, fiz o que é certo e… – a mulher me interrompeu.

— Muitos teriam esperado, a guarda, você foi corajosa, eu estava em pânico, sem conseguir agir, e você simplesmente me salvou também. – novamente, a mulher me abraçou em agradecimento.

Antes que pudesse responder, uma voz interrompeu.

— Licença. – a enfermeira tinha um sorriso simpático nos lábios. – O rapaz que estava no barco, acordou, e está perguntando sobre vocês.

Enquanto caminhamos até o quarto, a esposa do outro homem envolvido no acidente, se apresentou. Seu nome é Vivian, e seu marido chama-se Harold.

Antes de entrar no quarto, fui abordada por uma enfermeira, que me pediu para assinar alguns papéis, da minha alta, já que precisei ser atendida. Quase bufei irritada, quero apenas me certificar que o rapaz está bem.

Assinei os papéis, ouvi algumas orientações, e caminhei novamente para o quarto. Parei na porta, e fiquei observando o homem que há poucas horas nem respirava, se ajeitar na cama com um soro no braço. Senti um alívio imenso em vê-lo bem, a salvo.

Bati antes de entrar.

— Oi. – convivo com os meninos na reserva, os clientes, mais ousados na loja, porém, e estranhamente estou me sentindo extremamente sem jeito, diante este homem. – Você está bem?

Ele abriu um sorriso encantador. Sorri junto.

Fazem alguns anos que esse gesto não acontece.

— Estou, graças a você. Muito obrigado, jamais poderei agradecer o que fez hoje. Tentei ser um herói e acabei sendo mais uma vítima. – ele pareceu envergonhado, e sua voz é quase um sussurro.

— Tudo bem, heróis precisam ser salvos eventualmente. – encostei na parede. – E você salvou a vida daquele homem.

— E você salvou a minha. Obrigado. – os olhos dele são lindos. Há algo indecifrável neles.

A enfermeira entrou antes que ele verbalizasse as palavras que vi se formarem em seus lábios.

A mulher verificava tudo. O soro, a pressão, me senti mal ali.Uma intrusa. Tentei sair de fininho, porém a voz dele me surpreendeu, antes que eu atravessasse a porta.

— Fique. Não vá. Você me faz sentir seguro. – incontrolavelmente meu coração acelerou levemente com aquelas palavras.

— Eu, eu. – gaguejei, e me senti completamente perdida na intensidade com que ele me olha, respirei fundo. – Vou ligar em casa, avisar no meu trabalho que estou bem e já volto. – ele assentiu, seus olhos não desgrudaram dos meus, até eu me virar em direção ao corredor. 

Uma sensação estranha percorreu meu corpo todo.

Sai do quarto em direção ao telefone, estranhamente distraída.

Pensei em ligar para Seth ou minha Mãe, porém, preciso trocar de roupa. Tomar um banho.

Avisei na recepção que ia comer algo, caso o Rapaz perguntasse por mim, sai do hospital e caminhei rapidamente até o outro lado da pista. Adentrei a floresta e corri, á uma distância segura tirei a roupa, e as amarrei em meus tornozelos. Deixei o fogo dominar meu corpo. É tão natural. 

Estou me sentindo estranhamente confortável, a ponto de perceber que estou distraída. As vozes na minha mente parecem sussurros.

Exceto a voz dele, homem de olhos azuis como o céu.

Há algum tempo não escuto nada parecido com o que acabei de ouvir, de um estranho.

Sem perceber cheguei a minha casa, verifiquei se havia alguém por perto, como não havia pulei em meu quarto. Quando senti o chão já era totalmente humana novamente.

A casa está vazia. Corri direto ao telefone, no caminho abandonei minhas roupas no cesto e peguei uma toalha. Liguei para a loja e contei com detalhes ao Sr. Webber, tudo o que aconteceu. Ele me deu o dia de folga. Respirei aliviada, não sabia se o homem tinha alguém para ajudá-lo no hospital.

Tomei banho rapidamente, me arrumei e senti-me estranhamente ansiosa. 

— Só preciso saber que ele está bem, nada mais. – entrei no carro e respirei fundo antes de dar partida, estou tentando me convencer de algo, e não sei exatamente o que!!!

Segui pela estrada de acesso a rodovia, e antes mesmo de alcançar a pista central, um uivo dilacerante irrompeu o céu tranqüilo de La Push.

Conheço muito bem esse uivo. É Brady e seu tom é de alerta para as matilhas.

— Droga. Não se pode ter um dia somente com problemas mortais normais? – olhei minha roupa e meus cabelos limpos no retrovisor. – Adeus arrumação.

Sai do carro e corri em direção a mata, coloquei minhas roupas em uma árvore, rapidamente. Corri e em segundos já estava na minha forma Lupina novamente.

As imagens começaram a inundar minha mente. Trinquei os dentes de irritação e ódio. Não se trata de um problema com invasores tentando entrar em território quileute, ou atrás de Nessie, é muito pior. São os nossos sanguessugas de estimação, mais conhecidos como moradores indesejáveis, causando problemas com a última pessoa que eles deveriam ter qualquer tipo de confusão, que é meu irmão Seth.

Leah se acalme, por favor”.— Embry tentou interceder.

Trinquei os dentes com mais força desta vez.

Céus, isso é alguma brincadeira, de péssimo gosto? — perguntei sem saber ao certo a quem, enquanto sentia cada mínima partícula do meu corpo ferver.

Leah lembre-se, este assunto é delicado, você é a Alfa da matilha e precisa dar o exemplo. – Sam ponderou

Ignorei, mais na tentativa de entender tudo, do que dar exemplos, de algo que não sou. Contudo a voz estridente de Rosálie, gritando com meu irmão, está me deixando tão irritada, que não consigo sequer assimilar as imagens do que acabará de acontecer. Entender toda situação, ou até mesmo acreditar que realmente aconteceu. O tom de sermão e ameaça da Defunta Loira, em direção a Seth, simplesmente não me permite raciocinar. Senti meu corpo explodir novamente, minha pele dilacerar e descolar dos meus ossos, como se estivesse me transformando novamente, me dando a sensação que estou três vezes maior que meu tamanho original.

Ignorei a sensação de poder absoluto, e corri alcançando a clareira no exato ponto, onde Seth, com os braços esticados pedindo calma, tentava ponderar. Ao parar diante a imagem de Rosalie, mostrando as presas ao meu irmão, bati minhas patas no chão e senti a terra ao redor estremecer.

— Leah?!!! – a voz de surpresa de Embry, não tirou meu foco de Rosalie, e uivei o mais alto que pude, ouvindo meu ódio com toda essa situação, ecoar pela mata, rasgando os céus de Forks.

