Silena segurou o braço de Nico com força, para evita-lo de avançar, mas sabia que se ele quisesse de verdade, não teria trabalho algum em fazer alguma coisa. Ele tinha o dobro de força que ela. Olhou suplicante para ele não fazer nada, mas ele deu de ombros e adquiriu uma expressão fria. Vazia. Como se não ligasse mais para nada.

Soltou-se de Silena e deu meia volta, saindo dali. A menina olhou rapidamente para trás, se certificando que Nico havia mesmo a deixado para trás. Ela fechou os olhos ao escutá-lo socando uma parede.  Mas não foi com raiva. Foi para tentar descontar a decepção que estava no coração e para evitar as lágrimas de caírem.

- Silena? – Ela escutou, ainda de olhos fechados, a voz da amiga. Abriu-o os olhos e encarou Thalia com a mágoa que sentia no coração.

- Não sei por que eu ainda insisto em te procurar, em te levar pro caminho certo e te proteger. Você sempre faz o errado. – Silena não disse mais nada. Apenas deu as costas para a amiga e sentiu-se a acompanhando de perto. Naquele momento, a garota sentiu o que Nico estava sentindo. Não esperava mesmo ver Thalia aos beijos com Luke, aquele que ela sempre julgara um idiota e o garoto mais manipulador do mundo.

Certo que aquela menina ali não era a Thalia. Certo, era o corpo da garota, mas não ela em si. De certa forma complicado, mas era isso.

- Espera, Silena. Dá pra você me escutar?

- Fala, Thalia. Mas fala bem rápido.

- Ele me fez beijá-lo! Eu não queria, sério. Eu não senti nada ao beijá-lo. Eu nem gosto dele. Ele é um idiota e provou isso agora.

- Você não viu um amigo ficar chateado! Você não viu a expressão vazia de um amigo, Thalia. Porque, querendo ao não, ele gosta de você! Ele ama você! Mas vê-la com outro garoto, totalmente diferente dele e de você também não era o melhor, sabia? Desculpe, mas você só faz mal a você e a você! Você acabou de fazer uma pessoa totalmente querida a você se decepcionar terrivelmente. Talvez não fosse sua intenção beijar aquele idiota do Luke. Mas você podia ter tentado se soltar. Mas você fez isso? Você não fez. Eu vi, tá? Eu vi você beijando ele. Você estava gostando! – Silena sacodiu a cabeça e voltou a andar, deixando uma Thalia pasma para trás. Não era muito de seu feitio soltar as verdades a uma pessoa, apenas quando estava cheia. E de fato? Estava cheia daquela situação.

- Quem é o garoto?

- Nico, Thalia! Nico é o garoto. – Silena virou para trás e viu a amiga escorregando até o chão na parede - Você magoou Nico! Antes de dar essa merda na sua cabeça vocês não eram apenas amigos. Vocês namoravam! Estavam juntos. Levou muito tempo para você assumir que o amava. Mas assumiu. Daí do nada você perde a memória. E beija o Luke. É muito para ele, não é? Não só para ele. Para mim, para Annabeth, Katie e para os meninos.

- Nico... Nico mentiu para mim? Ele disse que eu não tinha namorado. Ele disse que era só meu amigo.

- Porque ele não queria que você ficasse chateada consigo mesma por não se lembrar do próprio namorado. Viu? Até ai ele pensou em você. Mas você pensou nele? Pensou nos seus amigos? Não, claro que não. Você só beijou Luke. Eu não sei se ele te agarrou ou se você simplesmente o beijou. Mas isso não foi legal. Não mesmo.

- MAS ELE MENTIU, SILENA! MENTIU!

- Agora vai ficar voltando nesse assunto? Ele teve um motivo nobre.

- Que lindo! Então vai lá e salde o rei Nico, o rei que mente por nobreza. O rei que sempre faz as coisas certas e venha cá e julgue a Thalia. Ela merece, não é? Afinal, como você disse, ela sempre faz as coisas erradas. – Thalia se levantou.

- Aonde vai?

- Falar com o causador de tudo isso, né?

- Nico?

- Luke. – Deu de ombros e sorriu para Silena. Ironicamente, mas aquilo foi um sorriso. De fato ela não acreditava realmente que a amiga havia feito aquilo e falado aquilo. Thalia estava se fazendo de vítima? Ela nunca havia feito aquilo. Ela odiava pessoas que faziam aquilo e, por esse motivo, ela e Silena viviam a brigar. Mas, outra vez, aquela não era a Thalia aquela era uma garota qualquer que respondia pelo nome de Thalia Grace. Mas não era Thalia.

- Então você falou pra ela que era minha namorada? – Nico repetiu em forma de pergunta o que Silena havia acabado de dizer.

- Sim.

- Você bebeu antes de vir para a escola, Silena? – Ele perguntou, já irritado.

- Mas eu achei que seria melhor e...

- E NADA! VOCÊ VIU O QUE FEZ? SE EU NÃO CONTEI, NÃO ESTAVA PREPARADO AINDA!

- NÃO GRITA COMIGO, DI ÂNGELO! SÓ FIZ O QUE ACHAVA MELHOR!

- MELHOR PRA MIM? PRA ELA? OU PRA VOCÊ?

- Pra os três.

- Não, você só pensou em você. Pensou que, talvez, ela iria surtar desse jeito? Não, não pensou! Você acabou com todas as chances de eu falar sem ela ficar qualquer coisa contra mim. Parabéns, Silena. Quer palmas? – Nico bateu palmas e a menina balançou a cabeça. – Pronto. E eu pensando que, ao menos, você tomaria cuidado com as palavras. Pensei errado então, não foi?

- Não fala assim, Nico. Eu só tentei ajudar.

- Ajuda quem não atrapalha.

- Frase feita?

- É necessária.

- PARE NICO! POR FAVOR! PELO AMOR!

- HEY! VOCÊS ESTÃO BRIGANDO? – Ali apareceram Annabeth, Charles e Katie, de olhos arregalados.

- Por que não fala para o seu namoradinho e para as suas amigas o que você fez entre eu e a Thalia, Silena?

- Para de ser cruel, Nico... – Silena disse, com os olhos já marejados.

- Não vai falar? Pois sim, eu falo. Ela abriu a boca e disse para Thalia que éramos namorados e que eu escondi isso dela.

- Bom saber que você escondeu mesmo, di Ângelo. Você além de omitir também mentiu? – Ele não esboçou expressão nenhuma além de fechar os olhos ao escutar a voz de Thalia. Ele sabia que aquele tom expressava apenas uma coisa: Ironia.

- Sim, Thalia. – Ele virou-se para ela, encontrando Luke atrás dela, sorrindo sarcasticamente para o garoto. – Antes do teu maldito acidente, eu costumava ser seu namorado. – Ela olhou com olhos arregalados para ele, notando que ele também “sabia jogar”. De fato, ela não esperava que ele respondesse com tanta convicção assim. – Não que isso seja importante para você agora, não é? Você tem o Luke. E quanto a você, Luke... Faça bom proveito. Eu não costumo me rastejar por resto de lixo. – Disse, olhando para Thalia, mas se dirigindo a Luke. Deu as costas para todos e foi até o seu armário.

Não que ele não estava um caco. Estava sim, mas já se humilhara durante um bom tempo por Thalia. Estava cansado. Agora era hora de seguir em frente. Afinal, em alguns casos, não eram os garotos que eram idiotas. Eram as garotas.