Baú de Ossos escrita por Julia Valentine


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Passado e novas sensações.


Notas iniciais do capítulo

Não vou enrolar aqui... O capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/187901/chapter/3

5 de agosto de 2011, Seattle – Washington.


Ryan Kemper. Esse garoto era um babaca mesmo. Argh, que raiva. E por que ele não saia da minha cabeça? Isso eu posso lhe responder. Porque coincidentemente nossas aulas desta manhã foram todas juntas. Todas!


Eu me sentia estranha. Muitas vezes me pegava pensando nele. E o pior, olhando para ele!


Com todas as observações que pude fazer, cheguei a um relato pouco digno a ele – como se eu me importasse. Vamos lá, ele devia ter 1,90. Para os meus míseros 1,60 perto dele eu realmente pareço uma tampinha.


Seus cabelos castanhos ficavam armados. E Kemper passava a mão sobre eles a todo o momento – mania esquisita, eu sei.
E seus olhos... Nossa, os olhos. São só olhos! E enxergam – não me diga Vipolly. Argh, como eu odeio meu sobrenome.


– Senhorita Vipolly? – perguntou o surdo do professor que não ouviu enquanto eu falava que odiava meu sobrenome! Ah, mas eu estava discutindo comigo mesma. Enfim, ele interrompeu minha discussão de suprema importância com meu consciente!


– Presente!


– Vipolly, já fizemos a chamada faz tempo. – fez uma cara de desdenho pra mim. Ah, se eu não contei, estamos no meio de uma aula de história. Que alias, eu não estava dando importância. Primeiro dia, quem liga? – Só quero a sua opinião sobre o que eu acabei de falar.


– Ah, claro... – todos olhavam pra mim. Ótimo! – Penso que esse ocorrido foi de extrema importância para a história da humanidade!


– Muito bom saber sobre a sua profunda opinião sobre o holocausto, senhorita.


Ok, ele realmente achava que eu estava prestando atenção?! Agora eu não sabia onde enfiar a cara. Senti minhas bochechas esquentarem. Abaixei meu corpo na carteira e a cabeça foi junto.


A aula acabou e então o sinal veio para o almoço. Estava sem fome então juntei minhas coisas com toda calma do mundo e segui para a sala da próxima aula. Aritmética avançada. Já falei que adoro? Pois é, pode parecer novidade, mas eu realmente me dou bem com números. Coisa de louco mesmo. Sentei-me na carteira do canto, perto das grandes janelas.


Tirei meu caderno de desenho e comecei a rabiscar. Algo estava na minha mente e só deixei fluir. Minha mão tinha vontade própria. Ela comandava o lápis e eu só via o desenho se formar. Quando me dei conta do que estava fazendo, ruborizei. Eram aqueles olhos... de alguém que não saía da minha mente. Ryan Kemper.

– Não sabia que gostava tanto assim de ficar sozinha! – ouvi a voz familiar e como um soco, reagi por instinto e fechei o caderninho muito rapidamente. Ele se assustou com a minha reação e isso só atiçou a curiosidade dele. Tentou pega-lo da minha mão, mas eu não deixei. Ele segurou meu braço e tentou alcançar a mão que segurava os desenhos com o outro. Tentativa frustrada. Arranquei meus braços com força e segurei o caderninho contra o meu peito.


– Por que não me deixa ver? – fez uma voz manhosa. Eu ri.


Ele aproveitou essa brecha e me agarrou fechando os braços em minha volta. E por fim, pegou o caderninho. Correu pra longe feito uma criança.
Quando o abriu, sua reação foi engraçada. Ryan era cômico com expressões faciais. Fez "oohh"s e virava o caderninho em vários ângulos. Aproximei-me e peguei-o novamente.


– Deixa eu ver, vai... – pediu manhoso - Você é muito boa nisso, Polly! – estaquei no chão. "Polly...". A palavra ecoava em minha cabeça provocando um baque ensurdecedor. Esse era o apelido que minha avó usava.


Afastei-me dele e guardei o caderninho na bolsa novamente. Já sentia que poderia me acabar em lágrimas ali mesmo.


– Não. E não me chame assim, por favor... – tentei manter a voz firme.


– Mas você parece com a Polly. Uma bonequinha e ainda é uma tampinha. – ele riu de sua colocação. Enxuguei uma lágrima que caiu travessa antes que ele percebesse. – O que foi? – ele havia notado.
Kemper se aproximou e tocou meu rosto. Afastei-me dele na hora. Já havia caído mais travessas lágrimas.


– Nada, Kemper. – falei sutilmente para que ele não desconfiasse.


– Se você diz, – de repente, ele me abraçou. Esse Ryan devia ser pirado das idéias! Senti seus braços em volta de mim, suas mãos apoiados na minha cintura. Deixei minha cabeça tombar no seu pescoço. Admito que doeu, me sufocou; não os seus braços ali em mim, mas sim toda a lembrança que voltou despedaçando e corroendo.


Meus braços envoltos na cintura dele. Respirei fundo. E com uma lufada de ar veio o perfume... Ah, outro adjetivo para a descrição. E com seu aroma gostoso me senti melhor. Ele me segurava forte, sua camiseta estava com as marcas da minha dor. Eu queria que aquele momento não acabasse.


