Ponto de Vista de Freddie

Eu estava mais uma vez arrumando alguns equipamentos antes de começar o show quando Carly e Sam entraram no estúdio do iCarly rindo alto de alguma coisa que, obviamente, não sei do que se trata. Às vezes sinto inveja dessa cumplicidade que há entre as duas, de como são tão amigas e confidentes. Ultimamente vivem cheias de segredinhos e me deixam de fora de seus ‘papos’. Quando reclamo desse comportamento, ambas têm a mesma resposta na ponta da língua: “Ah, Freddie. É coisa de mulher!”.

Elas passam por mim e me cumprimentam:

_ Oi, Freddie! – disse Carly.

_ Olá, Freddie! – disse Sam. Aqui eu paro o que estou fazendo, sacudo a cabeça e levanto a sobrancelha surpreso. A Sam não me insultou. É! Hoje vai chover milkshake de chocolate com toda certeza.

_ ¡Hola, chicas hermosas! – gosto de falar assim, às vezes, para elas não me compreenderem, pois tenho ascendência espanhola, sabe?

Elas vão direto para os pufs e continuam rindo. Carly cochicha algo no ouvido de Sam. Elas me olham. Retribuo com meu melhor sorriso mais direcionado apenas para uma delas. Carly me sorri de volta. Sam dá um meio sorriso, abaixa os olhos e fica ruborizada. Não entendo isso na Sam. Algumas vezes tão agressiva, outras tão delicada como nesse momento. Sempre fico desconcertado e sem saber o que falar quando ela faz isso. Minhas mãos começam a suar e procuro enxugá-las nas laterais da calça. Elas continuam falando aos cochichos.

Aliás, ando meio confuso no que se refere a Sam e sem saber direito o que fazer. Há algum tempo venho percebendo uma outra Sam do meu lado. Muito atraente e feminina por sinal.

Desde que minha paixão infantil pela Carly se foi muita coisa mudou dentro de mim, apesar de não saber bem do que se trata. Só sei que é um sentimento muito mais verdadeiro e intenso. Não é a mesma coisa de quando tinha dez anos e idolatrava a Carly. A palavra certa é essa: idolatrar. Carly era para mim tal como uma atriz de Hollywood é para um espectador completamente fanático: um ídolo. A menina mais alta da classe, mais bonita, meiga e doce de todo o mundo. E era minha vizinha! Tê-la por perto era como conseguir um autógrafo entre milhões e milhões de pedidos.

Agora, aos dezesseis anos, perdi esse sentimento infantil e me surpreendo completamente atraído por Samantha Puckett e, apesar de conhecê-la há muitos anos, ela ainda é um mistério para mim. Fora que ela se transformou numa gata. É... Mas nada a ver com essas gatinhas fofas e mimosas... Está mais para leoa ou tigresa. Selvagem e perigosa...

Balanço a cabeça ligeiramente para afastar esses pensamentos. Ela nunca iria querer nada comigo. Nunca! E eu conheço patavina de safári, nem sou domador de leões. Meu negócio é conectar plugs e fazer a mais alta tecnologia funcionar. Como agora.

_ Bem, garotas! – falo para as duas. – Vamos começar mais um iCarly?

Ponto de Vista de Sam

Carly estava me contando mais uma das bizarrices do Gibby quando entramos no estúdio do iCarly. Ele estava dançando a macarena em cima de uma mesa no T-Bo e sem camisa. Muito engraçado. Não sei como a Tasha consegue aguentá-lo nessas horas. Deve ser o tal do amor.

Freddie já estava no estúdio. Pra variar, concentrado em conectar todos aqueles equipamentos eletrônicos. Resolvi seguir o último conselho da minha amiga e não o provoquei como sempre faço. 

Fiz um esforço sobre-humano e cumprimentei-o pelo apelido usual e ele nos respondeu em espanhol. Simplesmente a-d-o-r-o quando ele fala em espanhol, mas ele nunca vai saber disso, é claro! Nem ele, nem ninguém. 

Mas é curioso ele cumprimentar nos chamando de garotas lindas. Que o elogio seja pra Carly, eu entendo. Mas pra mim? A gente vive brigando... Deve ter sido só um cumprimento de amigo...

Sentamos nos pufs enquanto aguardávamos ele terminar de mexer em todos aqueles emaranhados de fios e cabos coloridos. Carly se aproximou de mim e falou baixinho:

_ E aí, Sam? – ela me questiona insistentemente pela milésima vez nessa semana. Ela agora encasquetou que Freddie está a fim de mim. A louca.

