Chorei. Chorei muito, tanto, havia perdido completamente a noção do tempo. Eu tentara-me preparar fisicamente e psicologicamente para aquele momento, porém a sensação de ouvir Zero a dizer que me odeia é muito maior do que aquele que eu pode alguma vez imaginar. Mas agora não havia volta a dar, tinha de continuar com o meu plano, o plano que iria realizar o sonho do homem que amo.

Desloquei-me até a casa de banho que se encontrava ligada ao meu quarto. Pôs-me em frente da superfície espelhosa desta divisão e comecei a observar o meu rosto. Este agora tinha um misto entre palidez e vermelhidão, os meus lábios, que eu sempre tive cuidado em os tratar, agora estavam secos e gretados, os meus olhos estavam inchados e vermelhos. Em suma, não existiam vestígios de beleza no meu rosto, se estes alguma vez existiram.

 A minha mãe costumava-me dizer “ É na fragilidade da mulher que é revelada toda a sua beleza”, eu não havia compreendido esta afirmação até agora, até eu estar frágil. A frase não quer dizer que quando as mulheres estão frágeis que elas ficam mais bonitas, mas sim se elas continuam bonitas após passarem por todo o processo desgastante da fragilidade. Só depois de ter descoberto o significado desta frase que pode compreender o de outra “ É nessa fragilidade que é revelado o verdadeiro amor ” - aquele que irá dizer que continuas a ser a mulher mais bonita do mundo, mesmo parecendo a bruxa má, disse eu em pensamentos.

Eu sentia muitas saudades da minha mãe, ela sempre sabia o que fazer e o que dizer. Agora precisava dela mais do que nunca, eu sentia me perdida e ela não estava cá para ser o meu porto seguro.

- O que aconteceu miga? – Disse Yori, que se encontrava atrás de mim.

- Ele disse que me odiava – Sem pensar dois vezes, abracei a Yori e voltei a chorar.

- Tu já sabias que era muita questão de tempo até isto acontecer.

- Eu sei, mas não consigo descrever a tristeza que estou a sentir agora. – Disse entre choro.

- I know there is something in the wake of your smile
I get a notion from the look in your eyes
We've build to love but then love falls apart,
A little piece of heaven turns to dark

Yori começou a cantar uma das minhas músicas favoritas, uma das poucas que me conseguia acalmar.

- Listen to your heart, when it's calling for you
Listen to your heart, there is nothing else you can do.
I don't know where you're going and I don't know why.
But listen to your heart before you tell him goodbye

- Podes parar, já estou melhor.

- Esta música deixa-te sempre mais calma.

- Sim.

- Agora vais tomar um bom banho, vestir a tua melhor roupa e por um sorriso na cara para podermos ir jantar.

- Oki.

Liguei a torneira e pôs-me debaixo do chuveiro. O banho foi rápido pois não queria voltar a ceder, não queria voltar a pensar em coisas que não devia. Quando sai da casa de banho, a Yori já estava pronta.

- Já estás pronta?

- Sim, tu sabes que eu sou bastante rápida. Agora vamos arranjar uma roupa bonita para ti.

Yori abre o armário, onde já estavam todas as minhas roupas e tirou uma túnica branca. Depois da vestir, olhei para o espelho e já vi uma bela mulher, porém ainda nova, que quase parecia uma deusa grega com aquela roupa.

Eu e a Yori dirigimos até há sala de jantar, onde já se encontrava a família real e claro alguns dos seus guardas, incluído Zero. Este estava diferente, como algo tivesse abalado a beleza deste, talvez a mesma fragilidade que abalou a minha? Não, isso é impossível, ele odeia-me. Estão porque se deu ao trabalho de chorar por mim. Chorar, será que os olhos de Zero, que estavam vermelhos significam que tiveram a chorar por mim?

- Estás linda, minha querida – a voz horrenda de Kaname tirou-me dos meus pensamentos.

- Obrigado pelo elogio – Disse formalmente, apesar de nem ter vontade de responder.

- Podem servir o jantar – Depois de Rido de pronunciar, vários empregados começar a aparecer com travessas de comida e de bebidas.

O jantar estava bastante delicioso e a conversa à mesa não foi assim tão desagradável, pois a Yori esteve o tempo todo a fazer olhinhos ao Senri. Este era o irmão mais novo de Kaname, os seus olhos azuis são lindos e o seu cabelo parece chocolate. Resumidamente, ele é todo bom, não me admira que a Yori tenha o logo fisgado.

Porém, eu quase jurava que durante o jantar tinha visto Zero a chorar. Chorar talvez seja um termo muito forte, diria mais que vi uma lágrima a percorrer o seu rosto quando o Kaname falou sobre o nosso casamento. Mas devo estar a alucinar.

- Guardas, podem acompanhar as donzelas aos seus aposentos – Foi nesse momento que o meu coração voltou a bater mais depressa. Para variar, o guarda que me acompanhou foi Zero. Este não disse nada o caminho todo mas o facto de estar ao pé dele fez o meu coração bater novamente. Porém tinha medo que ele voltasse a despedaçar-se.

Quando chegamos, despedi-me formalmente de Zero e entrei no quarto, contudo o Zero também e fechou a porta atrás dele. Depois chegou-se ao pé de mim e beijou-me. Zero estava a beijar-me, pensei que nunca mais ia sentir os seus lábios novamente, aquela sensação de borboletas no estômago  Durante o beijo senti algo molhado a ir contra o meu rosto, algo que era quente e frio ao mesmo tempo.

Quando o beijo acabou, olhei para a cara de Zero e este estava a chorar. Por quê que ele me beijou?

- Por quê? – Deixei escapar entre lábios.

- Precisava de despedir-me da mulher que amo, já que ela vai casar com outro.

- Mas tu disseste que me odiavas.

- Eu disse isso de cabeça quente, não é todos os dias que descobrimos que a mulher que amamos é a nossa maior inimiga.

- Tu sabes que agora não posso desistir disto tudo.

- Eu sei, e apoio-te. Tu sabes que eu quero que esta guerra acabe de uma vez por todas, e não que fique pior ainda.

- Então isto é uma despedida?

- Acho que sim.

Zero voltou-me a beijar, mas aquele beijo não era com os outros, pois significava “o adeus” o nosso adeus. E ainda tive mais certeza disso quando, já depois de estar sozinha, sabia que dele não iria voltar…….