Rosalie, olhou em minha direção espantada, e a postura ameaçadora, deu lugar a uma defensiva.

Seth me olhou por um segundo, sem entender ao certo o que estava havendo, mas focou nos meus olhos.

— A-acalmem-se todos!!! – sem sair do lugar ele olhou em minha  direção focando nos meus olhos, por alguns necessários segundos. – Por favor, Leah… só fique onde está, e respire. Por favor. – a tranquilidade em sua voz, fez meu corpo estremecer, então ele voltou sua atenção para a sanguessuga Loira. – Rósalie.  – ele disse pausadamente. – Nessie e eu nos amamos. – ele continuou calmo.

A loira sorriu diabólica.

— Essa desculpa não vai acalmar Bella, pulguento. – Rosalie, jogou os cabelos para trás.

Maldita sanguessuga nojenta.

Dei um passo à frente, mas antes que pudesse invadir a linha dos Cullens no tratado, Sam se colocou na minha frente, e pela primeira vez tenho a impressão de estar do tamanho dele.

“Leah, espere. Confie em Seth, estamos todos aqui.” — posso sentir a presença de cada lobo de ambas as matilhas.

Dei alguns passos para trás, andando de um lado para o outro, e parando ao lado de Sam.

Graças a essa atitude imbecil do meu irmão, não posso arrancar a cabeça Loira, e sem vida dessa maldita sanguessuga.

Minha vontade neste momento, é dar uma surra em em Seth por essa atitude irresponsável dele. 

“Respire.”— Sam pedia pacientemente.

Assenti, tentando me acalmar e entender de fato, o que causou essa confusão.

Notei que a confusão é geral, entre os membros da minha matilha.

“Sam, por gentileza, esclareça.”— preciso saber o que diabos está havendo, mesmo tendo vaga idéia do que se trata.

“Farei isso, mas preciso que prometa, continuar confiando no seu irmão.— Sam pediu. Trinquei os dentes.

“Não prometo coisa alguma!!! Pare de tentar fazer trocas, se não mostrar o que houve, acabo com essa porcaria de tratado agora, e arranco Seth dali, neste exato momento!!!” — avisei.

Sam trincou os dentes irritado, mas notou que não teria escolha, quando avancei mais um passo à frente. 

Então antes da minha pata tocar o chão em direção a linha do tratado, minha mente foi inundada por milhões de imagens.

Mais cedo, Seth apareceu na casa de Sam, com Reneesme, ambos assustados. Seth, contou a Sam e Emily, que Reneesme confessou seu amor por ele naquela manhã, enquanto eles caminhavam pelas clareiras na floresta. Seth, tentou não confessar seu amor, mas não resistiu, e quando chegaram ao chalé, ele e Nessie se beijaram. 

O sentimento se intensificou de uma forma inesperada e sem controle. Os dois não conseguiram evitar e acabaram se entregando por completo a sensação que os dominou…. em outras palavras, os dois acabaram fazendo amor.

Ambos jamais haviam sentido ou feito nada parecido, e estavam completamente extasiados, acabaram adormecendo, e sendo flagrados por Edward, que ficou furioso, e iniciou uma briga com Seth. Nessie  tentava explicar ao pai o que vem sentindo, na tentativa de acalmá-lo. O que inicialmente surtiu resultado, porém, Bella chegou sem entender o que estava acontecendo. E Reneesme, acreditou que a explicação dada ao pai surtiria o mesmo efeito na Mãe, entretanto quando Bella, descobriu o motivo da confusão ficou fora de controle, e acabou destruindo o chalé, na tentativa de agredir meu irmão. Os dois correram para a reserva, buscando ajuda de Sam. Contudo a teimosia do meu irmão, o levou de volta ao território dos sanguessugas, já que Seth, acreditou ser mais “certo e seguro”, buscar ajuda de Carlisle, para acalmar os ânimos, e não se “esconder” na reserva.

Ignorou os apelos de Sam, e Reneesme, e entrou na mansão dos Cullens. Contudo ao invés de encontrar o Dr. Caninos, se deparou com Rosalie, e agora está aqui sendo ameaçado por ela, diante os meus olhos.

Minha vontade de arrancar o fígado dele, por esta atitude de permanecer em solo onde não posso pisar, só não é maior que o desejo insano de separar cada membro do corpo gelado dessa Loira, que domina cada parte do meu corpo.

Minha fúria deu lugar ao instinto de alerta, dominando meu peito. Podia ouvir a corrida veloz de Reneesme, seguida por Bella, Edward e de outros membros da família, cada segundo mais próxima.

— Seth, corra!!! Minha mãe está fora de controle. – Nessie alertou Seth.

O sorriso no rosto de Rosálie foi diabólico.

— Boa sorte, Pulguento. – ela olhou para Seth com desprezo.

Ágil e muito mais esperta que Seth, Nessie passou para o Nosso lado da fronteira. O lado onde sanguessuga algum colocaria os pés nojentos.

Seth permaneceu tranqüilo esperando por ela. Bella vinha enfurecida.

— Como você ousa tocá-la desta maneira seu cachorro nojento. – A sanguessuga ameaçava ao se aproximar.

— Bella nós pertencemos um ao outro. Confesso, o que houve esta tarde, foi um momento de descontrole nosso. Mas eu caso com ela ou faço o que vocês acharem melhor. – ele ergueu os braços para frente, em um gesto de quem pede calma, assim que Bella entrou em seu campo de visão.

Atitude errada. Muito errada.

Bella, pareceu sequer registrar as palavras do meu irmão. Se aproximando como um fantasma, batendo com as duas mãos em seu peito, com tanta força, que pude ouvir as costelas se partindo. Seth voou metros a frente, batendo contra uma árvore.  Edward tentou segurá-la, porém ela arremessou o marido longe.

Cada partícula do meu corpo ferveu. Um ódio que jamais achei ser possível sentir lambeu cada mínima parte do meu corpo.

Seth, tentou se levantar, cambaleante, pois está na forma humana, onde somos mais vulneráveis.

— Mãe, por favor, pare com isso!!!! Por favor. – Nessie pedia desesperada.

Os uivos em protestos rasgavam os céus.

— Não se metam. – Seth ordenou. A voz trêmula, e falhando.

“Embry segure Nessie, ela está desesperada. – pedi e ele se colocou na frente dela, assim como Quil e Paul.

Seth se levantou e tentou novamente se aproximar.

— Você jamais colocará suas patas nojentas na minha filha novamente. Eu a levarei daqui ainda hoje. – mais uma pancada,  que o arremessou ainda mais longe.

Uivei enfurecida, sentindo o ódio correr em minhas veias.