Sempre a mesma pergunta: “E aí, Sam?” Traduzindo, pode ser o seguinte: “Freddie está um gato, não acha?” Ou, “Com certeza ele está a fim de você, sabe?” Ou, “Quando você vai admitir que está a fim dele?” Carly completa:

_ Ele está um gato, não acha? – eu disse que era algo assim. Ela continua. _ Olha pra ele, Sam. Quando vai admitir que está apaixonada por ele?

Olhamos para Freddie e ele percebeu. Ele sorri para nós com aquele sorriso encantador, meio travesso. Tremi só de pensar que ele poderia ter escutado algo. “Nossa! Fico completamente sem chão. A qualquer hora deixo de respirar também. Freddie tem um sorriso devastador...”. Desvio meu olhar e devolvo a ele um sorriso tímido. Meu rosto está pegando fogo. “Preciso continuar disfarçando esse efeito que ele tem sobre mim. Sinto-me sufocar e meu peito começa a doer. Se isso é estar apaixonada, Carly está errada. Não tem nada de bom”.

Carly continuava tagarelando baixinho, tentando me empurrar para Freduardo Benson - “de onde a mãe dele tirou esse nome? Frederico mais Eduardo?”. Olho para ele novamente, disfarçadamente, mas dessa vez ele não percebe. Está bem concentrado mexendo naqueles equipamentos de nerd. “Em que será que ele está pensando?”. Carly insiste. Quer que eu fale com ele.

_ Falar o quê, Carly? – digo baixinho, mas zangada. _ Não tenho nada pra falar com ele.

_ Sei. – diz ela nada convencida. _ Sabe, você deveria fazer o seguinte...

_ Bem, garotas! – diz Freddie – Vamos começar mais um iCarly?

Salva pelo gongo! Ou melhor, Freddiegongo. Quando terminar isso aqui hoje, corro para casa.

Ponto de Vista de Carly

Entramos no estúdio e Freddie estava mexendo em seus equipamentos. De imediato, Sam ficou nervosa por mais que tentasse disfarçar. Já percebi que ela tá a fim do Freddie, mas não admite de jeito nenhum. Sei disso porque é bastante parecido com o que sinto pelo Griffin. Uma mulher saca logo quando outra está apaixonada. Os homens é que são meio lerdos. E o Freddie, então... Completamente devagar.

Primeiro, ele achava que estava apaixonado por mim. Pura criancice. E meu maior erro foi namorá-lo. Ou acerto, sei lá. Só sei que eu confundi as coisas e depois daquele nosso breve namoro, acho que ele desencantou. Ainda bem, porque nunca senti nada por ele, nem vontade de ficar. Gosto dele como amigo, como irmão. Foi um alívio ele terminar, pois eu já estava querendo fazer isso e não queria magoá-lo por nada nesse mundo.

Agora, tenho certeza que ele está apaixonado pela Sam, mas ele jamais vai admitir. É outro cabeça-dura. Já o peguei diversas vezes olhando para ela com cara de bobo, ou simplesmente rindo das loucuras que ela faz ou diz. E isso não é de hoje... E as brigas? Isso é paixão na certa... Eles não sabem como lidar com a atração que sentem um pelo outro, então brigam.

É. Vou me formar em psicologia e ser conselheira amorosa de casais em conflito.

Mais uma vez tento fazer Sam refletir sobre o assunto e digo:

_ E aí, Sam? – ela sabe do que estou falando. Desde que percebi que ela gosta do Freddie não vou sossegar enquanto eles não se resolverem... Já tenho até um plano para acelerar esse processo e o Spencer vai me ajudar... Continuo provocando minha amiga e observando as reações dela.

_ Ele está um gato, não acha? Olha pra ele, Sam. Quando vai admitir que você está apaixonada por ele?

Nesse momento, Sam olha para Freddie e eu a acompanho. Ele sorri para a gente e eu retribuo o sorriso, mas ele está olhando diretamente para Sam que fica sem saber onde enfiar a cara. Ela dá um sorriso nervoso para disfarçar e fica completamente corada. Que coisa!! Não sei onde ela enfia tanta valentia!

_ Nossa, que secada hein, amiga? – continuo provocando. Sam briga comigo, baixinho. Eu insisto. _ Ele olhou diretamente pra você enquanto sorria. Você não pode negar isso, Sam. Você precisa falar com ele.

_ Falar o quê, Carly? – ela replica. _ Não tenho nada pra falar pra ele.

_ Sei. – digo para ela. _ Sabe, você deveria fazer o seguinte...

Nesse momento sou interrompida pelo Freddie que nos chama para iniciar a filmagem do programa, porém, mais tarde, esses dois não me escapam...