Ensaio Sobre A Vida escrita por kunquat


Capítulo 7
d


Notas iniciais do capítulo

Acho que estou esquecendo de alguma coisa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/187162/chapter/7

Meu domingo iniciou-se mais cedo do que de costume, mas desta vez não foi por culpa de alguém. Levantei-me às cinco horas da manhã, depois de um sonho estranho, e não consegui voltar a dormir. Fiquei um bom tempo tentando lembrar o que havia sonhado, mas nenhum pensamento claro vinha a minha mente. Já que eu não podia fazer muito barulho, durante o horário de silêncio, eu continuei deitado, ora jogando videogame, ora tendo devaneios.

Mesmo me entretendo com a tecnologia, e tentando ocupar minha mente com cenas de meu inconsciente, eu não conseguia parar de pensar em Michael. Meus pensamentos ainda estavam confusos, eu não sabia se fazia algo para me distrair, se pensava no que Mika estava fazendo e/ou sentindo, se eu devia agir ou se devia permanecer em minha cama. A única coisa que eu tinha certeza era que, uma hora ou outra, eu acabaria me lembrando dele.

- Será que ele também está acordado? – Falei em tom baixo – Será que sonhou comigo? Ou teve pesadelos? Merda! – Soquei a parede.

Um pouco antes da claridade tomar conta da cidade eu me levantei, coloquei uma roupa e subi até o terraço de meu prédio. Como de costume não havia nenhuma pessoa lá, dando-me a oportunidade de pensar sobre os assuntos mundanos.

O céu estava alaranjado e pequenas nuvens transitavam pelo horizonte. O vento era leve e morno, tornando aquele lugar confortável, não apenas aos olhos, mas ao corpo também. Pequenos pássaros negros voavam para o leste e um bando de bem-te-vis piava na árvore em frente ao prédio.

Vários minutos se passaram enquanto eu observava as formas variadas das pequenas nuvens, até que uma bola incandescente começou a se erguer no horizonte. Os raios de luz emanados pelo sol se chocavam contra a minha pele e despertavam um estranho sentimento em meu corpo, como se houvesse nenhum problema a ser resolvido.

Após apreciar o nascer do sol eu voltei para o apartamento e encontrei meu irmão tomando seu café-da-manhã. Aproveitei que estava tudo sobre a mesa e comecei a fazer um sanduíche para mim.

- O que foi Bambiboy?

- Como assim? – Falei como se soubesse de nada.

- Tu estás triste, pra baixo, o que aconteceu? – Era estranho meu irmão notar isto. Ele não era do tipo de pessoa que se importava com os sentimentos dos outros.

Contei pra ele toda a história, desde quando comecei a gostar de Mika, até o momento em que eu dei com a língua nos dentes. Ele prestou atenção em toda a história, que muitas vezes era interrompida para eu poder mastigar. Após eu terminar de contar todos os detalhes nós ficamos em silêncio, mastigando e esperando as próximas falas.

- Olha, eu já passei por isso, mas foi com uma guria. Enfim, te aconselho a tentar aliviar essa cabeça cheia de pensamentos. Vai dar uma volta num parque e andar na montanha russa. Só não fica pensando em coisas que remetem a ele. Não fica se lamentando ou tentando encontrar respostas. – Ele se engasgou com o pão enquanto falava de boca cheia.

- Ok, acho que assim não ficarei depressivo. Obrigado. – Ele sorriu para mim e eu caminhei até meu quarto.

Tudo bem que eram sete horas da manhã, mas meu estado só iria piorar se eu continuasse em casa. Abri meu guarda roupa e escolhi uma roupa razoavelmente boa, peguei a mochila onde estava meu caderno de histórias e sai de casa.

Caminhei durante um longo tempo, cruzando quadras extensas, vendo pessoas estranhas e torcendo para alguns cachorros vira-latas não serem atropelados. Até que finalmente cheguei ao parque.

Continuei em um passo rápido, indo em direção à parte mais interna do parque e procurando um banco para me sentar. Depois estar acomodado, retirei meu caderno e comecei a escrever uma história.

Ela acontecia em um mundo fictício onde todos viviam para musica. Toda a população tocava algum instrumento em perfeita harmonia e até as brigadas eram resolvidas com uma melodia, não havendo consequências maiores.