— Bella, por favor, não faça is…. – meu irmão não conseguiu finalizar a frase, sequer conseguiu se erguer completamente, pois mais uma vez foi atingido no peito, sendo novamente arremessado a metros de distância. A força do impacto que ele atingiu a árvore, foi tão violenta que conseguimos ouvir seus ossos sendo quebrando.

Porém, desta vez, alguém lá em cima me ouviu, e o corpo de Seth, caiu em terras Quileutes. 

“ Collin, Brady. Agora” – ordenei. Em segundos os meninos estavam contendo Seth, que ainda cambaleante tentava se levantar.

Meus pensamentos assassinos reluziam na mente de Edward. Ele chegou a arregalar os olhos, e tentar mais uma vez impedir Bella, de se aproximar do meu irmão, contudo é impossível, ela está completamente fora de controle. A sanguessuga saltou para  tentar alcançar Seth, mais uma vez, porém no instante que os pés dela saíram do chão, saltei junto.

— Não a mate Leah, por favor. – Nessie gritou em desespero.

Abocanhei seu braço antes que ela pudesse bater as mãos frias e nojentas no peito do meu irmão novamente. Fechei a mordida e arranquei o braço fora.

Bella, se desequilibrou e caiu sem jeito, batendo na mesma árvore que há poucos instantes recebia o corpo sem reação do meu irmão. Retribui a gentileza, e antes das minhas patas tocarem o chão estava na forma humana, bati minhas duas mãos com toda minha fúria no peito gélido dela, fazendo-a voar longe e bater em várias árvores à frente, devolvendo seu corpo gélido para o território dos sanguessugas. Um urro de dor saiu de sua garganta, fazendo Nessie se curvar tapando os ouvidos.

— Maldita. – ela gritou. – O que você fez?

— Aqui é um território onde sanguessuga algum coloca os pés frios, ou tenta machucar alguém que corre o risco de não sobreviver. – senti um lençol envolver meu corpo. Peguei o braço que acabara de arrancar da Sanguessuga, e o entreguei a Paul. Caminhei calmamente de volta a linha do tratado, observando a agonia dela, pela falta do próprio braço. – A próxima vez, que um de vocês, ousar colocar as mãos frias e sem vida no meu irmão, eu prometo não arrancar apenas um braço, arranco a cabeça, e coloco fogo no restante que sobrar. Encarava Edward.

— Devolva o braço dela Leah. – Edward pediu irritado. Com os dentes cerrados. Ao tentar se aproximar o alertei.

— Não ouse tentar se aproximar. Ou ficará sem os seus também. – avisei.

— Você está me ameaçando? – ele se aproximou, com os dentes trincados, e um olhar angelical, porém extremamente perigoso.

Fiquei a milímetros de distância.

— Não, jamais faria uma ameaça a você. Estou prometendo. – sussurrei a última frase.

— Chega!!! Edward afaste-se agora. – Carlisle ordenou ao surgir entre as árvores, ladeado por Esme, Alice, e Jasper.

Permaneci no mesmo lugar. Observando os Cullens, Rosalie, não tinha mais a postura ameaçadora e debochada com a qual chegou aqui. Alice, tem uma expressão de lamento nos olhos, assim como Carlisle e Esme.

— Leah, sinto muito. Toda essa situação não deveria ter existido. – Alice disse, enquanto se aproximava.

— Mas aconteceu, e sabemos dos termos do tratado. – Sam parou ao meu lado e olhou em minha direção. – Vista-se. Aguardamos você aqui.

Concordei. Sei o quanto Sam, está contrariado, contudo está ao meu lado.

Caminhei até o espaço em que Embry, fazia vigília ao braço da sanguessuga. Sem dizer uma palavra, ou realizar nenhum movimento, me abaixei encarando os olhos castanhos dele, e em seguida olhei para Brady. Pensava em nuvens, e nos momentos que antecederam minha participação em toda essa confusão de hoje, para tentar não dar a Edward o endereço de onde pode encontrar o braço da esposa. 

Embry prontamente entendeu. Cuidadosamente colocou o braço sem vida da sanguessuga entre os dentes, e adentrou a mata, desaparecendo em segundos.

Pude ouvir quase um rugido vindo de Rosalie, ao ver Embry partir com o braço.

Entrei em meio às árvores, vesti a camisa rapidamente e coloquei o short que estava amarrado no meu tornozelo.

Ao aparecer na clareira todos os Cullens estavam no lado correto da fronteira, respeitando o tratado.

— Veja, que graça, agora eles respeitam o tratado. Irônico. – deferi as palavras sem humor algum.

— Leah, Bella teve um momento de descontrole, não irá se repetir. – Carlisle intercedeu por ela.

— Não vai mesmo!! – afirmei com uma promessa na voz. – Hoje, ela tentou ferir a única pessoa que sempre a defendeu, em toda e qualquer tipo de situação, pessoa que ela viu crescer, que a apoiou quando nenhum sanguessuga ficou aqui para fazer. Seth, esteve ao lado dela, em viagens para todos os cantos do mundo, não só por temer pela vida de Reneesme, mas por se importar com os pais da pessoa que ele ama, por entender que existem lugares onde a natureza do Lobo se faz presente e não existem tratados, ou conversas e respeito. E o que ele ganhou? Ser chamado de nojento, ser ameaçado, e pior… ser machucado. – quase gritei.

O silêncio foi geral!! Até Bella interromper. 

— Eu exagerei? Sim, e não me orgulho disso. Mas não consegui conter meu ódio. Você nunca conseguirá entender, o sentimento de proteção de uma Mãe, com sua filha, você não a colocou no mundo, nunca vai saber como é. – ela provocou. – Reneesme, ainda é uma criança. – seu tom de voz, agora é maternal.

Trinquei os dentes, não com essa provocação quase infantil, mas sim, com o fato dela ainda tentar justificar o que acabou de fazer.

— Não, você não vai justificar o que acabou de fazer. Não vai usar esse tom falso e superior, me dizer o que sei ou deixo de saber. O que serei ou deixarei de ser. Poderia gargalhar com esse discursinho provocativo, que foi inútil, imaturo, infantil e completamente hipócrita, já que estamos diante uma pessoa, que enquanto teve seu coração batendo no peito, engravidou de um ser morto há mais de cem anos. Por isso não ouse vir aqui falar sobre o que é possível ou deixa de ser!!!! – quase rugi.

— Leah, eu não estou tentando justificar nada, ou provocar, estou…. – Bella, tentou falar, a interrompi.