Guardei o máximo que pude daquele cheirinho que vinha dele. Soltei meus braços da cintura do Kemper e me afastei. Olhei em seus olhos verde-paz e acabei deixando escapar um sorriso. Um de agradecimento.


Ryan sorriu de orelha a orelha. E que sorriso! Senti minhas pernas vacilarem e meus joelhos tremularem.


O sinal soou e os alunos começaram a adentrar a sala. Em seguida, a professora. Sentei-me no meu lugar e o vi seguindo para a carteira atrás de mim.


A aula passou e, como todo começo de ano letivo foi entediante.


–.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.


As duas últimas aulas do dia, de Química, foram sem a presença dele. Aproveitei para tentar prestar atenção no que o professor dizia – leia-se tentar porque eu não obtive muito sucesso. Mas afinal, porque ele não saía da minha cabeça? Ele não era para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.


Após o sinal, peguei minha bolsa e andei até meu carro. Suzanne me esperava sentada no capô. Quando me avistou, correu até mim gritando:


GE, ME DESCUUULPA! – é aí que vocês descobrem meu apelido infeliz – Eu me esqueci completamente do seu aniversário!


Comecei a rir da sua cara de cachorro que caiu da mudança. Ela não tinha culpa, afinal eu tentava não comentar nada sobre isso.


– Que isso, Su... Não tem problema nenhum!


Ela pulou no meu pescoço me sufocando. Meus olhos cruzaram com os de Ryan. Ele estava com um sorriso debochado nos lábios; acho que ele ouviu a história do aniversário - para o meu desgosto. Afastamos-nos e entramos no carro.


– Não pense que eu vou deixar por isso mesmo. Temos que comemorar de algum jeito...


– Suzanne, já disse que não sou muito ligada à essas coisas.


– Ge! Nem vem...


– E o que você está pensando em fazer?...


– Já que você não quer nada... Poderíamos ir ao cinema! Que tal?


Assustei-me com seu pedido. Pela primeira vez ela não pedia nada extravagante. Assenti antes que ela mudasse de ideia. Parei em frente à sua casa – leia-se mansão -, e nos despedimos.


Manobrei o carro em frente a minha casa e parei. Busquei pelas chaves na bolsa e abri a porta. Tudo estava calmo; provavelmente Marcelle já havia ido ‘trabalhar’.


Já era quase 17:00h, e o cinema estava marcado para as 20:30h.


Fui ao quarto e joguei a bolsa no chão. Dentro do armário branco havia uma caixinha vermelha com desenhos de flores onde eu guardava algumas coisas – imagine o que quiser.


Retirei da caixa uma tabela de comprimidos. Valium*. É claro que eu não tinha nenhum sintoma de ansiedade ou qualquer doença, todavia vocês sabem muito bem por quê eu tomo isso. Acho que é um exagero considerar uma ‘droga’. Pode-se dizer... um relaxante. Ele não chega nem perto de uma viagem**.


Depois de alguns comprimidos, me sentia bem. Deitei na cama e deixei a sensação comum de formigamento por todo meu corpo fluir. Senti-me melhor logo após isso.


E com essas sensações dormi – ou desmaiei, não lembro direito. Acordei ao som de London Calling – meu celular. Arrastei meu corpo até a bolsa no chão e alcancei o aparelho.


– Que foi?...


- Ge, já está pronta?


– Do que você está falando?


- Ahh, não me fala que você esqueceu... – Ah, claro, o cinema.


– Suzanne, deixa pra outro dia...


- Não, senhora! Eu não me arrumei à toa.


– Ok, ok... Vou ter que tomar um banho ainda!


-Tudo bem, só não se esqueça de me avisar quando estiver chegando... Venha me buscar, viu?!


– Tá. Até daqui a pouco! – desliguei e resmunguei.


Tomei um banho gelado pra despertar. Enrolei-me em uma toalha e voltei ao quarto no árduo trabalho de escolher uma roupa. Acabei optando por um básico jeans surrado e uma camiseta branca mais justa. Coloquei minha boina e uma sapatilha preta. Estava pronta em... 30 minutos. Caraca, eu demorei.


A chuva ameaçava cair. Ouvi um trovão que me fez arrepiar. Corri pela sala e no caminho peguei um guarda chuva e enfiei na pequena bolsa que carregava.


Liguei para Suzanne e avisei que estava chegando. Ela disse pra eu entrar na sua casa porque precisava ainda se decidir qual bolsa escolher. Concordei relutante e desliguei. Precisava prestar atenção na rua, pois a chuva tinha aumentado e muito. Eu sempre ia buscá-la. Ela tinha um trauma enorme de volante pois havia atropelado seu cachorro assim que ganhou seu carro. Depois disso, nunca mais tocou em um.


Estacionei e peguei o guarda chuva. Corri até a entrada da casa que estranhamente estava aberta. Havia muitos carros na rua, mais do que normalmente. Toquei a campainha e aguardei. Esperei e nada... Toquei novamente e nada.


Toquei na maçaneta e a porta estava apenas encostada. A mesma se abriu lentamente mostrando um breu total dentro da casa. E com o relâmpago iluminando a sala:


– SURPRESA!

Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções. Dar um rolé em cima disso não vai ser nada fácil.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Valium* - um entorpecente.
viagem** - é o nome dado ao que você sente depois de tomar LSD.
E o que acharam? Mereço reviews?
Muito ruim? Muito bom? Médio... Enfim, suas opiniões!
Obrigada ♥