Música De Elevador escrita por Mariana


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

O último capitulo. :) Muito obrigada por lerem.



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David

Adoro vê-la entrar pelo hall do prédio com aquela afobação de quem está sempre atrasada. Adoro mesmo.

A primeira vez que percebi aqueles passos quase perdidos e com pressa foi há quase dois meses e desde então me programo sempre na mesma hora para degustá-los em pequenos goles.

Ela troca de bolsa com certa frequência e acho graça quando ela resmunga sozinha, procurando a chave do apartamento antes de entrar no elevador.

Nessa hora queria ser o sonoplasta do prédio, tirar aquela música ambiente idiota e sacar as minhas guitarras para dar mais graça à cena. E na mesma hora achei que seria interessante participar da próxima reunião com a síndica.

Foi quando percebi que nem música ambiente temos em nosso elevador... E foi quando cheguei ao absurdo de propor que tenhamos som no elevador social.

Sei que fui ridículo, que provoquei risinhos dos outros moradores que têm suas vidas ocupadas demais para ouvir qualquer coisa que não seja os berros dos filhos entre suas paredes não acústicas. 

Na verdade, aos quarenta e quatro anos eu ainda não tinha visto jeito de andar tão delicado.

Mesmo com pressa, ela é linda. Ela é doce. Ela é intrigante. Eu tocava todos os dias uma música que fiz para ela, sem ao menos saber seu nome.

Ela combina com a luz da noite, sabe?

É daquelas garotas que não precisam de maquiagem pra ser mais bonita, nem atraente. Pensei por várias vezes ir até seu apartamento, me apresentar, dizer que queria sair com ela, e coisa e tal, mas embora eu não seja o sujeito mais tímido da face da Terra, senti um certo constrangimento em olhar para aquelas olhos pequenos tão de perto. 

Mas daí vieram as reuniões de condomínio, os nossos encontros por acaso no hall do prédio — parecia coincidência, mas eu a observava pelas câmeras do circuito interno do prédio e descia afoito, tentando parecer que também vivia na pressa — e algumas xícaras de café como desculpa de qualquer coisa. 

O engraçado de tudo isso é que em um dia que parece estreito o suficiente pra qualquer encontro premeditado, o destino vai lá, dá um tapinha em suas costas e diz que agora só depende de você. E você se sente um garoto. Confuso. Não sabe onde colocar as mãos. Não sabe se fala alguma coisa ou deixa-se entregar. 

A campainha toca.

Sei que é ela. Sei que poderia dizer uma piadinha qualquer sobre modelos. Ensaiei tantas vezes. Mas ri diversas vezes por achar que poderia ser uma boa piada — definitivamente não era. 

Abri a porta.

Sorri e dei espaço para que ela entrasse. Não a deixei falar nada. O destino tinha dito que era por minha conta, então resolvi assumir o papel do sonoplasta, do roteirista e tudo mais.

Coloquei a canção dela pra tocar e a puxei pra dançar. Ali estavam subentendidas todas as minhas intenções. Todas. Todas. Todas. 

FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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