— Nessie, não é uma criança, aliás, tenho sinceras dúvidas se algum dia ela foi. Se foi, aconteceu durante um curto período. Olhe para ela. – apontei na direção onde Nessie estava abraçada a Seth, que permanecia desmaiado. – Ela, diferente de você, que feriu, machucou e usou pessoas… não machucou ninguém amando Seth, que sempre a protegeu mesmo sem ter ideia que estava fazendo. Se nada aconteceu a ela, desde o início foi justamente por Seth ser o seu maior protetor.  Então o mínimo que você pode fazer hoje, é se desculpar, e depois, se ajoelhar e pedir perdão a ele, será o correto!!

— Leah! Por favor, não quero nada disso. – Seth, resmungou com dificuldades, sem entender o que esta acontecendo.

— Claro que não! – soltei entre dentes. – E isso o torna melhor que qualquer um de nós aqui. Contudo, seus desejos e vontades, continuam não justificando o que houve aqui hoje, e bem menos exime a necessidade de ser corrigido e reparado!!! – respirei fundo, tentando controlar a necessidade de me transformar, e arrancar a cabeça infeliz dessa sanguessuga.

Seth desmaiou novamente. Posso ouvir sua respiração acelerada, provavelmente causada pela dor de ter vários ossos partidos.

— Acalme-se Leah, por favor!!! Não vamos mentir, e fingir que essa situação lamentável deixou de existir, e quase acabou com a paz que reinou por décadas entre os nossos. Sabemos o quão exaltada foi a atitude de Bella e pedimos perdão por isso. Seth ama Nessie e todos sabemos. Só peço que esse atrito não siga, para que possa ser reparado, e quem sabe um dia esquecido! – Carlisle ponderou educada, e calmamente.

— Quem sabe um dia… e tudo irá depender unicamente de como vão conduzir essa situação. – cruzei os braços, olhando provocativa.

— Leah, agora por favor, devolva o braço de Bella. – Edward pediu educadamente, com uma voz irritante, que parecia mais uma peça de veludo deslizando em nossos ouvidos.

Ignorei.

— Não! –  fui enfática.

Seth tentou dizer algo novamente, porém, um gemido de dor, escapou por entre seus dentes. Senti meu coração disparar sem controle.

— Paul, por favor, leve-o daqui. – pedi quase indo até ele, e colocando-o em meus braços, para ajudar, e tirar dele a dor que provavelmente está sentindo neste momento.

— Deixe-me ajudá-lo. – Carlisle pediu gentilmente, poderia tentar protestar, porém, além da sinceridade e preocupação com Seth, estampadas em seus olhos serem claramente verdadeiras, neste momento ele é o único que pode ajudar. Assenti sem relutar.

— Levem-no para casa. – orientei Paul.

— Estarei lá em alguns minutos. – Carlisle avisou, antes de Paul desaparecer com Seth mata adentro. 

— Leah. Precisamos decidir o que faremos em relação ao que houve hoje. Temos um tratado, que foi claramente quebrado, porém cabe a você decidir como vamos agir. – Sam, olhava diretamente nos meus olhos. Fui surpreendida com a agradável sensação de me sentir respeitada por ele, após tudo que houve entre nós.

— Queremos apenas manter a paz entre nossas espécies Leah. – desta vez Alice, tentou apaziguar a situação.

— Eu prometo conversar com Bella, e isso não vai se repetir. – Edward, disse enquanto abraçava a esposa, que não teceu uma única palavra. – Bella aprendeu a lição Leah. Devolva o braço dela, e vamos embora, para discutir toda a situação e buscar uma forma de reparar todo o dano causado a Seth.

Senti a inquietude de Nessie, e também da sanguessuga.

— Já pedimos desculpas vira-lata. Agora devolva o braço, para irmos embora daqui. – Rosalie, disse entre dentes.

— Rose!! – Alice chamou atenção da Loira.

— Vou explicar, já que vocês não entenderam. Bella, vai se acalmar hoje, e pensar como poderia ter ferido Seth, com todo este descontrole, pensar em como ele sequer reagiu. Hoje todos vão refletir como Nessie, se sentiu presenciando as pessoas que ama,  ameaçando levá-la para um local desconhecido, tirando dela o direito de escolher onde quer estar, e ainda machucando o amor de sua vida, pois, sim Seth, é o amor da vida dela.

Os protestos foram gerais entre Rosalie, Bella e Edward. Mais uma vez ignorei.

— Leah, acredito, que talvez essa seja uma medida extrema. – Carlisle tentou intervir.

— Mas eu não! Extremo, foi ela se achar no direito de machucar meu irmão. Extremo é ameaçar a quem ela diz amar, por algo que é vontade dela. Hoje a Rainha do descontrole, vai ficar sem o braço para refletir sobre suas ações. Reneesme levará o braço amanhã. – dei as costas caminhando em direção a Nessie, que estava parada a metros de distância próxima a Jared, que fazia uma barreira protetora. A envolvi em um abraço acolhedor. E ela desabou. Chorou sem controle.

— Eu sinto tanto Leah, não queria machucar Seth, não quero nada disso. Eu o amo tanto, e agora ele está ferido por minha causa! – ela envolveu os braços na minha cintura.

— Não se culpe, tudo ficará bem!! – a consolei.

— Filha, me perdoe, por favor! – Bella, implorou. Sua voz tinha esse tom… de súplica. Não olhei em sua direção. Nessie também não.

Caminhamos mata a dentro. Nessie sequer conseguia disparar até Seth. Está claramente abalada. Caminhamos lentamente e em silêncio, por alguns minutos.

— Ele ficará bem! – tentei acalmar o desespero mudo dela.

— Estou com medo. De tudo, que os acontecimentos dessa tarde possam causar, não posso me afastar de Seth, não consigo. Por isso… por favor, Leah, devolva o braço da minha Mãe, por favor! – ela pediu com um olhar triste.

— Eu vou devolver Nessie. Jamais serei a razão do afastamento de vocês dois. Mas, não farei isso hoje. – Nessie formou um protesto em seus lábios, porém antes dele ganhar vida, fomos interrompidas  pelos gritos ecoando na mata… eram de Seth. Por instinto, ambas corremos desesperadamente em direção a eles.

Jared, levou o Dr. Caninos até a minha casa. Antes de chegar já podia ouvir o que aconteceu. Bella quebrou três costelas e a clavícula do meu irmão, e claro que os ossos calcificam rápido demais, e acabaram colando de forma errada.

Em segundos alcançamos a entrada da minha casa. Nessie passou por mim, como um borrão, pois sem a menor permissão meus pés travaram na entrada da casa…

A familiaridade da situação é tão grande, que por um instante me vi na porta dos Black novamente. Não associei no início, mas neste momento, nesses segundos de pensamentos sem controle, a imagem do rosto Dele, preencheu minha mente.

A expressão de dor no rosto de Jacob, após a batalha com os recém criados há tanto tempo atrás, me desconcertou.