Escrevi minha história por um longo tempo, chegando a perder a noção do horário. Em alguns momentos eu levantava minha cabeça para checar o movimento do parque, que ia enchendo cada vez mais.

Mesmo estando ao ar livre, vivendo em outra dimensão e escrevendo sobre assuntos de interesse, minha expressão ainda demonstrava tristeza. Não importava o quanto eu tentasse, eu não conseguia me alegrar ou fingir estar em um estado diferente do atual.

- Posso me sentar aí? – Disse alguém em pé ao meu lado, mas eu não me prestei a erguer a cabeça para olhá-lo.

- A praça é pública, faça o que quiseres. – Acho que fui meio rude.

- Dia difícil? – Ele se sentou ao meu lado.

- Vida difícil. – Corrigi-o

- Ela é boníta?

- Ele.

- Ah, e vale a pena ficar assim por causa dele? Ele merece as tuas lágrimas?

Fechei o meu caderno e ergui minha cabeça. Fiquei um tempo olhando para um ponto fixo em meio às árvores, pensando em quantas vezes eu já havia feito aquela pergunta aos meus amigos. Resolvi olhar para o ser que estava ao meu lado. Ele era alto, em torno de 1,88 metros, corpo levemente marcado e cabelos negros. Seus olhos eram escuros e seu sorriso era leve, acolhedor. Voltei a olhar para o caderno.

- Eu costumo perguntar isso para meus amigos. – Falei em tom baixo.

- É uma boa pergunta, nos faz pensar. Mas o que tu vê de mais na capa deste caderno? O céu à cima de ti é mais bonito, as árvores a tua frente são mais belas, admire-as. – Depois de uma noite e uma manhã de estresse alguém finalmente conseguiu arrancar um sorriso de mim. - Meu nome é Daniel, prazer. – Ele estendeu a mão.

- Fernando. – Devolvi o comprimento.

Nós ficamos conversando por algumas horas sobre a minha e a vida dele. Enquanto eu ainda estava cursando o terceiro ano ele já estava no segundo ano da faculdade de psicologia. Ele era extremamente carismático e simpático, gostava de ajudar os outros, mesmo que não conhecesse. Depois de conversarmos e trocarmos nosso endereço de twitter ambos fomos para suas respectivas casas.

Já era meio dia quando cheguei em casa e meu irmão estava cozinhando o almoço. Larguei minhas coisas no quarto e voltei para a cozinha.

- Mas tu não sai desta cozinha em? O que estás fazendo de bom?

- Carne recheada com queijo, cenoura e azeitona. Como estava o passeio? Ficaste quatro horas lá.

- Ah, é que eu fiquei conversando com uma pessoa lá. – Escorei-me na geladeira.

- Hum, e tem mina bonita lá?

- Sim, estava tendo uma aula de alongamento lá. Só havia mulher loira, nova e magra.

- Opa, partiu.

Depois desta fala tudo aconteceu muito rápido. Meu irmão pegou uma mochila, disse algumas frases que eu não entendi e saiu de casa, batendo a porta. Eu, que estava parado em frente à galinha, fiquei olhando aquele ser sendo assada e pensando em quanto tempo eu deveria deixa-la ali. Aproveitei que iria demorar e ajeitei um pouco a casa, colocando objetos nos lugares e arrumando os quartos.

Durante a tarde nada de muito especial aconteceu, fora eu ter ligado para a Lena e ter ficado duas horas conversando sobre o que havia acontecido com Mika e com Dan. Ela agradeceu aos céus por eu ter uma chance de esquecer o Mika, e o argumento dela para dizer que o Daniel era gay foram as características físicas e psicológicas que eu havia dito, mas eu duvidava disso.

O resto do meu dia foi morto, fiquei em casa refletindo sobre o que eu sentia pelas pessoas e no que o Daniel havia feito.  Nunca ninguém havia feito o que ele fez por mim.

Assim que desejei boa noite para meus amigos, recebi um recado de Daniel no twitter dizendo: “Não te esqueças de mostrar este teu sorriso tão bonito para o mundo”. Sorri e deitei em minha cama.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ensaio Sobre A Vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.