Quando Jade foi embora no final de 2006 nós já não estávamos nos falando muito bem. Sabíamos que estávamos desmoronando como casal, não havia mais paixão alguma. Seu pai era empresário que trabalhava em Pittsburgh, sua mãe era dona de casa. Jade e seus pais foram embora procurar por uma vida melhor em uma cidade grande, como muitas pessoas de cidade pequena fazem. Miami parecia ser a escolha ideal na época, tanto para os negócios do pai, tanto para Jade entrar na universidade. Agora Jade me contara que seu pai estava passando pela cidade por conta de negócios, e que sua mãe não veio por conta do divórcio entre os 2. Jade não parecia mais ser aquela menina tímida com quem eu havia namorado. A vida de cidade grande parecia ter afetado ela de uma forma assustadora, ela estava muito mais bonita, usando roupas de grife e parecia muito mais experiente também. Ela me contou que depois de mim passou um tempo só, depois do divórcio dos pais ela passou a namorar um rapaz chamado Steven, seus pais não o aprovavam muito por conta do estilo de vida noturna que Steven levava. Pouco antes de voltar pro norte do país Jade havia acabado o namoro de quase 3 anos com Steven. Era tudo que ela havia me contado outro dia. Agora estávamos em casa almoçando junto com minha mãe e meus irmãos enquanto mastigava devagar pensando em tudo que Jade havia passado nos últimos anos, e no que eu também havia passado.

Alguém batia na porta.

Todos pararam de comer por um momento e olharam para mim. Desde a noite em que deixei Anna no restaurante com seus pais eu a havia ignorado totalmente, também não havia aparecido mais na plantação. Pedi um minuto a todos e fui atender a porta.

“O que você quer?” – perguntei sem mesmo olhar quem estava batendo.

“Eu só quero falar com você.” – falou Anna.

“Pra contar outra mentira? Espere, você é filha do presidente?” – brinquei.

“Eu menti e sei que foi errado. Noah, eu estava completamente apaixonada por você a partir do primeiro momento que o vi e não queria que meus planos estragassem a nossa relação.” – indagou ela.

“Se me amasse tanto você teria sido sincera comigo.”

“Eu me desculpei com meus pais e contei a eles o que houve.” – continuou.

“Anna, eu perdi as pessoas que eu mais amava, você sabia disso o tempo todo e nunca se preocupou em quanto a sua pequena mentira poderia me machucar”. – falei.

“Você viria comigo pra África?” – perguntou ela desesperadamente.

“Hipocrisia é o seu forte. Não, acho que você pode dar conta de tudo sozinha, como sempre foi.” – disse.

“Eu levaria você comigo. Poderíamos ter uma vida nova lá. A África do Sul é um pais maravilhoso, não existe só pobreza, eu poderia continuar meu trabalho com as crianças e viver em um lar com você. Eram meus planos.” – disse ela.

Ainda estava assustado em como ela ainda conseguia fazer esse tipo de discurso pra mim depois de tudo que havíamos passado.

“Noah, eu estou sofrendo sem você, todos os dias. Eu pedi perdão aos meus pais e venho aqui pedir perdão a você, mesmo que você não me queira de volta e talvez nunca queira olhar pra minha cara de novo, eu preciso do seu perdão.” – disse ela.

 “Pode engolir o seu perdão e qualquer outra mentira que você queria contar pra mim ou pra minha família. Fique longe de todos dessa casa.” – disse bastante irritado.

Anna entrava no carro chorando amargamente enquanto eu a via indo embora meus olhos também se encheram de lágrimas e senti pena por ela. No fundo ainda gostava dela. Não se deixa de gostar de uma pessoa de um dia para o outro. Aliás, não se deixa de amar.

“Ia tentar entrar na faculdade por incentivo seu.” – gritei.

Ela olhou para mim do vidro do carro e foi embora.

Enxuguei as lágrimas e entrei em casa novamente. Todos pareciam fingir que não tinham ouvido nada. Havia uma tensão no ar. Tentei voltar a comer, mas não consegui e subi as escadas para o meu quarto. Poucos minutos depois ouvi alguém bater e entrar no mesmo instante, era Jade.

“Quando eu terminei com Steven também era muito difícil para mim Noah, você não imagina o quanto. Além de toda a pressão dos meus pais.”

“Você é forte, depois de tudo o que passou na vida você não pode se ajoelhar aos pés de qualquer menina como ela.” – continuou ela.

Ela se aproximava de mim e sentou ao meu lado na cama.

“Hoje à noite soube que vai ter a festa dos alunos do último ano do colégio. Precisamos nos divertir, ambos sofremos demais nos últimos tempos.”

Jade estava certa. Eu tinha 20 anos e estava no final de mais um verão. O que poderia perder com isso?

Naquela mesma noite pude ver Jade como eu realmente nunca imaginaria. Ela usava shorts e uma camisa rasgada, estava linda. Eu estava com uma simples calça jeans, e uma camisa do Philadelphia Phillies. A festa dos alunos do último ano era sempre uma das mais aguardadas pelos jovens da cidade, era onde todos podiam beber a vontade, fugir de casa e fazer todas aquelas loucuras que vemos nos filmes adolescentes. Eu só havia ido 2 vezes em toda minha vida. No início tínhamos todas aquelas cerimônias das lideres de torcida e em menos de 1 hora depois todos já estavam ficando malucos. A maioria das festas realizadas pelos jovens do último ano eram realizadas em suas casas, não no centro.

Observei o espetáculo das líderes de torcida ao lado de Jade. Eu pensei que pelo fato dela ter morado longe durante esse tempo ela seria quase uma novata na cidade, mas fiquei espantado com o número de pessoas que iam cumprimentá-la. Jade parecia bastante tranquila e perto do final da cerimônia ela segurou a minha mão lentamente. Pra falar a verdade, eu não me senti confortável com aquela situação, mas não soltei a mão dela. Minutos depois todos já estavam correndo em direção as casas prontos para festejar. Ví a Anna assistindo tudo de longe, e pelo visto Jade também viu. Fiquei olhando para Anna por um tempo, mas Jade sussurrou no meu ouvido:

“Não dê atenção.”

Foi o que fiz. Senti a mão de Jade tocando os meus braços e rapidamente ela me beijou. Parei rapidamente espantado com o que ela estava fazendo. Olhei para o lado e pude ver a Anna dando as costas para ir embora. Eu não queria ter feito aquilo, mas no fundo queria que Anna sentisse a mesma dor que eu havia sentido. Não era justo.