Senti minha garganta secar, havia alguns meses que não pensava em Jacob, tão claramente como neste momento. Geralmente barro o pensamento ou a imagem antes dela ficar nítida na minha mente. Mas nem sempre consigo fazer isso.

— O que houve? – a voz de Embry me fez voltar a realidade, ele olhava para a porta como se entendesse minha reação. – Não se culpe desta vez Leah, a situação é outra e você agiu da forma correta, nunca estivemos tão orgulhosos da nossa Alfa.

Não disse absolutamente nada, nem poderia. Apenas assenti. 

Entrei e subi rapidamente as escadas. Carlisle aplicava uma injeção no braço de Seth. Nessie estava segurando a mão inerte dele do outro lado da cama.

— Ele vai dormir algum tempo, como vocês sabem a morfina queima muito rápido no organismo de vocês. – ele falava olhando em minha direção. 

— Ele ficará bem? – Nessie perguntou angustiada.

— Claro. – Carlisle se aproximou e abraçou Nessie. – Seth, deve ficar uns dias descansando, nada de transformações. – Carlisle recomendou. – Agora preciso ir.

— Obrigada, eu te amo. – Nessie abraçou o Dr. Caninos novamente.

— Eu também. Tudo ficará bem, eu prometo. – ele deu um beijo na testa dela. – E Leah, mais uma vez… Nos perdoe, por toda essa situação. Eu garanto a você que Bella, está muito arrependida a esta altura.

Trinquei os dentes. O arrependimento dela não vale de nada neste momento.

— Carlisle ficarei aqui, minha Mãe precisa se acalmar. Amanhã levarei o braço de volta, ou peço a um dos meninos que o faça. – ele apenas assentiu e depositou mais um beijo na testa dela.

O cheiro enjoativo e insuportável de sanguessuga era a única forma de não se sentir segura com a imagem do Dr. Caninos.

Carlisle partiu. E após muita conversa, convenci Nessie de ir tomar um banho. Fiz o mesmo quando ela voltou.

Uma hora depois minha Mãe chegou, e claro, quase infartou quando viu Seth naquele estado. 

Sam, me pediu para não contar a ela o que realmente aconteceu, para preservar a relação da minha Mãe, e Charlie. Ignorei solenemente o pedido dele, e contei em detalhes o que houve, não poupei Bella. Assim que finalizei meu relato, minha Mãe ligou para a mansão dos Cullens, e pela primeira vez acreditei que dona Sue, iria se transformar em Loba. Foi um sermão lindo de presenciar. Bella, pediu perdão e também a permissão de vir até a reserva, pedir perdão a Seth…

Antes mesmo de realizar meu protesto contra esta situação… Minha mãe não permitiu, e ainda pediu para a sanguessuga manter distância, até Seth se recuperar!

….

Passamos o restante da manhã, ansiosas aguardando Seth despertar. Ele está dormindo há horas.

Deixei minha mãe e Nessie, ao lado de Seth, e fui para meu quarto descansar. Pareço ter vivido um ano sem dormir, durante esta manhã. Deitei. 

Respirei fundo e fechei os olhos por poucos segundos, abrindo  imediatamente ao lembrar o motivo que me fez não ir trabalhar esta manhã. No instante exato que esta lembrança me atingiu, a voz na minha porta me sobressaltou;

— Foi à briga de Bella e Seth que a tirou do trabalho? – Minha mãe estava parada com os braços cruzados na porta do quarto.

— Não. – sentei na cama. – O motivo foi um rapaz desconhecido. – a imagem da imensidão azul nos olhos daquele homem, preencheu minha mente. Quero tanto voltar e ver como ele está. 

Me remexi inquieta, afinal disse a ele que ia dar apenas um telefonema e não voltei mais. Levantei num rompante, peguei uma toalha e entrei no banho. Nem sequer registrei meus movimentos, poucos minutos depois estava vestida, pegando as chaves do carro no móvel do meu quarto. Vou voltar ao hospital, e ver como aquele homem está.

Minha Mãe, acompanhou meus movimentos sem entender nada.

No exato momento em que abri a porta do meu carro escutei a voz fraca de Seth. Voltei rapidamente, precisava ver meu irmão com os olhos abertos.

Em segundos estava em seu quarto. Nessie o beijava e se desculpava por tudo.

— Meu amor não se desculpe por nada, você se arrepende de algo? – ele tentava confortá-la, segurando seu rosto entre as mãos. – Eu apanharia novamente, umas mil vezes para viver o nosso momento.

Trinquei os dentes pensando na imagem do corpo dele sendo lançado contra as árvores.

— Não diga besteiras Seth Clearwater. A próxima vez que tentar se deixar abater desta forma, eu mesma arranco sua cabeça. – prometi. Ele riu tentando não sentir dor.

— Isso não vai mais acontecer, Bella ficou brava, teve um momento de fúria, Eu a entendo. Porém sei que não acontecerá novamente. – ele tentava explicar as atitudes da sogrinha.

— Disso eu tenho certeza. – soltei as palavras. Seth me olhava desconfiado.

— O que você fez Leah? – cruzei os braços, ele olhou para Nessie. – O que aconteceu Reneesme? O que Leah, aprontou, diga, pois, o olhar dela está me avisando que aconteceu algo, eu conheço bem você Leah. Diga por favor, o que fez?

— Ela agiu exatamente como eu agiria em seu lugar. Defendeu você, agora descanse. E não se preocupe com nada. – Nessie o beijou, tentando tranquilizá-lo, porém a curiosidade estava estampada em seu rosto. Ignorei.

— Agora você vai ouvir o que jamais fará novamente. – Me aproximei lentamente, o ar de satisfação que segundos antes estampavam meu rosto, com a lembrança de arrancar o braço daquela infeliz, desapareceram rapidamente, fixei meus olhos nos dele. – Você jamais vai deixar qualquer vampiro machucá-lo novamente, seja lá pelo que for Seth, esse tipo de situação não pode acontecer. Hoje você andou em uma linha tênue, entre um tratado de décadas que sela a paz entre nossas espécies, e o fim dele. Eu não conseguirei me controlar vendo você ser machucado, diante dos meus olhos novamente. – respirei fundo tentando não deixar a ira me dominar, com a imagem do meu irmão sendo arremessado nas árvores, sem reagir. – Hoje eu arranquei um braço, da próxima vez será uma cabeça, então não ouse testar o meu autocontrole novamente!!!

Seth assentiu envergonhado, e triste ao mesmo tempo.

— Desculpe, eu só pensava em Nessie. – ele baixou a cabeça.

— Eu entendo a situação de vocês dois, e espero compreensão sobre como eu me sinto, e como agirei caso venha acontecer novamente.

