Os quatro correram o mais rápido que conseguiam. Estavam em desvantagem em relação a quantidade, já que tinham a metade do número de pessoas. Por outro lado, suas armas eram mais potentes do que a dos canibais.

Kin estava ficando para trás. Para recuperar esta distância, Régulo se pendurou numa árvore e rapidamente jogou suas pernas, firmando-as no tronco. Ele soltou os braços justamente quando o japônes estava passando. Este segurou nas mãos do espanhol e se soltou do chão. Com toda a força do abdômen, o jovem jogou Kin para frente, servindo como uma espécie de catapulta humana, enquanto eles faziam isso, Ash e Allena atiraram nos caçadores.

Dois deles estavam mortos e três feridos mas eles continuavam a correr atrás dos quatro. Como Allena tinha previsto para os garotos, aqueles homens iam querer muito caçá-los já que os jovens eram musculosos e era exatamente isso que estava acontecendo. Régulo pulou da árvore e os três seguiram Kin que agora estava na frente. As pedras continuavam escorregadias e eles se concentravam para não cair. Os caçadores estavam se aproximando. Ash escorregou e para os canibais não o pegarem, Allena parou e deu tiros certeiros em dois deles. Os homens caíram mortos no chão, com um tiro na cabeça cada um.

Um dos caçadores que tinha sobrevivido aproveitou a oportunidade e atirou uma flecha na perna dela. A garota deu um rugido de dor e voltou a correr. Dessa vez ela estava mais devagar e acabou caindo. Foi o bastante para chamar a atenção dos garotos. Eles se viraram e perceberam que um caçador estava prestes a atirar na cabeça dela, mas Kin atirou nele enquanto os outros dois corriam até a garota e se colocavam a sua frente, protegendo-a.

Restavam três. Ash acertou um, mas foi desarmado por outro caçador. Régulo mirou no peito deste, porém, o caçador se mexeu, sendo atingido no ombro. Kin estava se aproximando. Ash pegava uma outra arma quando Régulo tentou de novo acertar o homem que estava ferido no ombro, mas o caçador desviou. O japonês finalmente os alcançou e depois de desviar de várias flechas, ele atirou na cabeça de um deles. Restavam dois, mas só um estava aparente, o que Régulo tinha acertado sumiu. Os três atiraram ao mesmo tempo no homem que podiam ver e quando este caiu morto, eles procuraram atentos pelo o único que tinha sobrado. Os garotos escutaram um tiro atrás deles. Com as armas prontas, eles se viraram. Porém, o único homem que tinha restado tinha levado um tiro no peito e estava morto. Eles olharam para abaixo. Allena estava caída mas ainda apontava a arma para o último caçador.

A jovem levantou a cabeça e olhou reprendendo-os, dizendo para nunca deixarem de proteger a reta guarda. Eles olharam gratos para ela e Ash ofereceu ajuda para levantá-la. Ela recusou e com muita dificuldade ficou de pé. Eles continuaram a caminhar até chegarem em uma clareira. Resolveram então olhar o mapa.

Os quatro estavam se aproximando do fim da floresta. Eles tinham dois caminhos úteis. Seguir para o Leste e ir para a praia onde os garotos chegaram ou ir para o Norte em busca de onde os gases eram expelidos.

Allena decidiu que eles iriam para o Leste porque eles só chegariam no ponto das explosões em aproximadamente três dias e se seguissem para o Norte, eles teriam que acampar na floresta, o que era muito perigoso. Não que acampar na praia não era, mas pelo menos eles veriam qualquer inimigo com facilidade. O inverso também poderia acontecer, porém, nenhum dos quatro teve coragem de mencionar isso.

Eles chegaram na praia ao anoitecer. Antes da escuridão tomar o lugar, eles montaram a barraca e para evitar um ataque surpresa, os quatro revezariam turnos para proteger o acampamento. O anoitecer até o amanhecer demorava aproximadamente doze horas, portanto, eles decidiram deixar cada turno com o tempo de três horas. Allena foi a primeira, já que ela estava ferida, a garota tinha que descansar mais e pegando esse turno, a jovem poderia dormir a noite inteira. A garota sentou em frente a barraca, acendeu uma lamparina e falou para os três irem dormir. Eles foram. Quando Régulo e Kin já estavam babando no travesseiro, Ash se levantou e saiu da barraca, sentando-se ao lado de Allena.

Surpresa, ela perguntou o porquê ele estava acordado, afinal, o próximo turno era dele. O garoto deu de ombros dizendo que estava sem sono. Ela entortou a boca e balançou a cabeça mostrando que tinha entendido. Os dois ficaram quietos por longos minutos, talvez tenham ficado ali por horas. Não era possível dizer. O breu os confundia.

O inglês olhou para ela e um pouco sem graça a agradeceu por ter salvado-o mais cedo. Se ela não tivesse parado para atirar nos caçadores, ele, provavelmente, estaria morto e ela não estaria machucada. Allena respondeu séria que era uma obrigação dela, afinal, os quatro eram uma equipe e deveriam proteger uns aos outros.

Ash puxou as pernas até ele e apoiou a cabeça nelas, olhando para a areia. A lamparina a iluminava e causava um efeito lindo. Os grãos cinzas brilhavam e os grãos pretos ficavam mais escuros ainda.

O inglês levantou a cabeça, admirado com a beleza daquilo. A garota percebeu a sua movimentação e virou seu rosto para ele, percebendo o que ele estava olhando.

– É lindo, não é? -- Ela disse sorrindo. Era a primeira vez desde que eles tinham se conhecido, que a garota sorria ingenuamente. Ash não percebeu isso, ele apenas afirmou com um breve aceno. O garoto não desviou os olhos da areia. -- A primeira vez que eu vi esse lugar eu achei horrível, mas... Um dia eu vim aqui a noite e... Fiquei maravilhada... -- O garoto concordava com a cabeça. -- Olha isso.

A garota se levantou, pegou a lamparina e esticou seu braço que segurava esta. Em volta dela, todos os grãos cinzas brilharam. Ela sorriu e Ash ficou mais maravilhado ainda. Maravilhado com o momento. Maravilhado com a beleza daquilo. Maravilhado com aquela garota diferente da Allena que ele tinha conhecido. Maravilhado com sorriso dela. Aquele momento tinha algo estranho... Algo... Inocente.

Allena sorriu novamente e se lembrou de quando ela viveu aquilo, mas com outra pessoa. Ela estava no lugar de Ash e no lugar dela estava Darilo. A lembrança do sorriso do cientista a fez cair em si e foi como se ela tivesse colocado a "carapaça" de volta.

Ela abaixou a lamparina e se sentou no mesmo lugar onde estava. Ash disse que aquilo tinha sido lindo. A garota ouviu, mas não respondeu. Eles ficaram em silêncio até o relógio de pulso de Allena tocar, indicando que era hora de trocar de turno. A jovem deu o relógio para o inglês e entrou silenciosa na cabana.