Never Let You Go - Bring me to Life escrita por lovemhatem_
Notas iniciais do capítulo
Perto do fim
- O que você vê, rapaz? - o homem alto e calvo sentado a minha frente perguntou.
- Você, mamãe, papai, sua esposa, a mesa, as cadeiras, a cozinha. Tudo que você vê também - respondi, olhando para a mesa.
- Responda olhando-me nos olhos. - ele exigiu educadamente.
Permaneci em silêncio. Mamãe suspirou.
- Quando começaram as visões? - ele voltou a perguntar.
- Acho que eu consigo ver desde que nasci. - dei os ombros.
- Jesse - papai ralhou.
- Sim? - me fiz de desentendido.
- Comporte-se.
Voltei a olhar para a mesa. O Reverendo Robbie permaneceu em silêncio também. A esposa dele, Carmen, sussurrou algumas coisas sobre observar os meus irmãos. Mamãe já havia falado sobre o incidente de hoje, sobre o medo de Jason, Jonah e Agatha, e da indiferença de Kendra. Sobre as minhas conversas, meus ataques, meus problemas escolares, meus amigos... Enfim, destruiu minha imagem o quanto pôde.
- O que o demônio diz a você?
- Respeite Loui! - deixei escapar, sem querer e um pouco alterado, a primeira informação desde que ele havia chegado. Há duas horas.
- Ele se identifica como Loui? - Carmen perguntou.
Fiquei em silêncio.
- Como é sua aparência? Ele o induz a fazer o mal? - ela voltou a perguntar.
Bocejei.
- Ele já proferiu algum palavrão? - Robbie perguntou.
Cantarolei o refrão de Wish You Were Here, da Avril, que eu havia escutado hoje mais cedo graças à Agatha. Teria que agradecer a ela depois, porque o pastor e sua mulher arfaram ao me ouvir proferir a palavra droga três vezes. Isso era idiotice, quem nunca falou 'droga!' na vida? Talvez eles... Ou talvez não.
Algo gelado tocou minha mão. Tremi e virei-me para o lado. Era Loui.
Ela moveu a boca num: "Fale, por favor".
-Por quê? - sussurrei.
Todos da mesa se remexeram.
Loui apenas repetiu o que havia dito antes e sumiu. Eu poderia não dizer nada, porém ela estava pedindo. Ela estava magoada comigo e provavelmente ficaria mais ainda se eu não atendesse seu pedido.
- Não - murmurei.
- Não o quê? - papai perguntou.
- Ela nunca falou nenhum palavrão. Suas palavras sempre foram doces demais. Eu a vejo desde o dia que cheguei nessa casa. Eu comentei com mamãe, ela poderá os informar disso. Seu nome é Louissean. Ela nunca me induziu a fazer nada errado, pelo contrário. Ela tem os olhos azuis, os cabelos castanhos claros e é um pouco mais baixa que eu. Usa um vestido preto e branco. Disse que mora aqui. Ela sempre me fala coisas bonitas e legais, levanta minha autoestima. E não quero que ela vá embora. Ela é minha única companhia.
- Ótimo. - papai suspirou. - E agora?
- Agora, iremos observar a casa. Depois iremos ver quem já morou aqui antes. E só então poderemos dizer alguma coisa. - Carmen explicou e se levantou da cadeira.
- Mas antes, eu queria conversar com vocês. - Robbie olhou para papai e mamãe e se levantou.
Eles foram juntos até a porta e eu permaneci sentado na cadeira. Tudo iria por água a baixo, eu não devia ter falado nada. Droga, droga, droga!
Mas pelo ao menos, assim que eles saíram, Loui apareceu.
- Lou!
- Obrigada. Desculpa. - ela suspirou.
- Por quê?
- Porque obrigado ou porque desculpa? - sua expressão variou um pouco.
- Os dois - dei os ombros.
- Obrigada por fazer o que pedi, desculpa por eu ter aparecido para seu irmão. Não devia...
- Não, tudo bem - a interrompi. - Mas, porque quis que eu contasse? Agora eles vão querer tirar você daqui. Vão fazer de tudo.
- Vai ser bom... - ela disse aquilo com uma voz tão baixa e uma cara tão triste que eu duvidei de todas as palavras. Teria duvidado de todo jeito, não queria acreditar que seria bom ela ir embora em hipótese alguma. - Eu vou me ver livre e você vai ter sua vida de volta.
- Não quero minha vida de volta. Você é livre.
- Você estava se divertindo hoje mais cedo com seus irmãos, Jesse. Dava para ver. E quanto a eu ser livre... Viver presa por décadas numa casa não é lá uma liberdade assim tão boa.
- Eu estava fingindo... Para mamãe esquecer o assunto de chamar esse Reverendo não sei de quê.
Ela olhou para a sala e depois para mim.
- Você vai se acostumar a viver sem mim.
Ela estava decidida. Eu conhecia o seu tom de decisão.
- Você vai se acostumar a viver sem mim? - olhei em seus olhos.
Ela desviou o olhar novamente e respondeu.
- Já vivi décadas sem você... Não custaria nada ficar o resto da eternidade.
- Não vou deixar - sussurrei.
Ela ficou em silêncio. Ainda olhava para a direção que os adultos haviam ido. Eu já estava me virando para olhar também quando ela falou de repente.
- Não vá ao porão.
- Porque não devo ir ao porão?
- Não vá.
- Se não quer que eu vá, porque está me falando? - perguntei. Mas ela continuava olhando para a sala e para disparadamente e não respondeu.
Eu me virei. E quase me matei ali mesmo de arrependimento. Eu já devia ter imaginado, e Loui sabia perfeitamente daquilo. Esse era o plano. Eu já devia saber que esse Reverendo não sei de quê não iria embora assim tão fácil. E ele realmente não foi. Estava na porta da cozinha, junto com meus pais, sua mulher e Agatha. Agatha? Não sei de onde ela surgiu, mas estava lá.
- Vocês não vão ao porão! - falei alto.
- Você é que vai, Jesse. Vai nos levar até lá - o Reverendo disse, sorrindo.
- Nunca - sibilei.
- Vai, sim. Sem perceber... - a mulher dele continuou.
Olhei para Loui. Ela olhou para mim, porém agora não mantinha mais aquele seu olhar triste de sempre, parecia ter agora um pouco de esperança.
- Porque está feliz? - perguntei alto, não me importando mais com o fato dos outros estarem ali. - Por quê? Você vai ser levada embora daqui, vai embora pra sempre. Eu não vou ter mais com quem conversar, não vou ter mais você comigo. Isso não é justo. E posso estar sendo egoísta em pensar assim, mas é desse jeito que eu vejo você. Como a única pessoa na qual eu realmente posso confiar, a pessoa que eu quero do meu lado sempre, mas do que a todos. Porque está fazendo isso comigo? Eu nunca vou deixar você ir, nunca! - me levantei da cadeira e empurrei os que estavam na porta da cozinha bruscamente.
Eu nunca havia entrado no porão, era um lugar frio e sujo da qual eu sempre havia mantido distancia desde pequeno. Mas eu não deixaria aqueles intrusos levarem a minha Loui embora. Não podia.
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