Seth e Nessie assentiram.

Dei um beijo na testa do meu irmão, e saí do quarto antes que ele associe as palavras, braços arrancados, e inicie um sermão!!! 

Resolvi ficar por perto agora. Quero garantir que Seth não sentirá dor!

…..

O almoço foi tranqüilo, Nessie não desceu, pois estava colada ao lado de Seth.

Esperei tudo ficar um pouco mais calmo e decidi ocupar minha mente.

Sai para a minha ronda com uma preocupação incomoda. Precisava saber como estava o desconhecido, se ele realmente estava bem.

No meio da Noite Quill assumiu a ronda e fui para a minha casa.

O incômodo me acompanhou o tempo todo. Droga!

Preciso ter notícias do homem que eu tirei do mar, ou, não conseguirei dormir.

Adentrei novamente na floresta e corri o mais rápido que pude.

Estava com roupas esfarrapadas, porém, preciso ter a certeza de que aquele rapaz está bem!

Entrei pelos fundos do hospital tentando ser o mais ágil possível, não queria chamar atenção.

Ao chegar ao quarto percebi que estava vazio. O nervosismo tomou conta do meu corpo.

— Por favor, onde está o paciente deste quarto? Ele está bem? Precisei me ausentar, e agora não o encontrei!! – a enfermeira observou, me analisando por alguns segundos.

— Não se preocupe, ele teve alta, por volta das nove da noite. Estava bem, e não precisou passar a noite internado. – ela sorriu e voltou a trabalhar.

Um alívio estranho tomou conta do meu corpo. Ainda não sabia definir a razão disso. Senti uma calma familiar invadir meu corpo. A mesma sensação que observá-lo sobre a prancha, me traz. 

 

Voltei para casa, tomei um banho quente e relaxante. Foi um dia extremamente pesado e tenso. 

Deitei, e a imagem da imensidão azul nos olhos daquele desconhecido, inundaram a minha mente. 

Adormeci rapidamente. Uma noite tranquila e sem sonhos.

…………

Acordei antes de todos, após uma noite maravilhosa de sono. Tomei banho e arrumei minha mochila para trabalhar. Desci para tomar meu café, e junto tomei uma decisão… vou entregar pessoalmente, o braço da sanguessuga. 

Avisei minha Mãe, Seth e Reneesme. Todos protestaram, mas pedi calma e confiança no que estou fazendo, para evitar essa situação novamente.

Peguei o braço na casa de Brady e parti para a mansão dos Cullens. Quill, Embry, Brady, Paul e Sam, decidiram ir junto, pois, eles temem algum tipo de retaliação dos Sanguessugas… eu não!

Ao chegar à mansão, Carlisle me recebeu. Preferi não entrar, o odor lá dentro é insuportável.

Rosálie, chegou em seguida a entrada da mansão dos Cullens, e manteve distância, parando uns metros à frente. A expressão incrédula. 

— Você realmente não tem noção do perigo, sua cachorra!!Como ousa pisar aqui depois de ontem? – ela rosnou.

— Rose, chega! – Carlisle, quase saiu do tom habitualmente educado e gentil.

— Não se meta em assuntos que não são da sua conta, Defunta. – sacudi o braço provocando a loira. – Agora vá chamar a dona disto aqui, antes que eu me arrependa de não ter queimado. – Rose, quase rugiu, ao tentar vir em minha direção foi impedida por Carlisle.

— Entre Rosalie. – ele parou entre mim e ela, não movi um centímetro sequer do meu corpo, fiquei ali observando divertida, a ira da sanguessuga. – Bella, está descendo Leah. 

Assenti, já ouvindo os passos em direção a mansão. Segundos depois, Bella surgiu entre as árvores.

Precisei fazer um esforço para não sorrir com a imagem dela. No momento da briga não parei para observar a sanguessuga sem o braço. Contudo, agora que me acalmei, essa visão é divertida, uma espécie de miragem, como de sonhos tornando-se realidade. Um sorriso escapou dos  meus lábios.

— Não me provoque, Leah!!! – Bella rosnou.

— Está certo, não vim aqui para isso. – fiz um esforço ainda maior para arrancar o sorriso do meu rosto. – Vou gravar isso na minha mente. – ela me olhou irritada. – Resolvi trazer pessoalmente o que eu removi, pois, quero ter a oportunidade de deixar algo claro. – dei um passo em sua direção. – Não ouse tocar em Seth novamente, jamais o machuque ou ameace. Ou eu quebro esta droga de tratado e corto a sua cabeça fora, posso não sobreviver para aproveitar esse momento, porém a levarei ao inferno onde é o seu lugar.

— Não me ameace Leah, não farei nada com Seth pois sei bem o que isso causaria a Reneesme, e também por que gosto do seu irmão. Houve um descontrole da minha parte e isso não se repetirá. Agora pare de me ameaçar, não tenho medo de você. Não tive medo de coisas muito piores.

— Não teve medo, pois, sempre teve as costas protegidas pelos Lobos, primeiro por causa do amor de Jacob, depois por causa do amor de Seth por Reneesme, não pense que eu quero causar medo, nunca tentei fazer isso, não faço ameaças Bella, nunca fiz, não vou começar a esta altura da minha vida. Faço promessas e costumo cumpri-las. – arremessei o braço, e Carlisle o pegou sem dificuldades. – Agora vá montar seu braço e se afaste do meu irmão.

— Preciso ver minha filha, pedir desculpas por tudo. Pedir perdão a Seth. – seu tom de voz era desesperado, completamente diferente de segundos antes.

— Verá sua filha, quando ela quiser isso. Não pense que servirei para consertar os estragos provocados por você, não sou como seu marido, não sou sua amiga, resolva sozinha uma forma de organizar a bagunça que fez! – dei as costas e parti. A presença dela me incomoda, pois é impossível não pensar em Jacob quando a vejo.

Adentrei na mata novamente e deixei minha Loba dominar.

Fiz minha ronda com os meninos, que se divertiram com toda a situação, inclusive com a fúria de Rosalie.

Passei em casa para um banho rápido e pegar a mochila que deixei pronta antes de sair. Coloquei um vestido branco e uma jaqueta, já que as temperaturas andam estranhamente agradáveis por aqui.

Antes de sair tranquilizei Nessie, avisando que levei o braço da Mãe, e ela já está bem, também disse que avisei a todos que ela está bem. Gosto da pequena, não quero vê-la sofrer. Ela me agradeceu, e pude sentir seu alívio, e o do meu irmão. 

Porém, mesmo com todas essas informações, minha mãe proibiu Seth, de entrar no território dos Cullens, atitude apoiada por mim.

Me despedi de todos, achando graça em todos os argumentos de Seth, para convencer minha mãe, que tudo já está resolvido.

