Chicago, 1918 Mercado Central da Cidade A hora deixara de ser contada aqui.

Eu ainda estava preso naqueles olhos de chocolate derretido. Totalmente entregue a eles. A Grande Guerra poderia instalar-se ali, do meu lado, que eu não ia nem notar. Estaria tudo bem, contanto que eu não perdesse aqueles olhos, que atraiam-me como imãs atraem o metal. Ferro, níquel, cobalto. Eu seria qualquer um deles, se fosse preciso para nunca deixar aqueles olhos irem embora, para nunca esquecer a sensação hipnotizante que teu cheiro tem sobre mim.

– Você não sabe quanto tempo eu esperei por você.

Só me dei conta que aquelas palavras haviam saído da minha boca, quando um silêncio esmagador caíra, logo após que o som delas se esvaíra. Restara apenas o barulho de nossas respirações arfantes e o som de teu coração o qual eu daria a vida, para que este permanecesse cantando.

Não sei quanto tempo mais permanecemos assim em absoluto silêncio, apenas nos olhando. Mais uma vez aqueles fascinantes olhos. Continuavam a prender-me com uma força arrasadora, incompreensível. Ela me olhava como se pudesse ler tudo o que se passava em meus pensamentos. E eu os entregaria de bom grado, assim como tudo o mais que ela pedisse. Meus olhos, minha boca, meus ouvidos, meu coração, minha alma. Tudo pertencia a ela.

Constatei então, o quanto minhas palavras haviam sido verdadeiras. O tempo fora grande demais, a espera tortuosa e sem escrúpulos. Deus, como permitira-me viver tanto tempo sem ela?

– Eu sei. Foi uma eternidade. ela me respondera.

Senti meus lábios levantando-se nos cantos, simultaneamente com os delas. Como eu disse, eu pertencia a ela. Assim como ela pertencia a mim.

Éramos uma única alma, que preenchia dois corações. Que finalmente estavam sincronizados, e que só parariam, juntos.

Como deveria ter sido desde o nosso primeiro encontro.

FIM.