Ao entrar no carro, percebi que me arrumei demais. Entretanto, estou indo trabalhar, certo? Sempre me arrumo bem para ir trabalhar, inclusive após minha promoção, preciso ser mais atenta a isso. 

Dirigi até o ponto onde costumo deixar o carro todas as manhãs. Caminhei até a praia, no ponto que costumo ficar algum tempo antes de ir trabalhar. 

Percorri todo caminho imaginando se ele estaria lá. Observando a imensidão azul do mar, através da imensidão particular nos próprios olhos.

Tentei recriminar meus próprios pensamentos, a curiosidade e a ansiedade em vê-lo ali.

Parei decepcionada, ao me certificar que o desconhecido, não estava no mar.

Permaneci ali, na esperança que ele aparecesse em algum momento…

O que não aconteceu.

Quero conter essa frustração sem sentido, contudo o receio de não vê-lo novamente, e a preocupação em saber se ele está bem, são maiores.

Durante todo o caminho para Forks, pensei em como seriam as minhas manhãs sem a imagem dele na água, caso ele fique traumatizado com o mar após o acidente de ontem.

O caminho passou mais rápido que o de costume, e cheguei um pouco mais cedo à loja, e como não vim ontem, vou compensar. 

No início eu achava que não conseguiria trabalhar aqui e cuidar da Matilha, porém, não me vejo fazendo nada diferente. Minha rotina é uma loucura, e isso mantém minha mente longe de pensamentos dolorosos. E graças a intensidade, crescimento e mudanças nos meus dias, tenho feito isso muito bem.

Abri a loja de artesanatos e o café que agora ficam ao lado. Organizei tudo como faço todas as manhãs antes das funcionárias chegarem.

Agradecendo o fim das obras ao lado, e rezando para que a agradável Sra. Karen Newton não tenha mais uma de suas idéias brilhantes de reforma e abertura de lojas de Eletrônicos. Ou meu sorriso de tolerância e paciência, iram desaparecer na mesma velocidade que sempre surgem em sua presença irritante.

 

……

O dia está passando rápido, e sem me dar conta já é hora do meu almoço.

Sai da loja para almoçar, e como de costume o cheiro delicioso da comida, no restaurante da praça faz meu estômago protestar, sempre distraindo com a pressa em sentir o sabor daquela deliciosa comida. Essa distração quase sempre me faz cair em pequenas armadilhas desagradáveis, que custam a minha paz diária nesse momento onde só quero me alimentar, e saborear uma boa refeição!

— Boa tarde Leah. – a voz estridente de Karen Newton, afugentou meu bom humor. – Indo almoçar?

Respirei fundo antes de me virar.

— Boa tarde Karen. – virei para fitá-la, e por incrível que pareça ela está com um semblante tranqüilo e aparentemente feliz, o que é uma excelente novidade. –  Estou indo almoçar sim, inclusive estou com pres….. –  como sempre ela não me deixou finalizar a frase.

— Venha, quero  te apresentar meu filho, ele acaba de chegar a cidade, veio de Nova York, para passar uns dias. – em uma velocidade humana surreal, ela entrelaçou seu braço nos meus, e segurou minha mão. Fico imaginando se pudesse usar a minha velocidade e deixá-la ali, sem reação, questionando se realmente eu estive ali. 

— Estou indo almoçar Karen, inclusive estou faminta, mas assim que voltar vou até a sua loja para conhecê-lo. – tentei argumentar educadamente.

— Não, vamos lá e assim almoçamos todos juntos. Mike chegou hoje. – as vezes quando ela ignora totalmente a pessoa com quem alega estar conversando, tenho o desejo incontrolável de arremessá-la, vontade que neste momento só é menor que o terrível pensamento, que não se contendo em infernizar minhas manhãs e tardes, Karen Newton, vai tirar minha paz no horário das minha refeição, com suas opiniões fora de contexto e suas críticas repletas de maldade. Que maravilha.

Se pudesse escolher sinceramente, enfrentaria os recém criados novamente, a ter que almoçar com ela, e seu filho vindo de sei lá onde!

Entramos na loja e ela perguntou do filho a funcionária. Antes da moça responder, já sabia que ele não estava ali, pois neste  momento sinto apenas o aroma na pele de duas pessoas aqui dentro, o de Karen, e da funcionária.

Karen, ficou claramente frustrada, e eu disfarçadamente agradecida. Minha deixa para escapar. 

— Mais tarde volto e conheço seu filho Peter, agora preciso mesmo ir, estou faminta. – tentei me afastar, mas a voz estridente dela, me alcançou antes.

— Não é Peter, é Mike. E ele está bem ali. – Karen apontou, e novamente entrelaçou seu braço esquerdo no meu. – Venha, vamos falar com ele Leah.

Céus ela não me daria paz.

Olhei na direção que ela havia apontado e não vi ninguém.

Tentei fazer uma expressão mostrando um interesse mínimo que eu não tenho.

— Onde meu anjo? – perguntei já não conseguindo disfarçar tão bem minha irritação.

Então ela apontou a direção exata de onde ele estava. E forçou nossa caminhada até o ponto onde apontava.

O sol inundou meus olhos no primeiro instante, me fazendo não enxergar nada alem de uma luz potente, porem, assim que consegui ajustar minha visão, eu o vi.

Senti um frio na barriga e meu coração acelerou sem permissão.

O filho da Sra. Newton estava sentado no banco da praça, olhando a sua frente, de costas para nós. Ele brincava com um cachorrinho, despreocupado.

— Mike. – ela o chamou. Senti minha garganta secar.

Ele estava distraído e não percebeu a nossa aproximação, até pararmos a centímetros dele. Karen ficou diante ele, se inclinou para baixo abraçando-o. Fiquei parada na parte de trás do banco, dessa forma ele permanecia de costas para mim.

— Filho. Estava a sua procura, para almoçar. Você deve estar faminto. – Karen acariciou os cabelos loiros e aparentemente macios do filho.

— Claro. – Ele respondeu com certo desânimo e se levantou, batendo as mãos para tirar os pelos do cachorro que ele estava acariciando segundos antes.

— Venha conhecer a jovem que trabalha na loja do Webber, falei dela para você mais cedo hoje. – ele se virou e quando me viu o choque estampou todo seu rosto. – Mike, essa é Leah Clearwater. Leah, esse é meu filho, Mike Newton, ele acaba de voltar a cidade para passar alguns dias.

Ele ficou paralisado. Seu coração batendo frenético em seu peito, a respiração acelerou consideravelmente, sua expressão indecifrável. Karen pareceu constrangida por um instante.

Estendi a mão.

— Prazer Mike, como vai? – tentei parecer nunca tê-lo visto antes. – Como foi a viagem? Sua Mãe, fala muito sobre você!

A respiração dele melhorou sutilmente. Acho que está tentando ter certeza que já me viu. Será que ele lembra do que houve ontem?

— P-prazer Leah, meu nome é Mike Mike. – ele respirou fundo e tossiu de leve. – quer dizer Mike Newton, minha mãe já disse, mas é bom reforçar, assim você não esquece.

Seu tom de voz é aveludado, suave, e completamente agradável. O casamento perfeito, com a imagem de paz, que ele me transmitia em cima daquela prancha no mar, todas as manhãs.

Ele está visivelmente nervoso, e minha vontade de sorrir com isso é imensa, mas vou tentar não fazer. 

— Obrigada Mike Mike, não vou esquecer. – tentei descontrair para deixá-lo à vontade.

Ele sorriu sincero, relaxando um pouco mais, e involuntariamente me fez sorrir junto.

— Vamos almoçar? – havia me esquecido de Karen Newton. Contudo, finalmente ela teve uma ideia agradável. Mesmo que essa atitude não durasse muitos minutos. 

Caminhamos calados até o restaurante.

Durante o almoço Karen preenchia o silêncio. Contando a Mike, todas as novidades da cidade. Ela não parou de falar nem quando sua boca estava cheia de comida. Irritante.

Mike e eu apenas assentimos. Ela falar sem fazer milhões de perguntas, me dava tempo de pensar. Qual o motivo dele esconder que já está na cidade há vários dias? Por qual motivo não contou a ela, sobre ontem?

Notei que ele mais remexeu a comida do que realmente comeu.

Seu olhar era distante e ele tentava não me encarar. Aproveitei para observá-lo. Mike, parecia muito diferente das descrições de Karen. Até neste momento, se eu não soubesse sobre as visitas dele à praia, ele seria completamente diferente do homem perfeito desenhado por ela.

Finalmente Karen parou de tagarelar.

— Licença, vou ao banheiro. – antes de se afastar, repreendeu o filho. – Mike, coma ou vai esfriar. – ele se endireitou sorrindo.

Karen se levantou para ir ao banheiro, e pela primeira vez durante o almoço, ouvi a voz dele novamente. 

— Obrigado Leah. Por não comentar com minha Mãe, sobre o que houve ontem. – ele encarava diretamente meus olhos, e isso me desconcertou, pois, seu olhar é intenso e indecifrável, e há muito tempo ninguém me olha desta maneira. – Sei que me reconheceu no momento em que nos encontramos. Assim como a reconheci. 

— Jamais faria algo assim! Só você tem o direito de contar, e se não o fez, tem seus motivos! – Mike sorriu, não apenas com os lábios, sorriu com os olhos, intensos, sinceros e aliviados, imediatamente desviei meu olhar. – Eu o procurei no hospital ontem, precisei sair e quando voltei não o encontrei.

— Eu também a procurei, primeiro queria saber se você era real. – ele soltou uma risada parecendo tolo por deixar esse pensamento escapar, fixei meu olhos nele novamente. – Por algumas horas achei que você era uma alucinação, um sonho, e que só existiu para me salvar. – a forma com que cada palavra foi dita, fez meu estômago se remexer inquieto. – Depois a enfermeira disse que eu cheguei com uma moça, e a descrição era parecida com a dos meus sonhos. Então após receber a medicação te procurei, tentei descobrir seu nome, mas não consegui. 

Não consigo desviar meus olhos dos dele. E nem emitir um som, sequer. Isso é irritante, pois é inexplicável a forma que me sinto neste momento, pode parecer besteira, e talvez seja, mas é como se ele me visse, e não apenas olhasse.

 

— Leah… – ele segurou minha mão –... Você salvou a minha vida. E não tenho palavras, ou como explicar como sou grato. Não consigo expressar o que o dia de ontem significou na minha vida!

Meu coração acelerou frenético. E senti que a emoção ia me dominar. Contudo, antes que eu pudesse responder, e confessar que ele já vinha me salvando, pude ouvir os passos de Karen Newton apressados em voltar para a mesa.

Puxei minhas mãos, grudando elas em meus joelhos. Mike ficou desconcertado por alguns segundos, até ver a Mãe e entender o que estava acontecendo. 

— Depois conversamos sobre isso. – ele assentiu demonstrando que havia compreendido  minha postura mais discreta.

Pagamos a conta, após a imensa insistência dos Newton em pagar a minha. 

Caminhamos em silêncio de volta para a loja.

— Obrigada por nos acompanhar no almoço Leah. – Karen me agradeceu em frente a loja dos Newton’s, pensei em retrucar e dizer que fui praticamente arrastada por ela, mas o silêncio é a melhor forma de vê-la partir.

Karen entrou na Newton’s apressada com algo.

— Bom, foi um prazer te conhecer Mike, se cuide. Bem vindo de volta. – precisava me afastar, e entender por qual motivo a presença dele me deixa tão inquieta.  Dei um passo em direção a entrada da loja, e senti a mão dele segurar a minha.

— Eu ouvi sua voz, muito antes de abrir meus olhos Leah, você pedia para eu ser forte, disse que estava lá. Isso me trouxe de volta, jamais alguém me disse para ser forte, só ouço palavras como: Você é forte, você é brilhante. Nunca, seja forte. Obrigado mais uma vez, você é um anjo que salvou a minha vida. – o tom de voz , o olhar em minha direção, fizeram meu coração disparar. – É como se eu tivesse nascido novamente, no dia de ontem. Obrigado!

Fiquei paralisada vendo ele segurar minhas mãos, sentindo o contraste das nossas temperaturas corporais. Não consigo explicar o que está acontecendo comigo neste momento. Talvez seja o fato de não conseguir entender o que a imensidão azul de seus olhos querem dizer, existe um mistério em seu olhar, que se mistura com intensidade e força. E talvez seja isso que mexe comigo.

Tentei dizer algo, mas Mike me deu um sorriso largo e partiu. Antes de entrar na Newton’s, respirou fundo, e se despediu.

— Até breve Leah. – ele entrou na loja, e fiquei alguns segundos parada ali. 

Sacudi a cabeça afastando qualquer tipo de pensamento sobre este tipo de sentimento, não quero nem pensar sobre.

Entrei na loja, que já estava com um movimento melhor.

Trabalhar, trabalhar e trabalhar, esse sempre é o meu lema. E matar vampiros, é minha distração. Mesmo que na realidade seja ao contrário, gosto de pensar que tenho escolha.  

Sorri para o cliente que se aproxima, pronta para o restante do meu dia cheio de trabalho.






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Notas finais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM JULHO DE 2023